quinta-feira, 31 de maio de 2012

pisa macio ...


Amplificadores no talo. A devoção ao volume, fetiche no sangue de tudo quanto é guitarrista, já arrebentou as cordas de muita Stratocaster por aí. O barulho é imperativo. Firmeza na munheca, também. Quando os hormônios sossegam, contudo, a maturidade precisa dar o ar da graça. Espinhas e testosterona não garantem o futuro de ninguém.

Cáustico – Seria exagero afirmar que o Acústico Aperipê da banda The Baggios desenterra a serenidade das composições consagradas pelas patadas certeiras de Julio Andrade (vocal e guitarras) e Gabriel Perninha (bateria). A gana com que eles atacam o repertório reina soberana nas sete faixas do EP. O nervosismo cheio de vontade dos meninos cria, aqui, no entanto, uma espécie de caos calmo. O ímpeto contido dos andamentos e a moderação nos efeitos afiançam a segurança do duo, própria de músicos conscientes de si.

Despidas, as canções respiram com uma naturalidade primitiva. Se nas gravações originais (o EP possui apenas duas músicas inéditas) a distorção assume a responsabilidade de nos manter aquecidos, o lamento ancestral dos negros americanos ecoa em todos os riffs desse Acústico. Longe dos campos de trabalho onde a ladainha nasceu, Julico transpira a seu modo, desafiando os limites acanhados do próprio berço.

Entre as inéditas, nas quais o piano esperto de Leo Airplane evoca ambientes escuros, impregnados de fumaça, o registro afetivo de uma composição assinada pelo maluco que inspirou os primeiros passos da banda. Um gesto carinhoso de gratidão encerrado em si mesmo. Ponto. “Meu relógio”, por sua vez, passa a régua no disco. Todas as cadeiras do boteco descansam sobre as mesas e o rosto mal humorado atrás do balcão nos convida a ir embora. “Hard times, when i play the blues...”.

The Baggios - Cáusticos e acústicos

por Rian Santos



Nenhum comentário:

Postar um comentário