terça-feira, 29 de março de 2011

RIO

Transcorreu em clima de tranquilidade e euforia o show que o Iron Maiden fez ontem, na HSBC Arena, no Rio. Durante quase duas horas o grupo tocou o repertório padrão do trecho latino americano da “Final Frontier Tour”, para um público estimado em 12 mil pessoas. De acordo com a assessoria de imprensa da produção, cerca de mil pagantes não atenderam ao chamado da banda para voltar ao local ontem, já que o show havia sido transferido de domingo para segunda por causa da queda da grade que separa o público do palco. Trauma praticamente superado depois de um show renovado que realça a competência dos músicos e a vocação para o entretenimento que é marca registrada do grupo.

Depois de uma turnê retrospectiva que rodou o mundo, a renovação veio com o álbum “The Final Frontiers”, lançado no ano passado. Pela primeira vez na história do grupo um disco não começa com um típico single, curto e veloz. Ao contrário, “Satellite 5… The Final Frontier” tem uma longa introdução percussiva, escolhida também para abrir o show, e com um longo trecho pré-gravado, o que não deixa de ser uma ousadia dentro do heavy metal. Também é a primeira vez quer os músicos entram no palco caminhando até suas posições para iniciar o show - lembram dos sarcófagos se abrindo e todos correndo em direção ao público? E pense bem: qual é a banda com mais de trinta anos de estrada que abre um show com quatro músicas novas entre as cinco primeiras sem escutar um pio de reclamação por parte do público?

O palco tem a tradicional passarela em forma de ‘U’ no perímetro, que leva o agitado Bruce Dickinson a desafiar a atenção do público. O visual futurista inclui uma torre de controle de cada lado, e, ao fundo, o cenário que muda a cada música, com nada menos que 13 estampas diferentes, de acordo com cada tema. Das bandas consagradas, o Iron Maiden é a única que resiste ao telão de alta definição no fundo do palco, e quase ninguém percebe isso – para o bem ou para o mal. A iluminação, embora avançada, tem arranjo vintage, fazendo lembrar os holofotes emprestados do Queen no Rock in Rio de 1985. São três triângulos que se deslocam em todas as direções, dando o clima de cada música. Na abertura, por exemplo, os faróis vermelhos surgem no escuro como se fossem as naves espaciais, tema do último disco e da turnê.

A reação às músicas novas não é tão fervorosa, mas é de impressionar a cantoria do público, que já tem as letras na ponta da língua. A primeira grande explosão de alegria vem no riff clássico de “2 minutes to Midnight”, um dos mais potentes da história do metal e que quase leva a casa abaixo. A essa altura a arquibancada tem o público de pé com os braços erguidos em coreografia ensaiada junto com a pista, praticamente lotada. Entre as novas, “The Talisman” tem um desempenho apenas razoável no qual realça a voz “em dia” de Bruce, que aponta para um inevitável cantarolar; e “Coming Home” cuja ponte para o refrão evidencia a perícia e o bom gosto de Dave Murray, que ainda tira solos da caixola como nos velhos tempos.

É antes de “Coming Home” que Bruce cita pela primeira vez o acidente que causou o adiamento do show e queimou o filme da banda. “Como vocês podem ver, temos uma nova grade e vocês não vão pagar por isso, muito menos nós”, disse em tom de brincadeira. “Queríamos agradecer por todos terem ido para casa ontem numa boa e terem voltado hoje”, completou, mostrando alívio. Nem parecia que, 24 horas antes, ele tinha cortado um dobrado para comunicar o cancelamento do show de domingo. Em “Blood Brothers”, em geral dedicada às vítimas dos desastres naturais no Japão e aos envolvidos nos conflitos na Líbia, Bruce inclui a queda da grade em outra fala. “Vocês não podem esquecer a sorte que é viver num país como o Brasil. No Japão os shows foram cancelados e lá também há fãs do Iron Maiden como vocês. Não importa a cor, a religião, o lugar, são todos fãs do Maiden”, diz Bruce, num tom messiânico emprestado de Bono Vox.

Se Dave Murray era coadjuvante na melhor fase do grupo, hoje divide com Adrian Smith o papel principal. Em “Coming Home” eles deixam claro que são a evolução das twins guitars criadas pelo Wishbone Ash, assim como no excepcional duelo de “The Wicker Man”, música que funciona muito bem ao vivo. Em “When The Wild Wind Blows”, outra das novas, Murray mais uma vez se destaca num solo de arrepiar. É dele também o final emocionante de “Blood Brothers”, seguindo a deixa de Smith. A duplinha condena de vez o presepeiro Janick Gers (o sujeito que tem o melhor emprego do mundo) ao definitivo papel de figurante.

A novidade do Eddie que estreou no show de São Paulo é que o bonecão aparece bem mais ágil e ganha uma guitarra de um dos roadies, durante “The Evil That Man Do”. Não será surpresa se, no futuro, ele der um mosh sobre o público. Uma segunda versão do mascote surge gigante, atrás da bateria no estilo “moita”, e, em “The Number Of The Beast”, já no bis, uma capeta chifrudo e resignado surge em cima da passarela, do lado direito do palco, entre várias erupções de enxofre cenográfico. Vale o registro que não há nenhum efeito pirotécnico em todo o show, marca registrada de outras turnês do Iron Maiden.

Em “Hallowed Be Thy Name” é que se vê que Bruce Dickinson, mesmo sem a voz de sirene de outras épocas, continua segurando a onda muito bem. Não é qualquer que aguenta cantar numa música que tanto exige do vocal, depois de quase duas horas de intensa movimentação e cantoria. Murray e Smith voltam a esbanjar entrosamento e bom gosto, nas evoluções de guitarras e solos que praticamente pedem o cantarolar do público, já completamente entregue. A quase punk “Running Free” encerra o show com Bruce apresentando cada integrante – o aeróbico baixista Steve Harris é o mais aplaudido. A expectativa de que um segundo bis seria incluído para compensar os transtornos causados pela grade quebrada é reforçada pelos pedidos de “Run to the Hills” em côro, mas a banda não volta. Apesar de tudo, não dá pra reclamar, né?

OBS: A foto é do show de São Paulo
por Marcos Bragatto
REG

Set list completo

1- Satellite 15… The Final Frontier
2- El Dorado
3- 2 Minutes to Midnight
4- The Talisman
5- Coming Home
6- Dance of Death
7- The Trooper
8- The Wicker Man
9- Blood Brothers
10- When the Wild Wind Blows
11- The Evil That Men Do
12- Fear of the Dark
13- Iron Maiden
Bis
14- The Number of the Beast
15- Hallowed Be Thy Name
16- Running Free

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