A programação de shows da 9ª edição do Rock Sertão foi aberta pelo Karranca, veterana banda de rock com influencias de mangue beat de Itabaiana. Um show energético, com uma boa movimentação de palco e uma interessante mistura de ritmos sob a batuta da guitarra endiabrada de Ferdinando, também da Urublues. É uma banda de personalidade que tem alguns verdadeiros “hits” underground, como “Homem tambor” e “Sangue na feira”. O som estava um pouco embolado e mal equalizado, agudo demais, mas deu pra rolar numa boa.
Naurêa na sequência. Odiada por uns, amada por outros, o que ninguém consegue negar é que os caras fazem um show muito competente e que costuma levantar a galera. Mas nesta noite, em especial, não empolgou, talvez porque não estivesse tocando para seu público habitual. O mesmo pode-se dizer do samba-rock competente porém um tanto quanto arrastado e “malemolente” de Elvis Boamorte e os Boas vidas, que veio a seguir - um mérito do festival, aliás, trazer musica independente das mais variadas vertentes para o palco e dar às pessoas a oportunidade de ter contato com sons e ritmos os mais diversos. Às vezes pode não funcionar num primeiro momento, mas é saudável para a formação musical de qualquer um.
O erro, a meu ver, nesta primeira noite, estava na ordem das bandas. Os shows ficaram meio que divididos em duas partes, a primeira com pouco ou nenhum rock e muita diversidade, do forró estilizado da naurêa ao jazz instrumental do Ferraro Trio, a quarta a se apresentar. Muito bons, mas o público só esboçou reação mesmo nos covers de Jimi Hendrix e, principalmente, de “Beat it”, de Michael Jackson – aquela que conta, na gravação original, com a presença poderosa de Eddie Van Halen nas guitarras. Não deixa de ser válido, no entanto, já que a versão dos caras é bastante diferenciada e adaptada ao estilo deles. Grande show.
O rock, rock mesmo, duro, pesado e distorcido, foi deixado incompreensivelmente para o final. Jezebels foi a primeira banda do estilo a se apresentar, e mandaram muito bem. Estão se reformulando com uma nova formação, já que a baixista/vocalista original, Paula, precisou deixar a banda para morar na Europa. Dani comanda o trio com sua pegada nervosa na guitarra e seus vocais estilosos, cheios de cacoetes bem característicos. Paloma, a baterista, lá atrás, tocando e batendo cabeça (!). Já o baixo, infelizmente, pouco se ouvia, na frente, mas a movimentação de palco de Fabio era muito boa, o que ajudava a criar um clima de empolgação que sacudiu o publico - a esta altura, provavelmente, sedento por rock ! O fato não escapou à observação de Marcelo Larrosa, que entrevistou a(o)s menina(o)s Ao Vivo para a TV Aperipê depois do show e sapecou uma pergunta que deixou Dani com um novo apelido, “vegetariana selvagem”. Foi divertido.
TV Aperipê que repetiu a dose e transmitiu Ao Vivo os shows do Rock Sertão, das 22:00H às 1 da manhã. Muito bom ver a musica independente sergipana ter tanto espaço numa emissora de televisão. A FM também estava presente, registrando todos os shows na íntegra, ao vivo. A noite se encerrou com Fator RH, os anfitriões, e Dark Visions, de Tobias Barreto, que ficou em segundo lugar na votação do público via internet.
No sábado os trabalhos foram abertos, de forma relutante, pelo Lacertae. Deon, o guitarrista/vocalista, não estava se entendendo muito bem com os operadores de som e resolveu improvisar longos números instrumentais até que os problemas, notadamente uma microfonia insistente, fossem resolvidos. Ou parcialmente resolvidos, vá lá. Parecia que o show iria ser abortado, já que ele largou a guitarra e se retirou do palco numa determinada altura, mas o batera continuou tocando e parece tê-lo convencido a começar, finalmente, o show propriamente dito. Não chegou a ser ruim, mas foi esquisito.
Nucleador no palco. Outro clima, mais descontraído. Cenas de filmes de horror trash clássicos no telão, thrash metal crossover no talo no som. Murillo Viana e sua palhetada rápida e precisa comandou o espetáculo de energia e descontração. Diversão parece ser a solução para estes caras, que tocaram com uma empolgação contagiante – tudo registrado pelas câmeras da TV Aperipê, que àquela altura já tinha começado a transmissão. Muito bom ver um som tão “underground” e geralmente desprestigiado ter um espaço como este.
Já os Baggios, que veio a seguir, estão mais acostumados aos “holofotes”, o que não se reflete, felizmente, em estrelismo ou acomodação, muito pelo contrário: Julico e Perninha não deixaram a peteca cair e sentaram a mão no blues garageiro e “brejeiro” com sotaque sergipano que lhes é característico. É blues “do delta do Rio Sergipe”, e dos bons. Show pequeno, infelizmente (“por mim a gente ficava tocando aqui a noite inteira”, falou Julico ao microfone), mas encerrado em grande estilo, com Perninha espancando sem dó a bateria e Julico tendo espasmos no chão.
Depois dA Lapada, Jesse Monroe, a suposta “atração internacional” da noite. Logo no início já deu pra notar que aquela coca-cola era fanta ... Ela abre o show falando em inglês com o público, para logo em seguida emendar: “vejo que vocês não entendem inglês por aqui. Que bom que eu falo português!”. E pôs-se a tagarelar sem parar. Nunca vi uma inglesa tão baiana, “espevitada”. A maior parte do repertório foi, infelizmente, de covers, mas foi divertido. A loira é muito presepeira e meio sem noção – chegou a dançar “descendo até o chão” no melhor estilo “cachorra” ao som de “Summertime”, de Gershwin ! Hilário. Tocou também Luiz Gonzaga e Zeca Baleiro, para encerrar com sua “musica de trabalho”, “famous”. É um soul meio pasteurizado com cara de hit. Boa musica – para as FMs comerciais, não para um festival de rock, assim como o show da “gringaiana” cairia muito bom numa Boate F1 da vida. “Gloria, amo vocês! Pede pra gente voltar que a gente volta, ogayyy ???!!!”. Ok. Pensei tê-la visto em cima de um trio elétrico na “Festa do homem galinha”*, uma micareta que tava rolando em Ribeirópolis na volta, mas deve ter sido uma alucinação ...
Desta vez a programação foi melhor mesclada e, na sequencia do pop local e internacional dA Lapada e Jesse Monroe, Hatend, thrash metal de Paulo Afonso, Bahia. Esta alternância de estilos tão distintos deve ter dado um tilt na cabeça do cara que toma conta da mesa, porque estava tudo muito esquisito no palco. Som embolado e com uma equalização absolutamente nada a ver para uma banda de metal – só se ouviam teclados e baixo, este com um som muito estranho, parecia o estampido de uma metralhadora. As guitarras estavam inaudíveis. Esperei para ver se as coisas se ajeitavam mas não teve jeito não: “desinstiguei” e resolvi começar o longo caminho de volta pra casa sem ver o Ladrão, a banda do Formigão, ex-Dash e Planet Hemp. Gente finíssima, por sinal – em todos os sentidos.
Ano que vem o Rock Sertão fará 10 anos. Estaremos lá.
* No caminho para o show, em Ribeirópolis, cidade geralmente pacata (até demais), fomos surpreendidos por uma movimentação fora do comum. Tivemos, inclusive, que esperar pacientemente para que um cidadão parasse de ciscar feito uma galinha, bêbado, no meio da pista, e finalmente nos desse passagem. Bizarro. Pena que ninguém tinha uma câmera à mão na hora, se fizéssemos um video para o youtube iria bombar.
por Adelvan
Interessante como essa resenha foi imparcial...Parabéns!
ResponderExcluirPalhaçada...
ResponderExcluirGostei! Fiquei muito puto porque não fui pra Gloria esse ano. Boas observações.
ResponderExcluirOlá, Adelvan. Gostei da sua sinceridade, irmão. Não pude comparecer ao Rock do Sertão, mas ao ler suas críticas, pude notar que as rédeas de sua escrita são guiadas pelo seu Ego.
ResponderExcluirEntão, excepcionalmente estarei sendo solidário a sua figura egoística, e dar-lhe-ei a minha humilde atenção.
Com o andar da carruagem da vida, meu caro ser humano, a gente descobre que para toda ação existe uma reação. Eu espero que compreenda as lições que são disponibilizadas pela estrada, não seja preguiçoso, reflita. Estendo a todas pessoas que lerão esse comentário. Um abraço a todas e a todos. Paz e Luz.
Na minha opinião, não falar sobre o show de uma banda que tocou mas não é do gosto do "blogueiro" e/ou ridicularizar o show de uma banda que o estilo também nao o agrada não me parece ser sincero ou imparcial. Mas isso não apaga o que realmente aconteceu lá. Viva ao Rock Sertão.
ResponderExcluirDefinitivamente, é impossivel agradar a todo mundo. Ainda bem que eu não persigo este objetivo ...
ResponderExcluirQuem não tem medo da sua opinião não fica anônimo para comentar, só digo isso!
ResponderExcluirNão fui, queria ter ido, realmente me espantou Naurêa não ter levantado a galera, mas concordo com o possível motivo de porquê! Eu soube que a guria lá da Inglaterra não foi legal, foi mais cover que qualquer coisa... enfim, curti a matéria!
Houve uma omissão em relação Alapada,
ResponderExcluirnão foi dito nada referente a empolgação que ela causou no público, um momento bem marcante no Rock Sertão "9".
A pessoa vem até um BLOG, lê um post, se dá o trabalho de comentar reclamando que o texto foi a opinião de quem escreveu. Isso sim é pra refletir...
ResponderExcluirNo mais, que bom que o festival vem ganhando corpo a cada ano. É impressionante como trabalho duro e bem feito acaba com qualquer dificuldade. É triste ver que tem gente que só sabe enxergar o copo meio vazio, mas não vai ser isso que vai impedir as iniciativas de qualidade de continuarem acontecendo.
Parabéns a todos que tornaram o Rock Sertão possível! Que venham mais e mais!
Não vi o show da Alapada, por isso não comentei nada. Fui por minha conta, sem nenhum compromisso profissional, até porque não sou jornalista, portanto não tinha obrigação nenhuma de ficar lá plantado na frente do palco registrando tudo.
ResponderExcluirMas mencionei que Alapada tocou, a título de informação, assim como mencionei o Fator RH, Dark Visions e Ladrão, que também não vi. Normal.
ResponderExcluirCom certeza Adelvan, o blog é seu, você fala aqui o que você quiser.
ResponderExcluirA Alapada fez uma grande apresentação, mas estão de parabéns, todas as bandas que subiram no palco do rock sertão 9 e deram o seu recado. Que venha a 10ª edição.
ResponderExcluirconcordo com Adelvan que a ordem de apresentação das bandas deixaram o publico um tanto confuso. Já a Jesse Monroe, na minha opinião, foi um erro, como não fui no sábado assisti pela Aperipê e só consegui pensar que deveria ter sido a Ladrão a se apresentar naquele horário. Teria sido bem melhor para o publico que ficou em casa.
ResponderExcluirKarranca- Apesar de alguns problemas com o som, conseguimos da nosso recado, valeu rock sertão 2011
ResponderExcluirrola muito show no interior . felizmente a cena em sergipe n e so somente rua da cultura e rock sertao e alternativos .
ResponderExcluiralan
haha. sou fã das resenhas de Adelvan!
ResponderExcluirpra se "crescer" é preciso ouvir a verdade nua e crua. e, quando se recebe um elogio de uma pessoa sincera como Adelvan, é motivo de muita satisfação. continue assim, meu caro.
Murillo Viana
kkkkkkkkkkkk
ResponderExcluirse eu fosse a blogueira eu tb n me acharia na obrigação de comentar sobre todas as bandas...e outra..o minimo que se poderia comentar sobre a alapada é que os caras possuem energia e que agradou a determinado público..mas nnguém é obrigado a fazer uma dissertação sobre o som da banda se quem escreve não gosta do som...eu mesma n saberia como escrever sobre um som que n me agrada.não vou mentir que já foi legalzinho...lembro que no início a banda tocava chico science até! e além disso possuia uma repertório mais alternaivo..mas não é todo mundo que tem a responsa de tocar um projeto alternativo e independente..apelou-se para o POP que toca na FM SERGIPE..atalaia, ilha fm e etc que toca em novela da record..enfim...e deve-se aceitar uma vez ou outra de não serem mecionados..pq é um toma lá que tb tomamos a cá...tantas bandas de qualidade em Sergipe não são mencionadas..o que se falar sobre isso? elas não saem catando em qual blog foram faladas ou se o blogueiro gostou do som..infelizmente o mundo é uma dicotomia e deve-se aceitar quando se faz parte da separação..quando a coisa for igualitária todo mundo terá razão.
ResponderExcluirHá um texto de Miguel Sokol publicado na Rolling Stone que resume bem essa idéia politicamente correta de hoje em dia, em que todo mundo é amigo de todo mundo e gosta de tudo e não fala mal de nada porque senão nego fica com raivinha e de mal - reproduzo-a abaixo:
ResponderExcluirComo alguém ousa ameaçar a Rita Lee? Ela é humana! E corintiana! (snif) Vocês têm sorte que ela ainda cante para vocês, seus desgraçados! (snif, snif) Deixem a Rita Lee em paz!!! (buááá...) Eu seria emo se a Rita Lee fosse a Britney Spears, mas não é o caso. Rita tem cérebro e foi ele, aliás, o grande culpado do ataque covarde e cruel que a cantora sofreu. Tudo começou quando ela aderiu ao Twitter - mas não para fazer 1 milhão de amigos e bem mais forte poder cantar. Fugindo à regra, Rita tem o que dizer e, no caso, foi contra a construção do estádio do seu time do coração em "ritaquera", pelo menos da forma que está sendo construído. E aí o império contra-atacou. A cantora foi ameaçada e chegou a abandonar a rede social temendo pela sua segurança depois que, usando palavras dela, "o Cansástico lhe atirou aos leões".
ResponderExcluirO mundo (virtual e real) não está mais preparado para artistas que têm o que dizer. Se estivesse, Justin Bieber não lançaria uma autobiografia aos 16 anos. Devem ser umas sete páginas para contar a vida e mais umas 700 de agradecimentos - e o pior é que vai vender que nem disco de padre. Agora é assim: artista legal é artista bonzinho. Um fenômeno perigoso que o apresentador Rafinha Bastos, do CQC, chamou de "lucianohuckzação", uma "bundamolização" generalizada que está transformando o nosso planeta em uma imensa chapa branca. Sim, o fenômeno é mundial, tanto que Justin Timberlake e Keith Richards foram parar no mesmo disco, o novo da Sheryl Crow! Me dá calafrios só de imaginar o resultado, mas é bom ir se acostumando porque no mundo "lucianohuckzado" é assim: todo mundo tem que gostar de todo mundo.
Susan Boyle viajou da Grã-Bretanha aos EUA só para cantar "Perfect Day" no programa de calouros America's Got Talent. Mas Lou Reed, o dono da música, proibiu sumariamente e, quando perguntaram por que, ele disse: "Eu não gosto de Susan Boyle". Susan voltou para casa chorando, a notícia repercutiu e, uma semana depois, Lou deixou a coitadinha gravar a bendita música no seu próximo disco.
Dito isto, eu proponho um teste: você acha que, tipo assim, foi muito fofo o Lou Reed reconsiderar?
( ) SIM ( ) NÃO
Se você assinalou o "sim", está "lucianohuckzado" e mais, foi por sua causa que Lou cedeu. Ele é mais uma vítima dessa "bundamolização" generalizada. Mais personalidade, mais opinião e menos "lucianohuckzação". Deixem o Lou Reed em paz. Deixem a Rita Lee em paz!
por Miguel Sokol
"Lucianohuckzação" é boa! ...mas ao que interessa: gostei muito do comentário do Crazy Varre-Varre, muito pertinente e bem observado de sua parte. O blogueiro também se defendeu bem. Mas dentro de posts, de colunas, matérias não como não ser imparcial... isso é fato. No entanto, ele podia ter dado uma força à sonorização do festival, uma vez que não ficou bom - segundo relata o blogueiro - totalmente em nada.
ResponderExcluirOfereça uma ajuda em casos parecidos... também enaltece o ego.
Duarte
*não tem como ser imparcial (foi exatamente isso que eu disse)
ResponderExcluirDuarte
Senti falta de três resenhas: Fator RH, Dark Visions e Alapada! Uma pena, o texto apesar de bem escrito (estilo e ideias) relegou a imparcialidade. Fazer o quê?
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