quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Terceira Sessão Notívagos



Matéria publicada no Jornal do Dia Número 1.375, em 13 de agosto de 2009

Cinemark do Shopping Jardins
31/07/2009

por Adelvan Kenobi

O Cine Cult é um projeto que visa trazer para as telas dos cinemas de Aracaju filmes alternativos, que fujam do lugar comum. Começou há cerca de dois anos e, devido a seu sucesso, foi adotado pela rede Ciemark e hoje existe como Sessão Fixa em várias cidades do Brasil. Além de uma sessão regular e diária, á tarde, alguns eventos especiais acontecem periodicamente. É o caso da Virada Cinematográfica e da Sessão Notívagos. Na Notívagos é sempre exibido um filme seguido da apresentação de uma banda musical. Já participaram The Baggios ( com REPULSA AO SEXO, de Roman Polanski ) e Daysleepers ( com o filme brasileiro “O Fim da picada” ). Em sua terceira edição, propõe-se a iniciar a exibição de uma série de documentários musicais que, de outra forma, permaneceriam inéditos por aqui. Na tela, o documentário LOKI, aclamada cinebiografia do ex-líder e fundador dos Mutantes, Arnaldo Baptista. No hall do cinema, uma apresentação da Plástico Lunar.

Para a exibição de LOKI o Cinemark reservou sua maior sala, com capacidade para 400 lugares, e foi com grande satisfação que a vi lotada, e por uma platéia respeitosa e que foi ali para realmente assistir ao filme, ao contrário do que aconteceu na primeira Sessão Notívagos, onde um público barulhento e inconveniente quase põe por terra a experiência de ver um clássico do horror psicológico dirigido pelo Mestre Polanski e estrelado por uma belíssima Catherine Deneuve em tela grande. A expectativa era grande, mas mesmo assim foi superada. As quase duas horas de exibição fluem sem que o expectador sinta, em momento algum, o tempo passar. Isso se deve, em parte, à competência técnica da fita em si, impecavelmente montada e dirigida com maestria, e em parte pela magia do personagem retratado, uma figura fascinante e enigmática. O filme se preocupa em ressaltar a todo instante, através de depoimentos de diversas personalidades do mundo da musica, a importância de Arnaldo Baptista para tudo o que foi feito no Brasil a partir do advento da tropicália. E começa por abordar sua infância, passando pela descoberta do rock and roll, a formação de sua primeira banda, O Six Sided Rocks, cujo nome foi abreviado para O´Seis, e o advento dos Mutantes, seguindo adiante em direção à confusa carreira solo (intercalada por participações esporádicas em outros grupos e projetos de terceiros, dentre os quais se destaca a banda de hard rock setentista PATRULHA DO ESPAÇO) e ao ostracismo, culminando no retorno triunfante com a turnê revivalista dos Mutantes em pleno Século XXI. A história, evidentemente, continua sendo contada – Arnaldo deixou novamente os Mutantes e voltou a seu retiro voluntário em Juiz de Fora, fato que não consta do corte final (quem sabe numa futura “versão estendida”?). Todo o mais está lá – tudo aquilo que os fãs já sabiam, mas contado de forma absolutamente respeitosa e sincera, sem subterfúgios, com uma narrativa fluente e enriquecida por imagens raras, depoimentos emocionados e entrevistas antológicas. Difícil não cair na gargalhada com as sacadas inteligentes e sempre bem-humoradas da época da primeira fase dos Mutantes, assim como difícil não se comover com sua descida rumo ao fundo do poço da depressão, magnificamente retratada no álbum que dá nome ao filme, “LOKI?”. Perfeito. Torna-se praticamente obrigatório ter em casa esta verdadeira obra-prima, por isso espero ansiosamente por um lançamento em grande estilo em DVD ou Blu-Ray para que possamos revê-lo quantas vezes quisermos e com a qualidade que ele merece.

Na sequencia, dirigimo-nos todos ao Hall para o show do Plástico Lunar. A escolha não poderia ter sido mais acertada, já que a Plástico ( como é carinhosamente tratada pelos fãs ) navega pelos mesmos mares desbravados pela banda dos Baptista, aliando psicodelia a pitadas de hard rock e experimentalismo, com direito a flertes com o rock progressivo. E a banda estava numa noite inspirada. O Baterista/vocalista Marcos “Odara” em especial, "tirando uma onda" e mandando recadinhos para os amigos entre uma musica e outra e arriscando, inclusive, os vocais numa improvisada e, por isso mesmo, emocionante homenagem ao dono da noite, mestre e principal influência e fonte de inspiração, Arnaldo Baptista, com um cover de “Será que eu vou virar bolor?”. Fora isso, desfilaram suas já clássicas composições autorais, com os vocais se revezando entre 4 dos integrantes ( taí uma banda com bons vocalistas de sobra ), e conseguiram manter um bom publico até o final da apresentação, apesar do avançado da hora e das falhas logísticas no quesito “fornecimento de aditivos” (leia-se cerveja) por parte da produção do evento, falhas estas que, espero, sejam sanadas em edições futuras, para o bem de todos e felicidade geral da nação. Uma outra falha, a meu ver, foi o descaso da própria banda com relação à sua auto-promoção. Acredito (melhor, tenho certeza) que muitos ali estava vendo a Plástico pela primeira vez, e ficariam felizes em saber que eles têm um disco e camisetas disponíveis para venda, “segredo” este que só foi revelado devido à empolgação de uma senhora interessada em adquirir o material. Outra coisa desagradável é a insistência das pessoas em fumar, mesmo com os constantes alertas quanto à disparada do alarme contra incêndios que faria cair sobre nós uma enxurrada inconveniente que, evidentemente, decretaria o fim da festa.

No mais, foi uma grande noite (ou melhor, madrugada, já que a sessão começa extamente à Zero hora) – cheguei inclusive a pensar que Odara iria arriscar uma versão de “Moby Dick” do Led Zeppelin ao final da apresentação, tamanha sua empolgação, assim como ficava esperando por uma canja inesperada da parte do Roberto (produtor do Cine Cult) a cada vez que ele se dirigia ao microfone para dar orientações e agradecer pela presença de todos.

Que venham os Ratos e a Karne Krua !

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