sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Calanca, uma entrevista

Luiz, pra começar eu gostaria que você se apresentasse e contasse um pouco da sua história para os nossos leitores.

Meu nome é Luiz Calanca, tenho 57 anos, e vou fazer 33 de Baratos Afins no dia 24 de maio. Antes eu era farmacêutico, mexia com remédios.

Ir para o ré maior foi um pulinho. Fazia bailes nos fins de semana, tinha dois pares de sapatos furados e algumas camisas brancas rasgando, e sempre um disco novinho. Quando minha filha Carolina estava para nascer, não tive escolha, tive que sacrificar alguns discos de minha coleção para comprar o enxoval do bebê.

Como foi o seu primeiro contato com o rock?

Eu trabalhava num serviço de alto falante e minha função era ouvir entre cinco ou mais cópias de um mesmo disco e selecionar a que estava em melhor estado para meu chefe depois tocar. Os números de cópias iguais se dava porque antigamente os discos eram feitos de cera de carnaúba, rodavam em 78 rotações por minuto e se desgastavam conforme iam tocando, então quando as pessoas mais endinheiradas gostavam de uma determinada obra elas compravam várias cópias iguais.

Eu gostava de ouvir Cauby Peixoto, Baby Santiago, Bob Nelson, e já tinha alguns em 33 1/3 rpm de nomes como Cely & Tony Campelo, Ronnie Cord, Sergio Murilo, etc. Depois veio a Jovem Guarda, Renato & Seus Blues Caps, Erasmo e Roberto Carlos, George Freedman, Brasilian Beatles e muito mais. Nesse período geralmente tudo eram versões que ouvíamos antes do original chegar por aqui. Quem trazia esses discos era o Ronnie Von, que era um cara super antenado com o que rolava la fora.

Quando você percebeu que a paixão pela música não tinha cura e iria acompanhá-lo por toda a vida?

Acho que depois de ter minha equipe de baile, quando eu já tinha uns 2.000 compactos e quase 1.000 LPs.

Luiz, você consegue dizer em que momento se transformou de um fã normal de música em um colecionador?

Na verdade ainda continuo achando que não sou lá muito normal, mas acho que me tornei um colecionador mais sério depois de abrir a loja.

Qual o tamanho da sua coleção?

Tenho aproximadamente 15.000 LPs e perto de 2.000 compactos, porque fiz uma limpeza deixando os mais seletos, mas continuo reciclando, gravando aquela faixa do porque de ter guardado cada álbum. Pretendo ficar com menos, excluindo os esquecíveis.

Não tenho Vídeo Laser, VHs, MP3, nem DVD. Não gosto muito de ver imagens. Às vezes gosto de uma banda, depois vejo imagens dessa banda se rebolando no vídeo e tenho vontade de botar fogo na coleção. Na TV só vejo o jornal. Televisão para mim tem efeito de Vallium, ligo cinco minutos e durmo.

Tenho pouquíssimos CDs, geralmente os de minha produção e de algumas bandas que amo de paixão e não existem em vinil. Não são muitos. Ah, desculpe, é mentira!!! Tenho porradas de CD-Rs caseiros, aquelas demo tapes que o pessoal me manda. Até que tem umas coisas legais, mas no geral é tudo muito ruim mesmo, mas não vou jogar fora porque tenho respeito e mantenho o arquivo. Já houve casos de eu ter a ultima cópia de um material que estava praticamente perdido e devolver para a banda.

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Quem?

Luiz Calanca, proprietário da primeira loja de discos da megafamosa Galeria do Rock desde 1978, no centro de São Paulo, e do primeiro selo independente do mercado musical brasileiro, é avesso às inovações tecnológicas como a Internet e o CD. Sua coleção particular soma quase 20 mil títulos em LPs, fora os quase 100 mil vinis e 25 mil títulos de CDs disponíveis em sua loja ‘Baratos Afins’.

Natural de Flórida Paulista, interior de São Paulo, nascido em 06 de fevereiro de 1953, Luiz conta que na infância era atrevido, sapeca e vivia “chegando nas garotas". Apaixonado pelo circo, gostava de ver os artistas ‘caipiras’ como Tonico e Tinoco, “passando debaixo do pano para não pagar bilhete”, completa.

Nos anos 60, quando os Beatles já haviam lançado “Ticket to Ride”, relembra, então com 11 anos, começou a trabalhar lavando os discos de vinil para o serviço local de publicidade em auto-falantes; “nessa época, comprei meu primeiro disco, o ‘La Bamba’, de Prini Lores.”
Mudou-se aos 13 anos para a capital São Paulo, com seus pais José e Ivani Calanca, início do ‘movimento tropicalista’.

Calanca assistia ao Programa “Esta noite se improvisa”, apresentado por Blota Jr na TV Record, onde Caetano Veloso e Chico Buarque eram quase que presenças constantes: “Ouvir Caetano cantando Tropicália foi um desbunde na minha vida”, explica Calanca, lembrando que foram esses os primeiros compactos comprados na cidade grande.

O primeiro LP nacional foi “Meu Bem”, de Ronnie Von, uma versão de “Girl” dos Beatles (1966), e o primeiro internacional foi dos Stones (1967)“Between the Buttons”. Trabalhando como farmacêutico em uma drogaria na Augusta, começou então a comprar alguns discos e a fazer bailes em casas de família.

Casou-se em 1974 com Vitória Calanca, e abandonou o curso pré-vestibular quando sua esposa ficou grávida de Carolina: - “Eu tinha um sapato furado, mas sempre um disco novo”, completa. O farmacêutico então daria lugar ao futuro empresário, quando resolveu abrir uma loja de discos com o nome “Baratos Afins”, inaugurada em 1978. Luiz Calanca colocava os discos do John Travolta no chão para serem pisados pelos roqueiros freqüentadores da loja, que adoravam isso. No entanto, a loja acabou ficando famosa, cresceu, adquiriu mais funcionários, além da ajuda da esposa e filha, e, acabou adaptando-se aos segmentos variados de seus novos clientes: -“Virei um traficante de drogas, me prostituí, e acabei vendendo todo tipo de drogas musicais”, diz Calanca, em tom de brincadeira.

Calanca também produzia shows e espetáculos, tais como um trabalho realizado com o Arnaldo Baptista (ex-Mutantes), a pedido de sua esposa após um acidente que o músico havia sofrido. Assim, logo lançaria toda a obra dos Mutantes, Rita Lee e Arnaldo Baptista, a estréia do selo ‘Baratos Afins’. O selo também lançou nomes como Bocato, Itamar Assumpcão, Jorge Mautner, Marcelo Nova, Ratos de Porão e Tom Zé, entre outros, num total de 154 títulos em LP e 50 em CD, com tiragens reduzidas.

Calanca diz que seu selo é “maldito e underground”, apelidado por ele de “Sanatório do Rock”. Trocando LP´s por CD´s, Calanca pode comprar um apartamento para abrigar o estúdio e seus LP`s. “Nosso país tem quatrocentas bandas tão boas ou melhores que o Radiohead, mas sei que é difícil ‘vender’ essa música sem apoio da mídia. Porém, estou de alma lavada. Alguém, um dia, terá curiosidade de pesquisar e achará legal...”

Rockwalk

Um comentário:

  1. Luis eu tenho muitos vinis que sao reliquias se vc enteressa entre em contato 82067716

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