segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Blues é o pai do rock.

..“When the train rolled up to the station/ I looked her in the eye/ Well, I was lonesome, I felt so lonesome/ and I could not help but cry”...

Dizem que o blues nasceu numa encruzilhada. Quer dizer, ‘blues’ significa tristeza, e sempre existiu como forma de lamento cantado pelos escravos americanos, mas foi a partir de um sinistro encontro na esquina das rodovias 61 e 49 no Mississipi que se tornou a base de quase toda a música feita na América – e na Inglaterra – até hoje.

Ali, o jovem cantor Robert Johnson teria vendido sua alma ao diabo p/ se tornar “o maior guitarrista de todos os tempos”. Lenda ou mito, o fato é que Johnson nem foi o 1º músico a gravar blues – discos do gênero vinham sendo feitos desde o início do séc.XX. Ele foi o 1º a se apropriar do som e modificá-lo “empregando mais técnica, riffs mais elaborados e maior ênfase no uso das cordas graves para criar um ritmo regular”, está na Wikipedia, que não me deixa mentir. Cá entre nós: tocava uma ‘slide guitar’ dos infernos!

Johnson morreu envenenado aos 27, pelo dono do bar Tree Forks. Marido corneado, estricnina no uísque e “NO DOCTOR” na certidão de óbito. Deixou apenas 29 registros de estúdio, como Crossroad, Drunken Hearted Man, Little Queen of Spades, e as palosas Hellhound on My Trail, If I Had Possession Over Judgement e Me and The Devil Blues. Influenciou Elmore James, Muddy Waters e todo o blues elétrico de Chicago, viveu uma vida rock’n’roll e foi regravado por Eric Clapton, Rolling Stones, Red Hot Chili Peppers e White Stripes.

Em Sergipe, seu legado permanece vivo graças a uns poucos fissurados, como o pessoal das bandas Urublues e The Baggios, ou a radialista Isabela Raposo c/ seu programa ENCRUZILHADA. Das 10 às 11 nas noites de domingo, basta sintonizar na 104.9FM ou acessar o site da Aperipê p/ ouvir o melhor do blues mundial narrado pela voz suave dessa brasiliense fã de Billie Holliday, Nina Simone e Tom Waits.

Bela também apresenta diariamente a revista MURAL, do meio-dia à uma da tarde, em parceria c/ o locutor Ricardo Gama – e eventualmente a amiga Flávia Lins. O repertório do set list dá uma mostra da abrangência do seu gosto musical: Tom Zé, Hermeto Pascoal, Quinteto Armorial, Egberto Gismonti, Julieta Venegas, Olivia Ruiz, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Medeski Martin & Wood, Sharon Jones & The Dap-Kings, The Yeah-Yeah-Yeahs, Gogol Bordello e Zefirina Bomba.

Gosta de Saint-Exupéry, do Céu de Sueli, e da poesia do Neruda – “La experiencia me indica que cuando se habla mucho de algo antes de hacerlo se corre por lo mienos un riesgo grave: es el de no hacerlo”. Também gosta de gatos, e vive c/ duas: “Minhas filhinhas! Foram batizadas como Nívia e Misao, mas no fim atendem por branquinha e neguinha mesmo!” Como dizia Syd Barrett em Lucifer Sam: “That cat’s something I can’t explain!”

O programa de blues de Isabela está no ar desde maio de 2009. O aniversário de 1 ano foi comemorado c/ um show da Máquina Blues – projeto do vocalista Sílvio da KxKx e do guitarrista Melcíades – no bar Capitão Cook. Trabalhamos na mesma fundação nos últimos 2 ou 3 anos, e como estou saindo da TV, criei uma logomarca de presente p/ ela como agradecimento à sua narração num documentário que eu dirigi. Posso não ser um ‘designer’, mas de encruzilhada eu entendo.

Em 2005 quase morri num acidente de moto, após bater de frente c/ um cavalo no cruzamento do Starfish Resort. Quando eu morava na Praia da Costa e andava de ônibus, tinha que esperar a condução numa esquina em ‘T’ ao lado dum poste que recebia despachos todo fim de semana. Pedia licença aos exus & orixás p/ ficar ali, ao lado dos ebós. “Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo”, diz a bela, citando Walter Franco.

por Adolfo Sá

vlb

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