terça-feira, 16 de junho de 2009
préliminaires - "Another James Osterberg production"
Eu fui um dos muitos a ficar (relativamente) com o pé atrás com as declarações que precederam o lançamento do ultimo disco de Iggy Pop – de que ele estaria farto de barulheira e de musicos que não sabem tocar e coisa do tipo. Relativamente porque, no final das contas, é perfeitamente compreensível – chega uma hora que a gente enche o saco de tudo mesmo, até mesmo do rock and roll – vide o Ira! com a sua “farto do rock and roll”. Tranqüilo, Mr. Pop, evidentemente, não deve nada a ninguém e pode falar o que quiser na hora em que quiser e da maneira que bem entender. Lançado o petardo, eis que me deparo com uma agradabilíssima surpresa: é sensacional ! E já abre mostrando a que veio, com uma típica “chanson” francesa. A verdade é que muito por conta de seus arroubos de demência e insanidade no palco, as pessoas esquecem que o velho Iggy é, antes de tudo, um excelente cantor e intérprete, e esse disco parece que veio para provar isso de uma vez por todas. Minha principal pulga atrás da orelha inicialmente foi o receio de que viesse nele algo de caricato, ou de pastiche, afinal a senilidade uma hora ou outra chega para todas e não é o pai dos punks que vai fugir dessa sina. Fico muito feliz em constatar que não é, definitivamente, o caso. Os arranjos são de muito bom gosto e mesmo escolhas que, a principio, pareciam um tanto quanto arriscadas demais, como “insensatez”, de Tom Jobim (“How insensitive”, no disco), ficaram excelentes na voz do louco – voz essa, por sinal, de dar inveja a velhos navegantes destas searas, como Leonard Cohen e Nick Cave. Tudo muito valorizado pela excelência dos arranjos, e no final das contas a guinada nem foi assim tão radical quanto o prometido, já que as guitarras aparecem em alto e bom som em pelo menos uma faixa, “Nice to be dead”. Há ainda flertes com a musica eletrônica, notadamente em “party time”. Não deixe de ouvir este disco – e ouça-o por inteiro, como um álbum, uma coleção de canções. Como nos velhos tempos, enfim. E de forma alguma caia na tentação de julgá-lo apenas a partir do primeiro single, “king of the dogs”, que a meu ver foi mal escolhido, já que está longe de ser a melhor composição, muito embora compreenda a escolha no sentido de “dizer a que veio” já que seus arranjos jazzísticos, realmente, diferem em muito de tudo o que o iguana fez ou experimentou até hoje – e ele já experimentou, em outras ocasiões, vide “Avenue B” e “Blah Blah Blah”, notadamente este ultimo, que mais parece um álbum da fase mais “pop” radiofônica de David Bowie – que o produziu, não por acaso.
Resumindo: Iggy pop continua foda – “alive and kicking”
por Adelvan
o que andam falando por aí sobre "préliminaires":
http://musica.ig.com.br/lancamentos/2009/06/09/iggy+pop+++preliminaires+6635948.html
Por Augusto Gomes
O senso comum diz que Iggy Pop é igual a punk rock. Por um bom motivo: o cantor praticamente inventou o gênero, na época em que liderou os Stooges. E, no palco, o homem é a mais pura tradução do punk: violento, irreverente, intenso. Por tudo isso, um disco como Preliminaires tem tudo para surpreender muita gente. Nele, James Osterberg (nome verdadeiro de Iggy) aparece mais calmo e introspectivo. Há espaço até para versões de "Les Feuilles Mortes", clássico da música francesa, e "How Insenstive" - ela mesma, a "Insensatez" de Tom Jobim. Nas duas, a voz grave de Iggy se sai muito bem. O resto do disco também é bem interessante - parece uma versão melhorada de Avenue B, outro disco mais tranquilo que Iggy gravou no final dos anos 1990.
01. Les Feuilles Mortes
02. I Want to Go to the Beach
03. King of the Dogs
04. Je Sais que Tu Sais
05. Spanish Coast
06. Nice to Be Dead
07. How Insensitive
08. Party Time
09. He's Dead / She's Alive
10. A Machine for Loving
11. She's a Business
12. Les Feuilles Mortes (Marc's Theme)
Iggy Pop: “Préliminaires” - publicado em 12/06/2009 em http://territorio.terra.com.br/canais/rockonline/lancamentos/materia.asp?materiaID=2858
Por Lizandra Pronin
Iggy Pop fazendo baladas jazz em francês e com efeitos eletrônicos? Sim, é estranho. Mas imperdível. Com mais de 60 anos, Iggy Pop não pára de surpreender. Quando todos achavam que o veterano estava acomodado ao punk rock que o projetou na cena musical, eis que ele anuncia um álbum com sonoridade jazz.
Estranho num primeiro momento, o anúncio foi fazendo sentido aos poucos. Os fãs foram assimilando a idéia. E quando o álbum chegou - antes disso algumas canções já podiam ser ouvidas na internet - parecia que Iggy Pop já fazia aquilo há muito tempo.
“Préliminaires” ficou assim: o músico parece tão à vontade cantando canções como “I Want To Go To The Beach” e “How Insensitive”, que é fácil imaginá-lo fazendo isso novamente. “How Insensitive”, aliás, é uma versão para “Insensatez”, de Antônio Carlos Jobim, que ficou bem mais lúgubre que a original, acompanhando o clima do álbum.
É claro que há momentos agressivos e com ‘riffs’ sujos. “Nice To Be Dead” é um rock que remete às raízes de Iggy Pop. Outra canção que tem jeitão punk é o ‘single’ “King Of The Dogs”. Mesmo não sendo um rock, tem uma aura totalmente sarcástica e sua letra inclui versos como “I have a piece of meat in between my teeth” - mais punk, impossível.
Mas “Préliminaires” não surgiu do nada. O álbum foi inspirado no livro “A Possibilidade de uma Ilha”, do escritor francês Michel Houellebecq. O estilo provocador e ofensivo do escritor combinou perfeitamente com a loucura agressiva de Iggy Pop. A morte é o tema central do álbum.
O teor melancólico do repertório toma como base a concretude da morte, como revela a letra falada de “A Machine For Loving”, que narra a morte de um cão. Não é aquela beleza gótica da morte, sensível e sensual. É a morte mais crua, direta, que marca um vazio, a finitude. A poesia, se podemos chamar assim as letras de “Préliminaires”, segue essa linha conceitual.
Como se pudesse segurar toda a intensidade das faixas, “Les Feuilles Mortes”, canção francesa com poemas de Jacques Prévert, abre e fecha o álbum com o vozeirão grave do norte-americano cantando a morte que separa os amantes. Iggy Pop conseguiu com “Préliminaires” aquilo que muitos artistas tentam sem muito sucesso: se aventurou por terras desconhecidas sem perder a personalidade.
http://g1.globo.com/Noticias/Musica/0,,MUL1168443-7085,00-IGGY+POP+MOSTRA+VERSATILIDADE+EM+PRELIMINAIRES+VEJA+MAIS+LANCAMENTOS.html
"Preliminaires", novo disco de Iggy Pop, é o que menos se espera do líder da lendária banda protopunk The Stooges. Inspirado no romance "A possibilidade de uma ilha", de Michel Houellebecq, o roqueiro decidiu fazer um disco "francês". Assim, o cantor que gritava "I wanna be your dog" agora canta "Les feuilles mortes" com um vozeirão que não deixa nada a dever a Leonard Cohen. A exemplo da faixa de abertura, o álbum não decepciona. Ao mergulhar fundo em composições mais climáticas, como "I want to go to the beach" ou "Spanish coast", a Iguana mostra toda a sua versatilidade vocal. O repertório do disco inclui até Tom Jobim e, mais uma vez, Pop não faz feio em sua versão de "How insensitive". (LÍGIA NOGUEIRA)
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http://www.universohq.com/quadrinhos/2009/n04062009_06.cfm
Rock e quadrinhos: Marjane Satrapi em novo CD de Iggy Pop
Por Marcus Ramone (04/06/09)
Iggy Pop A iraniana Marjane Satrapi, premiada autora da série autobiográfica em quadrinhos Persépolis, ilustrou a capa e o encarte de Préliminaires, novo CD do veterano Iggy Pop, o "avô" do punk rock.
O kit opcional de luxo também inclui um jurássico compacto de vinil e um livreto temático, todos ilustrados por Satrapi.
Com músicas conceituais inspiradas no livro A possibilidade de uma ilha, do francês Michel Houellebecq, Préliminaires marca a segunda parceria entre o cantor e a quadrinhista. A primeira foi na animação de Persépolis, cuja versão em inglês teve a participação de Iggy Pop na dublagem de um dos personagens.
Segundo a agência AFP, a terceira parceria poderá ser vista em um filme com atores de carne e osso, com lançamento previsto para o próximo mês de julho.
Uma curiosidade: Préliminaires traz a canção How Insensitive, versão em inglês de Insensatez, do cantor, compositor e maestro brasileiro Tom Jobim.
O disco já está à venda no Brasil.
http://sparkuberalles.blogspot.com/2009/06/iggy-pop-preliminaires.html
Iggy Pop é um dos maiores influentes do rock e do punk e onde osseus discos retratam bem a sua energia. De “Préliminaires” não se pode dizer o mesmo, já que foge descaradamente ao que fez anteriormente. Ao ouvir Iggy Pop dizer que tinha ficado um pouco farto do rock que se fazia actualmente, e que ia seguir caminhos mais para o jazz, foi algo que me deixou completamente surpreso. Não via Iggy Pop a fazer um disco com influências jazz, que até se podia achar algo estranho, ou talvez não.
Aquilo que pensei que iria ser o maior fiasco da carreira de Iggy, tornou-se numa agradável surpresa. Acho que construiu um bom disco, de momentos e de texturas muito calmas.
Iggy Pop começa o disco com o clássico “Les Feuilles Mortes” de Edith Piaf, que traz uma versão interessante pela sua voz mais melancólica.
“How Insensitive” foi outra versão interessante e de grande qualidade que Iggy fez de “Insensatez” de Tom Jobim.
O primeiro single “King of the Dogs” refere “como é bom ser um cão, de que forma é melhor que a vida humana” e traz traços de jazz ao estilo Nova Orleães.
Outros momentos como “Je Sais Que Tu Sais”, Spanish Coast” e “He's Dead/She's Alive” fazem de “Préliminaires” um disco muito agradável.
Não esquecer também a capa do disco, que foi desenhada pela iraniana Marjane Satrapi, a autora da animação “Persepolis”.
Renasce um disco com alma
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IGGY POP - O PRIMEIRO DOS MOICANOS
Publicado na Revista Bizz, Ed. 036, julho de 1988
É muito raro a gente ter por aqui um talento raro e tão influenciador como lggy Pop. Raro, ainda, é conseguir uma entrevista com este roqueiro seminal que vai aportar por aqui no final de julho. Mas nosso homem em L.A., José Emilio Rondeau, batalhou e conseguiu. Iggy deita falação sobre anos 60, os Stooges, David Bowie, influências, perigos do sucesso e desanca solenemente o que considera o lixo do rock atual. Com vocês, a fera que fez meia história do rock
Iggy Pop voltou às raízes. Depois de ter feito, em 1986, o disco mais comercial de sua carreira - Blah, Blah, Blah, produzido pelo fiel aliado David Bowie e cujas vendas superaram as de toda a discografia anterior de Mr. Iguana, com e sem os Stooges, a banda protopunk que liderara nos anos 60 e 70-, Iggy retoma à carga com Instinct, um álbum cru, básico, recheado de batalhões de guitarras (cortesia de outro amigo de longa data, o ex-Sex Pistols Steve Jones) e canções com o mesmo apelo provocativo do passado: "Easy Rider", "Power and Freedom", "Strong Girl" e "Cold Metal" caberiam perfeitamente em discos semanais dos Stooges, como Funhouse, de 1970. A produção de Bill Laswell foi uma sugestão de Bowie, e a presença de Steve Jones - que ajudou a compor metade do disco - era quase inevitável. "Ele é o melhor guitarrista-ritmo que eu conheço", diz Iggy, antes de emendar: "A não ser que o novo disco de Keith Richards seja realmente muito bom". Instinct chega num momento em que a carreira de Iggy - há 20 anos na estrada - está numa encruzilhada. O sucesso comercial de Blah, Blah, Blah fora correspondente à decepção de quem esperava menos concessão aos ditames do padrão FM e mais culhão. Iggy tinha duas escolhas: navegar a maré do sucesso - e arriscar perder a credibilidade - ou tomar as rédeas de seu destino criativo. Preferiu correr o risco. De novo.
O Iggy Pop de 1988 é basicamente o mesmo de 1967. "O objetivo é o mesmo: escrever rock and roll music poderosa e cristalina. A diferença é que agora eu tenho uma sabedoria articulada a respeito do mundo ao meu redor, mais do que tinha, nos anos 60 e 70. E agora tenho os poderes da disciplina e do autocontrole. E uma força de vontade que hoje em dia é bem mais forte do que já foi antes." As semelhanças (e as diferenças) entre o ex-líder kamikaze dos Stooges - um personagem que parecia flertar eternamente com o perigo, fosse sob a forma de mergulhos cegos no meio da platéia, fosse sob a forma de um romance quase fatal com Madame Heroína - e a atual encarnação de Jim Osterberg - sadio física (ele não fuma nem bebe, preferindo fazer jogging) e afetivamente (desde 1983 ele vive com a mesma mulher, a japonesa Suchi) - são refletidas no visual dele: esguio, os olhos azuis acesos, atentos, o cabelo castanho-avermelhado recém-lavado, camiseta sem manga (preta), blue jeans pintado a mão com pinceladas aleatórias de vermelho, verde, amarelo e abóbora, tênis branco, anéis gigantescos, em forma de aves de rapina esculpidas no metal, adornando os dedos médio e indicador de ambas as mãos e, apesar do calorão que se abate sobre L.A., uma jaqueta de couro. Preta.
Iggy fala alto, animadamente, interpretando com gestos (levantando-se da cadeira, se necessário) passagens de histórias que gostaria de enfatizar. Não foge a pergunta alguma e muitas vezes sua eletricidade apaga momentaneamente as rugas que se abrigaram no rosto de 41 anos. A um brasileiro ele lembraria muito Ezequiel Neves, o eterno menino-mem rock.
Durante 45 minutos Iggy disparou máximas de seu pensamento, trazendo à tona o material inédito gravado pelos Stooges e traçando seus planos futuros. Entre eles está uma turnê brasileira, sendo estruturada pelo veterano promoter multinacional Felipe Rodriguez. "Sempre quis conhecer o Brasil. E soube que existe muita gente lá que conhece e entende meu trabalho. Tomara que dê certo." Tomara.
Os anos 60: As primeiras influências
Sei de pessoas de todos os tipos, de diferentes bandas, que vem e dizem "aí, eu ouvia muito suas coisas antigas". Barney Albrecht, do New Order, foi a um de meus shows no Palace, no ano passado, e disse "jamais poderíamos ter formado o New Order se você não tivesse existido". E eu pra ele: "Interessante.., eu não ouvi isso no seu som, mas entendo, porque esse tipo de coisa também acontece comigo".
Muitas das pessoas que me influenciaram nem eram músicos. Eram pessoas corno políticos, escritores, pintores, estilistas, ditadores, que influenciaram minha música tremendamente, sacou? Eu pego uma idéia e depois que eu termino de mexer com ela você é incapaz de descobrir como tudo começou. Uma das minhas maiores influências foi John Lee Hooker, mas eu não marco o ritmo com o pé batendo numa tábua de madeira, nem toco folk blues, porque eu tentei fazer isso durante um ano que passei em Chicago, no meio da velha geração do blues, mas descobri que não tenho 50 anos, não sou preto, não sou alcoólatra e não sou iletrado. Sou um moleque de subúrbio, com formação de segundo grau, que abandonou a universidade pelo meio musical, então tenho que criar o meu próprio barato, entende? Então, depois que John Lee Hooker foi filtrado através de lggy Pop, ele fica irreconhecível, mas que está lá, está.
A idéia original dos Stooges, quando eu formei a banda, era tocar blues suburbano. "No Fun", "1969", até "I Wanna Be Your Dog" são todas blues songs. "I Wanna Be Your Dog" era uma entortada que eu havia dado numa frase de uma música de Big Joe Williams, onde ele cantava "I Won´t be your dog, baby please don´t go" ("Baby Please Don´t Go", regravada nos anos 60 por Van Morrison). Aí eu pensei: "E se ele dissesse: ´Eu quero ser seu cachorro´? Ia ser do cacete!" Entendeu? Então eu vou e escrevo uma música, e quando a termino ela se parece mais com um avião do que com um blues, mesmo assim é de lá que ela veio.
O formato das coisas que os Stooges faziam jamais poderia ter acontecido se não houvesse meu envolvimento com blues e com jazz. Nunca toquei jazz, mas sempre apreciei. E havia uma terceira coisa - que você talvez nunca fosse adivinhar: política. Eu odiava as pessoas que estavam metidas com a exploração do revolucionarismo, ou extremismo, nos anos 60, mas, por causa daquele clima, pela primeira vez as pessoas estavam se questionando: "Para que serve a música?", "o que espero que ela me proporcione?", "quais e que bandeiras uma banda deve levantar?", "os shows deveriam ser gratuitos?", entendeu? Todas essas coisas foram trazidas para discussão, e isso, filosoficamente, teve grande influência sobre mim. Se não tivesse havido o Black Panthers eu não teria entrado numa de fazer todo o tipo de coisas que fiz.
Eu procurava outros campos de conhecimento, além do rock and roll. Muito das minhas letras vinha de Jagger/Richards, de Morrison/Manzarek, de blues, mas também tinham muita coisa de Dylan Thomas, Shakespeare, T.S. Elliot e coisas assim, sacou?
Nos tempos do flower power, eu me sentia pessoalmente atacado toda vez que "California Dreamin´ " tocava no rádio! Sentia aquilo como um ataque pessoal a meus ouvidos e a minha vida. E esse é um tipo de coisa que rolou a minha vida inteira e nunca mudou. Odeio ouvir Kenny Rogers. Ninguém deveria ser obrigado a escutar aquilo! Odeio ouvir (cantarolando, com cara de desdém) "Ventura Highway"... e quando eu costumava viver aqui (em Los Angeles) era impossível se livrar deste tipo de música. Eu tinha acabado de gravar Kill City (78), que era um grande disco, e ninguém me dava bola! Eu sabia que era ótimo, e sabia que o que estava rolando era literalmente merda! (Gesticula como se estivesse pegando a propriamente dita.) Tipo cocô, mesmo, pedaços de merda. E eu ficava muito chateado.
No tempo dos Stooges
Sabe por que fui fazer música? Porque eu queria ficar de bobeira no meio de músicos. Algumas pessoas dizem que foram fazer música pra poderem trepar... faz parte da coisa, mas se eu tivesse que escolher entre ficar perto de meu guitarrista favorito ou passar duas horas na cama com alguma garota, eu iria ficar com o guitarrista, sacou? (Gargalhando). A garota pode esperar, sacou? (Gargalhando). Ela espera. (Ficando sério repentinamente). Pelo menos é assim que me sinto.
Na época em que os Stooges faziam aquele tipo de som e tinham aquela atitude... aquilo era um statement, porque ninguém mais estava fazendo aquele tipo de coisa. E era perigoso, verdadeiramente perigoso fazer parte dos Stooges! Dois baixistas dos Stooges morreram (embora não haja registro da morte deles em enciclopédias de rock, os Stooges tiveram dois baixistas diferentes: o primeiro foi Dave Alexander, substituído em 1972 por Scott Thurston). Hoje em dia, você vê um bocado de bandas pegando muitos elementos do que costumávamos fazer... Pode até ser que essas bandas tenham algum valor, mas não é a mesma coisa, porque agora as pessoas são quase encorajadas a fazerem o que nós fazíamos antigamente. E mais uma maneira de ganhar dinheiro, ah, ah, ah!
Nosso barato é que éramos tão "o contrário", uns caras teimosos. Não éramos uns almofadinhas da cidade grande que sabiam transitar pelos escritórios das gravadoras, ou que sabiam que garfo usar no jantar. Não sabíamos que era preciso ter aliados na mídia para chegar lá no alto, e blá, blá, blá... O que é que a gente sabia? Que realmente amávamos os Stones, Hendrix, John Coltrane, Archie Shep. Só sabíamos de música. E, se não fosse por minha causa, nem disco teríamos feito. Eu era o Stooges articulado, porque meu pai era professor de inglês e minha mãe era executiva de médio escalão, então eu conseguia falar num linguajar que o mundo exterior conseguia compreender, sacou?
Tenho um imenso orgulho de ter sido um Stooge, man. Tenho orgulho até das piores coisas que fizemos. Tenho orgulho de ter passado com um caminhão de quatro metros de altura debaixo de uma ponte de três metros, ah, ah, ah, e cortado a parte de cima do caminhão (arregalando os olhos) como se fosse uma lata de atum! Foi lindo! E tenho orgulho das vezes em que desmaiei na frente de pessoas importantes, tenho muito orgulho disso.
Na época tinha também um bocado de dor, no meio da história toda. Mas hoje não lembro tanto da dor. Lembro mais de como era divertido (com olhar perdido, meio nostálgico, talvez). Era uma boa banda. Na época eu sentia também uma afinidade com grupos como The Doors e o Velvet Underground, embora eles fossem uns tipos mais sofisticados, e músicos mais sofisticados. Os Stooges... nós éramos outra história, éramos garotos de subúrbio, uns branquelas que não sabiam distinguir merda de graxa de sapato. Nossa vantagem é que tínhamos instinto para fazer as coisas acontecerem. E, de alguma forma, por alguma razão, nós tínhamos a coragem de ser diferentes. Sem ficarmos blasé por causa disso, como o Doors ou o Velvet. Ao vivo eles pareciam se achar sempre o máximo (fingindo que está tocando, Iggy fecha os olhos e começa a afetar um sussurro cool). "Tô c* pra vocês, seus babacas, se vocês não estiverem gostando do meu som cool - e além do mais eu vou pra casa hoje à noite com uma socialite -, então foda-se", sacou? Enquanto isso os Stooges iam atrás da platéia, durante o show. Eu ia atrás da platéia. Eu dizia: "Se você não gostar disso (que eu estou tocando) eu vou pular no meio da platéia, vou puxar seu cabelo, vou cuspir em você e, se bobear, acabof* você". E até f*, às vezes! Literalmente! Uma vez agarrei uma dona na platéia e comi a dona. Quando os Stooges subiam no palco, você sabia que alguma coisa ia acontecer. E aquilo era muito importante para mim, naquela época. Não que eu desejasse ser daquele jeito, mas era a única maneira possível de ser. Você faz o que pode, entende? Se você é um cara rude, você acaba usando meios rudes.
Daquela época ainda existe muito material inédito dos Stooges (além do que foi incluído em Metallic K.O., álbum duplo com a íntegra do último show do grupo, lançado há pouco na Europa). Tem os mixes antigos de Raw Power, que eu fiz antes de David Bowie ter sido chamado para refazê-las. Aliás, é um bom disco, esse. Mas, pessoalmente, não tenho em minhas mãos coisas antigas dos Stooges. James Williamson (ex-guitarrista do Stooges) tem um bocado delas. Ron Asheton (outro ex-guitarrista da banda) também deve ter algo. Mas eu sou muito neutro em relação a isso tudo. Ouço as coisas, quando elas são lançadas, de algumas eu gosto, de outras gosto menos, porque são feitas de ensaio. "Jesus Loves the Stooges" era eu tentando cantar gospel às quatro da manhã! Mas se esse material for de interesse para alguém... Algumas são ótimas: "Scene of the Crime", "Tight Panters", "Gimme Some Skin", "I´m Sicka You", todas são faixas ótimas que você não acha num disco normal.
O novo álbum: Sai Bowie, entra Bill Laswell
Bom, em primeiro lugar foi David Bowie quem me deu a idéia de telefonar para Bill. Ele achava que nós dois conseguiríamos trabalhar bem juntos. Mesmo assim, eu não estava pensando em trabalhar de novo com Bowie, estava querendo alguém como Michael Wagner, ou Mike Clink (este último produziu o novo álbum do Metallica), ou um desses produtores de rock da Costa Oeste (dos Estados Unidos), mas tinha minhas reservas em relação a eles porque os discos deles, por um lado, têm algum punch, mas, por outro, têm uma grande falta de textura e de emoção. Falta imaginação na maioria do rock feito hoje em dia na Costa Oeste. E metade da razão pela qual me meti com música foi para usar minha imaginação. Não quero ser um cantor de rock do tipo genérico, sacou? Do tipo (cantarolando com pose de malandro) "tá aqui meu couro, tá aqui meu p*", sacou? (Bem entendiado) "Um, dois, três, quatro." Nada disso me interessa.
O resultado de minha relação com Bowie, quando ele me produz, tende a ser uma mistura de metade do que ele quer fazer e metade do que eu quero fazer. As intenções dele são, geralmente, bem distantes das minhas, e isso não me aborrece, porque embora os gostos dele sejam vastamente diferentes dos meus, acho que ele é um artista incrível. Enquanto que Bill e eu entramos no estúdio com uma só coisa em mente: eu precisava de alguém que fosse um bom instrumento, capaz de alcançar exatamente a porra da coisa que a porra do Iggy Porra Pop quer na porra do álbum, que é simplesmente botar pra quebrar e f* com todo mundo.
Eu não queria cantar com aquela voz falsamente rock´n´roll, esganiçada, e não queria cantar coisas do tipo "whoaa, baby, eu sou tão do cacete, sou o maior garanhão, entre aí no meu carro, whoaa, vamos ver um strip-tease", porque acho tudo isso um saco, entendeu? Isso não é rock. Rock é quando você corre um risco. É quando você arrisca falar o que passa pela sua cabeça. Então, meus vocais em algumas faixas são cantarolados, quase como em "Power and Freedom". ´Tem a maior pauleira lá, mas eu estou cantando assim (cantarola a melodia da música): "Laralarala..." e só no fim eu solto tudo.
Descobri um grande amigo em Bill. Mesmo antes de começarmos a gravar, antes mesmo até de eu pensar no que ia gravar, a gente costumava sair - nós dois moramos no downtown de Nova York. E aí, depois, eu ia mostrando a ele minhas demos e a gente fazia umas loucuras com elas. Fiz uma faixa para o disco de Ryuichi Sakamoto a pedido de Bill - "Risky" -, que não tem coisa alguma de rock´n´roll, é uma balada de amor. E foi muito divertido. Bill é muito criativo, e é extremamente sério. E por causa disso as pessoas meio que se grilam de trabalhar com ele, porque todo mundo, no geral, só quer saber de farra. Como eu já tenho 200% de farra em mim mesmo, de qualquer maneira (gargalhando)... acabamos nos misturando bem. E ele não assumia pose alguma de produtor, daqueles tipos (fazendo uma voz empostada) "bem, agora vamos escolher as canções do disco. Vamos ouvir o material. Vamos decidir se esta ou aquela faixa é para as rádios e darei a você minha estimativa do potencial de marketing" e blablablá... Bill não tem nada disso. Ele é um carinha, e só. E ele é músico. E esse era o mesmo barato de Bowie: ele não é como aqueles caras produtores. Se alguém for me produzir, tem que ser músico.
Perigoso hoje seria tentar ser diferente, de alguma forma. E, especialmente, criticar a ordem estabelecida. (Pausa) Em primeiro lugar, estou aí há 20 anos e não posso ficar apontando o que seria considerado hip ou rebelde. Seria a maior babaquice minha. Mas, quando eu ouço bandas dizendo "fuck" nos discos só para impressionarem todo mundo, para mostrarem como eles são "rebeldes", acho que são a mesma coisa que os flower children falsos dos anos 60! E a mesma merda de volta, sacou? Um babaquara sem tutano, que nem tem cérebro próprio, faz uma porrada de tatuagens no corpo inteiro, compõe uma canção de rock formulaica e coloca a palavra "fuck" quatro vezes e é chamado de rebelde. Dá um tempo.
Os perigos do sucesso
Perigoso, hoje, seria se opor a esse tipo de coisa. Mas... sei lá, perigosa é uma coisa que acontece com você, de repente. E basicamente perigo experimentar coisas novas, porque você pode acabar se machucando, sua cara pode cair no chão. Estou sempre enfiando meu nariz em alguma coisa que não conheço - ou que não sei fazer - e muitas vezes me ferro por causa disso. Estou mais velho agora, não tenho o mínimo desejo de tentar fazer as mesmas coisas que fazia no passado. Você faz uma vez, e é o bastante.
Em 1983 comecei a viver com uma garota (Suchi, que ele conhecera numa turnê japonesa). Ainda estamos juntos. Termos formado um relacionamento foi perigoso, porque se tivéssemos rompido nos machucaríamos. É perigoso ter relacionamentos no mundo de hoje, porque tudo é tão rápido e facilitado. Todo mundo está vendendo os peitos, as bandas, os músculos, os p*". É ridículo e está fugindo de controle rapidamente. Ficar solo é perigoso, para mim. Porque de uma certa forma eu preferia estar numa banda, porque aí seria mais caloroso. E frio, aqui onde estou.
Senti perigo em relação a esse novo álbum porque poderia ter saído uma merda. A única coisa que sabia era que, seja lá qual fosse o resultado final, eu iria compor sozinho as músicas, ia criar sozinho as partes de guitarra, ia fazer tudo do meu jeito. E, fosse bom ou ruim, ia lançar do mesmo jeito. Isso era um perigo para mim, porque tinha feito um álbum antes (Blah, Blah, BIah, lançado em 86), e, por causa dele, pela primeira vez na vida tinha vendido discos e tocado no rádio. Eu não podia destruir isso tudo. E muita gente temia que eu fizesse isso.
E queria que as pessoas soubessem da minha existência. Eu queria ser um artista vigente, não queria me tornar um Fats Domino, ou algo assim, entende? E era muito importante fazer alguma coisa diferente. Se eu tivesse feito (naquela época) um troço do tipo Stooges-revisitados, teria sido a coisa errada. Desde que fosse diferente... Desta vez não estou preocupado com o sucesso... mas sei que vou ter sucesso (gargalha).
Para compor este novo disco, fui para o Havaí, porque fica muito difícil alguém pegar um avião para ir lá, só para pentelhar você. Trabalhando sozinho eu fiquei com medo. Tocando todo dia, meus dedos começaram a sangrar, mas fui melhorando, e melhorando, até conseguir compor fluentemente. Parei de fumar no dia seguinte ao fim de minha última turnê e minha voz ficou mais forte, mais poderosa. Não parei de fumar para poder cantar mais bonitinho. Parei de fumar para poder cantar mais forte.
E daí por diante. E aquilo era um tipo de perigo, porque ninguém quer ficar velho e sem dinheiro. Porque hoje em dia ninguém toma conta de você (gargalhadas). Acho que essa é uma forma de perigo: tentar ser apenas você, o que acho bastante difícil.
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http://revistatrip.uol.com.br/141/iggypop/home.htm
trecho de entrevista concedida a Jonathan Shaw e publicada na Revista Trip # 141
Como é voltar ao Brasil depois de tanto tempo?
Eu fiquei bem puto por anos porque os brasileiros nunca me convidaram para o Rock in Rio... Eu ficava pensando: “Seus filhos-da-puta artificiais e superficiais, vão se foder!”. Fiquei bem ressentido com isso... Eu já havia tocado aqui antes, showzinho esquisito, com pouquíssimas pessoas na platéia.
Quando foi isso?
1989, em São Paulo, num ginásio de universidade, algo assim, com umas mil pessoas assistindo, na sua maioria estudantes [nota do editor: foi na antiga casa de shows Projeto SP, e em 88]. E depois aqui no Rio, onde foi bom para caralho — um clubinho sujo, não sei o nome, Copa alguma coisa... Lembro que tinha um gato e um rato nos camarins e adorei.
Como foi tocar aqui desta vez?
Senti um astral muito bom, acho que as pessoas realmente gostaram. Não tinha a menor idéia se elas nos conheciam ou não, ou se só gostavam de rock’n’roll tipo Billy Idol, que é só vestir jaqueta de couro, ser bonitinho e ter uma megaprodução. Sabia que vinha o Sonic Youth, que tem um som mais cabeça, e sei que aqui existe o “intelectual latino-americano superprotegido” [risos] — em todo país tem sempre um grupinho de gente com grau universitário que nunca é ameaçado... Pensei: “Bem, se eles gostam de Sonic Youth, o que vai ser de nós?”. Subitamente o público foi tão receptivo, as pessoas estavam com uma mente aberta. Não sei e não me interessa qual era a expectativa que elas tinham, mas era visível, enquanto tocávamos, que elas estavam com os olhos e ouvidos abertos e, aí, o público começa a entrar no ritmo. Essas coisas são bem básicas, mas são as mais importantes, sabe?
Quando o vejo no palco, me pergunto se em algum momento você se sente como se uma entidade o possuísse.
[Rindo] Uau, já me fizeram essa mesma pergunta... É isso o que você vê?
É como se eu o conhecesse como Jim, e o Jim é um carinha bacana... Aí ele sobe ao palco e se transforma no absurdo Iggy...
Bem, não sei bem o que acontece. Geralmente não me expresso muito. Mas quando estou no palco, fazendo um disco ou qualquer coisa que tenha a ver com música, aí digo “o.k., é aqui que eu preciso”. Sei lá, complete com o clichê de sua preferência: “expressar meu lado humano”; “fazer a diferença”; “passar para outra dimensão”, blablablá, qualquer merda, ser um palhaço, virar um chimpanzé, o que der na telha...
Sente como se estivesse servindo a um poder superior?
Isso eu já não sei... Poderia ser um poder inferior.
O que você costumava fazer nos anos 60?
Eu fazia coisas... Exemplo, depois que consegui montar uma casa para tentar fazer nossa música, eu tomava ácido, ligava um órgão elétrico que eu tinha no porão, colocava o amplificador no 10 e ficava com os pés no teclado por umas oito horas direto. Os pés em cima da porra das teclas, sem mexê-los, nem precisava, porque estava tudo se mexendo, saca? Então passei por toda essa merda idiota… Lembro de outra vez que tínhamos todos fumado DMT e eu vi um Buda enorme, rico em detalhes, no teto dessa casa. Me dei conta de que ele não estava lá de verdade, mas percebi que era detalhado demais, muito mais do que minha mente teria a capacidade de imaginar. Pensei que aquela devia ser minha mente superior, ou inferior, e disse: “Tenho que tirar as roupas”. Estava morando com três caras jovens, minha banda, e eles não ligavam: “Ele tem que tirar a roupa”. Então eu fiquei pelado por um ano [risos]…
E as pessoas da pequena Muskegon, onde você nasceu, que achavam disso?
Sentiam pena de mim. Toquei pelado em uma festa no Halloween de 1967 e todo mundo ficou constrangido. Mas não desistimos. Depois, um jornal universitário publicou um artigo a nosso respeito e só sabiam que meu nome era Pop graças a uma banda chamada Iguanas em que eu tinha sido baterista anos antes. Odiei aquilo. Quem é que quer ser chamado de Pop? Tente paquerar alguém, em 1968, dizendo: “Oi, meu nome é Pop”. As pessoas fazem careta, querem te bater, entende? Hoje funciona, algumas coisas mudaram.
Sabe que às vezes penso em “Search and Destroy” como a trilha sonora do apocalipse... Assim que voltamos a tocar juntos, eu e o The Stooges, alguém me disse: “Isso é maravilhoso, porque houve o Vietnã, agora a guerra no Iraque e vocês voltaram. É o momento perfeito para o The Stooges!”. Então tá, talvez tenha algo a ver: banda de guerra, de repente.
Acredita em Deus?
Gosto de um monte de deuses, o deus da xícara de café, o deus da mulher gostosa, deus de todas as coisas. Tem uma palavra para isso... politeísta, é isso, sou politeísta.
E como é que você voltou a trabalhar com os seus antigos comparsas?
É um astral totalmente diferente, porque o tipo de profissional que você consegue quando contrata nunca é tão bom quanto aqueles com quem você está em pé de igualdade.
Então é um lance de lealdade?
Yeeaahh... Mas detesto admitir isso [risos]. Quando aparecem esses sentimentos, penso [voz mecânica]: “Perigo! Este é um sentimento babaca e destrutivo. Pare por aqui. Se liga...”.
Qual é sua impressão a respeito do Brasil depois desses anos todos?
[Sorrindo como uma criança] Grande. Aberto. Descontraído. Legal. Aqui as pessoas não esqueceram como sorrir, elas sorriem até nos encontros normais do dia-a-dia. Sei que existe uma realidade por trás disso, um monte de outras coisas, mas as pessoas são calorosas. Quando cheguei na imigração, no aeroporto, já dava para perceber um mundo totalmente diferente. Eu meio que invejo você, morando aqui. Na verdade não gosto de morar nos Estados Unidos, continuo lá só porque não desisto, esse é o único motivo. Eles não vão se livrar de mim tão facilmente, hã hã. As ruas têm um astral bem bacana e as pessoas em geral são mais magras que as norte-americanas. Dá a sensação também de que elas têm mais tempo, e me identifico com isso porque sou do Meio Oeste americano, onde temos muito tempo livre porque não há porra nenhuma para fazer.
Você vê potencial pra ter esse mesmo nível de popularidade aqui?
Não diria que não. Estava falando à minha namorada, Nina: “Ei, talvez a gente conseguisse trabalhar de verdade aqui, tipo vir de novo e tocar um pouco mais...”. Mas não sei qual é a força da MTV aqui, porque eles tendem a distorcer tudo e a TV é uma potência.
Fico me perguntando, são as pessoas que assistem à TV ou a TV que assiste a elas?
É bem sinistro. Tem um bairro aqui que é inteirinho uma TV, passamos por ele indo para o show [Projac, da Rede Globo]... E tem a Barra, 30 quilômetros de lixo pré-fabricado e aquela horrível merda moderna, um lugar chamado New York City Center e um Hard Rock Cafe totalmente horroroso.
Bem-vindo ao McGlobo, posso tirar seu pedido para uma nova ordem mundial?
[Risos] Com queijo… Mas, cara, eles têm uns 150 quilômetros de praia lá, e eu queria ter aquela praia.
Por falar em Brasil, ouvi uns sons “secretos” que você fez há alguns anos e nunca mostrou pra ninguém, antigas canções da bossa nova que você tocou de brincadeira com sua outra banda, lembra disso?
Cara, merda... Sim, aquela história de bossa nova que eu estava fazendo, uau, você ouviu aquilo?
Vocês estavam tocando João Gilberto, Tom Jobim, alguma coisa da Elis Regina...
Agora me lembro. Realmente gosto dessas canções. Na época eu estava vendo se sabia alguma coisa de música tradicional que pudesse usar para gravar um álbum. Gosto de toda bossa nova, e também da tradição da música popular brasileira. Não sou tão versado nela quanto gostaria, não sei a história do tropicalismo e tudo mais, mas já ouvi muita música brasileira. Conheço o Caetano Veloso, já fui a shows dele, e fui com você ao show da Astrud Gilberto em Nova York, lembra? Sempre penso em fazer alguma palhaçada dessas. Quem sabe um disco de Natal? Mas tenho que esperar o Rod Stewart parar de fazer os seus [risos].
O que te diverte mais no rock’n’roll?
Dos 18 até uns 40 anos de idade, meu ideal de diversão era basicamente fumar um grande baseado durante um dia lindo, fazer sexo e... só, entende? Os únicos outros momentos em que me sentia bem eram quando eu criava algo novo musicalmente, como a primeira vez em que ouvi o playback de “Search and Destroy” no estúdio e me dei conta: “Caramba, isso aqui tem mesmo qualidade, tem um pouco de imortalidade aqui”. Houve um momento específico que foi um daqueles momentos clássicos, que definem a sua vida. Era primavera, aula de álgebra, primeiro colegial. A professora era uma velha, falando sem parar, o dia lá fora estava lindo e eu me senti mal. Fiquei com dor de estômago, a pele ficou mal, engordurada. Fiquei com falta de ar, não conseguia mais ouvir a voz dela e só queria pular aquela janela. Pensei: “Se fosse um músico, não estaria aqui agora mas fazendo qualquer bosta que me desse na telha”. Para mim, sempre foi sobre liberdade.
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Coincidência ou não, falei sobre esse disco de quebrada no meu último 'post': vivalabrasa.blogspot.com
ResponderExcluirNão, não foi coincidencia. Foi lá que eu soube que a arte é de marjane Satrapi.
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