terça-feira, 2 de março de 2010

Fazendo História



Naquele velho esquema “surpresas que a vida te reserva”, uma das maiores (e melhores) foi a vinda do Mudhoney a Salvador, em 2008. Jamais poderia imaginar que teria a oportunidade de ver os verdadeiros “pais do grunge” aqui mesmo, do lado, praticamente vizinho à minha casa (Salvador fica a menos de 4 horas de carro de Aracaju), e quase 20 anos depois do som de Seattle ter tomado o mundo de assalto e mudado (mais uma vez) a história do rock, varrendo o metal de arena das paradas de sucesso. O mais inusitado é que o show foi, pode-se dizer, gratuito: para adquirir um ingresso bastava trocá-lo por um livro didático qualquer. Foi uma noite de revival total. Assim que os caras subiram no palco, depois de uma apresentação xoxa de mais uma banda insossa de Salvador cujo nome eu nem lembro (Nancyta, que eu gosto, também se apresentou naquela noite, mas chegamos atrasados e perdemos), me vi totalmente transportado de volta a 1993/1994, quando ouvia aquelas músicas sem parar e a todo volume em casa, sempre imaginando que os shows deveriam ser insanos. Bom, não chegou a ser insano, afinal muito tempo já se passou e os caras já passaram dos 40, mas foi bem legal. E um dos motivos para ter sido tão legal foi também a companhia, afinal estava entre amigos de Aracaju e recebendo um ilustre visitante, meu amigo de fé, irmão e camarada Chorão 3, da Gangrena Gasosa. Não é todo dia que se pode ver um show do Mudhoney do lado de um de seus ídolos do rock nacional. Ele estava de férias pelo nordeste com sua esposa e aproveitou para dar uma esticadinha até “a cidade do axé, a cidade do amor”. Que ele detestou, diga-se de passagem. O cara entrou numas de que estava sendo perseguido – o que poderia ser apenas paranóia de carioca acostumado com a violência urbana, mas depois que ele me falou que o relógio que levava no pulso tinha sido bem caro, comecei a suspeitar que era verdade. Não sossegou enquanto não saiu do pelourinho, não sem antes levar um susto de uma das muitas criaturas insanas que circulam por aquele local dia e noite – a louca simplesmente se aproximou do carro, quando a gente já estava acomodado e se preparando para sair, e deu um grito no ouvido do Chorão, assim, sem mais nem menos, do nada, e saiu correndo. Adolfo Sá, que também tava no carro, falou que ele ainda teve foi sorte, pois uma vez um amigo dele tomou foi um tapão na cara nesse mesmo esquema, do nada. Eu tive a oportunidade de ver de camarote a loucura que é o Pelourinho “by night” da sacada do hotel em que ficamos hospedados, que ficava bem de frente para o Elevador Lacerda (e para a sede da prefeitura, para minha sorte, pois tinha muito policiamento a noite inteira e meu carro pôde dormir tranqüilo no meio da rua, já que o referido Hotel, que mais parecia uma daquelas casas antiqüíssimas tão bem descritas nos livros de Jorge Amado, não tinha estacionamento). É um verdadeiro vai-e-vem de malucos e criaturas suspeitas de todo tipo madrugada adentro, boa parte deles se dirigindo a um beco suspeitíssimo logo abaixo. Sinistro. Já na volta pra casa Chorão teve a oportunidade de ver um outro lado da Bahia, um turismo mais “light” e civilizado, com uma parada estratégica que fizemos na Praia do Forte para visitar a sede do Projeto Tamar, que se dedica a salvar as tartarugas marinhas da extinção. Ficou fascinado e prometendo voltar trazendo o filho.

Foi uma viagem massa, rei.

por Adelvan

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Entrevista para o Jornal A TARDE, da Bahia, em 14/10/2008

por Marco Aurélio Martins/Agência A Tarde

De sorriso no rosto, bermuda, uma t-shirt velha e chinelos, Mark Arm nem parece o gigante que costuma se tornar quando sobe em um palco. Líder fundador da lendária banda grunge Mudhoney, com o guitarrista Steve Turner, Arm está em Salvador desde a madrugada de terça-feira para encerrar o festival Boombahia, na noite de quarta-feira, 15, com um show na Praça Pedro Archanjo (Pelourinho), que tem tudo para se tornar histórico na cidade.

Mesmo que sua banda esteja a milhas de distância da fama angariada pelos nomes mais conhecidos do estilo, como Nirvana e Pearl Jam, Arm & Cia. são meio que responsáveis pelo estrago que o grunge causou nos cenários alternativo e mainstream do rock: há exatos 20 anos, o Mudhoney trouxe ao mundo a música apontada por muitos como o marco zero do movimento: Touch Me, I'm Sick.

Ainda que ele discorde: "Touch Me, I'm Sick, em particular, soa como... se os Yardbirds tivessem surgido dez anos atrás. Já as partes rápidas da música remetem a uma antiga banda de Seattle, The Night Kings. E Steve teve a idéia do riff. Então, dizer que Touch Me, I'm Sick é a primeira música de alguma coisa é meio bobo.

A gente toca dentro da tradição do rock 'n' roll underground. Isso começa com o rockabilly (anos 50), passa pelo rock de garagem dos anos 60, pelo punk rock, rock psicodelico, as coisas que gostamos de ouvir. Não nos vemos como os primeiros de coisa alguma, e, sim, como mais um degrau de uma escada, entende"?

Outra coisa que Mark não entende é a pecha de tristonho que o grunge costuma receber – até porque, nesse sentido, o Mudhoney era uma exceção, com suas letras e clipes sempre bem- humorados.

“Nosso bom-humor se deve às nossas personalidades, mesmo. E eu não acho que exista essa coisa tristonha no grunge. Sabe, a maioria das pessoas que conheci na época, mesmo as que já estão mortas, eram muito, muito divertidas. Então, não sei exatamente o que aconteceu“, disse.

Surf – Um tanto apressado, mas com boa vontade para responder às perguntas, Arm, com Turner, Guy Maddison (baixo) e Dan Peters (bateria), estava prestes a subir numa van em direção à praia de Jaguaribe, onde todos passariam o resto do dia surfando e aproveitando uma breve pausa na turnê de oito datas pelo Brasil.

“Seattle fica no litoral, mas como é tipo uma enseada as ondas não chegam. Então, para ir ao mar aberto, é uma viagem de três horas. E, mesmo no verão, a água é fria pra cacete. Eu dizer que sou surfista é meio que uma piada. É mais uma desculpa para ir à praia do que qualquer coisa“, conta.

Politizado, Arm está entusiasmado com a possibilidade de eleger Barack Obama presidente dos Estados Unidos nas próximas eleições. “Acho que ele é um bom homem. Estou feliz porque esta é a primeira vez que vou votar em alguém que eu realmente gostaria de ver na Casa Branca”.

Quando soube que o ingresso para o show seria trocado por livros escolares, Arm coçou a cabeça: “Mas eles não vão precisar dos livros depois“?

Serviço

Mudhoney | Show de encerramento do Boombahia 2008 | Abertura, Nancy & Os Nunca Vistos e Pessoas Invisíveis | Quarta-feira, 18 horas | Praça Pedro Archanjo, Pelourinho | Os últimos ingressos podem ser trocados por um livro didático ou infanto-juvenil no Largo Teresa Batista, das 15 às 18 horas

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Adolfo Sá em www.vivalabrasa.blogspot.com

Em 2008 o Mudhoney esteve no Brasil p/ sua 4ª turnê no país, passando por 6 cidades. Tocaram no Sudeste, no festival Demo Sul em Londrina [PR], na festa de 10 anos da Monstro Discos em Goiânia [GO], e fizeram 2 apresentações no Programa do Jô, divulgando The Lucky Ones, 8º álbum de estúdio da banda.

No dia 15 de outubro foi a vez de Salvador [BA] receber os caras que forjaram o som de Seattle nos anos 90, c/ seu rock garageiro e bêbado, influência total p/ Kurt Cobain e cia.. O show foi no festival Boombahia, no Pelourinho. Eles já haviam tocado em Recife [PE] há alguns anos, mas nunca tão perto da minha casa. Fui lá conferir e aproveitei p/ gravar umas imagens pro Periferia.

“É difícil não cair no clichê, mas não tem muito pra onde fugir. O Mudhoney fez um show histórico e marcante”, definiu o blog baiano El Cabong: “Postura de palco simples e arrasadora, mas sem precisar de apelações. O som que a banda tira de seus instrumentos – e da garganta – é o que brilha. Formada há 20 anos e com seus membros passando dos 40, a banda mostrou como fazer um showzaço de rock.”

Tocaram algumas músicas novas, mas o bicho pegou mesmo nos clássicos grunge. Vi neguinho ‘chorando’ c/ “Into the Drink”, “Hate the Police” e “Touch Me I’m Sick”. Fiz um clipinho de “Suck You Dry”, hit do disco Piece of Cake, e usei num encerramento do Perifa’s – apenas 30s porque o tempo do programa estava estourado, pra variar.

1 DRINK NO INFERNO

Foi uma noite daquelas. Após o show, esticamos p/ uma boate na Barra chamada Groove, que tem uma foto gigante dos Ramones na entrada. Meu mano Marcos ‘Magajanes Muertos’, do estúdio Bola Preta, descolou convites p/ uma tal de “Festa Glam” e, pelo preço, resolvemos conferir: no inferninho, uma banda EMO chamada Nancy tocava um som influenciado por New Order.

Foi a coisa mais próxima de uma “despedida de solteiro” que tive, já que 1 mês depois eu estaria casando. Lá dentro, a rapa do rock baiano – integrantes de bandas de garagem como Sangria e Jupiter Scope, e até a megastar Pitty – e umas baianinhas bem gatas. Entre a ressaca e a dor na consciência, fiquei c/ a 1ª opção e enchi a cara c/ Skol. Não desceu redondo, e no fim de noite no Mercadinho do Peixe, acabei fazendo estrago no Celta 0km do meu amigo Marcos: “Você vomitou e dormiu, perdeu o sarapatel às 6 da matina, haha!”, me falou o ‘Bola’ no dia seguinte.

O esquema foi tão 666 que Ronaldo Chorão, da banda Gangrena Gasosa, voltou conosco p/ Aracaju no carro do Adelvan K., do Programa de Rock [104.9 FM]. Logo após a exibição do clip do Mudhoney no Periferia a fita c/ as imagens brutas sumiu. Rock é coisa do demo.

ENTREVISTA: MARK ARM [MUDHONEY] - por Bruno Dias

Qual a principal diferença em estar na banda agora e de quando vocês começaram?
Eu acho que quando se é mais novo você leva as coisas todas para o lado pessoal, e fica nervoso com qualquer coisa. E quando se é mais velho você é mais flexível. Eu acho que é mais difícil tocar ao vivo quando se é mais velho, muitos de nós já são casados, possuem filhos, empregos, é mais difícil largar tudo e sair em turnê.

O que mantém o Mudhoney junto por 20 anos?
Existem várias coisas que mantém a banda junta, as duas principais são: Todos amamos fazer música. E a outra, é que nós nunca tivemos expectativas muito altas com relação à banda, nunca ficamos desapontados. Nunca tivemos o pensamento de que seríamos a maior banda do mundo, que iríamos tomar conta da música pop. Apenas tocar nossa música e viver a vida como vivemos. Eu acho que nós somos muito sortudos por viver de música.

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