sexta-feira, 15 de maio de 2015

Clandestino & Maximum Rock´n´Roll

Amanhã, 16, às 17h, acontece mais uma vez o Clandestino. O evento, que acontece sempre com local divulgado horas antes do seu início, já ocupou pontos de Aracaju como o calçadão da 13, a Praça Camerino, a Ponte do Imperador e até a parte inferior da ponte Aracaju-Barra. Sempre com o estilo punk do “faça você mesmo”, o Do It Yourself, diversas bandas já se apresentaram sem edital num evento consolidado no cenário alternativo que não conta com portão ou ingresso.
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A edição deste mês é a décima primeira e está alinhada com uma mobilização mundial para angariar verba para o zine americano Maximum Rock’n’Roll. A publicação desde 1982 pauta punk, hardcore e garege rock em sua publicações, além da rádio MRR que está no ar desde 1977.
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Na página do evento, a pergunta sobre um possível local recebe ótimas sugestões dos adeptos como a praça da Epifânio Dória, uma pista de skate na Barra dos Coqueiros e ainda na parte de traz do Shopping Riomar. O negócio é ficar ligado na fanpage para saber onde será este Clandestino. Desta vez, The Renegades of Punk,  Orca, Seu Montanha e Zeitgeist são as bandas que tocarão no espaço que conta com a contribuição espontânea para ajudar na estrutura, além dos fundos para o fanzine.
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Bagaceira Talhada – Como surgiu a ideia e como se deu o processo de estruturação do Clandestino?
Clandestino – A ideia do Clandestino não é nada nova, nem original. Este evento já existia e era executado pelos punk locais em décadas passadas. Ele faziam eventos na rua chamados “Clandestino” do jeito que eles sabiam e podiam; com todos os percalços que vinham junto com a iniciativa. Ouvindo esses relatos e unindo essa história a um ímpeto que já tínhamos de fazer shows punks na rua, o Clandestino ressurgiu, ganhou características novas e de 2012 pra cá já foram feitas dez edições – estamos indo para a décima primeira.
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BT – As manifestações de rua de 2013 foram favoráveis às ocupações artísticas da cidade? As pessoas passaram a pensar mais a questão de ocupar os espaços desde então?
Clandestino – Não vemos uma relação direta de uma coisa com a outra. As “grandes manifestações de 2013” tiveram uma peculiaridade bem do nosso tempo, uma volatilidade incrível. A gente busca algo diferente. Uma experiência mais real, mais viva de um evento com música e uma re-significação dos espaços públicos da cidade.
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BT – Como o Clandestino vê o Manifesto Político-Cultural, lido no aniversário de Aracaju, e o grupo que tem se formado em torno dele?
Clandestino – O Clandestino é marginal por opção. Fazemos questão de que nossa proposta seja executada por nós mesmos e pelas pessoas que interagem e constroem aquelas experiências. Acreditamos que precisamos fortalecer uma comunidade baseada em autonomia, no “faça-você-mesmo”. O grupo organizado para o manifesto tem tomado iniciativa em nome da cultura local e reclamado uma valorização oficial/institucional dessa cultura. Entendemos o valor que esse reconhecimento tem para a comunidade artística local, em termos de viabilização financeira de projetos culturais. Porém, a proposta do Clandestino é claramente outra. As atividades que realizamos já são o fim e não o meio, e independem de apoio institucional.
Para nós, atividades como o Sarau Debaixo, assim como o Clandestino por exemplo, já são experiências bem sucedidas de organização autônoma e de reconhecimento pela própria comunidade que legitima esse tipo de manifestação. Há um empoderamento em construir cultura (contracultura) de forma independente, do qual não podemos fazer pouco caso. E é isso que tentamos mostrar para as pessoas: elas podem, não precisam de permissão e não precisam esperar ou pedir que ninguém faça por elas. Tendo dito isso, não queremos de forma alguma desmerecer o trabalho que esse grupo tem realizado. Só estamos deixando claro que há diferenças de abordagem sobre esses temas, ainda que no fim tenhamos intenções semelhantes.
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BT – O Clandestino sempre conta com várias bandas até de fora do estado. A Ideal quando fez quatro “Zuadas” para a gravação do seu próximo trabalho contou com várias bandas. Há uma irmandade na cena punk maior do que em outros estilos?
Clandestino – O punk é construído, desde que existe, em cima de uma rede de amizade/solidariedade gigante que desconhece fronteiras e idiomas diferentes. Isso é uma das coisas que o torna tão fascinante. E a pegada do Clandestino é essa. Fazer as coisas acontecerem independente de dinheiro, de distância… fazer as coisas de uma forma colaborativa e onde todo mundo possa fazer um pouco. Sempre enfatizamos isso. A responsabilidade de participar ativamente do evento, mesmo que você não tenha um amplificador de guitarra para emprestar ou não tenha uma banda para tocar. Qualquer pessoa pode chegar junto e fazer algo. É um evento construído coletivamente. Não estamos oferecendo um serviço em troca de dinheiro. Estamos tentando realizar tudo no chão, no mesmo nível. Sem palco, sem estrelas, sem balada. E isso vem de tudo que vivemos e aprendemos nessa grande rede do punk. Nesse sentido, pode-se até dizer que existe uma irmandade nesse rolê. Mas não sabemos se essa palavra é a melhor para descrever a relação que é constantemente construída entre as bandas que fazem parte desse circuito. Ao mesmo tempo nunca fizemos parte de outro circuito para poder comparar. Acho que na verdade é tudo uma questão de formas de funcionamento diferentes. Cada rolê tem o seu jeito de fazer as coisas acontecerem.
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BT – Como surgiu a mobilização mundial pelo zine americano Maximum Rock’n’Roll? Por que o Clandestino aderiu a esta corrente?
Clandestino - A MRR existe há muito tempo de forma independente, total faça você mesma, cobrindo o punk mundial, seja através do seu zine, site, rádio… Como participantes e consumidores desse rolê, conhecemos a revista tem tempo e sabíamos que eles eventualmente fazem eventos para levantar grana para continuarem ativos. Dessa vez eles resolveram fazer algo maior, um dia mundial onde vão estar rolando centenas de shows em praticamente todos os continentes do planeta de forma conjunta. Tudo isso para levantar alguma grana e ajudar a MRR a persistir. Um amigo nosso, que tem bastante envolvimento lá com a MRR, jogou essa ideia pro pessoal da Renegades of Punk (que faz parte do Clandestino) que topou fazer no esquema de sempre. O que mais teria a ver com esse evento? Clandestino, claro.
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BT – Há uma carência de publicações que pautem o punk, assim como faz o Maximum Rocknroll?
Clandestino – Sim. Tradicionalmente esse é um campo dos zines. Existem muitos zines ainda, mas depois de um período meio fraco e disperso, eles voltam a estar em distros, em selos, e em trocas de zineros pelo mundo. A MRR é um zine mais estruturado, num formato meio revista já e de circulação mundial. Zines pequenos existem em todo canto. Também foram ofuscados de leve por blogs e sites especializados. Aqui em Aracaju temos zineiros e zineiras ativas e algumas pessoas que se dedicam a cobrir o que borbulha na cena mais rock and roll e o que fervilha no submundo, um exemplo disso é um zineiro antigo sergipano, Adelvan Kenobi, que mantem alguns blogs que tratam de submundo, rock, cinema, literatura e coisas gerais de inconformados com o mundo como ele é. É sempre importante que se conte uma história. Precisamos que mais pessoas queiram participar e essa participação pode ser feita de várias formas, inclusive documentando o rolê.

Do Site Bagaceira Talhada

por Kaippe Reis

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