terça-feira, 28 de julho de 2009

Bicicletas de Atalaia



Subiu em sua bicicleta como quem conquista um sonho.

A cada pedalada sua excitação crescia, então pedalava, mais e mais. Dobrou na Rua dos Anseios, tinha que convidá-los para a aventura, todos eles. Sua turma. Disparou todas as campainhas ao longo da calçada, sem parar em nenhuma delas. Os garotos também dispensavam formalidades e, sem questionamentos, já pedalavam ao seu lado em expectativa breve sobre o que o arrancara tão cedo da cama em tamanho entusiasmo. Primeiro saiu o garoto da bicicleta verde seguido de seu irmão, cuja bicicleta era azul, em seguida chegou o guri da bicicleta prateada. O quarteto arrodeou o quarteirão para dar tempo àqueles que, por vacilo ou miséria de sorte, ainda não sentiam o vento estalando no rosto sob o jazz constante que ecoava das correias e pedais pouco enferrujados das bicicletas.

Logo eram A Turma. Pouco mais de 10 bicicletas magneticamente coloridas varavam a Rua dos Anseios e o seguiam sem ponderações. Ele sempre transmitiu segurança e poesia para seus companheiros, mesmo quando seu amigo da bicicleta verde o viu chorar escondido sob sombra da árvore de leituras na Praça das Perguntas. A árvore; era uma velha amiga, aconchegava-os quando queriam descobrir novas leituras e contar velhas histórias. O choro; talvez fosse por aquele perfume doce da menina da bicicleta vermelha. O amigo nunca soube ao certo. Não era fácil ser seguro, só ele sabia que a segurança não era de fato uma existência, era uma interpretação. Mas achava que se a segurança existia era somente pela boa interpretação de tal papel pelos seguros, e estes, só eram vistos assim por saberem interpretar. Sendo assim, era justo que coubesse a ele tal personagem, pois sabia interpretar muito bem.
O entusiasmo aos poucos dava sinais de insegurança e alguns garotos já se questionavam sobre o quão válido seria prosseguir. Já estavam longe de casa e o suor tornara-se constante. Como estava quente. E que sede. O Telefone sem Fio, de fato, funcionara durante as pedaladas. O menino da bicicleta verde, enquanto exibia-se para o bando mostrando que poderia andar com os braços cruzados, contou para o seu irmão e para o menino da bicicleta preta que por sua vez, contou para o da prateada que buscava uma desculpa qualquer para ter com a menina da bicicleta lilás que logo tratou de repassar para sua melhor amiga, a menina da bicicleta amarela. Em menos de um quarto de hora todos já tinham ouvido falar do tal lugar idílico ao qual ele os levava.

(continua)

http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?rl=cpp&cmm=90573731
www.myspace.com/bicicletasdeatalaia

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