O programa de rock foi ao ar pela primeira vez no dia 30 de março de 2007, e disse a que veio já em sua primeira edição, com uma programação eclética e sem preconceitos, indo de clássicos do rock (a primeira faixa executada foi “All right now”, do Free) à musica extrema e experimental do underground brasileiro (Discarga Violenta, de Natal-RN). Foi fruto de uma mudança de postura na direção da radio publica do estado de Sergipe, motivada pela posse de um novo governo. Fomos convidados, eu e Fabinho, da banda snooze, a fazer um “programa de rock”, e foi o que fizemos (como devem ter notado, não foi muito difícil escolher o nome). O objetivo era (e é) bem simples: colocar o rock no ar, fugindo ao máximo do óbvio e dando espaço para a música autoral e independente de Sergipe, do Brasil e do mundo, mesmo sem ignorar possíveis hits ou clássicos que considerássemos indispensáveis. Com isso, dar um respiro nesse mar de mediocridade em que se transformou o radio brasileiro, tomado pelo que de pior possa existir em termos de pastiche musical.
É certo que nem tudo é lixo no dial sergipano – há ainda, além da Aperipê FM, alguns lampejos de diversidade em meio à selva mercadológica emburrecedora. Recentemente entrou em operação a Radio Universitária, mantida pela Universidade Federal de Sergipe, e a Liberdade FM, mesmo tendo sido comprada pelo “gênio do mal(gosto)” Gilton Andrade, o dono da “Calcinha Preta”, manteve sua linha de programação (baseada na MPB) relativamente intacta. A radio mantêm, inclusive, um programa de cerca de 3 horas de duração, às sextas, dedicado ao rock, o “Rota 99”. Há também o “105 Puro rock”, na Anchieta FM, radio comunitária do Conjunto Augusto Franco. O programa de rock veio para se somar a eles, com um diferencial: é bem mais eclético e dialoga melhor com a cena, já que o primeiro vai ao ar por uma radio comercial e por isso não pode ousar tanto quanto o nosso, e o segundo está um tanto quanto preso a uma linha quase que totalmente voltada para o metal. A lamentar o fato de que a freqüência que já pertenceu à melhor (ou menos ruim) “radio jovem” da cidade, a Atalaia FM, esteja hoje ocupada pela horripilante e assumidamente jabazeira Jovem Pam. Pela Atalaia FM foram ao ar, em tempos bem diferentes, os dois únicos programas especializados em rock de que tenho notícia no rádio aracajuano, o “Playground”, comandado por Patrick Tor4, Rafael Jr. e Bruno Aragão no comecinho dos anos 2000, e o “Rock Revolution”, na longínqua década de 80. Através do “Rock Revolution”, que era produzido por Antonio Passos e Roberto Aquino, também proprietários da pioneira Distúrbios sonoros, única loja especializada da época, eu, que era um adolescente espinhento começando a ouvir rock em Itabaiana (as ondas da Atalaia chegavam lá em alto e bom som) via Iron Maiden, AC/DC, Metallica e afins, fiquei conhecendo muita coisa que tinha ouvido falar apenas de nome, através da Revista Bizz, como Mutantes (ainda não redescobertos), Fellini, Voluntários da Pátria, Akira S., Casa das Máquinas, e bandas daqui mesmo de Aracaju, coisa que eu nem sonhava que existia, como o Alice e o Crove Horrorshow. Me influenciou muito – por muito tempo eu guardei as fitas k7 em que gravava o programa para ouvir de novo. Uma pena que este material tenha se perdido ...
Eu mesmo já havia tido algumas experiências com radio antes do programa de rock. Nos anos 90 meu amigo (infelizmente já falecido) Ademir Pinto me convidou para ser um dos produtores de um programa que ele havia criado para a Itabaiana FM, da qual era operador. Chamava-se “Guilhotina” e era semanal, ia ao ar aos sábados por volta das 8:15 da noite e eu, que já morava em Aracaju, colaborava despencando de 15 em 15 dias de carro para a “capital do agreste” com o porta-malas do carro cheio de vinis, CDs e fitas k-7. Nos outros dias o próprio Ademir ou outros convidados de lá mesmo da cidade produziam. Foi divertido – não esqueço de uma edição em que tocamos só grindcore, em represália ao fato de que o programa poderia ser (e era) interrompido a qualquer momento para transmitir a inauguração de um poço artesiano num povoado qualquer com a presença do excelentíssimo Sr. Vice-governador de então, não por acaso também proprietário da rádio. Ou do dia em que tocamos o primeiro do Raimundos na íntegra, ainda antes da banda estourar, ou quando toquei a inacreditável “canção de amor” da também brasiliense “Os Cabeloduro”, provavelmente a música com a letra mais pornográfica já feita. Ademir queria mesmo ser demitido e nos dava carta branca, e a gente realmente “escaldou”, testou os limites, mas não adiantou nada, a única coisa que o dono da radio falou uma vez, segundo ele, foi que sentia falta de Raul Seixas, ou seja: mandou apenas um tradicional “toca Raul”.
Minha outra experiência foi com o “Frequencia Underground”, que ia ao ar pela Carcará FM, radio comunitária do Bairro América, já em Aracaju. Era produzido por mim e por Marcelo Gaspar, ex-guitarrista da Karne Krua. Durava 3 horas de relógio e nele nós também tínhamos liberdade total. Dessa época me vêm a memória nossas incursões ao “Drink no Inferno”, como foi batizada pelos caras do Jason a boate de streap tease que havia na coroa do meio e para a qual nos dirigíamos depois do programa (ambos solteiros e sem nada pra fazer num sábado á noite, dá nisso), e uma noite em que tivemos que trabalhar mascarados, com a camiseta amarrada ao rosto tapando o nariz, para tentar suportar o fedor causado pelo rastro de alguém que pisou em merda e entrou nos estúdios acarpetados.
Ao longo desses três anos de programa de rock, acompanhamos e ajudamos no crescimento da cena independente local, divulgando shows e eventos através da “Agenda rock” e de entrevistas (muitas delas seguidas de um pocket show executado ao vivo no estúdio) com bandas de fora do estado de passagem por aqui, como ENNE (MG), Silent Cry (MG), Velho de Câncer (RS), Uzômi (RJ), Gangrena Gasosa (RJ – na figura de seu fundador e vocalista Roanldo Chorão, que estava na cidade de férias), Lamashta (AL), Pelvs (RJ, representado pelo guitarrista Clínio Jr.) e Mahatma Gangue (RN). Também entrevistamos, sempre ao vivo, representantes de praticamente todos os setores envolvidos no cenário local, como produtores (os produtores do Rock Sertão, Estranho do “Eu sou do rock”, Dani e Ivo, Roberto Nunes do Cine Cult, Fabio Andrade da Terrozone, Edcarlos da Rock Vivo, Débora e Evandro do Game Anime Expo, Thiago Porto do Kaos Fest), artistas solo (Werden, Vicente “Coda”, Sabrina Porto), editores de fanzines (Adolfo Sá, Rafael Jr, Cícero “Mago”, Nininho, Fabio) e membros de bandas como Cessar Fogo, Plástico Lunar, The Baggios, Karne Krua, Máquina Blues, Urublues, Scarle Peace, Warlord, Sign of Hate, In The Shadows, Crove Horrorshow, Vá Pra Porra, Náutilus, Daysleepers, Elisa, Rockassetes, Perdeu a Língua, Inrisório, Glorybox, Mamutes, Os Trouxas, Tchandala, Rotten Horror, Baka Sentai, Oni, Aliquid, The Jezebels, One Last Sunset, Impact e The Renegades of punk, dentre outros. O programa tem também dois quadros fixos, o “Drop Loaded”, produzido pelo pessoal do Loaded E-Zine ( www.loaded-e-zine.net ), de São Paulo, que sempre traz o melhor do cenário independente nacional, e o “Bloco do ouvinte”, do qual qualquer um pode participar, bastando apenas nos enviar, via e-mail ( programaderock@hotmail.com ) ou programas de compartilhamento tipo rapidshare, megaupload, media fire ou 4loaded, um bloco que, caso aprovado, irá ao ar, com os devidos créditos (até agora nenhum foi recusado). Em 2008, fomos indicados ao Premio Dynamite na categoria “Melhor programa de radio”, e convidados pela direção da Fundação Aperipê para que fizéssemos uma versão para a TV. Um piloto foi produzido, mas nunca foi ao ar. Pode ser visto pelo Youtube. Fomos também os primeiros a fazer uma série de edições especiais totalmente dedicadas ao rock sergipano, hoje integradas ao projeto “Sergipanidade”, que vai ao ar uma vez por mês e no qual toda a rádio, por um dia inteiro, toca apenas música sergipana. Atualmente o programa é produzido e apresentado apenas por mim, Adelvan, e continuará indo ao ar toda sexta feira às 20:00, horário de Brasília, em Aracaju, pela freqüência 104,9 FM, podendo também ser ouvido ao vivo via internet através do site da Fundação Aperipê.
Obrigado pela audiência.
A.
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O que rolou na primeira edição do programa de rock:
# 01 - 30/03/2007
Free - "All right now"
Screamin' Jay Hawkins - "I put a spell on you"
Creedence Clearwater Revival - "I put a spell on you"
The Byrds - "Eight miles high"
Dinosaur Jr. - "Nothing's goin' on"
Elefant - "Brasil"
Interpol - "pda"
Bloc Party - "Banquet"
Graforréia Xilarmônica - "Eu gostaria de matar os dois"
Mundo Livre SA - "Saldo de aratu"
Mutantes - "Adeus Maria Fulô" (versão tecnicolor)
Cabine C - "Lágrimas"
The Raveonettes - "Love in a trashcan"
Hope Sandoval & The Warm Inventions - "Suzanne"
The Jesus & Mary Chain - "Sometimes, always"
The Jesus & Mary Chain - "Deep one perfect morning"
Iggy & The Stooges - "Search and destroy"
The Velvet Underground - "I'm waiting for the man"
The Doors - "Touch me"
Ben Kweller - "I need you back"
Morrissey - "You have killed me"
The Smiths - "How soon is now"
The Smiths - "This charming man"
Mercury Rev - "Opus 40"
The Breeders - "Happiness is a warm gun"
13th Floor Elevators - "(It's all over now) Baby Blue"
Camper van Beethoven - "Take the skinheads bowling"
Dead Kennedys - "Holiday in Cambodia"
Matanza - "Whisky para um condenado"
Discarga Violenta - "Raimundo"
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Parabéns a todos os envolvidos! Que venham mais 30 anos!
ResponderExcluirAdelvan, parabéns, cara! Parabéns ao programa! Essa sua dedicação é de tirar o chapéu, sobretudo quando comparo com a preguiça e falta de dedicação por aqui, onde supostamente é tudo muito mais fácil. Isso é uma auto-crítica também.
ResponderExcluirEspero que sejam mais anos alimentando o underground Sergipano, que bem precisa dessa lufada do teu programa.
Tenho muita satisfação quando, às sextas, o ouço, sinto-me mais próximo daí e sinto-me feliz por saber que há pessoas que vão fazendo alguma coisa em Aracaju.
Como é que chamava aquele programa de rock que passava no fim da década de 90, começo desta? Acho que era no fim-de-semana e era numa rádio evangélica, se não me engano. Tantas foram as vezes que liguei para lá pedindo músicas (e das mais básicas, das bandas mais conhecidas, porque não havia muitos outros meios para aceder à cena underground), nalgumas vezes até ganhei ingressos para shows. Aliás, a primeira vez que fui num show de rock underground (acho que foi o Punka, ou o Halloween) foi devido a uma promoção de ingressos desse tal programa :-)))
CEBOLADA/ITABAIANA Parabéns ao Programa de Rock por esses três anos, ao nosso amigo Adelvan pela iniciativa e coragem, garra e determinação, divulga o rock é uma tarefa dificil mais bastante prazerosa.
ResponderExcluirJuliano, esse programa que você ouvia ainda existe, só que com outro nome, agora é "105 Puro rock" e vai ao ar pela Anchieta FM, uma radio comunitária que fica instalada na Igreja católica do conjunto Augusto Franco. É, portanto, um programa de rock (mais para o metal) comandado por um evangélico numa radio católica.
ResponderExcluirAêêê! Vida longa ao Programa de Rock! Parabéns e muito rock. Vai rolar "Do you remember rock 'n roll radio" hoje? O programa de rock é a nossa rock 'n roll radio.
ResponderExcluirBeijos!
Orgulho de fazer parte dessa historia (aliás essa foto de gorrinho tá triste, nunca tinha visto).... Mas agora não tem mais volta - Programa de Rock = Adelvan Kenobi, mestre Jedi em assuntos rockeiros!!!
ResponderExcluirParabens e "keep on rockin' in the free world"!!!