quinta-feira, 8 de abril de 2010

Entrevista com plastique noir



Luz no fim do túnel?

Plastique Noir mostra que nem só de sol vive o Ceará

Por Marcos Araújo

Fonte: Portal Rock Press


Em francês, “plastique noir” é o nome do saco que embala cadáveres. E também é o nome desta banda que envolve corpos e mentes em uma dança hipnótica. À primeira audição a memória é transportada para o gothic rock dos 80´s. Os vocais soturnos lembram uma nova versão do Bauhaus ou Sisters of Mercy. A surpresa maior é descobrir que eles vem de Fortaleza, famosa por suas belas praias e pelo sol que brilha o ano inteiro. Mas aqui, o clima é outro: as letras falam de madrugadas desertas, ruínas, prostitutas, decadência urbana, necrotérios, loucura e desolação; uma face escura que se confunde entre luz e sombras.


Formado em 2005 por Airton S. (vocais), Danyel (baixo) e Marcio Mazela (guitarra), o Plastique Noir, assim como os Cocteau Twins fizeram em “Garlands” (1980) possui um quarto integrante: a Sister Hurricane, uma antiga drum machine, programada por Airton e que faz uma grande diferença no som do grupo. Ao vivo, eles ainda são mais interessantes, quando aliam elementos teatrais e performáticos em suas apresentações.


Você pode até achar que se trata de mais uma banda saudosista que remete a Nick Cave, The Mission, Cure, Siouxsie and the Banshees, Joy Division e Echo and the Bunnymen, além dos já citados Bauhaus, Cocteau e Sisters. Sim... a influência é inegável, mas basta ouvir “Creep Show” para mudar de ideia. A atmosfera gótica hipnotiza com as referências musicais, literárias e cinematográficas, como se juntassem na mesma receita todas essas bandas eighties, Edgard Allan Poe, Deleuze, filmes como O Gabinete do Dr. Caligari, Freaks e Laranja Mecânica mais pitadas de electropunk (por falar nesse estilo, vale lembrar que o Montage, ex-banda do performático Daniel Peixoto, também saiu de Fortaleza).


Depois de apresentações locais bombásticas em vários festivais do nordeste, o Plastique Noir (que já recebeu inúmeros elogios internacionais e suas canções são tocadas por DJ´s na Alemanha, Itália Bélgica, França, Portugal e Estados Unidos) também já se apresentou em Brasília, Minas Gerais, Cuiabá e São Paulo, mas ainda falta dar as caras aqui no Rio (alô, produtores!!!). O Plastique Noir também já participou de uma coletânea-tributo muito legal chamado The Sky is Gray, em homenagem ao Harry, com uma versão para a fantástica “Genebra”.


Os meninos lançaram, em 2008, o primeiro CD, pela Pisces Records, chamado Dead pop, que é uma pérola com suas influências darkwave, synthpop, industrial, indie e pop. Destaque para “Imaginary walls”, “Creep show”, “Kildergarten”, “Shadowrun”, “Those Who walk by the night” e “IML”, esta última, um punkão que termina com notas desconstruídas no piano a la Mr. Pink Eyes, de um obscuro lado B do The Cure.


Este ano, a banda promete estourar: o pontapé inicial será na 18ª edição do Abril Pro Rock no sábado, dia 17, dividindo o palco com os excelentes Wado (AL), River Raid (PE), Bugs (RN), Mini Box Lunar (AP), Pato Fu e ninguém menos do que Afrika Bambaata. E em maio, já tem marcado show em São Paulo, na Virada Cultural, dia 22.


Larry Antha, ex-vocalista da lendária banda carioca Sex Noise, já disse que o Plastique Noir é a luz no fim do túnel. Isso comprova que não somente de sombras e escuridão vive o pop nacional. Basta abrir os olhos (e ouvidos) para melhor enxergá-los.


Abaixo, uma pequena entrevista com o vocalista Airton S., que fala do futuro da banda, influências atuais e um pouco do novo disco que está por vir.


Como rolou o convite para a participação do Plastique Noir na edição 2010 do Abril Pro Rock e qual a importância desta escalação para o futuro da banda?


Airton S: Creio que o ponto de partida pra chegar até o Abril Pro Rock foi nossa segunda passagem por Recife ano passado, quando tocamos numa espécie de mostra paralela do Porto Musical. Naquela ocasião, o pessoal da Abrafin e do Fora do Eixo organizou uma noite com algo em torno de 5 bandas de diferentes regiões do país pra dar uma animada na programação e nossa apresentação deu uma boa impressionada nos organizadores de festivais que estavam lá, entre eles o pessoal do Abril. Havia um grande público que foi especialmente para ver nosso show e isso ajudou também. Acho que carimbamos ali a nossa ida pro Calango 2009 em Cuiabá, onde uma outra parte da curadoria do APR pôde nos ver também. Esse show foi foda e aí pintou o convite. Acho que esse vai ser o maior festival de que já participamos dentro do circuito. Vai ser uma vitrine muito legal, estou otimista de que alguma coisa muito boa vai pintar na sequência em função de nossa apresentação.


Quais são os planos do Plastique Noir para 2010?


O foco de 2010 é o disco, sem dúvida. Temos mais algumas viagens a fazer (Recife, São Paulo e Brasília) antes de pararmos mais uma vez com os shows pra então podermos voltar ao estúdio, onde desde o ano passado estamos compondo, arranjando, rearranjado músicas novas. Posso adiantar que o track list já está quase todo pronto. O álbum sucessor do Dead Pop deve contar com umas 11 faixas e estamos só arrematando alguns detalhes. Uma parte desse material já está sendo tocado ao vivo esporadicamente, como "Sin Hunter", "Houdini" e "Rose of Flesh and Blood". O tempo está correndo e para não termos que fazer as coisas apressadamente e de forma malfeita, enxugamos bastante a agenda. Optamos por dar preferências a shows fora de Fortaleza e/ou que paguem uma graninha, por menor que seja, para nos ajudar nos gastos funcionais da banda, que não são poucos.


O que os fãs podem esperar do sucessor de Dead Pop?


O disco está sendo feito de forma bastante cuidadosa. Está sendo meio estranho criar a coisa toda, porque, ao contrário do primeiro álbum, que era um apanhado produzidinho de quase tudo o que criamos desde o início da banda, este disco é todo planejado. Acho que eu nunca fiz algo assim antes. Temos pensado em um bocadão de coisas durante o processo: "ah, essa música vai agradar os fãs antigos? Será que vai atrair um novo público? E essa? Será que não é esquisitona demais?" Mas a principal preocupação é sempre se estamos, nós mesmos, gostando ou não. E asseguramos que a carga negra e opressora ainda está lá, em cada verso, cada nota. Refletindo as nossas impressões particulares acerca do mundo e de nós mesmos, e que normalmente tendem para uma perspectiva indigesta, talvez até cruel ou mesmo sádica, para a maioria das pessoas.


É notória a influência gótica das bandas dos anos 80 nas músicas do Plastique Noir. Atualmente, o que vocês estão ouvindo e que podem influenciar nas novas composições?


Temos escutado coisas meio díspares e acho até que nada que realmente já não escutássemos, embora sempre tentemos achar espaço para lançamentos relevantes, sejam do estilo que forem. Após um tempo pesquisando música brasileira, passei a escutar trilhas de filmes como Vestígios do Dia, As Horas e Sweeney Todd, eventualmente os dois álbuns de Antony and The Johnsons e recentemente tomei gosto novamente pelo "early industrial" de Einsturzende Neubauten e Cabaret Voltaire. Nosso baixista Danyel, com quem inclusive divido apê, recentemente assumiu as guitarras da banda grindcore Facada, muito renomada no gênero, e talvez por isso anda escutando muito som extremo pelo que percebo, o que aliás ele sempre curtiu e que sempre acaba resvalando em termos de "atmosfera carregada". O Mazela não mora mais em Fortaleza, só o vejo aos fins de semana, então receio não fazer muita idéia do que ele anda ouvindo.


Como é ser uma banda alternativa fora do eixo Rio-SP? Como é a cena underground cearense?


Acho que hoje em dia essa coisa de estar baseado no eixo faz cada vez menos diferença. Deslocar-se já não é mais tão caro e burocrático quanto já foi um dia, desde que se tenha construído um leque sólido de contatos e parceiros que favoreça a circulação da banda. E curiosamente, alguns de nossos parceiros mais valiosos nesse sentido estão aqui mesmo, em Fortaleza, o que já responde a segunda questão. O coletivo Rede Ceará de Música é uma importante ferramenta para as bandas locais darem um up no seu profissionalismo e penso que o caminho seja circular o que pra mim é a vocação natural de Fortaleza: exportar talentos sem jamais estabelecer "cena" no sentido completo do termo, com selos, mídia especializada, casas cheias e tudo o mais. A barra aqui pesa mesmo é na hora de tocarmos em nossa própria cidade. Os shows aqui são hiper-vazios, existe a Secretaria do Meio Ambiente enchendo o saco com fiscalização de decibéis, uma comarca da OMB mafiosíssima etc.


E quanto a tocar no RJ? Algum plano? Vocês sabiam que tem muitos fãs por aqui?


O Rio é uma das quatro cidades em que ainda não tocamos e somos loucos pra tocar - as outras três seriam Curitiba, Belo Horizonte e Goiânia. Sabemos da galera super massa e carinhosa que acompanha nosso trabalho aí no Rio, muitos deles mantêm contato conosco há tempos e sempre clamam por esse show que, infelizmente, nunca acontece (risos). A gente sempre tenta ajudar no que for humanamente possível quando estamos tocando em alguma cidade próxima, mas é sempre difícil encaixar no roteiro, seja devido ao fator tempo e algumas vezes por causa dos custos, que vejam só: não são nem um pouco altos (pô, produtores!) (risos). Mas boto fé que ainda conseguiremos realizar esse velho desejo. Este espaço já é uma ajuda. Valeu!


Quer conhecer um pouco mais sobre o Plastique Noir?


www.plastiquenoir.net
www.myspace.com/plastiquenoir
www.tramavirtual.com.br/plastique_noir
www.fotolog.com/plastiquenoir
www.youtube.com/plastiquenoirtv

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