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Por Roberto Nascimento - O Estado de S.Paulo
Um manual de sobrevivência para esses conturbados tempos da indústria fonográfica poderia ser encomendado ao Iron Maiden. Na capa, em negrito, algo como "os segredos da única banda de heavy metal que ainda vende 800.000 discos em uma semana", seria o chamariz.
Como poucos grupos de grande porte que navegam fora do mainstream, os veteranos metaleiros são praticamente imunes ao declínio de vendas na era do download. O fato foi comprovado em 2010, com o lançamento do disco The Final Frontier, que se manteve no topo de paradas da Arábia Saudita à Europa, ao Japão, vendendo um número de cópias para Jay-Z nenhum botar defeito.
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"Nós nunca aparecemos em programas de TV ou tomamos parte em qualquer divulgação na grande mídia, em publicações como o National Inquirer e esse tipo de baboseira. O nosso público aprecia isso. O que gostamos de fazer é tocar e compor, então fazemos turnês", explica Bruce Dickinson, vocalista do Iron desde 1981, em entrevista telefônica ao Estado.
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"O Eddie tem nos ajudado muito desde que tivemos a ideia de recriá-lo em todas as nossas capas", explica Dickinson. "Além disso, ele é uma espécie de fantasia, porque nenhum de nós está interessado em ser famoso. Se pudéssemos ser completamente invisíveis e as pessoas só comprassem discos do Iron Maiden e nunca ligassem para quem está na banda, eu ficaria muito feliz. Não gosto de ser reconhecido. Mesmo no palco, gosto de ser invisível. Isso é impossível, tenho de aceitar isso, mas o Eddie nos ajuda muito porque ele pode fazer todas as loucuras que os roqueiros supostamente fazem. Fora do Iron Maiden, somos pessoas praticamente anônimas. Tudo o que fazemos tem a banda como foco", conta o cantor, cujos vibratos operísticos o fazem figurar como uma das vozes mais
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Mesmo sendo referência em termos de técnica (um vídeo no YouTube mostra trechos de canções que abrangem quatro oitavas de alcance vocal), Dickinson não é cria de conservatório. "Aprendi tudo o que sei de ouvido, como autodidata, ouvindo discos do Deep Purple, Arthur Brown, Peter Hammill do Van der Graaf Generator, Ian Anderson do Jethro Tull, um pouco de Ozzy e Robert Plant", conta. Quando não está à frente do grupo, entoando pérolas do metal como Number of the Beast, The Trooper e 2 Minutes to Midnight, Dickinson luta esgrima, apresenta programas de TV sobre história militar e fenômenos ocultos e trabalha como piloto e diretor de marketing de uma companhia aérea. "Todos esses interesses se transformam em canções do Iron Maiden. Mas também piloto o avião que transporta a banda e estou com o meu equipamento de esgrima para praticar nas horas vagas", explica o cantor que já foi sétimo colocado em uma competição nacional na Inglaterra e apresenta uma série de programas que incluem episódios hilários sobre combustões espontâneas (com a sutil sugestão de que um prato de feijão seria a causa dos fenômenos), test drives de tanques russos e os efeitos de uma explosão de gás metano.
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