segunda-feira, 8 de março de 2010

Warcry em Aracaju



06/03 - na "Casa de Doug" - Rua Francisco Rabelo Leite Neto, 566, Atalaia
Show com WARCRY (EUA), LUMPEN (BA), KARNE KRUA, THE RENEGADES OF PUNK e DEMONKRÄTZIE + EXPOSIÇÃO DE DESENHOS DE THIAGO NEUMANN
http://www.fotolog.com/chucrotz_
http://thiagoneumann.blogspot.com/
http://dogsdraw.deviantart.com/

por Adelvan Kenobi

Agradecimentos à Snapic pelas sempre belíssimas fotos.

O show estava marcado para as 21:00, mas eu cheguei já perto da meia noite ( tava no cinema assistindo “Um Olhar do paraíso”*, novo filme de Peter Jackson). Perdi a Karne Krua e a Demonkratzie – ok, terei chance de vê-los novamente em breve, com certeza. A Lumpem, de Salvador, estava no palco. Que eu me lembre, era a primeira apresentação que eu via deles e, ao que tudo indica, será a última, já que era um show de despedida, pois estão encerrando suas atividades (segundo o veterano da cena Straiht Edge e um dos vocalistas da banda, Robson, me falou depois, estão acabando numa boa, então tudo bem). Boa banda, esporrenta mas com boas melodias nos riffs de guitarra. É um Hard Core bem trabalhado. Não consegui ver muito do show porque o espaço em que as bandas se apresentavam, uma sala na tal “Casa do Doug”, era minúsculo e não tinha palco, então se você é baixo ou tem uma estatura mediana (meu caso) e fica pra trás, não verá nada a não ser a bunda dos que estão á sua frente. Mas do que ouvi, gostei.

Terminado o show dei a tradicional circulada para reconhecimento do local, recém-descoberto pela juventude roqueira local. Fica na Atalaia, duas ruas atrás da passarela do Caranguejo, na altura do Bar Amanda (que nosso amigo Marcelo Viegas, de São Paulo, uma vez me disse que achava o melhor lugar do mundo). Gostei do espaço, amplo, até achei que foi mal escolhido o local onde se realizou o show em sí, já que havia uma área maior, que creio que era usada como garagem, fora, mas acredito que a opção por um espaço mais interno foi por medo do barulho incomodar os vizinhos. Nesta área maior o grande Thiago “Cachorrão” expunha seus magníficos desenhos, marca registrada do que de melhor existe em termos de arte gráfica no rock sergipano – até confesso que um sonho de consumo meu é ter um desenho dele como marca do programa de rock, mas nunca pedi porque se pedisse eu iria fazer questão de pagar (porra, o cara é um puta artista, e eu ás vezes fico constrangido de ver tanta gente talentosa que não ganha nada a não ser elogios pelo que faz) e eu coloquei como um dos meus objetivos não gastar nada com o programa. Faço com prazer sem ganhar nada, mas por outro lado faço questão de não pagar para fazer. Já tomei muito prejuízo financeiro com essa historia de “rock independente”, nunca me arrependi de ter feito nada mas alcancei a minha cota – faz tempo, aliás. Aliás, fica aqui registrado que recebi recentemente um e-mail de Fellipe CDC, agitador cultural, vocalista da Death Slam e da Terror Revolucionário, amigo e fanzineiro das antigas, de Brasília, me informando que tomou um prejuízo de quase R$ 3.000,00 com o show do Master, que ele organizou por lá. O amor ao rock e à cena independente ta no sangue, mas para tudo tem que existir um limite ...

Mas voltando à casa, havia também uma varanda, onde haviam vários stands, dentre os quais o da Freedom, a loja de Sylvio da Karne Krua (Rua Santa Luzia, 151 – centro – Aracaju ), e vários outros onde estavam sendo vendidos materiais independentes em geral, discos (CD e vinil), bottons, livros e fanzines. Na frente da casa, um pequeno jardim onde o pessoal podia se refrescar e bater um papo.

Na sequencia da Lumpem começa o Warcry. Já no primeiro som, o microfone falha. Resolvido o problema, o inferno se instala. Grande show, porrada no pé do ouvido o tempo inteiro, sem descanso. O som é crust até o osso – aliás o próprio visual do vocalista, com seus cabelos descoloridos, lembra o de um dos vocais do Extreme Noise Terror, referencia número um do estilo. O publico respondeu à altura e agitou muito – na verdade, segundo o que vi e pelo testemunho dos que participaram do processo (eu fiquei apenas assistindo tudo pela janela, e de lá já sentia um bafo quente que incomodava até quem estava de fora, imagine o inferno que foi lá dentro), foi um verdadeiro massacre. O vocal a todo momento partia pra cima do público e se misturava ao pogo (não sei como o microfone conseguiu permanecer plugado), enquanto a banda mantinha o ritmo e a distorção no talo, sem pausa para respirar. Apesar disso, de toda essa empolgação e resposta positiva, infelizmente o show foi curto. Pensei que tivesse sido por conta do calor, mas a baixista me falou, depois do show (é, eu aproveitei pra dar uma praticada no meu inglês capenga com os caras) que os show deles sempre são curtos mesmo, o daqui não havia sido exceção. Falou também que era a primeira vez deles no Brasil e que estavam adorando, especialmente tocar nas cidades menores, pois ela acha o publico das metrópoles, como São Paulo, muito esnobe. Concordei com ela e opinei que isso acontecia porque para eles um show como aquele, mesmo tendo sido devastador, é apenas mais um show, já para nós que moramos em locais mais distantes dos grandes centros é um acontecimento, uma exceção. E agradeci por eles terem vindo tocar aqui em nossa pequena cidade. Muito simpáticos e acessíveis, todos eles – não sei o nome porque sou ruim de memória e não encontrei na net. No próprio Myspace da banda, no campo “members”, há apenas a frase “we're just poor and dirty punks”.

Finalizando a noite, os anfitriões da noite, The Renegades of punk, de quem vocês certamente já ouviram falar muito aqui mesmo neste blog e sobre os quais não tenho muito a acrescentar – grande banda, grande show, excelentes pessoas, batalhadoras e extremamente competentes e honestas em tudo que fazem.

Enquanto isso, no Coverama ...

----------

* Belo filme, “um Olhar do paraíso”, principalmente no aspecto visual. A narrativa é um tanto quanto arrastada e melodramática demais, mas no geral eu recomendo. Só acho que se a personagem da vó, vivida por Susan Sarandon, tivesse tido uma participação maior na trama, teria quebrado um pouco o excesso de drama. Do jeito que ficou, parece uma versão luxuosa e visualmente vitaminada daqueles dramalhões que a Globo adora exibir nos sábados à noite.

Veja o que o site “Omelete” falou sobre a pelúcula:

Na escala de cores de Peter Jackson não há meios-tons
18/02/2010 – por Marcelo Hessel

O azul e o amarelo predominam na paleta setentista de cores de Um Olhar do Paraíso. Estão em contraste tanto nas cenas pós-morte (o mar e a areia, o campo e o céu) quanto na realidade (cortina alaranjada, livro de fotos azul, papel de parede amarelo, roupas azuis). Até o cabelo descolorido e a lente de contato de Stanley Tucci seguem esse esquema.
No mais, amarela é a calça e azul é a blusa de Susie Salmon (Saoirse Ronan), a protagonista e narradora da história, menina de 14 anos que depois de assassinada passa a observar, do além, a vida das pessoas que viviam ao seu redor. Existiria na escolha de cores do diretor Peter Jackson alguma intenção?
Coincidência ou não, azul e laranja são também as cores mais usadas em pôsteres de filmes hollywoodianos de uns anos pra cá. O contraste que já foi ferramenta de egípcios, impressionistas e já serviu ao filme Amor Além da Vida hoje está em todos os lugares. Teoricamente, são tons complementares: o azul transmite calma, o laranja, energia.
Mas o que há entre esses dois extremos de sensações? Essa é a pergunta que pontua o filme inteiro.
A dualidade se estende ao roteiro. De um lado temos o espectro de Susie em paisagens bucólicas observando tudo aquilo que perdeu, é o drama e a fantasia de Um Olhar do Paraíso, a cor azul. Do outro, a trama continua a se mover. Sempre que Susie sai de cena o mistério da morte se intensifica; é o lado suspense do filme, a cor amarela. Para ligar as duas pontas há mementos no além, como a bola de borracha, a menina oriental ou as cenas submersas, servindo de pistas policialescas.
Embora sejam vistosos os efeitos visuais que Jackson saca para pontuar esses mementos de ligação, ele tem dificuldade em conciliar as duas metades do filme. Há quem diga que o diretor trata muito levemente um tema pesado - afinal, a menina de 14 anos que agora dança fora antes estuprada e esquartejada - mas no fundo a questão é anterior. O que pega é que Um Olhar do Paraíso parece mesmo dois filmes opostos. Quando se fundem, como na cena de amor no final, a estranheza é inevitável.
Talvez a intenção seja essa: demarcar tudo o que diferencia a Terra do além. Aqui embaixo, vivemos em simulacros de felicidade - a casa de bonecas, o mundo supostamente perfeito da snowball, os barcos nas garrafas. O shopping, em particular, e o subúrbio das casas idênticas, de modo geral, são versões ampliadas dessas redomas. Não por acaso um outro claustro, o cofre, é peça-chave no filme.
Já no além tudo é horizonte e luz infinita. Câmera sempre em movimento lateral, com música. Não há ironia quando uma outra fantasma diz para Susie: "É claro que tudo aqui é lindo, aqui é o paraíso". Se Jackson, criado no gore, desconfia da beleza e da perfeição que nos cerca - um laço vermelho gigante não impedirá uma menina de morrer de leucemia, frisa-se no começo do filme -, o paraíso é à prova do céticos, onde cafonices como rosas gigantes, coretos e amantes latinos são instantaneamente aceitos, um terreno que dispensa reflexão.
Não há ironia no paraíso, mas talvez haja na frase final de Susie, desejando "uma vida longa e feliz" para nós. Dentro desse filme onde tudo é bicolor, estar vivo, para Jackson, é o verdadeiro motivo de luto.

10 comentários:

  1. A escolha do cômodo da casa se deu por alguns fatores: O primeiro, vizinhança. Estavamos realmente um pouco preocupados com o barulho. Apesar da garagem ser grande, era muito estreita e tem uma parte que é aberta. E ja estava um dia chuvoso. É uma casa legal p/ esse tipo de show, e é imensa. Aquilo ali é 70% da casa pois ela tem andar e a parte de cima é o espaço ideal... mas tem um predio logo atras. por fim, legal a resenha resenha e as fotos ficaram magnificas. Abraços.

    ResponderExcluir
  2. E você vai conversar justamente com o membro feminino da banda, né??? hahahaha

    Cara, é muito legal saber que uma banda como Warcry tocou em Aracaju e não se limitou apenas pelas cidades habituais.

    Sobre o vocalista, o cara toca ou tocou em uma porrada de grandes bandas da cena de Portland: Tragedy, Severed Head of State, Deathreat...

    No site do Obscene Extreme Fest já há algumas bandas confirmadas para este ano. Até agora o grande nome é Doom, talvez a maior lenda do crust mundial. Mas não sei se irei à Rep. Checa no Verão, a Martina quer vir à praia...

    ResponderExcluir
  3. Amanda e seu indescritível pastel de caranguejo!!!

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  5. Enquanto isso, no Coverama ...?? não entendi

    ResponderExcluir
  6. Chandler, não leve as críticas ao Coverama para o lado pessoal. Eu simplesmente ODEIO a idéia de um festival só de cover, mas você, como pessoa, é um cara legal, um produtor super competente e tem todo o direito de explorar um nicho de mercado que rende dinheiro. Se você acha que isso, além de render uma grana (REPETINDO: não vejo nada demais nisso, eu, se fosse produtor, faria o mesmo, mas encarando como trabalho), é saudável para a "cena" ou o que quer que seja, é uma opinião sua que eu respeito mas não concordo e acho que tenho o direito de expor minha opinião sobre o fenômeno em si, que eu acho, no minimo, culturalmente irrelevante, no máximo, emburrecedor. Eu particularmente não te culpo por nada, você não inventou a moda dos festivais de cover (pelo menos acho que não, e se inventou, parabéns, mercadologicamente falando) mas em todo o direito de, como empresário da industria do entretenimento ( é assim que eu vejo o coverama ) explorar esse nicho. Business man. Relaxa.

    ResponderExcluir
  7. " E você vai conversar justamente com o membro feminino da banda, né??? " hahahaha

    Pow, ela era a mais bonita, fazer o que, heheheh

    ResponderExcluir
  8. Ótima resenha Adelvan. Valeu. Silvio Henrique já explicou por que as escolhas foram feitas e o show aconteceu lá dentro.

    Achei lindo termos tido mais de 100 pagantes! Caravanas de Maceió e Salvador e tudo mais!

    Você fui muito lúcido na sua resposta à Alexandre sobre o Coverama. Está certíssimo! E isso foi outro motivo pra vibrar: um show independente que nem tomou conhecimento que rolava, no mesmo horário, de um festival de cover. Valeu Aracaju!

    ResponderExcluir
  9. Caralho o show aê parece ter sido bem loco...aqui em SSA paree ter sido bem mais frio do que aê, óbvio que trocaria o conforto do Irish Pub por esse inferninho aê!!!

    ResponderExcluir
  10. Essa gig foi a prova de que o mundo rock já mais se limitará a grandes produções ou shows de banda de rock cópia onde a maior qualidade das mesmas é usar os neuronios para copiar e não para criar, falo isso porque algums chegaram a falar-me coisas do tipo: ...Esse show bém no dia do coverama!!! É MOLE UMA PÔRRA DESSA??? Quanto a gig foi foda um publico especial e animal agitando em todas as bandas uma energia incrivel.

    ResponderExcluir