O trecho acima é uma passagem do livro “A Light that never goes out: The Smiths - a Biografia”, que narra a história dos Smiths – a banda que salvou nossas vidas. Escrito por Tony Fletcher e lançada no Brasil pela editora Best Seller, o calhamaço de mais de 600 páginas conta em detalhes a vida dos quatro rapazes de Manchester desde os primórdios – com direito, inclusive, a uma brilhante dissertação sobre a imigração irlandesa na cidade industrial britânica. Disseca o comportamento excêntrico do vocalista Morrissey e os problemas de relacionamento entre os integrantes e com o “staff” que os circundava; as turnês, sempre conturbadas e prejudicadas pelos caprichos de uma banda que se recusava a “jogar o jogo” e tinha uma verdadeira obsessão por manter sua integridade, apesar de algumas concessões pontuais – das quais, na maioria das vezes, se arrependeram -; as experimentações e técnicas de gravação em estúdio, assim como a criação e o lançamento de singles e álbuns históricos, com os devidos significados por trás das letras, sempre brilhantes; e o fim, que deixou órfã toda uma geração.
O autor contou, em sua empreitada, com a colaboração de Andy Rourke e Johnny Marr, que lhes concedeu entrevistas. Morrissey e Mick Joyce se abstiveram - a atitude deste último, ao contrário do primeiro, ele estranhou, pois deixa claro que, até aquele momento, se considerava amigo do ex-baterista, pivô dos piores conflitos envolvendo a "cozinha" e a dupla de compositores. A trajetória de Morrissey, no entanto, é perfeitamente reconstituída a partir de uma pesquisa exaustiva em arquivos, desde o que saiu na imprensa até depoimentos e correspondências com amigos e desafetos. Temos também os depoimentos de seus companheiros de banda, testemunhas oculares e principais vítimas de suas esquisitices - são incontáveis as vezes em que ele simplesmente não aparece em compromissos profissionais, sem maiores explicações, ou sua dificuldade de comunicação - Andy conta que pegava o mesmo ônibus que Morrissey ao final dos primeiros ensaios da banda e teve que aprender a contar os postes pelo caminho, já que o vocalista não lhe dirigia a palavra durante todo o percurso.
Por tudo isso, e também pela análise refinada do contexto histórico e do que significou a passagem meteórica dos Smiths pelo mundo da música pop, "The Smiths - A Biografia" se converte num excelente “aperitivo” enquanto não sai, finalmente, a versão traduzida da comercialmente muito bem sucedida autobiografia do “maior inglês vivo”, prometida para um futuro indefinido pela editora Globo. Na verdade, a julgar pelo que já li a respeito, o “aperitivo”, especialmente se for lido junto com a fantástica “Mozipédia” – que também já tem versão nacional – parece ser melhor que o prato principal ...
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