terça-feira, 18 de outubro de 2011

No Sense, uma entrevista

No Sense é uma das bandas pioneiras do grindcore no Brasil. Foi formada em 1990 na cidade de Santos, São Paulo, e gravou uma demotape, "confused mind", um EP 7 polegadas chamado "out of reality" pela Fucker records, de São Paulo, e um LP em vinil, "cerebral cacophony", pela Cogumelo, de Belo Horizonte. Pararam em 1993 e voltaram em 2008 a todo vapor, tendo lançado, já, um novo EP, "obey", que além de ser uma prévia do novo disco traz, como bonus, o primeiro EP, fora de catálogo e nunca antes lançado em CD.

Abaixo, uma entrevista com Marly, a vocalista:

programa de rock – Por quanto tempo vocês ficaram separados ? Vocês conseguiriam lembrar, exatamente, quais e quando foram as últimas atividades (show, ensaio, reunião) que tiveram enquanto banda antes de se separar e depois, na reunião?

No Sense – Ficamos separados exatamente 15 anos…só lembro do último show, que foi em Santo André, e eu estava com um barrigão de 7 meses…já pra volta rolou um “telefone sem fio”….um encontrava o outro e ficávamos mandando recados porquê nunca calhava de encontrarmos os 4 de uma vez….até que calhou de combinarmos tudo por telefone e o reencontro se deu já no ensaio…dia 20 de julho de 2008, no dia do meu aniversário. Presentão!!!!!!

pdr – Como aconteceu esta volta da banda ? Foi algo planejado, amadurecido, ou simplesmente aconteceu, sem nenhum planejamento, tipo um “Big Bang” ?

ns – Então, como falei a vontade sempre esteve em algum lugar adormecida…

pdr – O que vocês fizeram no tempo em que estavam separados ? Se envolveram com algum projeto de cunho “artístico” ou simplesmente tocaram suas vidas pessoais ?

ns – Eu tive a minha adorada e amada Chesed Geburah, banda estilo black metal (não temática!) com muitos teclados, muito clima, vocais diferentes…algo também pioneiro pra época….mas fiquei só um ano na banda, depois parei com tudo e fui me dedicar aos estudos…os meninos se envolveram em vários projetos como:

Angelo: Abuso Sonoro e o selo Elephant Rec. que lançou várias bandas;

Morto: Abuso Sonoro, Toxic Freak, Leucopenia, Bones Erosion;

Paulinho: Violent Vision, Wrinkled Witch, Empire of Souls.

pdr – Como tem sido esta retomada, em termos de retorno do publico e satisfação pessoal de vocês como membros da banda – está tudo ocorrendo de acordo com o previsto (se é que previam algo) ou têm se surpreendido? Têm sentido algum tipo de retorno da galera mais jovem ? E os velhos “fãs”, como receberam a volta do No Sense ?

ns – Isso é muito louco! Porquê só depois da volta passamos a ter a real dimensão do que fomos e representamos diante da receptividade!!! Não tínhamos expectativa alguma, nem sabíamos se íamos um aguentar a cara do outro rsrs…mas foi melhor do que imaginamos……

Os “fãs” são os “olds”, um mais maluco que o outro!

pdr – Me falem dos shows que têm feito, como tem sido o clima em geral ?

ns – Fizemos poucos, mas foram muito bons! É que não demos muita sorte ainda de tocarmos com bandas só do gênero então o público fica meio sem reação…rsrs

pdr – Não tenho nada contra bandas que voltam apenas para matar a saudade e fazer shows tocando somente as mesmas musicas, mas respeito mais as que se preocupam em produzir algo novo, compor novos sons, portanto saúdo o No Sense por isso. Como surgiram essas novas composições ? Já tinham planos de lançar um disco novo ou aconteceu como consequencia ?

ns – Nos primeiros ensaios já saiu a “No More Hope”, de lá pra cá temos quase 30 músicas novas….é meio automático…parece que esses anos todos a inspiração ficou “encubada”….você não têm noção de como está o cd…já está quase todo gravado…músicas maravilhosas!!!!!!

pdr – Me falem do processo de gravação do novo EP e das diferenças que vocês sentiram em relação à experiência da primeira fase da banda, quando gravaram 1 demo, 1 compacto e 1 LP.

ns – Naquela fase não tinhamos experiência alguma….eu continuo sem..rsrs….os meninos já gravaram várias coisas com suas respectivas bandas….eu apanhei nesse cd da volta….se não fosse o aparato técnico de pessoas como o Claudio, nosso produtor (que agora é o baixista) e meu amigo Josh do Bode Preto, que mesmo de longe me ajudou pra caramba, eu não sei como teria finalizado!

pdr – Algum plano para o relançamento do LP “Cerebral cacophony” em CD ?

ns – Nenhum!!!! No máximo tocar as músicas ao vivo! A Cogumelo não se pronuncia, nem nós!

pdr – Como vocês vêem a “cena” hoje em comparação àquela na qual nasceram e foram gestados, no início dos anos 90? – o que melhorou, o que piorou, o que continua na mesma …

ns – Fraquinha né???? Mas os que restaram valem por 100 daquela época!

pdr – Já que entramos no tópico “recordar é viver”, façam uma retrospectiva da carreira da banda: como começou, quais os melhores shows, viagens, melhores (e piores, porque não?) momentos, enfim.

* MORTO: Bom, o inicio de tudo deu-se com a ideia de fazer alguma coisa que envolvesse barulho, com influências do que mais ouvíamos na época, Napalm, Terrorizer, Repulsion….a ideia de ter um mina como vocal surgiu do nosso grande amigo Angelo,e também a loucura de trocarmos de função pois na época eu tocava guitarra e ele baixo dai se já sabe , bom os shows sou meio lesado pra lembrar mas posso dizer q tivemos muitos bons e também muitas roubadas, em questão a viagens não fomos muito longe dos nosso estado um ou outro que não me recordo,mas dizer pior não dá pra dizer porque sempre tiramos proveito de tudo pois cada lugar uma experiência nova.

pdr – Porque parou ?

ns – Porquê engravidei..tivemos que dar um tempo..embora tenhamos feito shows até meus 7 meses de gestação. Nessa de “dar um tempo” foi cada um pro seu lado.

pdr – Me falem sobre a relação de vocês com as gravadoras que lançaram seus discos, antes e agora – alguma diferença significativa ?

ns – A Fücker não existe mais, mas a nossa relação é de extrema gratidão….o seu dono, Leandro, era uma pessoa espetacular e apostou na banda de forma surpreendente!

A Cogumelo deixou a desejar…péssimo estúdio, péssima produção, péssima divulgação, não tivemos muita voz ativa e sentimos que “queimamos” 20 músicas maravilhosas com isso.

Atualmente a Violent é nossa parceira, mas não 100%, o trabalho que estamos realizando agora, que só estará completo com o cd, pois na verdade Obey é uma promo comemorativa dos 20 anos do 7′ ep, é uma produção indepente de um grande fã nosso que prefere ficar no anonimato. É uma história curiosa. Ele se propôs a bancar tudo desde que ficasse no anonimato e que todas as fitas masters lhe fossem enviadas, sem quaisquer edições.

pdr – Marly, você foi meio que pioneira nessa história de garotas na formação de bandas com um som tão extremo. Como foi este processo, as pessoas estranhavam muito? Sua presença foi bem aceita ou você sofreu algum tipo de manifestação machista/sexista pelo fato de ser uma mulher “cantando” grindcore? Para situar um pouco o contexto da época, nos fale um pouco das outras bandas que tinham membros do sexo feminino, como o Purulence – como era, enfim, a participação feminina na cena da época e o que, na sua opinião, mudou (ou não), de lá pra cá.

ns – Na verdade quem sofreu preconceito foi a banda…cansei de ouvir de uns caras da região que tinham banda de thrash e afins que éramos uns retardados, que o som era um bosta….teve um cara que teve as manhas de chegar pra mim e dizer “Marly, sai disso, isso é ridículo”….ahahaha mas o castigo veio a cavalo….em poucos meses um dos selos mais legais nos contratou e gravamos o ep e deixamos todo mundo se remoendo de ódio….até hoje tem gente que nos odeia….por isso temos um pacto: Nunca tocaremos em Santos….aproveitando o espaço, posso dar um recado pra esse povo que está entalado em minha garganta esses anos todos???

PAU NO CU DE VOCÊS SEUS MERDAS!!!! VOCÊS SABEM QUEM VOCÊS SÃO!!!

Quanto à mim eu nunca recebi ou percebi manifestações machistas/sexistas…talvez pela minha postura…meio de moleque, bem maloqueira também…visual camiseta/calça/tênis….isso não dava mesmo muita margem à esse tipo de reação….só vim descobrir que causei uma espécie de “espanto”, digamos assim, e o que pensavam de mim com o advento da internet…pois li muitos comentários que eu nunca imaginei!!! Coisas surreais!!! Hoje eu dou risada, naquela época daria porrada!!!! De meu conhecimento, aqui no Brasil, de som extremo mesmo só o Purulence mesmo, que veio um pouco depois, e aquelas meninas eram demais!!!! SE eu abri alguma porta pra mulherada, foi o Purulence quem passou por ela primeiro, e elas são meu maior orgulho por ter aberto tal porta. Tinha outras bandas na época como Volkanas, Flammea, mas eram outro estilo, outra proposta…Hoje em dia tem o Necrose com minha amiga Angela que representa muito bem a cena!

pdr – Grindcore não é apenas “música” (há quem ache que nem isso é), o aspecto ideológico sempre foi forte no desenvolvimento do estilo. Como vocês se situam neste campo? Pensam o mundo, em geral, da mesma forma, com a mesma matriz ideológica, ou algo mudou ?

ns – Realmente tem grind que é uma corrida de velocistas que você não entende nada e nenhuma música te marca….Só que nós não fazemos esse grind….nossa linha é a linha Napalm, a linha que você escuta a música, sente o riff e tem vontade de chorar de tanto que te toca….essa é a minha relação com o grind….acho que é uma questão de alma mesmo…tem gente que ouve Sabbath e acha uma barulheira também…vou falar o quê? Só posso dizer que colocamos nossa alma quando estou “cantando” qualquer música do No Sense…se soa dissonante para a maioria…talvez nossa alma seja dissonante e não podemos fazer nada quanto à isso. Vejo os “meninos” comporem e vejo admirada todo o processo de criação…rola uma sinergia impressionante! E fazemos isso porquê gostamos, pois, orgulhosamente, admito que todos eles tocam muito e poderiam tocar outros estilos, como o fazem!

No passado tivemos uma postura mais ideológica..hoje queremos apenas falar o que sentimos em determinada situação que se apresente…sem dogmas…como em “Spilling the holly shit” em que eu canto como se fosse um cristão suplicando ao seu pastor (e ele respondendo), Vendetta, que fala de vingança pura e simples, ou da Guided, que é uma honemagem ao Dexter…rsrs..como pode ver….bem variado….

Eu nunca vou subir no palco e ficar pregando meu ideais!!!! Eu quero é subir no palco e me divertir!!! Eu quero é rock!!!!

pdr – Pra finalizar: “Haverá futuro”?

ns – Pra nós enquanto o Napalm Death e o Terrorizer tocarem em nossos corações, sim!

Adelvan perguntou

Marly respondeu

Exceto em *

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3 comentários:

  1. ouvi o som...muito radical mesmo!!!!

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  2. simplesmente....Phoda;;;;;;o som é radical mesmo!!!

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    1. Massa que tenha conhecido pelo meu humilde blog. Agora ajude a divulgar essa grande banda.

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