Faça você
mesmo, mas não de qualquer jeito. A premissa ética do punk rock criada nas
esquinas de Nova York no meio da década de 1970 foi reinventada quando chegou à
capital dos Estados Unidos. Em
Washington, um pouco depois, o punk renasceu vibrante, fértil e politizado. O
relato profundo desta cena está no livro “Dance of Days – Duas Décadas de Punk
na Capital dos EUA”, obra do ativista Mark Andersen e do escritor Mark Jenkins
que agora ganha versão brasileira pela Edições Ideal.
O livro
conta como o som violento de bandas como Bad Brains, Minor Threat, Rites of
Spring, Fugazi, Scream e Bikini Kill serviu de trilha para posturas políticas e
de comportamento que reverberaram no mundo todo desde então.
Esqueça o
sujeito de cabelo espetado dizendo que nada presta com uma seringa espetada no
antebraço. Os punks do DC, em geral, raspam o cabelo, tem aversão a álcool ou
entorpecentes, assumem debates políticos como a ecologia, feminismo,
pró-escolha (no debate sobre aborto), violência, consumismo, religião, mercantilismo
e arte.
Ao ruído
das canções curtas e aceleradas, da violência da slam dancing ( a rude dança
ritual punk), das letras baseadas em revolta e frustrações individuais surgiram
ativismos como o Positive Force, o straight edge, o movimento Riot Grrrl e
vertentes estéticas como o hardcore e o emo.
Neste
contexto, o espaço também foi importante combustível de revolta. Segundo
Jenkins, Washington é uma cidade odiada em três níveis diferentes. Boa parte do
mundo a enxerga como sede do “império do mal”. Dentro do país, o racismo
latente olha de esguelha uma das grandes cidades que tem maioria da população
negra. Dentro de suas fronteiras, o distrito federal é visto como uma opressora
e corrupta repartição pública por quem não está pendurado em seus cabides – ou
seja, os caras que construíram a história do punk por lá (ao contrário, por
exemplo da cena punk surgida em Brasília nos anos 1980, na qual a maioria dos
integrantes era ligada ao poder oficial). (NOTA DO BLOG: Meio nada a ver essa
afirmação. O fato dos caras serem filhos de funcionários públicos, muitos deles
em altos cargos, como diplomatas, não faz eles, a meu ver, serem “ligados ao
poder oficial”. Até parece que o governo patrocinou o punk rock de Brasilia.
Teve, no máximo, um “pai”trocínio. No caso, via salário dos pais, não com
verbas oficiais).
Ex-baterista
da banda de hardcore Pinheads e pesquisador da cultura punk, Eduardo Munhoz
afirma que a principal diferença entre a cena de Washington para a dos
precursores de Nova York foi que os primeiros expandiram a ética D.I.Y – do
it yourself ( faça você mesmo) “incorporando ideais (pessoais ou políticos)
complexos, além de construir algo positivo tendo a música como papel principal,
pano de fundo ou força motriz”.
Se é
possível identificar uma figura central neste processo é Ian MacKaye. Cara
certo no lugar certo, antecipador de tendências, o músico criou as bandas
fundamentais Minor Threat, Embrace e Fugazi e a mitológica gravadora Dischord,
que levou a ideia de produção independente às ultimas consequências e em cujo
redor toda cena se formou. MacKaye também se impôs pelas ideias e pelo exemplo
no ativismo político.
Tradutor
e editor da versão brasileira de Dance of Days , Marcelo Viegas destaca, porém,
que as bandeiras das bandas de Washington não são maiores que a música poderosa
criada por elas. “No fim das contas, foi a qualidade musical que conquistou o
espaço na história do rock. Ativismo e música sempre caminharam lado a lado.
Mas não sei se as bandeiras políticas se tornaram maiores do que a música.
Conheço muita gente que não dá a mínima para o aspecto do ativismo, mas mesmo
assim é grande fã de bandas como Fugazi, Dag Nasty, ou The Evens”, diz.
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