sexta-feira, 26 de outubro de 2012

# 246 - 20/10/2012

The Meteors disputa com o Cramps o honroso título de banda fundadora do "psychobilly" - uma espécie de rockabilly com pegada punk e temática mórbida. Na verdade não disputa: Cramps perde por WO, já que se recusava a se rotular como tal. E, na verdade, seu som estava muito mais para o garage rock que para o que se convencionou chamar posteriormente como psychobilly. O programa de rock do último sábado abriu com um cover dos Meteors para "paranoid", do Black Sabbath. A faixa está no novo disco deles, "Doing the Lords work" /// Também nova é a cover do Laibach para "Ballad of a Thin man", de Bob Dylan. É uma das faixas inéditas da nova coletânea dos eslovenos, "An introduction to" /// Quando perguntaram numa entrevista do Laibach se eles se incomodavam em estar sendo “copiados” pelo Rammstein, eles responderam: “O Laibach não acredita em originalidade. Portanto, não há muito que eles pudessem ‘roubar’ de nós. (…) De todo modo, hoje nós dividimos o território: o Rammstein parece uma espécie de Laibach para adolescentes e o Laibach é um Rammstein para gente grande.”

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(*) A Eslovênia é um país pequeno até para os padrões europeus, com área menor que a de Sergipe e pouco mais de 2 milhões de habitantes. Encravada entre a quina oriental dos Alpes e o Mar Adriático (você acertou: a paisagem é de tirar o fôlego!), formando uma cunha entre a Itália e a Áustria, fez parte desta última durante mais de 600 anos. Mas apesar de a influência austríaca ser obviamente muito grande após uma ocupação tão longa, os eslovenos não são um povo germânico: sempre foram e ainda são um povo eslavo, aparentado mesmo é com seus vizinhos croatas, com os sérvios e búlgaros, e mais distantemente com os tchecos, poloneses e russos. A Eslovênia costuma ser confundida com a Eslováquia (com a qual nem faz fronteira), o que deixa os dois povos furiosos, embora os dois nomes de fato queiram dizer exatamente a mesma coisa: “terra onde vivem eslavos”. Mas o nome é recente: até 1918, a Eslovênia era uma província do Império Austro-Húngaro chamada “Carníola”. O nome “Eslovênia” tinha sido cunhado poucas décadas antes, por um movimento nacionalista, justamente para enfatizar a identidade eslava do país, dominado durante séculos por um povo germânico.

Depois do colapso do Império Austro-Húngaro na I Guerra Mundial, durante a maior parte do século XX a Eslovênia foi parte da Iugoslávia, sendo uma das seis repúblicas que constituíam aquele instável país que só existiu por poucas décadas. A Iugoslávia era uma colcha de retalhos frágil demais, mantida unida em torno de apenas um homem, sua mão de ferro e seus ideais pan-eslavos um tanto megalomaníacos: o marechal e ditador supremo Josip Broz, apelidado de “Tito”. Quando este morreu, em 1980, a Iugoslávia começou a se desintegrar, e em 1991, a Eslovênia foi a primeira república a pular fora, numa curta guerra de independência em que um pequeno exército formado do nada praticamente na hora da batalha derrotou as forças iugoslavas muito mais numerosas e bem equipadas em apenas 10 dias, com pouquíssimas baixas – um feito militar que até hoje causa admiração. Depois, não se envolveu quando seus ex-companheiros da federação iugoslava se trucidaram em guerras de uma selvageria raramente vista; enquanto eles se aniquilavam, a Eslovênia trabalhava em paz e prosperava. E depois de em menos de um século passar duas vezes pela experiência de fazer parte de países maiores que arrotavam grandeza mas acabaram desmoronando completamente, a pequena Eslovênia vem andando muito bem sozinha, e só ladeira acima: entrou logo para a União Europeia, para o Tratado de Schengen, para a Zona do Euro e hoje é de longe o mais próspero e bem-sucedido país ex-comunista da Europa Oriental, o único que já atingiu um padrão de vida comparável ao dos vizinhos ocidentais.

Estética militar, idioma alemão e letras cínicas que frequentemente têm temas e linguagem típicos de regimes totalitários ainda evocam em muitos uma associação imediata com o nazismo, e por isto o Laibach foi acusado de neonazista (assim como de comunista radical) em várias ocasiões. Mas o Laibach não é para quem tem QI baixo (em entrevistas, eles se divertem respondendo ambiguamente, com a cara mais séria do mundo: “Somos fascistas tanto quanto Hitler era pintor.”). O músico e crítico inglês Richard Wolfson matou a charada brilhantemente: “O método do Laibach é extremamente simples, eficaz e horrivelmente propenso a ser mal interpretado. Antes de mais nada, eles absorvem os maneirismos do inimigo, adotando todos os ornamentos sedutores e símbolos do poder do Estado, e depois exageram tudo até a beira da paródia. Em seguida, eles mudam o foco para assuntos com altas cargas emocionais — o medo que o Ocidente tem dos imigrantes da Europa Oriental, os jogos de poder da União Europeia, as analogias entre a democracia ocidental e o totalitarismo.” Ou seja, o Laibach discute tudo que artistas engajados de verdade deveriam discutir (embora pouquíssimos consigam fazer de forma tão brilhante) e exatamente tudo que nenhum regime totalitário de verdade gosta de ver discutido.

Por isto chega a ser pueril achar que o Laibach prega o totalitarismo, de direita ou de esquerda, simplesmente por causa da estética radicalmente engajada deles. Aliás, eles também se apropriam com frequência de símbolos trabalhistas e da estética do realismo socialista, levando também a acusações de que eles teriam saudades do comunismo iugoslavo. Isso seria muito incoerente num grupo que foi muito perseguido nos tempos do comunismo por sua ousadia – inclusive a de, durante um show em Zagreb (capital da Croácia e na época a segunda maior cidade da Iugoslávia), projetar no palco ao mesmo tempo um conhecido filme de propaganda do regime e outro pornográfico, levando a momentos em que o então recentemente falecido e ainda cultuado ditador Tito aparecia na tela ao mesmo tempo que um pênis… A polícia política não gostou nada, é claro. Os membros do grupo tiveram que sair do país e passar um tempo trabalhando como operários na Inglaterra e Irlanda do Norte, antes de voltarem e entrarem fundo na cena artística semiclandestina da Iugoslávia e especialmente da Eslovênia. Mas já tinham seus fãs atentos em toda a Europa e a fama crescia de boca em boca.

O Laibach começou em 1980, mesmo ano em que Tito morreu, na cidadezinha eslovena de Trbovlje (não, não errei a digitação! – pronuncia-se mais ou menos “terbôulhe”), de menos de 20 mil habitantes. O que viria a ser o Laibach era apenas o braço musical de um movimento que também incluía grupos de artes plásticas e teatro de vanguarda, numa abordagem multimídia que já seria ousada para a época em Londres ou Amsterdam, quanto mais num grotão da então Iugoslávia. A primeira performance anunciada do grupo já foi proibida antes de acontecer, dentre outros motivos porque os cartazes de divulgação misturavam as “cruzes suprematistas” de Kazimir Malevich (pintor russo que, como todos os expoentes da arte moderna, era considerado “contrarrevolucionário” e “burguês”, portanto banido em regimes comunistas) com imagens nacionalistas e de propaganda do regime. Nessa época, o grande gênio por trás do Laibach era um jovem chamado Tomaž Hostnik. Infelizmente, Hostnik sofria de depressão profunda e se matou em dezembro de 1982, aos 21 anos de idade. Mas apesar de sua curta vida e mais breve ainda passagem pelo grupo, foi ele que criou o conceito do Laibach, que se mantém até hoje.

Apesar desses reveses iniciais, o grupo não desanimou, mudou-se para Ljubljana e lá, em Zagreb e Belgrado, começou a se firmar na cena cultural iugoslava. Passou o resto da década de 1980 à mercê dos humores do regime, que ora proibia o trabalho do grupo, ora o usava para mostrar ao Ocidente como seu país era “moderno e liberal”. O período de exílio foi ótimo para eles, porque fizeram muitos contatos valiosos em Londres. Um deles foi o celebrado bailarino e coreógrafo de vanguarda Michael Clark, e foi assim que eu conheci o Laibach: em 1988, Clark apresentou-se no Brasil como uma das atrações do Carlton Dance Festival, com a absolutamente genial coreografia No Fire Escape in Hell (“não há saída de incêndio no inferno”), que foi uma das coisas que mais me deixaram completamente PASMO de tudo que já vi na vida. Na Europa, Clark apresentava a coreografia com o Laibach tocando ao vivo no palco; no Brasil, foi com uma gravação, mas mesmo assim, a combinação daquela dança hipnótica e perturbadora com aquela música densa e provocante me deixou achatado. O Laibach tocava o que só muito depois vim a descobrir serem músicas de Nova Akropola, um dos seus últimos álbuns gravados em esloveno, pois naquela época eles já estavam começando a cantar mais em alemão e ocasionalmente em inglês.

Fiquei obcecado em conhecer mais sobre a banda, mas o único disco do Laibach que achei na época aqui no Brasil foi Opus Dei, um dos seus mais polêmicos, por vários motivos. Primeiro, porque eles fizeram um cover de Live Is Life (sic), uma música pop bobinha, “para cima” e completamente alienada que fazia sucesso na época com a banda austríaca Opus. Na mão do Laibach, sem mudar uma vírgula na letra, o que parecia uma conclamação a aproveitar a vida só curtindo virou uma mobilização de massa histérica por um regime totalitário, só com o tratamento musical que eles deram. E eles ainda fizeram uma versão em alemão, Leben Heißt Leben, com letra parecida, mas de tom completamente niilista. Ainda mais provocante foi o que eles fizeram com One Vision, do Queen, que ganhou uma letra em alemão (meus anos de Goethe-Institut e o encarte me ajudaram muito!), um andamento de marcha wagneriana e o título de Geburt einer Nation (“O Nascimento de uma Nação”) – referência ao famoso filme esteticamente revolucionário mas asquerosamente racista de D. W. Griffith (basta dizer que o título original era para ser O Homem da Klan – sim, a KKK, e ele era o mocinho do filme!!!). Geburt einer Nation era apresentada com um videoclipe pela primeira vez usando uma estética definitivamente emprestada do nazismo – o que além de ser chocante por si só, surpreendeu muita gente que até então pensava que eles eram comunistas roxos… E ainda havia Leben/Tod (“Vida/Morte”) com o provocante e praticamente único verso: “Há uma vida antes da morte.”

Ao ouvir Opus Dei, algo dentro de mim rejeitou o que parecia ser óbvio e nem por um momento acreditei que eles fossem neonazistas – as entrelinhas eram ainda mais eloquentes que os versos; a ironia e a caricatura flutuavam no ar junto com o som. Poucas vezes vi um disco tão curto quanto Opus Dei sair tanto do banal. Eles simplesmente fazem com sutileza e classe a denúncia que Roger Waters tentou fazer berrando (e falhou) em The Final Cut, usando uma estética para lá de ousada e alternativa e aquele método de provocação que Wolfson explicou tão bem. Por exemplo, a letra em alemão de Geburt einer Nation tem praticamente o mesmo significado da letra inglesa de One Vision, mas por ser em alemão e usar aquela estética, versos como “uma só raça”, que em inglês soa como “a raça das pessoas não importa”, passa a sugerir “só uma raça sobrevivente ou dominante (depois de aniquilar as outras)”. Isso faz o ouvinte refletir sobre um monte de coisas: como a mentalidade dos vencedores se impõe, em como estereótipos culturais se perpetuam, como é fácil manipular informações e até a arte, e como o aparentemente liberal e democrático sistema político e cultural do Ocidente está mais próximo dos métodos do totalitarismo do que imaginamos – o que é um dos temas centrais da obra do Laibach. O grupo foi forjado no totalitarismo comunista da Iugoslávia, um país que, como toda a Europa Oriental, caiu numa ditadura de extrema esquerda sem escalas logo depois de sair de uma traumática ocupação pelo outro extremo (os nazistas); eles ganharam Ph.D. nisso e dedicaram suas vidas a expor as entranhas dos métodos de controle do poder através da sua arte, brutal e refinada ao mesmo tempo. É uma tarefa para poucos, muito poucos!

A disponibilidade de material do Laibach no Brasil sempre foi paupérrima e foi só depois do amplo acesso à Internet que pude voltar a acompanhar o que o Laibach andou fazendo estes anos todos – e não foi pouca coisa. Continuam ativíssimos depois de 32 anos de carreira e arrebatando críticos e público. Recentemente abriram shows para a turnê europeia de Marilyn Manson e na opinião de muitos, ofuscaram o astro supostamente principal. Continuam baseados em Ljubljana, mas viajam muito e produzem muito. E lembra-se que eu falei que eles eram associados a um grupo de artistas plásticos e dramáticos? O movimento, chamado Neue Slowenische Kunst (“Nova Arte Eslovena”, em alemão), ou simplesmente “NSK”, também continua ativíssimo e tão celebrado e cultuado quanto seu braço musical.

por Goytá*

DAQUI

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The Meteors - paranoid
Laibach - Ballad of a thin man

Mopho - Ao vivo - O amor é feito de plástico
Mott The Hoople - Sweet Jane (Live at Hammesmith Odeon 1973)
Neil Young - Ao Vivo - Rockin´in the free world
Dee Purple - Mistreated - Live at Califonia Jam 1974

Metallica - Battery
Slayer - War ensamble
Sepultura - Troops of Doom

Air - Sexy Boy
New Order - True Faith
The Flaming Lips - My Cosmic Autumn Rebellion

45 Anos de "Arnold Lane", "See Emily Play" & "The Piper at the gates of dawn"
Pink Floyd:

# Arnold Lane =
# See Emily Play =

# Astronomy Domine =
# Lucifer Sam =
# Matilda Mother =
# Flaming =
# Power R. Toc H. =
# Take up thy stethoscope and walk =
# The Gnome -
# Chapter 24 -
# The Scarecrow -
# Bike -

= Stereo
- Mono

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