sábado, 8 de maio de 2010

Recordar é viver ...

Cajurock 2005 - 26/03/05 - Aracaju - Espaço Cultural Gonzagão

BANDAS: Máquina Blues(SE), Distraught(RS), Triste Fim de Rosilene(SE), Laboratório Mental(SE), Tchandala(SE), Words Guerrilla(SE), Rockassetes(SE), Rabujos(PE), Darklands(SE), Revolta Civil(PE), Karne Krua(SE), Pro-x(SE), Urublues(SE), Scarlet Peace(SE), Lammashta(AL), Andralls(SP).

Em meio a tantas comemorações devido ao sesquicentenário da capital sergipana, o que vimos foram várias homenagens políticas, grupos folclóricos se apresentando por vários pontos da cidade e alguns movimentos artísticos (onde, diga-se de passagem, deixaram de fora o rock underground da capital). Mas, graças à relativa força que possui nossa cena e principalmente, graças à disposição dos produtores que fazem a coisa acontecer, o Cajurock 2005 veio para comemorar de forma esplêndida a cena do rock underground de Aracaju, reunindo os maiores nomes da cena local, assim como grandes bandas de todo Brasil. A expectativa era grande, pois era esperada a presença de 18 bandas distribuídas em 3 palcos proporcionando uma maior dinâmica ao festival.

Chega então o grande dia e a hora marcada para tudo acontecer, o “circo estava armado” e dessa vez o rock não estava ali para fazer papel de palhaço e sim atuar como grande estrela da noite.

Cheguei ao espaço, por volta das 19:00 e pude ver a tamanha estrutura que foi disponibilizada, palcos, estrutura de bar, tudo parecia estar no lugar certo, para fazer daquela noite uma digna homenagem ao rock. Existiam até mesmo arquibancadas e cadeiras que são próprias do “Espaço Cultural Gonzagão” e que bem serviram depois para que a galera da morgação tirasse aquele velho cochilo.

Enquanto conversava com alguns conhecidos que ali já se encontravam, pude ver de longe a primeira banda subir ao “Palco Rua da Cultura”; era a Máquina Blues, a que estava muito curioso para conhecer, pois já havia ouvido muitos elogios. E realmente, pude comprovar que não era exagero nenhum dizer que se tratava de uma banda que nasceu com um excelente nível de profissionalismo. Apesar do pouco público, já que muitos persistem em manter a idéia retrógrada de que um show só realmente começa após as 22:00, quem ali estava pôde ouvir um blues como poucos sabem fazer. Destaques para Silvio Campos, vocalista da banda e um dos homenageados da noite. Trata-se de um ícone no rock sergipano, que estava ali para tocar em mais 2 duas bandas. Haja fôlego meu caro!

E exatamente para o “Palco Silvio Campos”, o palco principal, que todas as atenções seriam voltadas naquele momento. Sem sequer uma pausa para comprar uma cerveja, era a hora de ver os gaúchos da Distraught despejarem 15 anos de experiência para os bangers da nossa cidade. Behind The Veil foi quem abriu o set da banda que de cara já colocou a galera pra bangear de forma ensandecida. Quando pensei que o show já pudesse começar a esfriar, André Meyer (vocal) anuncia nada mais nada menos que South Of Heaven, clássico dos clássicos do grande Slayer. Dessa vez sim, os seguranças teriam muito trabalho para conter tanto agito do público. Demonique e Ghosts of Penitence, ambas do novo CD intitulado Behind The Veil, continuaram a apresentação dos gaúchos. A essa altura todos pareciam já estar saciados com tanto thrash metal e foi exatamente aí que se ouviu alguém gritar: “Raining Blood!!!” e como um gesto de agradecimento da Distraught ao público, ouvem-se os primeiros riffs desse grande clássico do Slayer, que fechou de forma singular a apresentação da banda.

Depois da pauleira despejada pela Distraught, fiquei observando de longe no “Palco Adelvan Kenobi” outra pauleira, só que dessa vez em forma de grind/hardcore. Era a Triste Fim de Rosilene. Típico show para se abrir uma grande roda de pogo e torcer para não perder nenhum dente ou coisa do tipo. Até que ficou legal o cover da música “Sangue Operário” da banda Karne Krua, banda da terra que ainda pisaria no palco, ainda naquela noite. Enquanto isso, em outro palco, rolava a Laboratório Mental, uma mistura de reagae com rap... Conseguem imaginar no que dá?

Mais uma vez os headbangers seriam os privilegiados do momento, pois estava na hora da Tchandala, uma das grandes representantes do nosso metal, entrar em cena. Já estávamos perto das 23:00 e nos próximos 40 minutos, a Tchandala prometia mandar ver um set com os grandes sucessos de sua carreira. Logo que os caras subiram ao palco, o que chamou a atenção foi o novo tecladista da banda, que aparentava ser bastante novo, mas que já na intro demonstrou ser digno de estar ali. Músicas como The Lost Sky e The Vision of A Blind Man fizeram já de início com que o show pegasse fogo e servisse para mostrar que a Tchandala está em plena forma e amadurece a cada dia. Depois do já conhecido solo bem ao estilo Yngwie Malmsteen, executado por Carlos, o show se encerrou com Mirror of Decay e Mask Of Pain, ambas bem conhecidas do público, o que fez com que o show ganhasse um brilho ainda maior.

Agora, dois palcos iriam estar em atividade simultaneamente. De um lado a Words Guerrilla, a segunda banda do veterano Silvio Campos, que, diga-se de passagem, estava inteiro e fez um show como se fosse o primeiro da noite, impressionante. Do outro estava a Rocassetes, com o já conhecido “yeah! yeah! yeah!” ao melhor estilo Beatles de ser, sendo que os mesmos a cada show vêm mostrando um ganho de experiência e personalidade em suas músicas e principalmente em cima do palco.

Sem muita conversa, no palco principal, começa o show do Rabujos, a primeira banda recifense a se apresentar na noite. E tome hardcore. Engraçado foi ver o Jaka (vocal) dando uma de pacifista no meio do show. Entre várias músicas, ouvia-se os mesmo falar: “Pow galera, vamos manerá aí né? Sem violência...” Não se tratava de violência, digamos que eram apenas uns ou outros com os hormônios meio que exaltados. No mais, a pancadaria sonora continuava solta e músicas como “Fé, Sede, Desespero” e “A Resposta” mostraram o excelente nível de hardcore que o Rabujos trouxeram do Recife.

Enquanto isso, a outra representante recifense, a Revolta Civil, também de hardcore, dividia as atenções com uma das grandes revelações do heavy metal sergipano. A Darklands, que é famosa por sempre tocar covers do Iron Maiden atraiu uma boa galera para bangear em meio a tanto heavy de qualidade. Uma boa surpresa no show da Darklands foi ver a nova vocalista, isso mesmo, uma garota que assumiu os vocais da banda. Momento alto do show foi quando da execução de nada mais nada menos do que Aces High do Maiden. Simplesmente único!

Já passávamos da meia noite e ainda tinha muito rock pra se curtir. Apesar da morgação começar a tomar conta, assisti com muito prazer a grande veterana do nosso estado. Karne Krua fez, como de costume, um show com grande participação da galera, que tem “na ponta da língua” as letras das músicas, fazendo com que grandes clássicos como “Subversores da Ordem” e “O Vinho da História” tomassem um aspecto ainda mais positivo.

Outra banda que tinha muita curiosidade em conhecer era a Urublues, vinda de Itabaiana-SE. Muito legal a sonoridade que o trio transmite em suas canções, algo que realmente prende a atenção até mesmo de quem não é muito chegado num blues. Enquanto isso o emocore rolava solto no outro palco, com a Pro-X, que tem seu público fiel e que agradou no que mostrou.

Pra quem gosta de doom metal, o palco “Silvio Campos” seria uma boa opção naquele momento. A sergipana Scarlet Peace, que há muito tempo vem mantendo com honra o estilo, começou seu set com uma intro contendo um trecho de "Filosofia de um vencido”, de Augusto dos Anjos, algo que criou uma atmosfera bem legal no show e deu inicio a uma apresentação de se encher os ollhos. Em seguida curtimos Remembrances of Pain e Into The Mind's Labyrinth, sendo que esta última também dá nome ao mais recente trabalho da “Scarlet”, como já é conhecida de todos.

Para os poucos que ainda estavam de pé, pois muitos já arranjavam um canto para tirar um cochilo e esperar um dos grandes nomes da noite, a Andralls, ainda iria subir ao palco a Lammashta. Advinda da cidade de Maceió-AL os caras, chegam a Aracaju com respeito, pois já haviam dividido palco com ninguém menos que Krisiun. Qualidade foi o que ficou comprovado, apesar da minha pessoa já estar com as baterias no fim. Pude ver que se tratava do bom e velho death metal, sem muita conversa.

Agora sim, a derradeira e saideira do festival, a Andralls. Os caras já haviam passado pela cidade, mas devido a um verdadeiro dilúvio no local onde os mesmos iriam tocar (na praia) acabou que todos voltaram pra casa frustrados. Mas, dessa vez protegidos de qualquer fenômeno da natureza, a Andralls subiria ao palco e mandaria a porrada sonora pela qual todos estavam esperando. E exatamente às 3:40 do domingo, o quarteto paulista começa com Unexpected e já vai emendando com Fear is My Joker, ambas faixas do mais recente trabalho intitulado Inner Trauma. Uma surpresa legal foi ver o público que antes parecia vencido pelo cansaço, agitar sem parar durante todo show da Andralls. Mas realmente o som dos caras faz qualquer defunto bater cabeça! O excelente álbum Force Against Mind também foi muito bem lembrado, com a execução de músicas como Beyond The Chaos e Andralls On Fire. O meio do show foi marcado pelo duelo travado entre o Alexandre Brito (bateria) e sua bateria que insistia em andar pra todos os lados no meio das músicas, isso graças à ausência daquele velho tapete. Tal acontecimento não tirou o feeling da banda que continuou detonando músicas de peso em cima do palco. Dessa vez nem mesmo uma chuva de meteoros poderia atrapalhar esse que sem sombra de dúvida foi o ponto alto do Cajurock 2005, que se encerrava naquele momento.

O grande ponto negativo dessa grande festa foi constatar com um sentimento de tristeza que os mesmos que fazem a cena crescer (público e bandas) a destroem. Digo isso porque flagrei inúmeras vezes pessoas pulando o muro e integrantes de algumas bandas passarem crachá para o lado de fora, pra que quem estivesse lá pudesse entrar sem pagar. A quem cabe a culpa? Vendo situações como essas é fácil entender o por que do nosso underground não seguir caminhos prósperos e sempre continuar na velha rotina. Mas, fatos como a disposição e a garra por parte dos quem produzem eventos como esses acaba encobrindo qualquer fato desagradável.

Ficam aqui os mais sinceros parabéns a todos que se envolveram na produção e principalmente às pessoas de Fábio Andrade, Chakal e Clay. E nós aqui ficaremos de dedos cruzados para que grandes festivais como esses se tornem uma rotina em nosso meio.

Por Nadson Costa | Em 26/03/05

Whiplash

Um comentário:

  1. Foi uma inesquecivel noite e a estreia de Tony Souza nos teclados. Muita saudade daquele tempo, onde a cena undergronud era mais ativa. A media de shows naquela epoca era bastante alta comparada a hoje. Bom essa lembrança que vocês fazem, fazendo reviver e relembrar as nossas vitorias que nunca vão ser tiradas de nos. Viva o undergronud sergipano. Em breve Fear of Time. Sandro Souza. Tchandala.

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