quinta-feira, 1 de novembro de 2012

MARCELO NOVA X CAMISA DE VÊNUS

O tempo fechou entre Marcelo Nova e os membros remanescentes da sua banda original, Camisa de Vênus. O cantor baiano, residente em São Paulo há quase 30 anos, entrou com uma ordem judicial impedindo o grupo, reformado em 2010 com Eduardo Scott (Gonorreia) nos vocais, de gravar um álbum de estúdio com canções inéditas. O disco seria gravado com recursos (R$ 48.100) concedidos pela Secretaria de Cultura do Governo da Bahia (Secult), através do edital do Fundo de Cultura 2012, cuja lista de  contemplados foi divulgada no dia 15 de maio último.

Por telefone, Marcelo conta que, da última vez em que esteve na cidade, foi abordado por um garoto em um shopping: “Ele me perguntou se eu tinha visto ‘o que haviam feito com o Camisa de Vênus’. Ele me pediu para esperar. Aí ele volta com um CD com o logo do Camisa em uma capa de cartolina vagabunda e um CD-R com impressão que sai com a unha. Fiquei profundamente triste”, relata.

O CD em questão é o Mais Vivo do Que Nunca, lançado há pouco mais de um ano, com gravações ao vivo registradas durante a primeira turnê com Eduardo Scott. “O Camisa teve desde o início, fonograficamente falando, uma trajetória no mínimo respeitável. O último disco que o Camisa gravou (Quem é Você, 1996), foi coproduzido por Eric Burdon (lendário cantor da banda sessentista inglesa The Animals), mixado e masterizado em Los Angeles, com acabamento primoroso e qualidade técnica irrepreensível”, lembra.

A gota d’água para Marcelo foi a notícia do edital da Secult. “O Camisa pedindo dinheiro ao governo para gravar disco me envergonha. Ora, nós surgimos para se opor justamente a esse tipo de coisa. Como titular do nome, me senti na obrigação de tomar medidas legais para por os pingos nos ‘is’. Então, fiz uma comunicação de que haveria um impedimento”, detalha.

Marcelo afirma que não pretende utilizar o nome da banda para si, “embora eu tenha o direito. Estou em turnê solo, lancei o CD duplo ao vivo Hoje no Bolshoi, em DVD e  Blu-ray. O primeiro Blu-ray de um artista de rock brasileiro, diga-se de passagem”, comenta.

Mais, ele não fala. “Esse assunto está encerrado. Vi o que vi, não gostei e tive de tomar uma decisão”, conclui.

O que diz Gustavo Müllen

Do lado de cá, em Salvador, os atuais membros do Camisa de Vênus se dividem entre o silêncio e o pouco caso com o assunto.

“Se ele não gosta de ver o Camisa gravando com dinheiro do governo, por que ele toca no Sesc e na Virada Cultural de São Paulo? Tenho certeza de que esse dinheiro fosse concedido a Mr. Nova, ele gravaria tranquilamente. Na verdade, nunca tive nada contra o governo. Só não gosto do PT”, rebate o guitarrista Gustavo Müllen (ao centro na foto ao lado, de Victor Kaupatez), o único que aceitou comentar a questão.

"Mas não me sinto injustçado. Só acho cara de pau da parte dele dizer essas coisas. Por que na cabeça dele, tudo o que ele faz é bom e tudo o que os outros fazem é uma merda. Não vejo com bons olhos esse tipo de postura", disparou.

Para Gustavo, a intimação de impedimento impetrada por Marcelo “não tem validade legal”.

“Marcelo ainda não pagou o registro do nome Camisa de Vênus no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). E o documento que ele enviou está vencido. Minha mulher é advogada. Judicialmente, ele não tem validade”, afirma.

Gustavo achou errado Marcelo enviar o documento a Eduardo Scott e ao produtor que entrou com o edital na Secult, Marcos Clement – que afirmou ter se desligado da banda após saber da ordem judicial.

“O advogado dele é burro. Mandaram a intimação para Scott e Marquinhos, que nada tinham a ver com isso. Quem deveria receber essa intimação era eu e Karl.  Tava louco que mandassem pra mim. Eu ia perguntar em que quitanda ele se formou”, ri.

"A cara de pau de Marcelo está maior do que nunca. Na época em que começamos, o equipamento do Camisa fui em quem paguei, do meu bolso. Ninguém ali tinha dinheiro pra isso. E quando nos mudamos pro Rio, moraram todos as minhas custas. Ninguém tinha aonde ficar. Então fcamos todos no apartamento de minha ex-mulher, por um ano inteiro", relata.

Sobre o futuro da banda, Gustavo afirma que vai continuar tocando com o nome Camisa de Vênus “toda vez que me der na telha. E não vou tomar medida nenhuma. Vou continuar tocando no Camisa de Salvador, que é o legítimo”.

Quanto ao disco financiado pela Secult, ele foi evasivo: “Talvez sim, talvez não. Ainda vamos ver isso”, disse.

Percussionista tibetano e universo feminino  inspiram novo solo de Nova
 
Com o assunto do Camisa de Vênus encerrado – pelo menos, no que lhe diz respeito – Marcelo Nova concentra todas as suas atenções nas gravações de um novo álbum solo, com lançamento previsto para depois do Carnaval de 2013.

Aquecido após a calorosa recepção crítica para seu último CD de estúdio, o autobiográfico O Galope do Tempo (2005), o músico considerou  que, depois daquilo, “não tinha pra onde ir. O Galope foi um disco que meus fãs adoram. E eu achava que era um relato pessoal demais, que talvez não tivesse muita ressonância com o público, mas me enganei. Fiz a primeira tiragem, a segunda e agora uma terceira, remasterizado”, conta.

Dentro do estúdio com o filho, Drake Nova, nas guitarras e violões e o tecladista e produtor Luis de Boni, Marcelo pensava em gravar um álbum semiacústico, de baladas.

Até que o imponderável adentrou o recinto, na forma de um monge budista tibetano.

“Entraram no estúdio  seis caras, todos carecas, com instrumentos estranhíssimos. Todos com aquelas vestimentas laranja – na verdade, eles são laranja, as roupas só acentuam o tom cenoura da pele deles. Era um grupo do movimento Free Tibet, em turnê pela América do Sul”, relata.

Conversa vai, conversa vem, Marcelo consegue cooptar um dos músicos do grupo para gravar algumas percussões em seu disco.

“Chamei esse cara, o Goba Wanka, e  mostrei pra ele meu som. Perguntei se ele gostaria de adicionar percussão e foi isso. Ele sentou e gravou bateria em duas canções, além de uma percussão tibetana muito louca  em um punhado de outras”, conta.

"Ele toca um tímpano, chamado ocean timpani, todo artesanal, amarrado com couro, com oito ou dez baquetas diferentes. Quando você bate no centro do tímpano, ele cria uma sonoridade muito peculiar: reverbera e tem ao mesmo tempo um peso na acentuação do grave que é muito incomum", descreve.

Outra surpresa foi a performance do sujeito: "Sério, o cara voa dentro do estúdio tocando seu instrumento. É muito impressionante a forma como ele se entrega a música. Tem algo de devocional mesmo, não é normal. É coisa de monge mesmo", acredita.

O disco, que tem como tema central o sexo feminino, já se encontra 80% gravado.

“É a visão de um homem sobre o universo feminino. Tem belas love songs e grandes hate songs”, conclui, com uma gargalhada.

por Franchico

rock loco

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