Não faço resenha de show. E não vou resenhar o show de sábado. O show de sábado que rolou na rua de Geru, no estacionamento vizinho ao Pipo’s, foi excepcional (em todas as acepções que a palavra comporta).
Confesso que eu saí de casa com aquele espírito de quem já foi em alguns inúmeros shows-cocó e esperava pouco da noite. E a noite não prometia muito mesmo: apenas mais um show em Aracaju. Apenas mais um show de rock independente (mesmo) ou alternativo, adjetivos preferidos à parte.
Primeira impressão: surpresa. A porta bem cheia. A rua tomada nos dois lados por uma variedade de gente de preto e afins. Fazia tempo que eu não via show assim. E ainda mais sendo show de bandas relativamente desconhecidas e sem a presença de bandas bombadas do momento. Ok, na divulgação (que não foi muito longe) tinha o nome de duas bandas “maiores”: Karne Krua e Bad Snake. Ainda assim: era um show no centrão da cidade, do lado de um puteiro, na noite em que tinha Eddie, Mamutes e Sessão Notívagos. Isso já me chocou de cara! Pensei comigo “vamos ver se esse povo todo vai entrar mesmo...”. E entrou! Surpresa número dois.
Não quero falar da estrutura precária, do som se estava bom ou ruim, se tinha aquilo ou faltou aquilo. O que achei interessante foi uma vibe de “show de alguns anos atrás” que estava rolando. Vesti quase sem querer uma carapuça de antropóloga e comecei a tentar observar e decodificar as informações que eu alcançava. Eu e Ivo imediatamente começamos a nos lembrar de 2002, 2003... das bandas da época e da Cooperock. Acredito eu que para o underground da cidade, ou ainda mais pro punk e hardcore, a Cooperock foi um capítulo dessa história. Antes de coletivo ser moda na boca de todo mundo, eles eram um coletivo com nome de cooperativa. A ideia era a mesma. Vai ver ainda não se chamavam de coletivo por nem saber que rolava essa onda. Vai saber! Independente dos detalhes, o que me chama a atenção aqui é o lance todo do punk que sempre me encantou: o ímpeto de você não precisar esperar por ninguém; simplesmente ir lá e fazer. Foi isso que me fez querer tocar e estar em banda mesmo sabendo que um monte de coisa ao meu redor dizia pra eu não fazer isso.
E sábado, num estacionamento de chão de brita, com um som ruim e “platéia” mais diversa com a qual me encontrei em muito tempo, aquilo tudo voltou forte. Pensei: será que ainda temos uma saída? Quando me pergunto isso simplesmente procuro visualizar algo mais à frente que sinalize uma luz, algo novo... porque pra quem curte/toca punk rock ou sons menos “agradáveis”, digamos assim, há um bom tempo a situação está tensa.
Voltando ao show, estava curtindo – apesar do cansaço. E vi o pessoal que organizou o lance falando do show, da dificuldade e que eles eram uma cria da extinta cooperock e um novo, agora sim, coletivo. Havia uma certa hostilidade aos eventos de cover, nada demais, mas pareceu diferente ali. Eu nunca tinha presenciado uma manifestação desse tipo tão compartilhada por tanta gente no mesmo espaço físico. E parecia que o lance de se ter bandas começando, existindo e querendo fazer algo novo era algo bom, louvável e o caminho. Surpresa número três. Não acho que ninguém deve ser inimigo disso ou daquilo, inimigo de evento A ou B... mas sempre fui da postura de que se você está insatisfeito com algo vá lá e faça algo diferente. Reclamar só não faz NADA mudar. Com passos tortos ou não parecia que ali pessoas com algumas afinidades tinham se reunido pra curtir a mesma porém outra onda. Acho digno.
Um capítulo á parte, para mim, foi o público. Depois de contabilizar cerca de 120 pessoas (cento e vinte pessoas!!! Como diz Quique Brown “sold out geral”), parei de me preocupar com esses detalhes e fui tentar aproveitar o show da Karne, além de dar aquele “apoio moral”. Mas, além de ser um público ótimo num dia de outro evento bombante na cidade, isso só me fez reforçar a ideia que tenho que o centro é um local que as pessoas tem muito medo de explorar. Ainda não consigo ver qual é o grande problema de se fazer shows por lá. Violência e assalto tem em todo canto... enfim. O publico também era outro. Não é um público que vemos em shows em picos mais pras bandas da praia. Não acredito que eles eram todos apenas amigos das pessoas das bandas e que foram lá para prestigiar. Porque será que eles não andam em todos os shows? Sinceramente, não sei responder. Mas isso me intrigou. Ingresso barato (R$ 5)? Não sei mesmo.
Porralocagem total, como a gente brinca. E como sempre comento, o ruim da porralocagem são só as brigas. Mas briga (óbvio) rola com qualquer pessoa. Tirando isso, acho lindo aquela variedade de tipos rockeiros: metaleiro, punk, anarko, crust, ex-punk, emo, clubber, maluco beleza, crew batom preto e hippie punk rajneesh. Até uma suposta “nova cena” rodava por lá (dedos cruzados!).
Anyway, não estou fazendo um elogio do show. Estou apenas compartilhando uma impressão forte que tive naquela ocasião. Talvez seja aquele velho romantismo de querer ver as coisas mudarem ou acontecerem de forma mais real pra gente aqui. Mesmo tendo aquela impressão que eu parecia estar num mundo paralelo (teve gente que me abordou pra perguntar se a Lily Junkie ainda estava tocando! Detalhe: a banda acabaou em 2003!!!) fiquei ansiosa por mais eventos desse naipe (quem sabe com uma melhora progressiva da estrutura) e atenta ao que vai acontecer. Será uma reviravolta na “cena” aracajuana? Será mais um último suspiro do punk? Posso estar super exagerando e só o tempo vai dizer.
Deixei o pico perto das 02:00 da manhã logo após o show da Karne, que não rolou até o fim. Até então, só três bandas tinham tocado e não foi dessa vez que vi a Bad Snake. Shame on me.
via Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário