por Adel(venom) kenobi
E eis que, depois de longo período de abstinência por uma lamentável ausência de público ( segundo um dos produtores o show de Blaze Bailey teve apenas minguados 250 pagantes !!!! ), o metal está de volta a Aracaju. Andralls está em turnê pelo nordeste e é banda de guerreiros, topam qualquer negocio (já tocaram aqui em duas ocasiões anteriores, no Caju rock e no Backstage do centro, numa salinha onde 50 almas se transformavam numa multidão). Graças a uma junção de atitudes de boa vontade, da banda em se propor a tocar mesmo em condições desfavoráveis, e dos produtores em fazer o evento, mesmo que também em condições desfavoráveis (leia-se risco de prejuízo), aconteceu o Segundo Zombeer Fest, na praia de Aruana. Um local totalmente inusitado, nunca antes palco de um show de rock. Na verdade foi numa casa de veraneio alugada que já costumava abrigar raves e festas particulares.
A presença de um público de razoável pra bom já prenunciava uma boa noitada. Tradicionais 2 horas (+ ou -) de atraso depois, começa o primeiro show, da Nucleador, atraindo a aglomeração da porta (um terreno baldio) para dentro do recinto. Entro também e me surpreendo com a falta do vocalista. Murilo, o guitarrista, improvisa os vocais (soube depois que o titular do posto precisou viajar e por isso estava ausente). Foi meio estranho, mas deu pra segurar a onda, já que o principal estava lá: os riffs matadores acompanhados da pegada vigorosa e empolgante da cozinha (baixo/bateria) garantindo o crossover sem descanso por aproximadamente 40 minutos de show. Evidentemente que não foi o melhor show da Nucleador, mas foi válido, apesar de outro problema sério que já se prenunciava, a qualidade da aparelhagem de som, precária.
A segunda banda a se apresentar foi a INRISÓRIO, depois de aproximadamente 1 ano parados. A expectativa era grande, pois é uma excelente banda death/grind e seria lamentável para a cena local se encerrasse definitivamente suas atividades. Vieram com novidade, um novo baterista, Alexandre, também Scarlet Peace – e foi uma novidade que acrescentou muito ao som da banda, com uma pegada vigorosa, inventiva e técnica. Fizeram um show competente porém burocrático – e infelizmente este não é um problema novo na banda, essa deficiência já podia ser sentida em apresentações anteriores, especialmente depois da saída de Ericão, ele sim, um frontman de primeira. O vocalista que ficou (eram dois), Sekuelado, cumpre bem seu papel, manda bem nos “screamings”, mas tem uma postura de palco um tanto quanto apática, indiferente, o que não chega a comprometer de todo a perfomance, mas causa uma certa estranheza.
Na sequencia a Karne Krua. Que dizer ? Posso dizer que show de rock underground em Aracaju com a presença da karne Krua já é uma tradição de quase 25 anos. É como quebrar caranguejo na orla – se você gosta de rock e passa um tempo fora, você só se sente de novo em casa quando vê um show da Karne Krua. Nessa já não tão nova e enésima formação, com Ivo no baixo, Adriano na bateria e Alexandre na guitarra, além do único remanescente da formação original, Silvio Campos, no vocal, a banda promove um retorno às suas origens, voltando a fazer o Hard Core vigoroso mas ao mesmo tempo melódico de sempre, com aqueles velhos Hinos do punk rock local que nós tanto amamos e estamos acostumados a entoar. Na platéia uma audiência majoritariamente jovem e participativa, pogando e cantando junto ( pois outra característica saudável da banda é a capacidade de renovar seu público ), ao lado de alguns veteranos da cena. O show transcorre com uma excelente energia sob o comando do “velho guerreiro” “Suburbano” e sua vasta cabeleira grisalha esvoaçante (nem tão velho, nem tão vasta, mas dito assim a frase ficou mais bonita ) intercalando discursos breves porém inflamados entre uma musica e outra. Alguns um tanto quanto desnecessários, a meu ver. Há momentos em que eles parecem insistir em marcar posição, coisa que uma banda com o tempo de estrada e o tipo de som que a Karne Krua faz absolutamente não necessita. Sua música é auto-explicativa e sua persistência e fidelidade a seu publico é auto-afirmativa. Senti isso, especialmente, numa fala de Silvio sobre uma suposta banda, cujo nome ele não especificou, que havia feito algumas declarações contra a politização do rock, afirmando que bandas politizadas soam reacionárias (?), declarações estas que ele usou para mais uma vez afirmar a Karne Krua como uma banda politizada e orgulhosa de suas posições. Achei desnecessário. É evidente que há espaço, na Historia do rock, para bandas politizadas, bem como o há para as que optam por outra abordagem, mais intimista, ou mais voltada a assuntos pessoais, ou a temas fantasiosos de lutas medievais contra dragões mitológicos ou o que venha à cabeça do compositor, porque uma das principais caracteristicas do rock, o que proporcionou a esse gênero toda essa longevidade e diversidade de estilos é justamente o sentimento de liberdade que ele provoca. O rock nasceu como uma música libertária e pulsante e esta é a sua força. O fato de haver essa preocupação da parte dele em responder a esse tipo de afirmação sem sentido soa também, a meu ver, sem sentido.
Por último tivemos o Andralls e o seu “fasthrash”, não sem antes uma longa espera até que fossem feitas todas as tentativas para que a aparelhagem soasse razoável. Não conseguiram muita coisa, mas rolou assim mesmo, com um som de guitarra especialmente sofrível. Foi um bom show, mais em cima da força de vontade da banda e dos organizadores e da sede de rock do publico que qualquer coisa. Aquele espetáculo de sempre, bateria espancada, baixo martelado, vocais cuspidos em cima de uma sucessão incessante de riffs, com toda a competência que só a experiência de uma banda com tanto tempo de estrada e tantos discos no currículo pode ter. Encerrou com louvor mais esta noite de metal, na distante praia de Aruana, com a silhueta dos coqueiros se destacando entre as luzes da cidade ao fundo.
Até o próximo, se Ele quiser.
Clique aqui para saber como foi o primeiro.
Abaixo, uma resenha alternativa ( e bêbada, segundo o próprio ) de autoria de um dos produtores do evento e guitarrista das bandas Nucleador e Inrisório, Murillo Viana:
Tudo foi uma desculpa pra beber cerveja, como sempre. Por conta dos organizadores e do público que não cessaram na bebedeira, pelo menos. Mas por fim, o rock foi o verdadeiro protagonista da Zombeer Fest II. Em sua segunda edição, o evento contou com a participação de quatro bandas, respectivamente: Nucleador, INRIsório, Karne Krua e Andralls.
A Nucleador, banda no estilo thrash/crossover de Aracaju, abriu o show com seu ritmo oitentista e sua pegada cavalgada. Um tanto desfalcado, obviamente, já que seu vocalista, Caio Diniz, não pôde comparecer ao evento por conta de uma viagem inesperada. Enfim, o crossover aconteceu. Com seu guitarrista improvisando no vocal, chamou o público que estava fora da Casa do Rock para dentro da casa – local este que, por sinal, serviu muito bem para um lugar para shows de rock, não tanto por sua localidade, de fato um pouco distante do centro da cidade, mas sim por sua estrutura e por seu "astral", astral esse que só quem esteve lá no dia poderia descrever em palavras... a meu ver, um ambiente perfeito para um show underground. Mas continuando focado no show da Nucleador, infelizmente não há muito que se dizer, já que a ausência de seu vocalista notoriamente desfalcou a banda em 25%, porém, posso afirmar que, por mim e por outras pessoas que estavam no show e que admiram a banda, foi um show rápido e com feeling, feeling esse que é o suficiente para se fazer um show crossover divertido.
Logo depois foi a vez da INRIsório, banda esta também de Aracaju no estilo death/grind que também faço parte (Murillo) e que estava sem fazer show por mais de um ano. O repertório do show foi curto, oito músicas, mas levando em conta que suas músicas têm em média quatro minutos, foi um show relativamente completo. Um fato relevante a salientar foi a estréia de seu novo baterista, Alê, na banda, o que acrescentou sem sombra de dúvidas um peso e uma técnica sem precedentes na INRIsório. Apesar, talvez, da apatia da banda ao palco, também talvez devido a uma concentração técnica exigida em seus riffs, não foi um show, como quase sempre nunca é, animado. Mas com certeza isso não tirou o brilho e a diversão estampada no rosto de seus integrantes. Um show bom de se tocar e muito provavelmente bom de observar.
Em seguida foi a vez da Karne Krua. Putz, o que há de se falar de novo sobre esta banda com mais de vinte anos de existência? O pior (melhor) é que há sempre algo de novo a se falar. Sua formação jovem, com apenas Sílvio de vocalista componente original da banda no vocal e três componentes relativamente novos em relação ao vocalista, este realmente presente a etimologia do nome da banda, dão uma pegada mais krua e sofisticada à banda. Digo isso, pois seu guitarrista, Alexandre, compositor musical atual da maioria das músicas novas da Karne Krua, mostra uma pegada precisa e devotada às origens oitentistas do hardcore e do thrash metal, dando a banda uma pegada técnica e violenta, coisa esta que faltava e muito aos ouvintes deste estilo de som. Seu baterista também não deixou a desejar, executando uma pegada reta e coesa. Sobre seu vocalista, Sílvio, realmente não há muito que dizer, só que ele é uma figura impar no cenário rock de Aracaju e sempre será.
Por fim, Andralls. Banda esta residente de São Paulo e com vários anos de estrada. Fez e faz um thrash metal arrebatador! Com seu vocalista recém batizado na banda, Kleber, e que em minha opinião fez seu papel com competência tanto cantando como tocando guitarra, mostrou um show coeso e intolerante à apatia, coisa esta possível devido a sua experiência de vários anos em palco. O público expressou em moshs e circle pits seu carinho e admiração pela banda. Eu, como organizador, também pude ver e perceber a humildade, competência e devoção dos integrantes do Andralls para com o underground. São pessoas bacanas e envolvidas com a correria e isso me orgulha e muito em fazer show para bandas com esse sentimento.
Gostaria de agradecer a Jell e Diogo por terem ficado no bar, a Tonhão por ajudar na segurança, ao Rafael Findans e a Biel por terem organizado o show comigo. A Débora e Adelvan Kenobi da Rádio Aperipê (NOTA: e do programa de rock, é sempre bom lembrar que o programa de rock é uma produção independente, ou seja, seu produtor – EU, Adelvan – não pertence ao quadro de funcionários da Fundação Aperipê), sempre dando essa força nas divulgações. Ao Sílvio da Karne Krua, ao Alê da INRIsório por ter feito o flyer, a Solon e Petoh da Nucleador pela força que deram também. A Victor Balde e a Mari Ana pelas belas fotos. Enfim, a uma série de pessoas que talvez esteja esquecendo de algumas agora mas que foram todas fundamentais para a realização do evento.
A Zombeer Fest não vai parar e o underground em Aracaju não vai morrer. Independente das dificuldades de estrutura e às vezes falta de público nos shows - o que não aconteceu nesse evento, pois a galera compareceu em peso, sempre haverá pessoas loucas e apaixonadas o suficiente em arriscar seu patrimônio na realização deste tipo de evento, eu por exemplo: crossover, death, hardcore e thrash metal, respectivamente foi o que rolou na Zombeer Fest II e isso é apenas o começo de uma série de shows que rolarão em nossa querida cidade de Aracaju. Até a próxima cervejada. Cheers.
resenha nua e crua! a verdade. gostei. talvez não tão espirituosa mas sincera. gostei!
ResponderExcluirsinceridade é tudo, eu acho. E fui espirituoso sim pô, tirei até umas ondas com a cabeleira branca do sub, hehehehe
ResponderExcluiralgumas fotos de lá...
ResponderExcluirhttp://www.orkut.com.br/Main#Album.aspx?uid=14447969661511374959&aid=1246804563
mariana, libera lá o álbum pra todo mundo ver. Não deu pra acessar pq, ao que parece, tá restrito a seus amigos.
ResponderExcluiragora sim, 2 resenhas: a primeira, canalha. a segunda, emo. kkkk. canalhisse emo é uma coisa inédita! haha. brincadeiras a parte... o show rolou na boa e o fato histórico está aqui, eternizado em fotos e palavras.
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