segunda-feira, 20 de junho de 2011

prazeres revisitados

Celebração: No Rio de Janeiro, Peter Hook subtrai os conceitos do Joy Division e converte repertório sombrio em festa marcada por alegria fugaz.

Quem esperava entrar no túnel do tempo, viu celebração. Não que o repertório apresentado pela banda de Peter Hook, ontem, no Circo Voador, não tenha causado comoção e reflexão na caixola dos mais antigos – haviam os mais moços também -, mas o tom foi de festa, não de compenetrada tristeza. Explica-se que o conceito Joy Division, associado à morte precoce do vocalista Ian Curtis, em março de 1980, pautou todo o pós punk que teve ecos tardios por aqui e fazia as pessoas dançarem contra a parede no Crepúsculo de Cubatão e na Ilha dos Mortos. Pois quem esteve no Circo ontem viu tudo isso convertido em alegria fugaz. Porque Joy Division é – acredite - hit de pistas de dança, já sem as paredes.

Baixista dos mais inventivos, Peter Hook estava lá, na gênese de tudo, e tem a moral para festejar o que quiser. Daí, nada de luzes escuras, fumaça, clima soturno. Tudo é festa, com direito à jaqueta do Manchester United lançada ao palco por um fã e camisa 10 da seleção no último bis. Se Ian Curtis se remexe no túmulo não se sabe, mas a opção de deixar este mundo e entrar para a história antes dos outros foi dele. Seguindo esta linha, o show não é nada parecido com um cover ordinário. Não há, por parte dos músicos, grande esforço para soar igualzinho ao disco, embora isso aconteça. Não o tempo todo. “Day Of The Lords”, por exemplo, ganha um peso impossível de ser tirado na sombria Manchester do final dos anos 70. “New Dawn Fades”, com um vocal terrível, e dramática “Insight”, também têm arranjos sutilmente diferentes.

Na maior parte do tempo a banda tem dois baixos tocando juntos. O artifício serve para Hook não precisar tocar na hora de cantar, e aí é que o filhão Jack Bates segura a onda. A imagem que marca é a de Peter Hook na beirada do palco, com o instrumento nos joelhos, pernas arcadas e tocando como um garoto. A cena garante boa vibração por parte do público em “Insight”. Em “She’s Lost Control” é o guitarrista Nat Watson a se destacar, adicionando peso ao minimalismo de origem. A música, colada em “Shadowplay”, é um dos grandes momentos do show. “Killers é o caralho!”, grita um fã mais exaltado, que certamente não gostou da versão feita pelo grupo americano para o filme “Control”. Watson, que vai ser papai, seria homenageado por Hook em “Novelty”, que nem sempre é tocada nessa turnê, no bis.

O show tem a íntegra do álbum “Unknown Pleasures”, e “These Days” é mais uma intrusa, já no segundo bis, numa escolha das mais acertadas. A música segura o pique da dobradinha anterior – foi rápido o intervalo – com a épica “Atmosphere” e “Ceremony”; em festa do Joy Division não poderia mesmo faltar uma ponte com o New Order. E o tecladista Andy Pool, que bocejou durante quase toda a noite, enfim tem trabalho em “Love Will Tear Us Apart”, que carimba o clima de celebração, mais um registro contemporâneo do que um retrato em preto e branco dos dias de melancolia fundados pelo Joy Division. É assim que a humanidade caminha …

Fonte: Rock Em Geral
Texto: Marcos Bragatto
Foto: Divulgação

Set list completo:

1- Incubation
2- No Love Lost
3- Leaders Of Men
4- Digital
5- Disorder
6- Day Of The Lords
7- Candidate
8- Insight
9- New Dawn Fades
10- She’s Lost Control
11- Shadowplay
12- Wilderness
13- Interzone
14- I Remember Nothing
Bis
15- Atmosphere
16- Ceremony
Bis
17- These Days
18- Novelty
19- Transmission
20- Love Will Tear Us Apart

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