Discarga Violenta (com “i” mesmo, não me pergunte porque)
era (é?) uma banda de Natal, RN, que fazia um som rápido, barulhento e
inventivo. “Cosmopolita”, o EP 7 polegadas, vinha embalado num pôster que, ao
ser dobrado, formava capa, contracapa e encarte. Orgulhava-se, em letras
garrafais no folheto publicitário xerocado que vinha encartado no disco, de
conter 19 sons em apenas 6 minutos.
Começa muito bem, com “liberte-se”, uma faixa cadenciada
baseada num ótimo riff de guitarra e letra minimalista que, no final, descamba
num “noise” densenfreado para então encerrar retomando o riff. E assim segue,
alternando passagens mais “melódicas” – desleixadas, toscas, mas melódicas –
com barulho puro e simples. E sempre com ótimas letras que transmitem grandes
mensagens em poucas palavras. Pérolas da síntese punk.
Impressionou. O que não sabíamos é que o melhor ainda estava
por vir: em 1993 eles lançaram um segundo EP, “DADA”, muito melhor pensado e
acabado, em todos os sentidos – tanto gráfico quanto musical. Na parte gráfica,
destaque para o charmoso selinho da bolacha, com uma foto da banda. Já quando
digo “musical” falo na qualidade das composições, especificamente, pois a
execução continuava tosca, com uma única e poderosa exceção: o baterista
“Tampinha”, que conduz o disco com maestria combinando de forma perfeita
batidas “blast beat” com passagens nitidamente “jazzísticas”. Uma evolução
impressionante! Adriano Stevenson, ex-Devastação e depois Rotten Flies (onde
está até hoje), havia saído para dar lugar a Derek, na guitarra, mas deixou
como legado uma belíssima coleção de canções que merecem ser dissecadas num
“faixa-a-faixa” ...
Começa num ritmo “nervoso”, porém preciso, no Hardcore
rapidíssimo “Libera”, em que musica e letra se casam de forma perfeita. É
seguida por “Raimundo”, um poema “desmusicado” de Carlos Drummond de Andrade.
“Desmusicado” apenas em sua primeira parte, puro noise, porque em seguida a
mesma faixa entrega a primeira e impressionante levada “jazzística” do disco. A
essa altura, na primeira ouvida, já desconfiávamos que tinha algo de muito
especial ali ...
Todas as demais faixas confirmam a “desconfiança”. A
terceira tem uma letra que se resume a duas sentenças: “Ame seu ódio/e aja já”,
mas ditas de forma brilhante num ritmo cadenciado e vigoroso. “Equilibrio
bem/mal” tem o melhor momento “percussivo” do disco, enquanto “Expresso
Liberdade” é a mais fraca - meio “feijão com arroz”. O lado A se encerra com
“Não esqueça”, da Devastação, outra banda clássica e pioneira da primeira
geração punk potiguar. Excelente composição.
O lado B começa lascivo, com “caralho dói”, e segue no mesmo
ritmo de “vai e vem” com “Anjos da cidade” – “trepadas gozadas isso é que é
bom”. Mas a mais original, em termos de arranjo, é a faixa seguinte, “povo sem
vergonha”, que se desenrola através de um diálogo, quase um “repente”, com uma
voz feminina – Gigi Melo - deliciosamente carregada de sotaque nordestino.
Fechando tudo, “Um pássaro”, um belíssimo libelo libertário que nos faz ter
vontade de jogar tudo pro ar e “nascer de novo”, “indo arriscar”. Periga ser a
melhor do disco ...
Tenho dito isso há mais de 20 anos, e nunca mudei de idéia
...
Vou tocar na íntegra, na próxima edição do programa de rock.
19H, sábado, 104,9 FM em Aracaju e região.
A.
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