
Tal qual os muçulmanos que têm que ir a Meca pelo menos uma vez na vida, minha peregrinação é anual e tem como destino o Recife, no Abril pro rock. É assim desde 1995, quando fui pela primeira vez, na terceira edição – isso depois de ficar sabendo da existência do Festival através do pessoal da Living In The shit, que tinha tocado lá no ano anterior como banda de suporte de Stela Campos, que na época atendia por Lara Hanouska. Naquela noite memorável, acompanhado de meu amigo de fé, irmão e camarada Marcos “Meleka Korroziva”, do Rio de Janeiro, tive a honra de ver, entre outras coisas, uma apresentação da Nação Zumbi ainda com Chico Science. De lá para cá, perdi pouquíssimas edições, acho que duas. Este ano a programação não estava tão convidativa, mas calhou de o Megadeth se apresentar dois dias depois e deixar a viagem bem mais atrativa.

O público foi chegando á medida que a noite ia avançando. Claustrofobia, de São Paulo, fez um show extremamente barulhento, mas sem imaginação. Aquele thrash modernoso e sem graça de sempre. O mesmo pode-se dizer do Eminence – que é um pouco menos “duro”, mas igualmente desprovido de talento criativo. Pra “lascar” tudo de uma vez, me sobe ao palco um tal de “Terra Prima”, “gay metal” dos mais afetados. Não posso nem dizer nada sobre o show porque mantive distancia, já que aquela não é, definitivamente, a minha praia. Quando foi anunciado o show do Agent Orange, corri para a frente do palco pra ver e trouxe junto minha namorada, falando pra ela que aquela era uma banda clássica do punk rock e um dos motivos de eu estar ali (conheço-os pouco, mas sempre ouvi falar muito bem e como referência pra muita coisa que veio depois, além de ter gostado do pouco que ouvi). Passados cerca de 15 minutos de show ela me olha com cara de enfado e pergunta “é essa a banda que você acha tão boa” ? Não era. Não sei dizer exatamente o que foi, mas não funcionou. Foi muito ruim. O som da guitarra estava péssimo, “xôxo”, como dizemos por aqui, e o público (eu incluso) não conseguia se empolgar e começou a se dispersar. Deve funcionar melhor num espaço menor – ou não, vai saber.

Pra encerrar, Blaze Bayley adentra ao palco com uma camiseta do Brasil e uma daquelas calças “poca ovo” coladas no corpo e uma bandana na cabeça – um “modelito”, digamos, no mínimo bizarro. Um grupo de fiéis seguidores já o saudava há algum tempo – fala sério, tem que ser muito “metaleiro” pra ser fã de Blaze Bayley. O som em si não é ruim, é Haevy Metal de qualidade, bem executado e com composições variando entre o bom e o razoável, mas a perfomance do cara naquela noite foi especialmente irritante. Fiquei até não agüentar mais ver ele fazendo sinal pra platéia levantar os braços pela milésima vez. Haja saco.

Bugs, do Rio Grande do Norte, não me empolgou. É pesado, é energético, mas é muito chato, com letras pseudo-intelectuais e existencialistas – “ela vestiu-se em chamas” é dose. Depois entrou um tal de Zeca Viana que eu nem sei de que se trata nem tenho o menor interesse em saber. Pra compensar, tivemos a Vendo 147, de Salvador. Que porra foi aquilo ? Absolutamente sensacional. O melhor show de todo o festival, sem sombra de dúvidas. Um verdadeiro massacre “roqueiro” de primeiríssima qualidade conduzido com precisão pelos irmãos siameses gigantes do “clone drum”, Glauco e Dimmy, “O Demolidor” (ex-Honkers). É uma banda instrumental com dois bateristas dividindo o mesmo bumbo, o que, por si só, já chamaria a atenção pelo inusitado da formação, mas não seria nada se as composições não fossem também muito boas e a execução das músicas não fosse feita com precisão e entrega fora do comum. E foram. O “medley” com grandes riffs do rock (“Back in Black”, “Enter Sandman”, “purple haze”), em especial, levou o público ao delírio. Saíram do palco ovacionados – dá até orgulho de ter um sergipano fazendo parte dessa história, no caso Duardo, ex-Snooze.

Sou fã da Plastique Noir, de Fortaleza, e vê-los ao vivo foi um dos principais motivos dessa minha ida ao Abril. Infelizmente, as coisas parecem não ter dado muito certo e o show foi um tanto quanto decepcionante – não de todo ruim, mas dá pra sentir que eles podem (e devem, em ocasiões mais favoráveis) render muito mais. Logo de cara interrompem uma música por algum problema técnico que não consegui entender qual foi, mas que parece não ter sido totalmente resolvido, já que os músicos pareciam desconfortáveis no palco, especialmente o baixista Daniel, que parecia estar tocando sem retorno. Fora isso, a perfomance da banda foi ok, com destaque para os belos dedilhados e caras e bocas do guitarrista Marcio Mazela, um figura – aliás, depois do Vendo 147, o grande destaque da noite foram as dancinhas dele no meio do público ao som de Afrika Bambaataa.
Wado é bom, mas é samba rock, né. Sei lá, não curto muito essa malemolência praieira dessa gente bronzeada que quer mostrar seu valor não. Minha praia é mais a do rock, rock puro, duro, e quanto mais velho, mais roqueiro fico. Não vi o show porque não tava a fim de ouvir samba rock, mas já baixei discos de Wado e gostei, reconheço imensamente seu valor como compositor e arranjador acima da média. Sem falar que é uma grande pessoa, nunca tive muita intimidade mas conheço ele do tempo em que andava muito por Maceió com o povo do Living In The Shit.

O Pato Fu eu não vi, e não me arrependi.
Fui. Mas ano que vem eu volto.
Assim espero.
Amém.
A.
* Composição: Luis Bandeira
Voltei, Recife
Foi a saudade
Que me trouxe pelo braço
Quero ver novamente "Vassoura"
Na rua abafando
Tomar umas e outras
E cair no passo
Cadê "Toureiros"?
Cadê "Bola de Ouro"?
As "pás", os "lenhadores"
O "Bloco Batutas de São José"?
Quero sentir
A embriaguez do frevo
Que entra na cabeça
Depois toma o corpo
E acaba no pé
Rockeiro dumalL!! yeah! rs Valeu pelos comentários velho! fiz um video da nossa participação no Abril Pro Rock, vê lá, se ainda não viu, vc tá lá! abração e obrigado por tudo!
ResponderExcluirvideo:http://www.youtube.com/watch?v=fUl7HO3_tuU
Glauco (Vendo147)