sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Belphegor no Rio de Janeiro

Não é sempre que um evento desse tipo acontece no Rio de Janeiro, mas a ocasião pedia. Era a comemoração de três anos da festa “From Hell”, que agita a cena metal na cidade e levou para o clube Mackenzie, no Méier, um festival de som extremo sem precedentes, na última sexta, dia 9. Pena que o público tratou o evento como apenas mais um show de metal, e a bilheteria registrou cerca de 300 pagantes. Desses, não eram muitos os que aproveitavam o tratamento de choque dado aos ouvidos, com duas atrações internacionais de peso e três locais.

Da Áustria, o Belphegor mostrou o porquê de espalhar por aí que o grupo é adepto da “arte suprema do death/black metal”. Com dois guitarristas, mostrou estar num patamar acima dos demais (sobretudo o Ragnarok, parceiro da turnê brasileira e de quem se esperava mais), com um repertório de boas composições que superam o peso cru e propositalmente sujo do gênero. Mesmo no show é possível perceber que eles se preocupam com os arranjos e com a canção em si, não só com a roupagem extrema. Em “Veneratio Diaboli - I Am Sin”, por exemplo, só a longa introdução, tensa, já mostra do que são capazes. As mudanças de andamento revelam uma dramaticidade inerente ao black metal, mas nem sempre tão bem explorada.

O show também agrada pela presença de palco do líder do grupo, Helmuth, que, carismático, impulsiona o público a participar. Em “Impaled Upon the Tongue of Sathan”, ele se junta à banda na beirada do palco e empunha a guitarra para o alto agitando a plateia; e dizem que Helmuth estava debilitado por conta dos excessos da turnê… A pesadíssima “Lucifer Incestus”, de letra simplória, faz o público berrar o refrão e cantar como se fosse canção de ninar, e “Justine: Soaked in Blood” arranca os gritos com braços erguidos, apesar do cansaço geral na alta madrugada. Em cerca de uma hora de show, o Belphegor mostrou estar num patamar acima, e que é um dos destaques da renovação do black metal mundial, sem apelar – ainda bem - para dispositivos “sinfônicos”.

Quem por pouco não rouba a cena é o Enterro, que, assim como o Belphegor, se preocupa com as composições. O grupo é uma espécie se filial “from hell” do Matanza, tendo na formação o guitarrista Donida (aqui Doneedah), o baixista China, que toca guitarra e é chamado de Ozorium, e ainda o cascudo Kafer, no baixo, que também já tocou em shows do grupo. O destaque, porém, logo no início do show, vai para o vocalista Nihil, que entra no palco vestido de morte, carregando um sino na ponta de uma atadura, com a cabeça customizada por uma máscara de látex que parece real. Nihil é um velho decrépito que saiu de um mausoléu desses filmes de terror americano e veio parar no Méier.

A banda também prima por fazer arranjos bem sacados que fogem do lugar comum da música extrema, valorizando as mudanças de andamento e peso das músicas em si. Se Doneedah é o guitarrista sem face que investe nas bases e andamentos tensos, Ozorium sola muito em algumas músicas, muitas vezes numa velocidade descomunal. Por essas e outras, o Enterro, embora não seja dado a turnês, obteve boa resposta do público. O que também aconteceu com o Lacerated And Carbonized, este já mais familiarizado com a plateia. O grupo aposta no riff e tem o som mais identificado com bandas de death metal como o Cannibal Corpse, por exemplo. Além de proporcionar rodas de pogo típicas do grindcore, a banda não é só esporro, tem ótimas músicas, que cativam o ouvinte de primeira, executadas por músicos que entendem do riscado. Ótima promessa da música pesada carioca.

A decepção da noite ficou por conta do Ragnarok. O grupo é esquisito já na paisagem de palco. Um baixista grandão, tipo abominável homem das neves; um vocalista matusquela, de cabelo escorrido e calvície precoce; e um guitarrista baixinho e gordinho, emburrado com o monitor de retorno durante todo o show. Não é isso que faz a apresentação ruim, mas a imobilidade no palco, a falta de carisma, e, aparentemente, de boas músicas; poucas pegaram o público de jeito. O Ragnarok está muito distante da tradição do black metal norueguês. Já a local Impacto Profano, que teve a tarefa árdua de abrir a noite, com um tempo exíguo para tocar, mostrou que ainda tem muito a evoluir. O grupo leva vantagem por ter duas guitarras, mas precisa achar um jeito de fazê-las funcionar com mais eficácia. O destaque é o bom vocalista Marduk, mas o processo é lento.

por Marcos Bragatto
REG

Set list completo Belphegor

1- In Blood - Devour This Sanctity
2- Belphegor - Hell’s Ambassador
3- Angeli Mortis De Profundis
4- Veneratio Diaboli - I Am Sin
5- Impaled Upon the Tongue of Sathan
6- Blood Magick Necromance
7- Lucifer Incestus
8- Justine: Soaked in Blood
9- Rise to Fall and Fall to Rise
10- Bondage Goat Zombie

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