Texto: Michael Meneses
Estréia próxima sexta-feira, 31/7 Kurt Cobain – Retrato de uma Ausência com direção de AJ Schnack. O documentário foi baseado no livro Come As You Are: The Story of Nirvana do jornalista Michael Azerrad. O Site Mistura Cultural assistiu ao filme e constatou que o que se encontra no filme é justamente o que o Nirvana oferecia em sua música, ou seja, arte no melhor da essência. Afinal para muitos quando o Nirvana não nos leva à arte, a arte nos leva ao Nirvana.
A Narrativa - O longa é totalmente recomendado aos fãs da banda que virou símbolo dos anos 90. Kurt Cobain – Retrato de uma Ausência, é todo narrado pelo próprio Cobain à partir do áudio de mais de 25 horas de entrevistas realizadas entre 1992 e 1993 por Michael Azerrad, jornalista, e que já escreveu em renomadas publicações como a Rolling Stone e Spin. O filme não tem declarações dos outros músicos do Nirvana, ou da esposa de Kurt Cobain, Courtney Love, nem da filha do casal (hoje adolescente) Frances Bean Cobain que era um bebê com quem Kurt falou por telefone quando esteve no Brasil para os shows no Hollywood Rock em 1993, num raro momento de contato com alguns poucos e sortudos jornalistas brasileiros.
No filme não existe “achismos” de fãs, músicos, empresários, família, impressa e de pessoas que aparecem em documentários sobre mitos dizendo: “ele era assim”, “ele era assado”, mas quase sempre não transmitindo segurança suficiente para fazer acreditar no “Assim ou no Assado”. Em Kurt Cobain – Retrato de uma Ausência é o Kurt quem diz, e isso transmite a segurança necessária para entender melhor o que se passava na cabeça de um dos últimos românticos do rock. Somente algumas risadas e intervenções jornalísticas por parte de Michael Azerrad são ouvidas, e só ao final se escuta a voz de Courtney Love pedindo a Cobain uma mamadeira. Kurt Cobain conta sua vida quase que por inteiro em pouco mais de 90 minutos, onde expõe pensamentos e memórias sobre sua infância, adolescência, família, drogas, esposa, filha, ou seja, narrar o fato de também ser um humano que pensa, sofre e sorri. E vale destacar seus questionamentos em como o rock estaria em 20 anos e para ser mais exato, mais ou menos nos dias de hoje.
Imagens - Mas se você acha que o diferencial do filme está no fato dele ser narrado pelo próprio Kurt Cobain, calma que tem mais! Apenas em raros momentos fotos do Nirvana ou do Kurt são apresentadas no filme e não tem nenhuma declaração em vídeo, clips, imagens de bastidores, ou qualquer imagem rara da banda ou do Kurt e que tanto provocam o contentamento nos fãs. Como disse é só o áudio do Kurt. Em todo o filme as declarações de Cobain são acompanhadas por imagens do cotidiano da gelada Seatle, com crianças nas escolas, gente nas ruas, trabalhadores, jovens, lojas de discos, livrarias, algumas imagens de outras bandas e belas animações.
Trilha Sonora – Você deve ta pensando que como qualquer documentário sobre uma banda de rock o mesmo deve fazer uso de alguns sucessos da banda na trilha, em especial se o mesmo for de uma banda como o Nirvana, o que renderia mais uma coletânea talvez até com alguma faixa bônus inédita! Mas esse também é outro diferencial! Não que essa trilha sonora não venha ser lançada, mas em todo o filme nenhuma música do Nirvana é tocada, o que ouvimos são sons de bandas de total influencia na formação musical do Kurt Cobain e do Nirvana. Tem pra todos os gostos; Queen, Credence Clearwater Revival (esta última que o Kurt revelou tirar uns sons com o baixista Krist Novoselic no início da parceria), Iggy Pop, R.E.M. entre outros nomes, alguns mais undergrounds. Das canções presentes a mais próxima do Nirvana é The Man Who Sold The World, mas essa na versão original assinada por David Bowie e não o cover feito pelo Nirvana no álbum MTV Unplugged in New York de 1994.
Smells Like Teen Spirit?
Então se o filme não tem declarações de pessoas ligadas ao músico, não tem imagens do músico e não tem músicas da banda como Kurt Cobain – Retrato de uma Ausência funciona? A resposta está na arte da soma da trilha sonora, das imagens, e nas veracidades das declarações de Cobain. O filme funciona como rica obra de arte, como foi o Nirvana. Mas vale o alerta aos fãs comerciais: o bonito experimentalismo do filme pode não agradar alguns fãs podendo provocar decepções, sobretudo naqueles que esperam encontrar mais do mesmo, algo inexistente no filme, pois mesmices artísticas passam longe desse filme.
Sobre AJ Schnack - O cineasta nasceu em 1968, em Illinois/EUA é um dos fundadores da Bonfire Films of América. Seu primeiro documentário, foi Gigantic (A Tale of Two Johns), sobre a banda They Might Be Giants em 2002. Dirigiu videoclipes e os curtas-metragens Might as Well Be Swing (2000) e The Heir Apparent (2005). Com Kurt Cobain – Retrato de Uma Ausência indicado ao Spirits Award 2007 ao prêmio Mais Verdadeiro que a Ficção.
Ficha técnica
Titulo original: Kurt Cobain: About a Son) EUA, 2006, cor e p/b, 96 min., 14 anos.
Direção: AJ Schnack
Roteiro: Wyatt Troll
Música: Steve Fisk e Benjamin Gibbard.
Produção: Shirley Moyers, Noah Khoshbin e Chris Green.
Elenco: Com as vozes de Michael Azerrad, Curt Cobain e Courtney Love.
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