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por Marcos Bragatto
Fonte: Rock em geral
Black Drawing Chalks: ‘somos uma banda de música fútil’
Grupo goiano, formado por designers, aposta na fusão de um som garageiro com imagens viajandonas que têm chamado a atenção no meio independente nacional.
Victor Rocha, Denis Castro, Renato Cunha e Douglas Castro querem é tocar por aí
Ela só foi aparecer um ano depois, e em 2006 é que Victor Rocha (guitarra e vocais) e Douglas Castro (bateria) se juntaram a Denis de Castro (irmão de Douglas, baixo) e a Marco Bauer (guitarra) para tocar de verdade. Em 2007, Renato Cunha entrou no lugar de Marco para consolidar a formação do Black Drawing Chalks. A interseção do grupo com o desenho não pára por aí. Também na faculdade (estudar que é bom, nada) Victor e Douglas criaram o estúdio de design Bicicleta Sem Freio, que trabalha com bandas independentes e festivais. Não por acaso os dois álbuns do grupo, “Big Deal” (2007) e “Life is a Big Holiday for Us” (2009), têm capas viajandonas desenhadas por eles mesmos. Assim como também é o clipe para a música “My Favourite Way”, que deu um trabalhão danado para fazer, mas ficou supimpa.
O “viajandonas” ali em cima se justifica porque o Black Drawing Chalks é adepto do stoner rock garageiro e viajante, com altas doses de guitarras, e pede exatamente o visual que os caras inventam (www.flickr.com/bicicletasemfreio). Como se vê, poucas vezes numa banda de rock imagem e som estiveram tão relacionados entre si. Aproveitando a segunda visita do grupo ao Rio (a primeira ninguém sabe, ninguém viu) para a festival A Grande Roubada, batemos um papo rápido – via e-mail – com o guitarrista Victor Rocha, que usa do bom humor para falar de como o BDC virou o queridinho da mídia via MTV, da verdadeira obsessão do quarteto pelo palco e outras aventuras dos nossos rockers desenhistas.
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Victor Rocha: Nós tivemos a sorte de as pessoas certas gostarem da banda, mas não foi só isso. Tocamos muito no ano passado, mas muito mesmo, cerca de 70 shows, a maioria em outros estados. Topávamos qualquer parada, simplesmente para mostrar que a banda existe. Isso aumentou aos poucos as visitas no myspace, os comentários, e aos poucos percebemos que essa ralação estava rendendo. Daí fizemos a parceria com a Tronco, produtora de São Paulo, e eles começaram a ser a nossa ponte para a cidade e regiões próximas. Isso nos trouxe para mais perto da grande mídia. Mas ainda não nos sentimos muito expostos, ninguém se sente famoso, a intenção é continuar tocando.
REG: Vocês foram indicados em duas categorias no VMB do ano passado, “Aposta MTV” e “Rock Alternativo”. O que isso mudou na carreira da banda?
Victor: Mudou mais na internet, nossas visitas (aos sites e mídias sociais), plays e comentários aumentaram. Hoje somos conhecidos por um número de pessoas que sem o VMB acho que ainda levaríamos um tempinho para chegar. Mas o melhor foi a festa, bebemos pra caramba, e de graça!
REG: Vocês são uma banda de stoner rock, certo? Cite a referências que vocês usaram para chegar a este som:
Victor: Não, somos stoner universitário! O AMP, de Recife, e o MQN é que são stoner pé de serra! Brincadeira! Não nos intitulamos stoner rock, mas sim rock simples, pois isso não nos limita, e sempre que temos vontade de fazer algo diferente, fazemos e não nos prendemos ao estilo que a banda tem que seguir.
REG: Falando do clipe de “My Favourite Way”, ele parece inspirado no de “Go With The Flow”, do Queens Of The Sone Age. Tem a ver?
Victor: Não foi inspirado, mas curtimos muito o clipe, e é lógico que indiretamente ele exerceu influência sobre o nosso. Assim como o “Do The Evolution”, do Pearl Jam, e outras milhões de animações que adoramos.
REG: Conte como vocês bolaram esse clipe, como ele foi feito e qual o custo envolvido:
Victor: O principal fato de termos feito animação dessa maneira foi o custo. Nós buscamos algo que daríamos conta de fazer sem ter que gastar nenhuma grana, porque não tínhamos. Eu e o Douglas trabalhamos com edição e animação, essa foi a nossa única arma. Acabou que desenhamos oitenta por cento do clipe, quadro a quadro. Isso nos rendeu muitos calos, bolhas de sangue. Mas ficamos muito felizes com o resultado, e temos planos de fazer um ainda melhor este ano. Levamos em torno de três a quatro meses ralando para fazer esse clipe, cheguei a levar mesa digital para algumas turnês, para não perder o prazo.
REG: Vocês já fizeram turnês pelo exterior, certo? Fale sobre esses shows:
Victor: Viajamos para o Canadá, no ano passado, em março. Passamos três semanas lá. Tocamos em Toronto, no festival Canadian Music Week, e depois fomos para Montreal, fizemos uns shows lá e continuamos para o norte, abrindo para um banda grande chamada GrimSkunk. Os caras nos ensinaram muito, são muito experientes, lotam qualquer casa de show, não importa o tamanho. Isso nos ajudou para sempre a tocarmos para um público de bom número. Os shows foram sempre insanos, o povo lá bebe muito e ninguém bebe cerveja. Quando eu pedi um chope, a mulher do bar - gata por sinal - olhou para mim com cara de quem olha para uma criancinha pedindo leite.
REG: Dá para comparar a cena independente de lá com a brasileira?
Victor: Não acho que tem propósito essa comparação, são realidades bem distintas. As bandas aqui estão procurando tocar; as bandas de lá estão em outras discussões. Ninguém discute estilo, como tocar, o que fazer no palco, e essas inutilidades que não levam a nada, mas sim o propósito de uma turnê, como se portar, fazer contatos, entrar para grandes festivais, conseguir se promover. Essa é a nossa mera percepção, talvez estejamos errados.
REG: Também rolaram shows com bandas internacionais pelo Brasil. Como foi o contato com esses artistas?
Victor: Tocamos com Motörhead e The Datsuns, por exemplo, duas das nossas bandas preferidas. Além de ser a realização de sonho de fãs, foi também um grande aprendizado, profissionalmente. Depois que vimos do show do Datsuns, nos sentimos tão amebinhas, tão no comecinho que a nossa postura de palco mudou completamente. Hoje somos o que somos graças aos shows a que assistimos.
REG: De onde saiu o lema “music to drink and fuck”? Vocês são assim na prática o é mais uma questão estética?
Victor: Saiu na farra, bebendo com os amigos nas noites entre as gravações, porque afinal nós tocamos para fazer um bom background para uma boa festa, e não para mudar a cabeça ou passar mensagens. Somos uma banda de música fútil, sexo e companhia. Mas isso não tira o nosso profissionalismo, só acrescenta diversão! Se é na pratica, aí é uma questão que poucos poderão saber, ahahaha!
REG: Depois de MQN e Mechanics, há uma segunda geração de bandas de Goiânia?
Victor: Sim, tem Bang Bang Babies, Diego de Moraes, Mugo, Hellbenders e muitas outras, todas muito boas. É uma questão de tempo para o Brasil conhecer melhor. Por isso Goiânia está ficando cada vez mais famosa no quesito rock, o nível é tão bom quanto o volume de bandas!
REG: Concordam que Goiânia é a “cidade do rock”? Ou preferem “Seattle brasileira”?
Victor: Prefiro cidade do rock mesmo. Seattle já foi! E Goiânia é, tá crescendo. Lá sempre foi foda, sempre tem show de rock para se ver, todo santo final de semana. O único problema é a mídia, que não espalha a notícia. Mas aos poucos isso está mudando, os jornais estão apoiando mais, as mídias especializadas das grandes cidades estão se voltando mais para lá.
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