terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Drakula em Paulo Afonso

“Drakula”, excelente banda de garage rock/surf music de Campinas, São Paulo, ia tocar em Paulo Afonso, Bahia. Andye Iore, agitador cultural de Maringá, Paraná, está aqui, em Aracaju, e sugere que demos um pulinho lá. Ok, boa desculpa para rever a cidade que ilumina o nordeste ...

(Mais de 90% da geração de energia do Nordeste provêm de usinas hidrelétricas que estão concentradas no rio São Francisco. Com capacidade de geração de 10.705 megawatts, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) é responsável pela produção, transporte e comercialização de energia elétrica para os Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. A produção média anual do sistema Chesf é de 40 milhões de MW e o consumo médio anual na região é de 33,5 milhões de MW. Xingó, Paulo Afonso, Sobradinho, Apolônio Sales, Luiz Gonzaga e Boa Esperança são as principais hidrelétricas do sistema Chesf. A capacidade de geração do rio São Francisco, no entanto, está esgotada e, por isso, tem-se pesquisado alternativas de geração de energia através de fontes solar, eólica (vento) e gás natural. Os Estados da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará se preparam para instalar usinas termelétricas).

Pegamos a estrada à 1 da tarde – com o sol pelando, evidentemente. Em Itabaiana, a primeira parada, para almoçar e fazer uma visita à única loja especializada em rock do interior do estado, a TNT Rock. Rendeu, para mim, um DVD do Heaven and Hell, uma edição em Cd importado com vários bônus de “kaleidoscope”, do Siouxsie and The Banshees, uma edição nacional de “The Eternal”, último disco do Sonic Youth, e um Cd split com as bandas DFC e Merda cuja primeira “música” tem o singelo título “o crack é muito gostoso”. Tudo por um precinho camarada! A TNT fica na Rua Prof. Hilário de Melo Rezende, 554 – no fundo do Colégio Murilo Braga. Os telefones são (79)3431-5565/9969-4618/9953-0113.

Pé na estrada de novo, que tem muito chão pela frente. Chão seco, sol a pino, calor do estopou balaio do cânço mariano da peste. Ribeirópolis, Aparecida, Glória, Monte Alegre, Poço Redondo. Belo por do sol no sertão, devidamente registrado pelas lentes do celular de Andye Iore e postado no facebook via instagram – sim, somos modernos! Entrada de Canindé, curva à esquerda, Paulo Afonso.

Paulo Afonso é uma cidade “sui generis”: está ilhada artificialmente pelo rio São Francisco, devido às diversas barragens construídas pela CHESF para alimentar as usinas. Tem cerca de 110.000 habitantes, mas parece maior do que realmente é, pois sua população se espalha de forma um tanto quanto irregular pelo território, que tem diversos “vazios demográficos” em seu interior. Ficamos mais pedidos que cego em tiroteio, mas perguntando aqui e ali, conseguimos finalmente chegar ao tal SPOM, o clube onde aconteceria o evento, que, segundo meu amigo Chacal, que nos acompanhou, era famosíssimo, uma espécie de Boate do Augustu´s local. Só que ninguém sabia onde era! Só chegamos porque tínhamos outras referencias, e lá entendemos por que tanto desconhecimento: trata-se na verdade de uma construção simples num terreno murado localizado num local cabulosíssimo, um beco deserto e sem pavimentação! Chegamos quase na hora marcada e não tinha ninguém, a não ser o porteiro, no local. Perguntamos se era ali que iria rolar um rock e, diante da confirmação positiva, partimos para a operação hospedagem – muito bem sucedida, num Hotel pra lá de decente, a um preço relativamente justo.

Quando voltamos, tivemos uma grata surpresa: na verdade o local não era aquele em que estivemos antes, era outro, amplo, aconchegante e com um delicioso ar condicionado geladinho, numa rua bem iluminada e cheia de gente bonita e “descolada” ...

Só que não! O pico era o mesmo, escuro e desprovido de qualquer vestígio de glamour, povoado por cerca de 100 (o Andye calculou 40 a 50) gatos pingados já bêbados e vestidos de preto. Que se foda, quem tá no rock é pra se foder! Ou não – contrariando todas as expectativas, foi uma noite bastante divertida, no final das contas. Apesar de ter seguido começando mal, com uma banda local muito fraquinha chamada Dona Benta HxCx ...

Foi bom, dentre outras coisas, porque a segunda banda, a “Comendo Lixo”, de Delmiro Gouveia, Alagoas, era boa. HC tosquinho, também, mas feito com mais propriedade, intensidade e verdade. Tocaram um cover de “subversores da ordem”, da karne Krua.

Também porque o Ete, do Muzzarelas, que também toca no Drakula (ou seria o contrário?) montou uma banquinha bem bacana onde eu morri em mais algumas dezenas (mais de uma centena) de reais ao não resistir e adquirir, em glorioso vinil, algumas cópias de “smell of femmale”, do Cramps, “Aqua Mad Max”, do Leptospirose, e um compacto do Drakula, “vilipêndio de cadáver”, que brilha no escuro. Pago no cartão de crédio, em 3 vezes sem juros. Eu adoro a modernidade ...

Drakula no palco. Riffs matadores, som dançante, máscaras de luta livre mexicana, coreografias ensaiadas. Show curto e intenso, na medida certa. Publico pequeno porém participativo – pelo menos a parte que foi ver o show, já que muito mais da metade estava ali apenas pra se chapar pelos cantos ou penetrar promiscuamente no banheiro feminino. Normal. Saudável. Rock! “Faz o que tu queres, é tudo da lei”.

Mais bate-papo informal com o Ete, que diz ter meu antigo zine, o Escarro Napalm, guardado até hoje em sua coleção. Dali eles iriam, de carro, direto para João Pessoa, Paraíba, onde tocariam na noite seguinte! Eu, depois de “olhar com os olhos e lamber com a testa” alguns outros discos que não levaria pra casa, como o primeiro do Suicidal e o “I against I” do Bad Brains, em vinil, reuni meus comparsas para que voltassemos ao Hotel e déssemos a noite por encerrada. Waleska Popozuda, a funkeira mais escrota do Brasil, iria se apresentar por lá naquele final de semana, mas o show seria apenas na noite seguinte. Uma pena, pois teríamos que ter mais gastos com hospedagem. Seria um bom encerramento para uma viagem inusitada ...

... que terminou bem, em todo caso, com uma peixada acompanhada de um delicioso pirão na orla de Piranhas, Alagoas, às margens do rio São Francisco ...

por Adelvan







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