por Adelvan Kenobi
Fazer rock independente, autoral e sem seguir as modas passageiras ou as tendencias do momento no Brasil é difícil. Fazer isso nas regiões mais remotas do país, “longe demais das capitais” e, portanto, longe da efervescência cultural dos grandes centros, é mais difícil ainda. Mas existem, evidentemente, grandes talentos “perdidos” (no sentido de desconhecidos nacionalmente) por todo o Brasil, do Oiapoque ao Chuí. Um deles é a banda Plástico Lunar, de Aracaju, Sergipe. A dificuldade citada acima e mais uma certa desorganização confessa explicam o grande hiato entre a gravação e o lançamento “oficial” de seu primeiro disco, “Coleção de Viagens Espaciais”. Mas o mais importante é que aconteceu: uma das mais importantes formações do rock sergipano de hoje e sempre (para séculos e séculos sem fim amém) tem, finalmente, um registro decente de suas composições.
Plástico Lunar não inventou a roda. Navega por aqueles mares já densamente navegados do rock psicodélico com pitadas de Hard rock e flertes com o progressivo. Tem grande influência dos clássicos do gênero, notadamente os Mutantes, pra ficar só em Terra Brasilis. Figura ao lado dos “quase conterrâneos” (vizinhos de Alagoas) Mopho e Casa Flutuante como grandes representantes nordestinos contemporâneos do estilo, e não deixa nada a dever a nenhuma banda de projeção midiática em termos de qualidade e competência na composição e execução de suas musicas. É uma banda que merece muito um reconhecimento maior fora do estado, porque por aqui eles já têm um considerável séquito de seguidores e admiradores. Estão aos poucos se mobilizando para que isso aconteça, e alguns passos com esse objetivo foram dados ainda neste ano de 2009, quando participaram do importante Festival “Psicodalia”, em Santa Catarina, para lançar, finalmente, seu primeiro disco “oficial” (precedido de dois CDs-demo). Vamos a ele.
Salta aos olhos logo de inicio o belíssimo trabalho do designer gráfico e artista plástico Duardo Costa, responsável pela concepção visual do projeto. O encarte do disco se abre em 3 dobras e revela um desenho “psicodélico” em seu interior, que forma um conjunto harmonioso com os desenhos da capa, da contra-capa, do disco propriamente dito e do interior do estojo de acrílico do CD. Fico feliz em ver que a banda teve essa preocupação com a embalagem de seu produto, pensando o álbum como ele deve ser pensado, como um conjunto. Está de parabéns, inclusive, a qualidade qualidade com a qual o material foi impresso, algo que, por vezes, compromete uma ideia, a principio, boa. Afinal, hoje em dia, este é um fator decisivo para diferenciar a posse de um disco físico do simples ato de baixar uma coleção de musicas e guardar numa pasta em seu computador. Dito isto, colocamos a bolachinha para rodar e nos deparamos com uma opção pouco convencional para a faixa de abertura: “Moderna” é uma composição com um ritmo mais quebrado e com um instrumental com cara de “Jam session” em seu miolo. Confesso que a principio estranhei a escolha dessa faixa para abrir o CD, mas pensando melhor imagino que com essa escolha a banda fugiu um pouco do óbvio, o que é, quase sempre, uma boa idéia. A segunda faixa, “Formato cereja”, tem mais cara de musica de abertura, com seu riff marcante precedido por uma pequena introdução com ruídos de guitarra e teclados. Já a terceira, “boca aberta”, começa ao som de um piano, o que demonstra muito bem a versatilidade dos arranjos imprimidos pela banda. E assim segue uma verdadeira sucessão de clássicos do rock feito em Sergipe, musicas já mais do que conhecidas dos que freqüentam os shows da banda por aqui e que agora, espera-se, tenham a chance de conquistar novos ouvidos e admiradores Brasil afora. A quarta faixa, por sinal, “sua casa é o seu paletó”, já tem um clipe pronto e muito bacana dirigido por Alessandro “Cabelo” circulando pelo Youtube, o grande canal de divulgação para este tipo de mídia desde que a MTV abdicou de seu papel principal de veicular musica para se tornar uma produtora de programas de auditório e reality shows para adolescentes. Vale ressaltar o excelente trabalho de revezamento dos irmãos Daniel e Plástico jr. nos vocais, sempre com muita personalidade e entrega. Aliás, a Plástico Lunar é uma banda com bons vocalistas de sobra, o que fica patente na faixa que abre o “lado B” (o disco foi pensado como um álbum de vinil), o excelente “hard rock” “Banquete dos gafanhotos” de riff marcante e letra esperta cantado pelo baterista, Marcos Odara (que é, por si só, um “clássico do rock” sergipano em pessoa). As letras da banda são um caso à parte. Além do fato de se encaixarem como uma luva nas composições, são de uma qualidade fora do comum. Seguem a tendência “clássica” do grupo e versam, em sua maioria, sobre imagens lisérgicas (formato cereja, quarto azul, gargantas do deserto, coleção de viagens espaciais) com variações de temas indo de crônicas do cotidiano aos eternos e sempre complicados e inspiradores relacionamentos amorosos, mas sem o menor resquício de pieguice. Tudo feito de forma muito inteligente e até mesmo elegante, podemos dizer. Baladas, riffs de guitarra, psicodelia e rock pesado vão se revezando em canções clássicas até o final, com a épica “você vê o sol se por” e sua letra “bicho grilo” (sem nenhum sentido pejorativo), suas longas passagens instrumentais “viajantes” e seu refrão repetido até a exaustão encerrando o disco de forma grandiosa. Aliás, seria o encerramento do disco se, ao final, não fôssemos brindados com o bônus de uma colagem musical utilizando trechos de canções da banda, dentre elas a "cronica de uma queda anunciada" "Odara caiu", que conta a emocionante historia de uma queda do palco do baterista Marcos Odara. Esta faixa oculta que encerra o disco é mais uma colaboração do artista experimental sergipano Alessandro “Cabelo”.
E é isso. Missão cumprida. Um disco quase perfeito (faltou um pouco de peso nas guitarras), fruto de uma banda com uma década de excelentes serviços prestados à nossa insipiente porem teimosa cena rock local. Uma banda amadurecida e com um repertório já testado e aprovado à exaustão – fato que é, aliás, o único ponto positivo nessa dificuldade que as bandas “fora do eixo” têm em gravar e que se reflete na grande demora para o lançamento de seus discos. Agora é tentar se projetar e tocar mais pelo Brasil afora, porque por aqui a banda não tem absolutamente mais nada a provar. Plástico Lunar já é, definitivamente, um clássico do rock sergipano.
“Coleção de Viagens Espaciais”
por Plástico Lunar
Lançado em 2009 pela banda em associação com o selo Baratos Afins
Produzido por Leo Airplane
Gravado e mixado entre 2005 e 2007 nos Estúdios DDB e Toca do Sapo, em Aracaju/Se
Masterizado por MasterFinal (São Paulo/SP)
Ilustração e direção de arte: Duardo Costa
A formação no disco é:
Daniel Torres: voz, guitarra e backing vocals
Plástico jr.: Baixo, voz e backing vocals
Rafael Costello: guitarra
Leo Airplane: teclados, efeitos e backing vocals
Marcos Odara: bateria e voz em “banquete dos gafanhotos”
Faixas:
Lado “A”:
Moderna
Formato cereja
Boca aberta
Sua casa é o seu paletó
Quarto azul
Tudo do seu jeito
Próxima parada
Lado “B”:
Banquete dos gafanhotos
Cínico arrependido
Gargantas do deserto
Coleção de viagens espaciais
Vestígios da noite passada
Você vê o sol se pôr
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+ sobre a Plástico Lunar
por Adelvan Kenobi
Existem bandas difíceis de descrever num texto, numa matéria, num release. A Plástico Lunar é uma delas. Isso porque o autor do mesmo terá que dizer que se trata de uma banda sergipana formada no final dos anos 90 com influencia de rock sessentista psicodélico em geral, Rolling Stones, Mod, progressivo e afins e o leitor pensará: E daí ? Existe todo um movimento de bandas com este tipo de influencia em ebulição no país e com representantes mais do que dignos despontando na mídia nacionalmente, então porque o digníssimo leitor deveria prestar atenção nesse ainda obscuro grupo vindo dos confins do menor estado da federação ? A resposta está na qualidade de suas composições. Ouvir a Plástico Lunar é ser transportado àquela dimensão paralela para onde vamos todos nós quando somos arrebatados pela mágica da criação artística. É nessa dimensão que nos espantamos com a capacidade do ser humano de criar. Criar a beleza, transformar o processo de assimilação de referências armazenadas ao longo do tempo em novas ondas cerebrais produtivas. Não é pra todos. Muitos pensam que dominam esse processo, mas somente alguns poucos iluminados pelo talento e moldados pelo trabalho, pelo estudo, pela paixão, são capazes de nos legar obras que vão perdurar. A Plástico Lunar é uma delas – e por ser uma delas, é uma banda para o futuro, apesar de (ou justamente por) emular o que de melhor nos deu o passado.
Dito isso, vamos ao bom e velho histórico propriamente dito: Começaram como Plástico Solar e faziam covers, mas se diferenciavam já nessa época pela excelência e bom gosto com o qual escolhiam e executavam os mesmos. A chegada do já então lendário baterista Marcos Odara (egresso de bandas importantes do estado ainda nos anos 80, como Crove Horrorshow) levou-os a um novo direcionamento, o que resultou na mudança de nome (Plástico Solar era muito praieiro, segundo Odara) e na aposta num repertorio autoral, algo que já vinham experimentando mas que, na época, tomou um novo impulso. A resposta veio rápida e a banda começou a se destacar no pequeno porem digno cenário local. Passaram a tocar em todos os lugares onde as portas lhes fossem abertas, de Festivais importantes e prestigiados como o Punka e a Rua da Cultura a shows obscuros em porões do centro da cidade. Com isso, e aliados ao desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação, acabaram chamando a atenção de selos especializados de renome nacional, como o Senhor F. e a Baratos Afins – por esta ultimo debutaram em Cd com uma faixa na coletânea “BRAZILIAN PEBBLES”. Lançaram sua primeira demo, “Plastic Rock Explosion”, em 2003, e se jogaram na estrada em outubro de 2005 para divulgar a segunda demo, o EP “Próxima Parada”. Tocaram e deixaram saudades no Rio de Janeiro e em São Paulo, na capital e no interior. Shows memoráveis, espírito rock a toda prova. O bom e velho “faça você mesmo”.
Foi com esse espírito aceso e as energias renovadas que os 5 cavaleiros da psicodelia sergipana voltaram ao seu pequenino estado natal com todo o gás para novas composições e a gravação do tão esperado primeiro CD completo. Não sem percalços pelo caminho, porque a estrada do rock é cheia de pedras que não criam limo no lugar de tijolos dourados. Mas o universo costuma conspirar a favor dos que persistem em busca de seus ideais. Por conta disso, a resposta à perda de seu guitarrista foi a entrada de um novo membro que parece ter sido moldado sob encomenda para as necessidades do grupo: o brilhante guitarrista Julio Dodges, da The Baggios, uma banda nova que despontou na cidade como um furacão movido a blues garageiro e rock and roll da melhor safra. Alguém lá em cima (Odim?) gosta muito da Plástico Lunar.
A banda hoje é Daniel Torres na guitarra e vocal, Julio Dodges (sempre detonando) na outra guitarra, Plástico Jr. no baixo e vocal, Leo Airplane nos teclados “vintage” e uma locomotiva movida a rock and roll e demais substancias afins que atende por Marcos “Odara” na bateria. É o ciclo da vida. É a vida pulsando. Rock and roll é vontade de potencia. Plástico lunar é rock, é pop – Diabo! Foi ele mesmo que me deu o toque, porque você sabe, enquanto Freud explica as coisas, o diabo fica dando os toques.
Ouça em:
http://www.tramavirtual.com.br/plastico_lunar
http://www.fotolog.com/plasticolunar
http://www.myspace.com/plasticolunar
Contatos p/ shows (todo o Brasil):
plasticolunar@hotmail.com
muito bom os textos, muito boa a banda e com certeza o disco virá da mesma forma
ResponderExcluir"o disco virá da mesma forma" - opa, virá não, já veio. Será lançado no proximo domingo, na Excalibur.
ResponderExcluirQuero meu cdêeeeeeee!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirNenhuma banda em Aracaju e talvez no Brasil me provoca tanta curiosidade quanto a Plastico Lunar.
ResponderExcluirO pouco que ouvir gostei e tudo que ouvir foi graças ao Adelvan que me apresentou uns MP3, me deu um antigo cd da banda e realizou uma entrevista com a Banda no Programa de Rock da ultima sexta.
Abraços e vida longa a todos!
Michael Meneses!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirYeah... rock em sergipe?
ResponderExcluirsim, vai muito bem obrigado.
Devemos nos orgulhar por termos bandas como a Plástico Lunar em plena atividade e mostrando que enquato há naves (como a Plástico Lunar), é possivel também fazer várias viagens espaciais ainda.
Um abraço.
De bandas, vai (razoalvelmente) bem mesmo. Já de publico ... Como não existe banda sem publico ( a não ser em projetos experimentais ou nichos ultraradicais ), a sitiação é preocupante. Estamos TENTANDO fazer a nossa parte para criar uma cultura rock maior em nosso estado. Esperamos que dê fruto algum dia. Caso não dê é nenhuma também, de qualquer forma tá sendo divertido colocar o rock no ar.
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