quinta-feira, 19 de abril de 2012

# 222 - 14/04/2012

Liverpool - Por Favor Sucesso (1969).- Um modesto grupo nascido do mais tosco rythm'n'blues à la Rolling Stones, que flertava com o tropicalismo "mutante", mas que tinha mais pinta daquelas bandas psicodélicas californianas, gravou um dos grandes e esquecidos discos dos anos sessenta. Autor do feito: o quinteto gaúcho oriundo do bairro operário do IAPI, na Zona Norte de Porto Alegre, que atende pelo nome de Liverpool - um dos tripés da origem do rock gaúcho, ao lado dos Brasas e dos Cleans.


Misturando influências do rock clássico inglês/americano e da tropicália, Mimi Lessa (guitarra), Fughetti Luz (cantor), Marcos Lessa (guitarra-base), Edinho Espíndola (bateria) e Pekos (baixo) produziram uma obra que aproximou-se da genialidade dos Mutantes. O lp "Por Favor Sucesso" resultou da classificação do grupo na fase regional no II Festival Universitário da Música Popular, em que o grupo defendeu a música que deu nome ao álbum, de autoria de Carlinhos Hartlieb.

Abrindo com a faixa título, o disco reúne um conjunto de ótimas composições, com instrumental acima da média e letras inteligentes e expressivas do cotidiano da juventude da época. Destacam-se no disco as ultra-psicodélicas "Olhai os Lírios do Campo", "Impressões Digitais" e "Voando", todas com um impressionante trabalho de guitarra - com distorção no talo e harmonias rebuscadas. A quase bossa-rock "Planador", a tropicalista "Paz e Amor", o folk-rock "Tão Longe de Mim" e o boogie stoniano "Que Pena" mostram a diversidade das composições assinadas por integrantes do grupo, pelo já citado Hartlieb e, ainda, pela dupla Hermes Aquino e Lais Marques.

Da estirpe de Lanny Gordin e Sérgio Dias, Mimi Lessa é um dos mais importantes e menos valorizados guitarristas do rock nacional - brilhante no disco e mais ainda nos memoráveis e, digamos, coloridos, shows que banda promoveu no Sul e no Rio de Janeiro, para onde foi no início dos anos setenta. Espécie de Kim Fowley dos pampas (pelo apoio às bandas novatas), também o cantor e compositor Fughetti Luz é figura lendária do rock gaúcho, com suas memórias registradas em livro do jornalista Gilmar Eitelvain.

Com o fim do grupo, Mimi, Marcos, Edinho e Fughetti somam-se ao ex-A Bolha, Renato Ladeira, para formar o também lendário Bixo da Seda, que gravou um lp em 1976. Extinto o "Bixo", Mimi, Marcos e Edinho passaram a acompanhar artistas como As Frenéticas e Robertinho de Recife, e desenvolver trabalhos individuais. Fuguetti Luz retornou ao Sul, onde permanece na ativa - depois de compôr, produzir e tocar com bandas como Bandaliera, Guerrilheiros Anti-Nucleares e Barata Oriental.

Passados mais de trinta anos, a música de "Por Favor Sucesso" não soa datada, cobrando com suas elaboradas composições e refino instrumental o reconhecimento que faltou no seu devido tempo. Editado pelo selo Equipe, o álbum perdeu-se na burocracia das fusões e extinções da indústria fonográfica.

Texto de Fernando Rosa, originalmente publicado na revista ShowBizz.

Liverpool foi uma das bandas focadas no primeiro bloco do programa de rock da semana passada, todo dedicado ao bom e velho e sempre presente rock gaúcho - desta vez em sua versão "nuggets". Além deles, tocamos dois outros grupos derivados do legendário combo gaúcho: Bixo da seda e Mimi Lessa e Orquestra de guitarras. E também a banda "Byzarro", espécie de Blue Cheer dos pampas, com "Betelgeus star", canção hard-progressiva gravada ao vivo numa das célebres sessões "Vivendo a vida Lee", que praticamente inauguraram as gravações ao vivo de rock no estado e eram veiculadas pela rádio Continental AM - em dois canais! Mais uma cortesia da sensacional coletânea "Gauleses irredutíveis merecem aplauso", que você pode baixar gratuitamente aqui.

Mais rock gaúcho no segundo bloco: valeu a pena ouvir de novo a faixa título do novo disco do Cachorro Grande, "Baixo Augusta", assim como a pedrada que Julico compôs para a Plástico e uma das mais bonitas baladas que o Mopho gravou em seu "vol.3".

Não costumamos ficar parados no tempo e por isso demos um salto para a primeira década do século XXI, de onde extraímos algumas pérolas dos discos "favourite worst nightmare", de 2007, do Arctic Monkeys; "¿Cómo Te Llama?", lançado em junho/julho de 2008 pelo guitarrista dos Strokes, Albert Hammong jr. (na época a banda estava parada); "Neon Bible", dos canadenses (de Quebec) do Arcade Fire, e "Sunlight makes me feel paranoid", de 2003, da banda novaiorquina Elefant.

No Block do ouvinte, Hard rock setentista mezzo obscuro por Idalício. Encerrando a parte musical do programa, nosso já tradicional bloco anual dedicado a bandas que se apresentarão no festival Abril pro rock, em Recife. Fechando tudo, uma entrevista com Victor Balde e Marcelinho Hora sobre o lançamento do livro "Mùsica pra ouvir", da Snapic - primeiro registro pictórico da cena musical sergipana no formato.

Sábado que vem não farei o programa - estarei no abril pro rock.

Até dia 28.

A.

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Bixo da seda - Trem
Byzarro - Betelgeus star (1976, Ao vivo no Mr. Lee)
Liverpool - àgua branca
Mimi Lessa e Orquestra de guitarras - Led Boots

Cachorro Grande - Baixo Augusta
Plástico Lunar - quase desisto
Mopho - quanto vale um pensamento seu

Arctic Monkeys - Fluorescent Adolescent
Albert Hammond jr. - Lisa
Elefant - make up
Arcade Fire - Keep the car running

Jeronimo - To be alone
Killing Floor - Acid Bean
Hawkwind - Assault & Battery
> por Idalício

Mundo Livre S/A - O velho James Browse já dizia

Brujeria - Marijuana (Escobar remix)
Exodus - Bonded by blood
Ratos de porão - Tô tenso (Patife band cover)
Cripple Bastards - Mondo plastico
Test - Na pele de Deus
Leptospirose - O instrumental desse som vai pro I shot cyrus e a letra que se foda pra quem é, nem vale a pena tocar no assunto
Leptospirose - Drasticamente barrado no baile
Leptospirose - Casa própria
Leptospirose - Chá é o que há

Marcelino Hora e Victor Balde
>Entrevista

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