segunda-feira, 27 de julho de 2015

Política e rock: como surgiu a cena punk de Washington ...

Faça você mesmo, mas não de qualquer jeito. A premissa ética do punk rock criada nas esquinas de Nova York no meio da década de 1970 foi reinventada quando chegou à capital dos Estados Unidos. Em Washington, um pouco depois, o punk renasceu vibrante, fértil e politizado. O relato profundo desta cena está no livro “Dance of Days – Duas Décadas de Punk na Capital dos EUA”, obra do ativista Mark Andersen e do escritor Mark Jenkins que agora ganha versão brasileira pela Edições Ideal.

O livro conta como o som violento de bandas como Bad Brains, Minor Threat, Rites of Spring, Fugazi, Scream e Bikini Kill serviu de trilha para posturas políticas e de comportamento que reverberaram no mundo todo desde então.

Esqueça o sujeito de cabelo espetado dizendo que nada presta com uma seringa espetada no antebraço. Os punks do DC, em geral, raspam o cabelo, tem aversão a álcool ou entorpecentes, assumem debates políticos como a ecologia, feminismo, pró-escolha (no debate sobre aborto), violência, consumismo, religião, mercantilismo e arte.

Ao ruído das canções curtas e aceleradas, da violência da slam dancing ( a rude dança ritual punk), das letras baseadas em revolta e frustrações individuais surgiram ativismos como o Positive Force, o straight edge, o movimento Riot Grrrl e vertentes estéticas como o hardcore e o emo.

Neste contexto, o espaço também foi importante combustível de revolta. Segundo Jenkins, Washington é uma cidade odiada em três níveis diferentes. Boa parte do mundo a enxerga como sede do “império do mal”. Dentro do país, o racismo latente olha de esguelha uma das grandes cidades que tem maioria da população negra. Dentro de suas fronteiras, o distrito federal é visto como uma opressora e corrupta repartição pública por quem não está pendurado em seus cabides – ou seja, os caras que construíram a história do punk por lá (ao contrário, por exemplo da cena punk surgida em Brasília nos anos 1980, na qual a maioria dos integrantes era ligada ao poder oficial). (NOTA DO BLOG: Meio nada a ver essa afirmação. O fato dos caras serem filhos de funcionários públicos, muitos deles em altos cargos, como diplomatas, não faz eles, a meu ver, serem “ligados ao poder oficial”. Até parece que o governo patrocinou o punk rock de Brasilia. Teve, no máximo, um “pai”trocínio. No caso, via salário dos pais, não com verbas oficiais).

Ex-baterista da banda de hardcore Pinheads e pesquisador da cultura punk, Eduardo Munhoz afirma que a principal diferença entre a cena de Washington para a dos precursores de Nova York foi que os primeiros expandiram a ética D.I.Y – do it yourself ( faça você mesmo) “incorporando ideais (pessoais ou políticos) complexos, além de construir algo positivo tendo a música como papel principal, pano de fundo ou força motriz”.

Se é possível identificar uma figura central neste processo é Ian MacKaye. Cara certo no lugar certo, antecipador de tendências, o músico criou as bandas fundamentais Minor Threat, Embrace e Fugazi e a mitológica gravadora Dischord, que levou a ideia de produção independente às ultimas consequências e em cujo redor toda cena se formou. MacKaye também se impôs pelas ideias e pelo exemplo no ativismo político.

Tradutor e editor da versão brasileira de Dance of Days , Marcelo Viegas destaca, porém, que as bandeiras das bandas de Washington não são maiores que a música poderosa criada por elas. “No fim das contas, foi a qualidade musical que conquistou o espaço na história do rock. Ativismo e música sempre caminharam lado a lado. Mas não sei se as bandeiras políticas se tornaram maiores do que a música. Conheço muita gente que não dá a mínima para o aspecto do ativismo, mas mesmo assim é grande fã de bandas como Fugazi, Dag Nasty, ou The Evens”, diz.



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