quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Babalu saves

Babalu, Gandhi, Silvio e Ivo
“Inanição”, último disco lançado pela Karne Krua, banda de rock sergipana há mais tempo em atividade ininterrupta – desde 1985! – é fruto de um momento de transição. Foi gravado por Silvio(vocal), Thiago “Babalu”(bateria) e Alexandre Gandhi(guitarra e baixo). Depois a banda passou por sua mais importante reestruturação: Babalu foi morar em São Paulo e Adriano ficou em seu lugar. Completaram a formação com a entrada de Ivo Delmondes, da Renegades of punk – e ex-xreverx e Triste Fim de Rosilene – no baixo. Estão juntos até hoje – cerca de 7 anos. Viva, ativa e surpreendendo a cada apresentação. E prestes a lançar um disco que, a julgar pelo que ouvi até agora, pode até mesmo superar "inanição" ...

O disco já havia sido lançado de forma inusitada: foi executado com transmissão ao vivo pelo programa de rock, direto dos estúdios da Aperipê FM, a rádio pública do estado. Mas não houve um show de lançamento, propriamente dito. Aproveitando uma passagem de Babalu por Aracaju para tocar com o pernambucano Siba – ex-Mestre Ambrósio – tiveram a idéia de fazê-lo, finalmente.

Cheguei na Casa Rua da Cultura por volta das 23H30, a tempo de ver a Robot Wars executar a última música do seu set. O ambiente estava preocupante: pouca gente, público ligeiramente apático e desanimado. Haviam rumores de um boicote à casa por conta de alguns acontecimentos anteriores envolvendo polícia e agressões a ex-integrantes da Companhia de teatro que administra o espaço. Mas, aos poucos, pessoas foram chegando, o clima foi melhorando e os boatos não se confirmaram.

O show seguinte, da Nucleador, continuou meio frio, mas não por culpa da banda, que mandou ver em seu crossover matador com uma execução precisa. O público é que continuava um tanto quanto distante. Algumas rodas de pogo, ainda que tímidas, foram esboçadas, mas não havia muito a ser feito, já que o principal “animador” da bagaça, Levi, estava ocupado fazendo seu trabalho nos vocais. Ele é, aliás, um dos destaques da banda, em termos de perfomance de palco, inclusive. Fizeram um set energético e enxuto – com direito a covers do Pennywise! - que, no final das contas, parece ter aquecido o ambiente.

Porque na apresentação seguinte, da Crimes Hediondos, o clima já era outro. O grupo, formado por alguns veteranos da cena punk/crust/grind da cidade – Cícero “Mago” na bateria, Pedro na guitarra e Mazinho no contrabaixo – escudados por um “seminovato”, Alércio, nos vocais, faz um Hard Core “old school” porradíssimo, pendendo para o crust – para que o som fosse definitivamente “crust” os vocais teriam que ser mais “guturais” ou gritados, mas o de Alercio está mais para uma vocalização mais limpa. Agressivo, meio desesperado até, é verdade, mas entende-se a pronuncia, o que não é muito característico do crust. Sua presença de palco, alíás, é excelente, com alguns trejeitos corporais bem característicos e uma entrega evidente à tarefa de espalhar a mensagem de caos, desordem e desgraça. A perfomance da banda, como um todo, é muito boa e incendiou de vez a platéia. Um aquecimento perfeito para o que viria a seguir ...

O que veio a seguir foi, provavelmente, o melhor show da Karne Krua que eu já vi – e olha que eu já vi muitos, mais que ele mesmo, disse Silvio – exagerando, evidentemente – naquela mesma noite. Dizem eles – e eu não tenho porque não acreditar – que fizeram apenas um ensaio para esta apresentação. Não parecia. Babalu, o único elemento que, a principio, poderia estar “enferrujado” na engrenagem, estava perfeito. Mais que perfeito, eu diria até. Incrivelmente perfeito. Todos ficaram impressionados com sua perfomance, absolutamente matadora. Velocidade, agilidade e habilidade fora do comum. Impressionantes os arranjos que ele fez para alguns dos sons mais toscos do início da carreira da banda, como “terrorista”, que eles tocaram depois de executar, na ordem e quase que na íntegra, o álbum “inanição”. Acho inclusive – e tive a chance de externar minha opinião lá mesmo, surrupiando o microfone do backing vocal – que, já que ele não vai mesmo ficar em Aracaju, deveria tentar entrar no Slayer. Só ele substituiria à altura Davi lombrado...

O público reagiu: foi uma verdadeira celebração da energia libertária do punk rock, do rock and roll e da anarquia. Verdadeiros hinos, como “Subversores da ordem”, "O Vinho da História", "Contaminados", e “neoclássicos”, como a matadora “inanição”, foram cantados a plenos pulmões pela platéia extasiada. Uma noite absolutamente memorável, inclusive pela presença, em certos casos inusitada, de vários ex-membros da banda, como Antonio “Almada”, o primeiro baterista, que há tempos eu não via num show de rock por aqui.

Lamento por quem perdeu.

A

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