Única fábrica de discos de vinil brasileira voltará a funcionar este ano
(20/07/2009)
Polysom, em Belford Roxo, poderá produzir cerca de 40 mil LPs por mês.
Álbum de estreia da Nação Zumbi faz 15 anos e ganha reedição em vinil.
Lígia Nogueira Do G1, em São Paulo
O disco de vinil vai bombar no Brasil. A previsão é de João Augusto, novo dono da Polysom, única fábrica de LPs da América Latina. Localizada em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, ela ficou desativada até ser comprada pelo presidente da Deckdisc, no início deste ano. Prestes a voltar a funcionar, a empresa não tem vínculos com a gravadora e deve produzir 40 mil peças por mês, segundo ele contou ao G1.
“A Polysom é uma companhia inteiramente independente que vai atender a todas as gravadoras. A Deckdisc vai ser tão cliente dela quanto as outras gravadoras e os artistas independentes. Há uma gama muito grande de independentes que tem essa demanda por vinil”, diz João Augusto.
Na era do MP3, disco de vinil recupera espaço entre os fãs de música
A data da conclusão da reforma, que começou em maio, depende de diversos fatores, mas a Polysom deve reabrir suas portas “ainda este ano, com certeza”. De acordo com o proprietário, a capacidade de produção será de 40 mil discos por mês. “Isso só no começo, depois pode aumentar. Acredito numa demanda alta porque já tem muitos interessados.”
Como não se fabrica mais maquinário para prensar discos de vinil, todo o equipamento da Polysom é reaproveitado. “Tudo está sendo recuperado, desde a mesa de corte até as prensas. A gente desmonta e troca várias peças, mas a carcaça é a mesma de décadas atrás.”
A Polysom vai vender o produto semi-acabado. Caberá às gravadoras colocar a capa, embalar e vender. O preço final também vai depender delas. “No que diz respeito ao custo de fabricação do vinil aqui, estou tentando fazer com que o preço seja duas vezes e meia menor do que lá fora”, diz João Augusto. “Vou conseguir fazer aqui um produto muito mais barato do que o que vem de fora. O problema do Brasil é que as taxas são muito altas.”
Nos Estados Unidos, as vendas de discos de vinil aumentaram 50% em relação ao ano passado, de acordo com dados divulgados pela Soundscan. Segundo a empresa, a estimativa é que sejam vendidos 2,8 milhões de LPs no país até o final do ano – esta é a marca mais alta desde que a Soundscan passou a acompanhar o setor, em 1991.
‘Da lama ao caos’ completa 15 anos e ganha reedição em vinil
A gravadora Sony acaba de lançar a série “Meu Primeiro Disco”, que traz de volta ao mercado álbuns históricos num formato de luxo em edição limitada. Cada exemplar contém o LP original com áudio remasterizado fabricado nos EUA e um CD.
A primeira edição do projeto reúne os trabalhos de estreia de Chico Science & Nação Zumbi, Vinícius Cantuária, Engenheiros do Hawaii, Inimigos do Rei e João Bosco. Serão 30 títulos ao todo, incluindo álbuns do Skank, Zé Ramalho, Sérgio Dias e Maria Bethânia. Cada disco custa em torno de R$ 150.
“‘Da lama ao caos’ é o primeiro e mais importante disco de nossa carreira”, diz Lúcio Maia, guitarrista da Nação Zumbi. “Ali estão as ideias de anos de expectativa por uma consolidação profissional. Tudo aconteceu da melhor maneira possível. Não imaginávamos que um dia o álbum seria tão importante para a música brasileira. Mudamos o conceito de ‘MPB é uma m..., o negócio é imitar gringo’”, reflete o músico, que só compra vinil.
“Não sei quantos LPs eu tenho, mas minha coleção tem de tudo. A maior parte de música brasileira, depois jazz, depois Jamaica, alguns de funk, outros de rock, vários do Fela Kuti, Hendrix, trilhas sonoras...”
Na era do MP3, disco de vinil recupera espaço entre os fãs de música
(11/05/2008)
Artistas da nova cena como Mamelo Sound System e Mauricio Takara lançam LPs.
Festa em São Paulo proporciona diversão gratuita ao som de antigos bolachões.
Ele resistiu à praticidade da fita cassete e ao brilho reluzente do CD. Agora, o disco de vinil dá pistas de estar vencendo mais uma batalha, desta vez com o MP3. Nem o fechamento, no início deste ano, da última fábrica de LPs do Brasil, a Polysom, que ficava em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, está impedindo que o formato ocupe seu merecido espaço no mercado especializado por aqui.
Enquanto os Estados Unidos dão continuidade à cultura de oferecer quase todos os seus lançamentos também em vinil – no ano passado, o país vendeu 1 milhão de unidades, e a previsão para 2008 é de 1,6 milhão - artistas da nova cena paulistana recorrem a fábricas estrangeiras e apostam na clássica bolacha como forma de propagar o seu som.
“Pra começo de conversa, o vinil alcança um espectro de frequências sonoras maior do que qualquer outra mídia, especialmente no campo de grave”, defende Rodrigo Brandão, MC do Mamelo Sound System. “Fora o aspecto técnico, tem o lado estético: nada se compara às capas de vinil. O status de obra de arte que um álbum atinge nesse formato é único.”
“No caso do Mamelo, a importância é ainda maior, já que o vinil teve papel vital no nascimento - e ao longo da história - do hip hop, que é o nosso estilo musical”, diz o rapper, que divide um LP com o grupo Elo da Corrente, prensado pela Polysom e lançado em 2007 pela Boomshot.
Agora, a mais nova empreitada do selo pilotado pelo produtor Zeca MCA é o lançamento em vinil do primeiro disco solo de Lurdez da Luz, MC parceira de Brandão. MCA conta que entrou em contato com uma fábrica de discos de vinil em Paris por conta de um amigo DJ. Da capital francesa vão sair 200 unidades do álbum, ainda sem título, a ser lançado até o final do ano.
“Não dá para competir com os downloads de MP3”, diz MCA. “Estou apostando na Lurdez primeiro porque não existe disco solo de rap feminino no Brasil. E, depois, porque ela é uma MC diferente, que não tem essa pegada de mano que geralmente as meninas do rap têm. Estou percebendo um interesse maior do público em geral em comprar LPs.”
Os números podem não ser tão altos, mas falam por si só. O EP “Ocupado como gado com nada pra fazer”, quarto trabalho do multi-instrumentista Mauricio Takara – conhecido pela participação em grupos como Hurtmold, Instituto e São Paulo Underground – acaba de ser lançado em CD e vinil pelo selo paulistano Desmonta. No primeiro show de divulgação, foram vendidos 80 exemplares do LP a R$ 15 cada um.
Meu Brasil brasileiro
Mas se depender da Deckdisc, que inclui em seu catálogo uma vasta gama de artistas, de Pitty a Nação Zumbi, passando por Teresa Cristina e Ratos de Porão, o terreno dos discos de vinil pode se tornar ainda mais fértil. A gravadora está planejando a instalação de uma fábrica no Brasil, mas o projeto ainda está em fase de pesquisa. Pode ser que a empresa compre equipamentos da antiga Polysom, ou então que adquira maquinário mais moderno no exterior.
A Deck já lançou dois LPs do DJ Marcelinho da Lua, um do rapper Black Alien e um compacto do produtor de dub Mad Professor. Recentemente, a gravadora editou também um single da Pitty, que foi distribuído para a imprensa na ocasião do lançamento do álbum “Anacrônico”.
A situação pode ser complicada, mas quem coleciona vinil no Brasil sabe a delícia que é sair à caça de suas bolachas prediletas. Além dos sebos especializados espalhados pela cidade (principalmente nas galerias do Centro) e ainda nas feiras de antigüidades como a Benedito Calixto, em Pinheiros, e a do Bixiga, na Bela Vista, os interessados em comprar LPs encontram boas opções - novinhas em folha - em redes como a Livraria Cultura.
A loja do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, oferece apenas uma prateleira de LPs em meio a um mar de CDs e DVDs, mas já é um bom começo. Ali, é possível encontrar os principais lançamentos gringos, como os últimos de Amy Winehouse e Cat Power, além de Radiohead, Foo Fighters e Beck. O preço ainda é salgado - a partir de R$ 70 por um álbum simples - mas a alegria de poder ouvir tudo em alta qualidade (e em grande estilo) vale a pena.
Em festa no Centro, só entra vinil
Com um caprichado set que vai de Ray Conniff a Ray Charles, passando por Glen Miller, Frank Sinatra e outros clássicos, Seu Osvaldo Pereira, 74 anos, foi um dos responsáveis por animar uma edição recente da festa Vinil é Cultura, que acontece todas as terças com entrada gratuita no Centro de São Paulo.
“As músicas deles não podem faltar em um bom baile”, diz o primeiro DJ do Brasil que, é claro, só trabalha com bolachões. “Quando o CD passa do volume, o som fica distorcido. Em todos esses anos, aprendi algumas coisas. Uma delas é ficar longe da bebida. Outra é a alta fidelidade do vinil”, brinca o técnico em rádio que começou a carreira em 1958.
Criada há oito anos, a balada nasceu do encontro de lojistas e colecinadores de LPs. “Vi uma reunião no Rio de Janeiro e passei a fazer igual aqui”, conta o DJ Lula, que é dono de uma loja de discos na Avenida São João.
“Tudo começou com cinco amigos. Hoje, recebemos os melhores DJs de fora e daqui.” Entre eles, os filhos de Seu Osvaldo, que levam adiante os ensinamentos do criador da Orquestra Invisível.
A festa Vinil é Cultura já passou por diversos endereços, e atualmente acontece em um dos salões do Hotel Cambridge, na Rua Álvaro de Carvalho. A noite por lá começa cedo, a partir das 19h, e costuma terminar às 23h. O telefone para informações é (11) 3104-9397 ou 3101-2537.
Eu compreendo a nostalgia - nao há ser mais nostálgico do que eu -, mas nao compreendo que ainda se procure favorecer coisas obsoletas. O Vinil e o próprio CD sao coisas do passado, sao objetos obsoletos que só complicam a distribuicao musical. O advento do MP3 nao veio apenas libertar a música das garras das grandes gravadoras, mas também veio trazer uma forma muito mais eficaz de difusao musical. Se uma banda do Japao lanca um álbum hoje, voce o poderá adquirir no Brasil em fracoes de minutos baixando pela net. E MP3 nao significa música gratuita. Eu sou a favor da distribuicao gratuita, mas há quem venda seus álbuns a partir de MP3, com direito a encartes e tudo. Acho que é inútil tentar reerguer o Vinil. Na cena punk mesmo, o Vinil é algo de culto, há gente disposta a pagar muito mais do que por um CD. Eu até acho legal comprar algumas raridades em vinil, inclusive tenho algumas em casa, mas daí a voltar a fabricar em vinil...acho contra-producente do ponto de vista da evolucao dos mecanismos de difusao musical. Quando a minha banda for lancar alguma coisa, espero que seja apenas em MP3 ou no máximo em CD. Devemos tirar o máximo de proveito das formas que facilitam a difusao musical e nao ficarmos presos a saudosismos. Conheco gente que gasta todo o dinheirinho comprando vinis e CDs. Eu nao compro nada, saco tudo pela net e fico com dinheiro para viajar hehehe...
ResponderExcluirTambém não sou contra MP3 nem CD, isso tudo é midia, o que importa mesmo é o conteúdo que vem na midia, a música. O vinil, no caso, seria uma opção a mais. E é sempre bom ter mais de uma opção, em tudo.
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