terça-feira, 9 de agosto de 2011

I Want my ...

Nem quero mais. Desisti. Há muito tempo já coloquei em minha cabeça que a MTV que eu conheci, e era sensacional, não existe mais, e não voltará. Os tempos eram outros, afinal ...

Era o início da década de 1990 e eu já era um "roqueiro" inveterado faz tempo. Mas eu morava (moro) em Sergipe. Pior (ou melhor, vai saber, depende do ponto de vista): conheci o rock em Itabaiana, INTERIOR de Sergipe. Isso, nos anos 80, significava não saber praticamente nada sobre seus ídolos. Significava, principalmente, nunca tê-los visto "em movimento", em imagens de vídeos (Ao vivo, então, nem pensar). Por isso fiquei tão fascinado quando, ao viajar para São Paulo em 1991 (para de lá ir à "cidade maravilhosa" ver a segunda edição do Rock In Rio), tive meu primeiro contato com a então embrionária MTV Brasil. Só saí de lá com alguns clipes gravados do "Fúria Metal", apresentado por Gastão Moreira, em VHS. Era lindo poder ver finalmente, em imagens de boa qualidade (de vez em quando a gente conseguia algo, mas era sempre pra lá de sofrível), judas Priest, Faith No More, Anthrax, Megadeth, Metallica, Slayer ...

De volta à terrinha, por um tempo ficou só a saudade, até que a emissora liberou seu sinal para as parabólicas. Aí foi uma festa: como em minha casa não tinha antena, ia na de um amigo e esperava, pacientemente, até que seus pais acabassem de ver o Fantástico para, finalmente, sintonizarmos aquele canal abençoado que trazia até nós, naquele cantinho esquecido do mundo, video clipes dos Pixis, Sonic Youth, Smiths, Cure, bandas que já conhecíamos de discos e matérias e fotos de revistas, bem como novos e fascinantes grupos como Smashing Pumpkins, Screaming Trees, Soundgarden, Teenage Fanclube e Alice in Chains, dentre outros.

Esta época coincidiu com o estouro mundial do grunge e a consequente projeção do cenário alternativo na grande mídia. Foi fascinante. Não me esqueço da primeira vez em que ouvi falar do Nirvana, justamente pela boca deste meu amigo que tinha antena parabólica em casa: ele me disse que estava passando direto um clipe de uma banda nova que era sensacional. Me descreveu as imagens da torcida organizada anarquista numa quadra de basquete empoeirada e eu fiquei curiosíssimo. Esperei até o domingo, dia em que assistíamos juntos o excelente programa "121 minutos", precursor do mais conhecido "Lado B", na época apresentado por Luiz "Thunbderbird", e pirei! No dia seguinte encomendei o disco, "nevermind", e uma camiseta do Nirvana à Loja Wop Bop, de São Paulo. Antes mesmo do petardo chegar pelo correio dei de cara com pilhas dele à venda nas Mesblas e Lojas Americanas da vida, mas foi uma boa compra: calhou da minha cópia ser da primeira prensagem, com uma contracapa diferente, e eu fui, provavelmente, a primeira pessoa em Aracaju a ostentar com orgulho uma camiseta daquela banda nova da qual todos, logo logo, estariam gostando.

Houve um hiato durante o qual fiquei longe da emissora porque o sinal foi cortado das parabólicas. Ficava sabendo das novidades apenas pelas revistas, como da vez em que uma VJ gostosinha, a Cuca, foi capa da Bizz. Mas felizmente sempre haviam amigos que tinham TV por assinatura e com eles eu pegava emprestado fitas VHS com clipes gravados, ou ia assitir aos programas ao vivo - a bola da vez eram os irmãos Snoozers, Rafael e Fabinho, na casa dos quais eu ia de vez em quando, também aos domingos à noite, para assitir ao Lado B do "reverendo" Fábio Massari.

Só voltei a ter um contato mais direto com a MTV no final dos anos 90, quando meus pais assinaram um pacote de TV a cabo, na época ainda novidade em Aracaju. Cheguei a tempo de pegar a última fase decente da emissora, antes de abrirem para o axé e para Sandy & Júnior e a coisa degringolar de vez - o canal era uma espécie de "brinquedinho" luxuoso de Victor Civita Neto , o Titi, filho do dono (e o dono era ninguém menos que o Grupo Abril, um dos maiores conglomerados midiáticos do país), até o dia em que seu pai o chamou à razão e decretou que aquilo alí tinha que parar de dar prejuizo ou seria simplesmente fechado. Foi a época (virada do milênio) em que o rock flertou com mais intensidade com a música eletrônica e, por conta disso, haviam excelentes video clipes do Prodigy, Chemical Brothers, Atari Teenage Riot, Tricky e Portishead. Havia também o "britpop": o oasis era o novo guns and roses, sempre em altíssima rotação. Tudo isso convivendo em harmonia com os programas segmentados de sempre que traziam até nós o "bom e velho" rock alternativo guitarreiro e barulhento, além do punk e do metal, sempre com espaços cativos na programação.

Mas depois da "chamada na xinxa" do papai mão aberta, o sonho acabou. Começaram demitindo os bons e colocando rostinhos bonitos (alguns nem tanto, já que Kid Vinil comandou um Lado B reformulado por algum tempo) para substituí-los, até acabar de vez com os programas e, pasmem, com a própria predominancia dos video clipes e, consequentemente, da música, no canal que continuou se chamando, agora ironicamente, "music television".

Esta matéria foi motivada pelo fato de que a MTV americana, a matriz, acaba de completar 30 anos. Quase ninguém soprou nenhuma velinha. Dando lucro ou não, o fato é que ela, hoje, não tem mais a mesma relevância - pra ninguém! O mundo é outro, como dizia no início. Graças, principalmente, à internet. Eu, particularmente, nem sei mais o que rola na programação da subsidiária brasileira, nem tenho vontade de saber. Mas ficam as boas lembranças (e alguma coisa ainda guardada em velhas fitas VHS que miraculosamente escaparam do mofo) não apenas dos clipes, mas das vinhetas, quase sempre excelentes, de programas como o "Liquid Televison", "Aeon Flux" e "The Maxx", das campanhas ousadas de combate à AIDS e de chamados à razão, como na época em que eles colocavam no ar vários minutos de tela escura com a inscrição "desligue a televisão e vá ler um livro".

Um tempo bom que não volta nunca mais.

MTV GET OFF THE AIR! NOW !

por Adelvan

9 comentários:

  1. acho que essa mudança pra pior tem relação tb c/ a mtv americana [matriz da brasileira], hoje dominada pelo pop-rap-r&b plastificado.

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  2. Me lembro que a matriz americana e a maioria de suas subsidiárias já tinha mudado há tempos, a MTV Brasil era uma espécie de "vanguarda" do canal no mundo. Com certeza, durante o pito no filho gastão, o poderoso chefão lá deve tê-las usado como exemplo de "sucesso".

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  3. Já tinha lido sobre a decadência da mtv numa edição antiga da trip que achei no googlebooks. Depois de alguns minutos, consegui acha-la: http://books.google.com.br/books?id=Oi0EAAAAMBAJ&pg=PT111&dq=trip+dez.+1998&hl=pt-BR&ei=d7BBTrW6Lqe70AGLxrn4CQ&sa=X&oi=book_result&ct=book-preview-link&resnum=9&ved=0CFAQuwUwCA#v=onepage&q&f=falsee
    O "filho gastão" é o roqueiro Victor Civita, um dos herdeiros do Grupo Abril. Nos primeiros anos o Grupo tinha 100% de autonomia controle da Mtv, mas depois de anos no vermelho, teve que vender 50% de volta a Viacom. A partir daí todo mundo sabe a historia. Infelizmente não pude acompanhar esses anos de ouro da emissora, mas alguns do programas que acompanhei colaboraram bastante pra minha formação musical, como o Lado B, Riff, Nação...

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  4. Valeu pela pesquisa, "solilóquio". o Vou até atualizar o texto baseado em seu comentário ...

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  5. Será que essa história do chefão e do filho fanfarrão é mesmo verdade? Sei não...parece é que a MTV apenas se deixou levar pela onda do lixo comercial. Como sou mais novo que você - ainda bem (ou ainda mal) -, peguei apenas o final do último período decente da MTV, antes de se esculhambar toda. Ainda lembro dos programas mais alternativos e do aparecimento, aqui e ali, de coisas bizarras como Sandy e Jr, pagode, etc...mas para mim, que também vivia em Aracaju, ter tido MTV numa época em que a TV por assinatura estava começando a ser difundida foi muito importante para o rumo musical que tomei. Sobretudo durante a madrugada...eu ficava sempre acordado vendo MTV e conheci muitas bandas assim. Nem tinha como gravar os videos - não tinha video-cassete -, então eu ficava sempre com um caderninho preparado do meu lado na cama, anotando o nome das bandas legais que passavam e depois ia procurar na CD Club (também não tinha internet). Foi um período tão enriquecedor. Depois vieram aqueles VJs que não entendiam patavinas de música mas eram modelos de passarela e ficavam bem no ecrã...argh!

    MTV GET OFF THE AIR! Agora temos a internet!

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  6. Esse lance da "chamada na xinxa", tou me lembrnado agora, acho que vi numa entrevista ao vivo, não lembro com quem. Verdade ou não, é bastante plausível, não é ? Não acredito que o pai, ninguém menos que Roberto Civita, o chefão da Abril, iria concordar em ficar bancando o brinquedinho do filho para sempre, com ou sem pressão da matriz, que vem a ser o grupo norte-americano "viacon". Mas é isso aí, o lado "artístico" é sempre prejudicado pelas pressões comerciais, no caso de empreendimentos ligados à iniciativa privada, ou às pressões conjunturais, no caso de órgãos públicos, como a Aperipê mesmo. No final das contas, não importa: o rock, especialmente aquele que é feito na raça nas garagens e subterrâneos, sobreviverá.

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  7. "o rock, especialmente aquele que é feito na raça nas garagens e subterrâneos, sobreviverá."

    E é só esse que importa!

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  8. Pois é, aí vai mais um viva ao rock garageiro(como diz adelvan), que jamais morrerá. o rock n roll é eterno pena que os bons programas não......(thiago holidays)

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  9. Meu caro Adelvan, sinto saudades tambeem da antiga MTV, assim como vc, eu e o Estranho tambem perigrinavamos até a casa dos irmãos Snoozes, para assistir Furia Metal... isso em 95, em 96 fui pra SP, lá era tv aberta, imagine que maravilha... depois acabou.

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