terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Fazendo História



por Marcos Bragato

Fonte: Rock em Geral

Jon Spencer Blues Explosion: visceral como o rock

Cobertura do show da banda americana, que aconteceu dentro do Abril Pro Rock, em 2001. Já dava uma idéia do que viria a ser a coluna Rock é Rock Mesmo, criada em 2003. Matéria publicada na Revista Dynamite número 45, de junho de 2001.

por Marcos Bragatto

jonspencerEra ainda cedo no domingão do Abril Pro Rock, quando um trio esperado, sim meus amigos, esperado por boa parte do público, subiu ao palco. Subiu, não, invadiu, arrombou um espaço para impor uma catarse poucas vezes vista em toda a história do rock, quiçá por terras brasileiras e ainda mais num festival como o Abril Pro Rock. Explico: é que o show do grupo nova-iorquino não tem começo, meio ou fim, é um bloco simplesmente, um todo, uma avalanche de atitude, de esporro, de antibanalização, de revolução. E… De rock, enfim. Primeiro porque a banda, com dois guitarristas e um baterista, sem baixo ou outro instrumento que o substituísse, desafia os conceitos do próprio rock, sem porém fugir às suas características mais básicas: desafio, atitude, pé na porta, e, acima de tudo, comoção coletiva.

Todos vestem preto, a iluminação é caótica e fraquíssima. Jon Spencer, o homem que dá nome ao grupo, veste couro preto, usa uma barba e cabelos unidos, que lembram Jim Morrison, fase indecisa, totalmente from hell. Traz pendurada no pescoço uma guitarra mais surrada que mulher de malandro, e lhe dá o tratamento merecido, arrebentando-lhe, sem dó, várias cordas. Jon Spencer representa o protopunk, nos antigos anos 70, encarnando Iggy Pop fase Stooges, tocando como MC5 e até mesmo como Richard Hell. Mas também tem paralelo com o reaça Ted Nugent, com o Motörhead, que esteve no APR em espírito, e todo o crossover punk/metal pré heavy metal contemporâneo. É, sem exagero, a síntese do rock e da rebeldia, ou só do rock, sem rebeldia mesmo. É o rock em si, em estado bruto, impossível de ser lapidado. Grosso, direto, duro, inapelável, do qual não se pode escapar.

O show do Jon Spencer Blues Explosion joga por terra o nefasto conceito de “show para iniciados”, porque, independentemente de qualquer conhecimento que se tenha sobre o grupo, sua performance permanece impressionante e arrebatadora. Qualquer um que, desavisado, passasse pela frente do palco do APR naquele momento, um vendedor de cachorro quente, indo rumo ao banheiro, um outro transeunte, que trabalhava em uma das barracas de alimentação, num momento de folga, ou ainda o menino catador de latas para a reciclagem – todos eles ficariam perplexos com o que se passava com o trio Jon Spencer Blues Explosion.

Segundo consta, os moderninhos de plantão são fãs de Jon Spencer. E é fácil de se explicar. É um grupo indie e que, pela própria formação, pelos instrumentos que tocam, preenchem os requisitos necessários. É um grupo obscuro e conhecido por uma minoria, que já pode ser levado a altares. Com Jon Spencer, os moderninhos de planto podem voltar aos seminais anos 70 e, enfim, se converter ao bom e velho rock, que é, no fundo, o que move as emoções de toda a música pop. Inclusive as deles, os próprios moderninhos de plantão.

NOTA: Eu tava lá e assino embaixo.

Adelvan

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