Em tempos em que o barato (não nos preços) é comprar
luxuosos LPs em prensagens novas de alta fidelidade, só mesmo essa massiva
campanha de gravadoras multinacionais relançando discografias completas das
mais queridas e amadas bandas do rock mundial para aquecer o mercado de discos. Uma das primeiras a ter sua
discografia remasterizada e embalagens 'repackiadas' foi o Led Zeppelin
(Atlantic). Ainda não estava em voga o digipack, que aproxima o CD da
experiência única de se manipular um LP. Uma década depois a EMI jogou duro e
finalmente atualizou a discografia de um campeão de vendas: os The Beatles! Não
só o som foi melhorado, mas as embalagens deram aquela sensação de justiça
sendo feita à grandiosidade da música. Os fãs agradecem, o departamento de
vendas das lojas também! Rolling Stones e Bob Dylan vêm aos poucos explorando
relançamentos que fazem mesmo um cara que já tem uma edição qualquer do LP e o
CD lançado na década de 90 (com som pífio comparado ao LP original) vá lá e
compre pela terceira vez o mesmissimo disco, mesmo que não possua nenhum 'extra'.
A discografia dos Doors é um caso à parte: a Elektra não só capricha nos encartes e na remasterização dos clássicos álbuns com Jim Morrison, mas há inserções de conversas de estúdio antes e depois das músicas, faixas bônus aos montes em cada disco, e "Light My Fire" com a rotação consertada (é, o que ouvíamos anteriormente era a master feita a partir de uma fita acidentalmente acelerada). No caso da EMI - os supracitados Beatles e a vitoriosa campanha "Why Pink Floyd" com a gigantesca caixa "Discovery" -, os relançamentos apresentam os tracklists idênticos aos originais. Tiro certeiro pro 'hardcore fan' não se desapontar, afinal o mais importante fator em qualquer disco é o som, e esse é o grande trunfo desses 'remasters', assim como nos dos Beatles (seja estéreo ou mono). O segundo fator mais importante é a apresentação do material, e se nos besouros já tava lindo, com o Pink Floyd é um passo adiante. Especialmente nas edições "Experience" e "Immersion" de três álbuns-chave do quarteto inglês: Dark Side of The Moon, Wish You Were Here e The Wall, também relançados em vinil. As edições "Discovery", no entanto, não deixam a desejar. Embalados no plástico nas vitrines parece fino demais, mas justiça seja feita, o digipack usado é capa dupla e os encartes contém imagens das artes originais retrabalhadas, fotos, letras e ficha técnica completa. Não dá pra querer mais que isso, né...
A discografia dos Doors é um caso à parte: a Elektra não só capricha nos encartes e na remasterização dos clássicos álbuns com Jim Morrison, mas há inserções de conversas de estúdio antes e depois das músicas, faixas bônus aos montes em cada disco, e "Light My Fire" com a rotação consertada (é, o que ouvíamos anteriormente era a master feita a partir de uma fita acidentalmente acelerada). No caso da EMI - os supracitados Beatles e a vitoriosa campanha "Why Pink Floyd" com a gigantesca caixa "Discovery" -, os relançamentos apresentam os tracklists idênticos aos originais. Tiro certeiro pro 'hardcore fan' não se desapontar, afinal o mais importante fator em qualquer disco é o som, e esse é o grande trunfo desses 'remasters', assim como nos dos Beatles (seja estéreo ou mono). O segundo fator mais importante é a apresentação do material, e se nos besouros já tava lindo, com o Pink Floyd é um passo adiante. Especialmente nas edições "Experience" e "Immersion" de três álbuns-chave do quarteto inglês: Dark Side of The Moon, Wish You Were Here e The Wall, também relançados em vinil. As edições "Discovery", no entanto, não deixam a desejar. Embalados no plástico nas vitrines parece fino demais, mas justiça seja feita, o digipack usado é capa dupla e os encartes contém imagens das artes originais retrabalhadas, fotos, letras e ficha técnica completa. Não dá pra querer mais que isso, né...
Ao pensar com meus botões que discos do Pink Floyd eu daria
prioridade pra adquirir, certamente escolheria o álbum de estreia (The Piper at
the Gates of Dawn), que amo de paixão, o Meddle e o Animals. Também tem o A
Saucerful of Secrets, Ummagumma e o Wish You Were Here, mas em nenhum momento o
The Wall figurava em qualquer 'top 5' que eu fizesse sem pensar muito. Assim
como alguns clássicos do Zeppelin, Deep Purple e Sabbath, o The Wall é daqueles
discos que ouvi tanto na adolescência que estava dentro de uma gaveta (um
muro?) cuja importância eu subestimava. Eu sequer o havia ouvido na antiga
versão em CD. Só conhecia mesmo o velho LP CBS de meu irmão e, claro, o genial
filme de Alan Parker que mune o espectador de vívidas imagens para sempre
indissociáveis do áudio original.
Eis que em uma recente ida a Itabaiana e visita à loja TNT
Rock com pouco tempo disponível para escolher entre vários títulos apetitosos,
me deparo com a edição "Experience" do disco-do-muro. O CD é triplo,
contendo o disco duplo original, mais o extra intitulado "Work in
Progress", contendo não as demos de Roger Waters - presentes nos extras
expandidos da caixa "Immersion" - mas já as sessões de estúdio com a
banda ainda encontrando as melhores soluções não só nos arranjos (algumas
músicas contém diferenças gritantes), mas também no ordenamento das faixas que,
em se tratando de The Wall, faz toda a diferença!
O disco duplo original é uma obra ímpar não só na
discografia do Floyd, mas de uma visão que não se encontra em nenhuma outra
banda. Pensei, pensei, e não achei absolutamente nada parecido. Mesmo sem ter
havido filme (lançado em 1982) é uma narrativa completa, em 02 atos, com
personagens, efeitos sonoros (altamente valorizados na remasterização), e a
mais emblemática performance de Roger Waters que, pra quem não sabe, é o grande
gênio por trás da concepção do álbum, e canta diversas músicas de maneira tão
visceral que você não acredita que ele é apenas o vocalista do Pink Floyd, mas
ele é o próprio Pink, personagem principal da trama narrada em The Wall. De
fato, a gênese do álbum partiu da própria experiência de Roger vendo os shows
de sua banda se transformarem em um mega evento, tocando em estádios e perdendo
o contato próximo aos fãs de outrora. A catarse veio após um show da turnê do
disco anterior, Animals, onde Rogério Águas cuspiu em um fã que havia furado o
bloqueio dos seguranças para poder subir no palco, berrando o quanto amava o
Pink Freud. Adicione a essa egotrip sua história de vida pessoal, tendo perdido
o pai para uma guerra, e o amigo e líder dos primódios do Floyd, Syd Barrett,
para a loucura causada pelo uso abusivo de drogas alucinógenas.
Listo aqui o que há de realmente diferente e interessante no
CD extra: o "prelúdio" (a única demo original de Roger inclusa) que é
uma colagem de sons tirados de gravações da Vera Lynn - que viraria tema para
uma composição original incluída no LP ; "Teacher Teacher"
(retrabalhada como "The Hero's Return" em The Final Cut de 1983),
"Sexual Revolution" e "Backs to the wall", faixas deletadas
do disco original, lançado em novembro de 1979, além das duas contribuições de
David Gilmour (fora "Run Like Hell") com trechos inteiros
completamente diferentes: "Young Lust" e "The Doctor" (que
virou "Comfortably Numb"). Isso não quer dizer que as outras faixas
são dispensáveis. É incrível como The Wall é um trabalho onde os detalhes são
tão importantes quanto as melodias ou solos de guitarra. Várias músicas que
conhecemos de cor e salteado aparecem em versões idênticas... até um arranjo no
meio ou final da música aparecer e você perceber que o produto final foi o
resultado de várias tesouradas para incluir no disco duplo o que havia de mais
essencial no repertório e dentro de cada música. Mérito da dupla Waters-Gilmour
que assinam a produção junto a Bob Ezrin (um cara que tem no currículo o Berlin
de Lou Reed e Destroyer do Kiss). Além destes, um nome aparece como
co-produtor: James Guthrie. Esse engenheiro de som foi tão importante para este
trabalho (que realmente tem um som só seu, extremamente peculiar), que foi
chamado para produzir o disco seguinte, The Final Cut (o canto de cisne de
Roger Waters à carreira Floydiana), e é um dos responsáveis pela remasterização
de todo o catálogo relançado em 2011. Guthrie também foi recrutado para a
transposição de The Wall de um trabalho de estúdio para show ao vivo. Gilmour,
que não raramente batia de frente com as decisões egoístas do líder assumiu a
direção musical do show, sendo responsável por contratar e ensaiar os músicos
extras e de coordenar toda a equipe durante o espetáculo.
Foram somente 27 shows na turnê promocional do disco,
ou seja, se você estava em um deles pode se considerar um 'lucky bastard' só
por ter estado presente. Roger Waters reviveu o mesmo conceito nos anos 80 e
mais recentemente com uma turnê, mas nada se compara à experiência original. Na
caixa "Immersion" tem um DVD que traz uma ou duas faixas em vídeo,
mas a dura realidade é... show completo em alta definição, sem chance! Dá pra
arriscar alguns registros de filmadora postados no Tubo, mas o que mais
aproxima fidedignamente da experiência é o CD duplo "is there anybody out there?", que também foi
remasterizado e incluído na tal da imersão. Para sorte de quem adquiriu o
lançamento original (não é inédito, já havia sido lançado anteriormente, em tiragem limitada) o livreto do encarte é recheado
de ótimas fotos em papel especial, depoimentos dos 04 membros e também de James
Guthrie, um "Behind The Wall" (antes do doc) com detalhes da produção...
ou seja material suficiente para atestarmos a grandeza do projeto.
Confesso que tinha ouvido poucas vezes os CDs ao vivo - que tenho desde 2001. Afinal, como colocado no início do post, The Wall é daqueles discos que simplesmente não me dava vontade de ouvir, por eu saber exatamente de onde vem e pra onde vai. Lógico que ao adquirir o CD triplo remasterizado eu logo revisitei o ao vivo, e não me arrependi. É mais uma luz na evolução do repertório. Há músicas no set list do show que não estão presentes no disco de estúdio, nem nas demos "in progress". Nos textos mencionados, a gente aprende que realmente tudo foi uma questão de escolha de prioridades e, claro, devemos lembrar da limitação do vinil em relação ao tempo de cada lado dos LPs. Músicas como "What Shall We Do" (cuja letra havia sido impressa no vinil original!?!) e "The Last Few Bricks" (um instrumental que une vários temas do disco 1, antes de "Goodbye Cruel World") dão maior linearidade à narrativa musical, ao passo em que a gente entende que a exclusão delas não atrapalhou em nada o entendimento da obra lançada em 1979. E, assim como nas demos que conheci agora, esse novo gás em "Is there anybody out there" me fez perceber outros detalhes que diferem as versões ao vivo das de estúdio. Não são poucas as músicas que tem partes instrumentais extendidas (basicamente para solos), como a jam em "Another Brick in the Wall Pt. 2". Outras como "The Show Must Go On" contém uma estrofe completamente nova. Ou seja, ela devia existir desde sempre, porém a faixa foi encurtada no disco, por razões já especuladas.
Confesso que tinha ouvido poucas vezes os CDs ao vivo - que tenho desde 2001. Afinal, como colocado no início do post, The Wall é daqueles discos que simplesmente não me dava vontade de ouvir, por eu saber exatamente de onde vem e pra onde vai. Lógico que ao adquirir o CD triplo remasterizado eu logo revisitei o ao vivo, e não me arrependi. É mais uma luz na evolução do repertório. Há músicas no set list do show que não estão presentes no disco de estúdio, nem nas demos "in progress". Nos textos mencionados, a gente aprende que realmente tudo foi uma questão de escolha de prioridades e, claro, devemos lembrar da limitação do vinil em relação ao tempo de cada lado dos LPs. Músicas como "What Shall We Do" (cuja letra havia sido impressa no vinil original!?!) e "The Last Few Bricks" (um instrumental que une vários temas do disco 1, antes de "Goodbye Cruel World") dão maior linearidade à narrativa musical, ao passo em que a gente entende que a exclusão delas não atrapalhou em nada o entendimento da obra lançada em 1979. E, assim como nas demos que conheci agora, esse novo gás em "Is there anybody out there" me fez perceber outros detalhes que diferem as versões ao vivo das de estúdio. Não são poucas as músicas que tem partes instrumentais extendidas (basicamente para solos), como a jam em "Another Brick in the Wall Pt. 2". Outras como "The Show Must Go On" contém uma estrofe completamente nova. Ou seja, ela devia existir desde sempre, porém a faixa foi encurtada no disco, por razões já especuladas.
Resumo da ópera: The Wall ao vivo é a famosa "ultimate
experience": não dá pra ficar melhor que isso (quer dizer, o áudio
remasterizado deve ter melhorado o que já era bom). Nas fotos, dá pra ter uma boa ideia do que era essa
experiência do ponto de vista da plateia: até o final do primeiro set o muro ia
sendo construido. No segundo set, várias brincadeiras eram feitas para
aproveitar o 'cenário', como Roger cantando no que seria o quarto do personagem
Pink, ou David solando "Comfortably Numb" do alto do muro...
Impossível ficar indiferente também às animações feitas por Gerald Scarfe, tão
boas que se tornaram parte essencial do filme de Alan Parker. As animações eram
projetadas no muro, claro. Melhor telão, impossível.
Post-scriptum (elocubrações sobre o que veio depois): The
Wall é tão marcante que enterrou de vez uma banda que já assumiu que vivia uma
crise desde o estouro de The Dark Side of The Moon, lançado em 1973. As sessões
de Wish You Were Here e Animals já foram tensas, culminando na demissão (!) do incomparável
Richard Wright, que numa atitude de extrema hombridade (sorte nossa) fez
questão de ir até o fim das gravações de The Wall e de sair em turnê como
músico contratado (!???) da banda-loucura de Waters. E o que veio depois? Uma
grande viagem de Roger chamada de "Requiem for a Post-War Dream" ou
simplesmente The Final Cut. Um disco do Pink Floyd sem Richard Wright? Give me
a break. Racionalizando: The Wall é tão grandioso que engoliu o Pink Floyd em
seu próprio vórtice. A serpente mordeu a própria cauda (ou qualquer metáfora
semelhante). O caminho traçado por The Wall nunca deveria ter sido repetido, o
que mais ou menos é a única maneira de justificar a existência do Final Cut. E
que disco estaremos discutindo daqui a mais 30 anos? The Final Cut? Acho
improvável, mas The Wall será para sempre rediscutido, reouvido e
reassistido...
por Fábio "snoozer"
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