De vez em quando, mesmo em meio ao lixo que é a programação da TV brasileira, alguma coisa se salva. Foi o caso de ontem à noite, quando fui surpreendido por uma apresentação de Johnny Winter, velhinho e ainda detonando, no Programa do Jô. Vendo aquilo, me lembrei que estava marcado para o final de semana passado um evento histórico para os amantes do rock em Brasília: Um festival reunindo o velho bluesman albino do Texas, em turnê pela primeira vez no Brasil, ao Napalm Death e ao Suffocation, duas verdadeiras instituições da musica extrema mundial. Tudo isso e mais um monte de bandas locais de rock e de musica folclórica. O preço do pacote ? Dois quilos de alimento ! Dá pra acreditar numa coisa dessas ? Pois acredite, aconteceu. Abaixo, uma geral no que encontrei hoje pela net sobre o assunto.
A.
---------------------------------------------------------------------
FERROCK 25 ANOS - Quem foi, viu!
Viu e presenciou um dos melhores festivais de rock do Distrito Federal. Este final de semana, dias 15 e 16 de maio, ficou marcado na história da Ceilândia. Gente de todo DF e diversos estados do Brasil vieram bater cabeça por aqui. Muita diversão, nenhuma confusão. Vida longa ao Rock´n Roll!
Está certo que muitos duvidavam do que estava sendo prometido. Agendas culturais de alguns meios de comunicação da cidade se negaram a divulgar o Ferrock por não acreditar que atrações como Johnny Winter, Suffocation e Napalm Death participariam de um festival na Ceilândia, um festival gratuito que cobrava apenas 2 kgs de alimento. A produção do Ferrock demonstrou mais uma vez que a cultura manifestada pelos amantes do rock está acima de qualquer outro tipo de valor, sobretudo o financeiro. Produziram o melhor festival de rock que Brasília já viu, não cobraram nada, em dinheiro, por isso e ainda ajudaram instituições carentes com os alimentos que arrecadaram. Vida londa ao Rock´n Roll!
Agora, nos resta parabenizar o Centro Cultural Ferrock, representado por Ari de Barros, entre outros, que foram corajosos ao levar um pouco de Cultura Popular para o meio de um bando de roqueiros. Pois quem foi viu milhares de roqueiros respeitarem, rirem e aplaudirem muito os emboladores de coco, grupos de catira e cacuriá. Vida longa ao Rock´n Roll!
Esta edição do Ferrock iniciou suas manifestações aonde tudo começou. No dia 1º de maio, a festa se iniciou na QNP 13, com diversas atrações, na praça que agora, oficialmente, se chama praça Ferrock. Vida longa ao Rock´n Roll!
-------------------------------------------------------------------------------------
COBERTURA DO FESTIVAL PELO SITE http://www.yeahnoroeste.com.br/
Diário de Bordo - Como é de praxe, este diário começa no dia anterior. Ainda antes disso, na tarde de sexta feira fiquei preocupado quanto nossa ida ao Ferrock. Algumas pessoas desistiram de ir, o que nos faria pagar um pouco mais pra chegar ao destino esperado, mas horas depois conseguimos o número suficiente. No sábado me surpreendi com algumas pessoas berrando embaixo da minha casa me chamando pra ir a um córrego a uns 2 km da cidade, mesmo sabendo que estaria morto na noite e provavelmente na manhã de domingo, data em que sairíamos pra chegar a capital federal.
Fomos a pé. Comida queimada com leve tempero de bom ar a parte, nos deslocamos de volta a cidade por volta das 17:00 hrs, a pé, é claro, mesmo que tivéssemos um carro, o lugar era de difícil acesso pra qualquer veículo com mais de duas rodas. Chegando em casa “morto”, fiz uma breve janta do tamanho de uma montanha e segui para o QG onde encontraria o restante das pessoas que pagariam por seus lugares. Chegando lá vi que algumas delas estavam a fim de estender a noite, passando por um bar bastante freqüentado por nós depois do fechamento de um outro, mas um tanto longe para meus pés cansados.
Mesmo com essa adversidade resolvi seguir com eles, mesmo sabendo que estaria “morto” na manhã seguinte, a não ser que... tinha tudo planejado, chegar as 5:00 e dormir ate as 9:00, hora que teoricamente sairíamos daqui. Como também é de praxe as coisas não saíram bem como o planejado. Um amigo, um tanto... Lisérgico eu diria, acabou colando no bar enquanto jogávamos sinuca e bebíamos algumas doses de ypioca com soda. Como pessoas assim geralmente não dormem ate o fim do processo, acabamos ficando por lá mesmo e depois para o QG. Alguns palheiros vistos e inúmeros vídeos mostrados depois, vi em meu relógio que passavam das 5:30 da manha. Como vocês podem notar, planejamento zero.
Visivelmente cansado, me joguei no colchão e deixei que os outros seguissem vendo os milhares de vídeos de bandas podres, eletrônicas, psicodélicas e a fins que rolavam no youtube, parece que nossos convidados tinham gostos bem diversos. A dor de cabeça provocada pelas sei lá quantas doses de ypioca com soda insistiam em não me deixar dormir e enquanto isso o dia amanhecia. Quanto finalmente deu a hora de levantar (se é que de fato me deitei) achei que uma ducha fria poderia melhorar os ânimos, o que na verdade foi bastante torturante.
Os passageiros do itinerário 666 com destino ao Ferrock começavam a chegar, alguns mais entusiasmados, outros nem tanto, talvez por estarem de ressaca, outros não sabiam muito bem o que fariam ali, mas apesar disso, há sempre uma coisa que fala mais alto, (e se fala) a música. Descemos para esperar nosso transporte. Alguns de ressaca, outros com aquela disposição dominical. Na noite de sexta eu havia enrolado alguns (uns quinze) de meus palheiros para degustar durante os shows e apresentações, um trabalho artesanal de algumas horas, mas que valeu a pena. Só não contava com a caretice de nosso amigo motorista, já que depois do trabalho que tive pra acender o dito-cujo com todos os vidros abertos, fui advertido a fumar do lado de fora. Parando no posto próximo à Brasília foi exatamente o que fiz, acendi um palheiro e fui logo em busca de um lanche. Nada como um pastel de carne moída e um refrigerante e uma lata de cerveja logo de manhã para repor as energias.
Seguimos em busca da praça de administração da Ceilândia, local onde estavam marcados os shows daquele domingo. O festival também aconteceu no sábado, mas não pudemos estar presentes. Logo encontraríamos amigos que relatariam aquele primeiro dia para que pudéssemos levar um pouco da cobertura também do dia anterior. Algumas dúvidas de como chegar logo esclarecidas depois, finalmente desembarcamos. Eu já me sentia um tanto quanto apertado, era o número um chamando. Feitas as necessidades, encontrei um dos colaboradores do Yeah! Noroeste, que me falara um pouco sobre a noite de sábado. A principal atração foi o veterano Jhonny Winter, que faz uma mistura bem legal de blues, folk e rock ‘n’ roll. A lendária banda de metal Anthares havia se apresentado também, e, além disso, assinado a capa do vinil (No Limite da Força) de um outro colaborador.
Só depois notei que havíamos chegado muito cedo, de fato andamos zunindo na estrada, mas não pensei que motora estive tão a fim de chegar como estaria tão a fim de sair mais tarde, quando o encontraríamos saindo do festival. Procuramos um restaurante qualquer pra forrar o bucho e voltamos pra praça pra comer lá mesmo, só pra constar, a carne parecia estar viva dentro da marmita e com uma leve textura borrachuda, nem os cachorros a quiseram.
Como é de praxe também, quando se come se dá sono e fomos tentar fazer uma “siesta” antes de dar a hora de entrar. Alguns bem sucedidos na missão e outros não, nos deslocamos para a entrada, enquanto a banda de raw punk, The Insult, que chegara a pouco passava o som ali dentro, essa foi a banda que abriu os shows da tarde. As pessoas finalmente foram liberadas, peguei meus dois quilos de feijão (feijão mesmo, o que se come) e segui entusiasmado para o portão de entrada. Baculejo dado como é de costume, revista na mochila e nos bolsos, e vamos embora. Logo depois da apresentação da The Insult, um grupo do folclore maranhense fez a sua. Um cara cantando e batendo como em um tambor e garotas e garotos dançando ao ritmo, atração interessante, assim como o grupo de repentistas que se apresentou um pouco mais tarde e acabou fazendo todo mundo cair na gargalhada.
Rolaram outras bandas, a Seconds of Noise foi prejudicada pelo som de um dos palcos, acho que foi o Ceilândia Norte, no Ceilândia Sul tudo corria bem até então. Os caras acabaram tocando pouco, e como o tempo é curto, ate mesmo para uma banda que faz segundos de barulho, outra já entrou logo depois. Podrera ocupou o posto mandando seu hardcore/crossover aos adeptos do estilo. Gostei bastante da banda Rotten Purity, um power trio que, apesar, de também terem sidos prejudicados pelo som do palco onde se apresentara Seconds Of Noise, fazem um Thrash/Death de responsa.
A Death Slam viria logo depois, sempre fazendo um excelente show, como aqui, na 1ª edição do Noisé Underground. Não me canso de ver o shows dos caras, a pegada bruta de sempre aliada as letras ácidas. Assim como no Noisé, rachei (literalmente) com “Foda-se a música gospel.” “Futuro de Merda” e “Underground Ways”. Achei até que aquele momento até merecia mais um palheiro. Era chegada a hora de Suffocation, nossa primeira principal razão (não necessariamente nessa ordem) de estar onde estávamos mesmo com todo o cansaço acumulado. Acho que foi isso que me derrubou, além é claro da enrolação na passagem de som, esperar sentado cansa menos. Uma hora depois e parecia que músicos e apoio técnico não se entendiam. Quando o show finalmente começou, pude sair do chão, onde me encontrava há algum tempo, desde o final da apresentação dos repentistas Roque e Dona Teresinha, uma senhora “boca suja”, mas bastante divertida e irreverente. Só tenho uma coisa a dizer: FOI FODA! A banda comandada por Frank Mullen provou porque é um dos maiores nomes do estilo na atualidade, brutal death metal de qualidade, bateria rapidíssima, assim como os riffs que saíam das guitarras de Hobbs e Marchais.
Pouco mais de uma hora de show depois e o cansaço viria mais forte. Já não sentia mais os dedos dos pés que pareciam ter sido esmagados por um trator. Sentei para descansar, já que presumia que o atrito entre músicos e técnicos de apoio aconteceria também com a nossa segunda razão principal ((não necessariamente nessa ordem)) de estar ali na noite, a Napalm Death. Precursora do grindcore, estilo este muito apreciado por mim, a banda comandado por Mark Barney levou um apanhado de seus 14 álbuns, entre eps, cds e singles, meu destaque para “Scum”, pedido atendido pelas pessoas que ali gritavam, confesso que arrepio só de ouvir o início dessa música.
A banda sueca Nasum, que terminou após a morte do vocalista causada por uma tsunami, (que ouço enquanto escrevo esse texto) por exemplo, foi fortemente influenciada por eles. Cansado, com sede e depois de degustar em média uns 12 palheiros, fomos nos reunir aonde chegamos, local combinado para que o motora viesse nos buscar para que voltássemos para Unahell. Antes uma ida ao supermercado para comprar um cigarro e finalizar a noite. No entanto os atendentes pareciam tão cansados quanto nós.
Voltando ao estacionamento, foi feita a lista de chamada. Vimos que um dos tripulantes não se encontrava na van, foi quando um outro colaborador (é, temos vários) foi em busca deste, que chegaria logo depois, o famoso desencontro. Minha impressão final é que os shows foram em sua maioria fodas, alguns problemas com o som, como não poderia deixar de ser, mas o saldo final foi bastante positivo. Afinal, não custa nada ajudar as entidades carentes doando apenas dois quilos de alimento. Uma idéia para utilizarmos na segunda edição do Noisé Underground.
Praticamente de graça para assistir duas bandas tão cabulosas como Suffocation e Napalm Death. Espero que o próximo seja tão bom quanto. E acho que O Felipe CDC tem razão, dessa vez deveríamos mandar construir um busto, quiçá uma estatua do velho Ari na praça de administração da Ceilândia. Um abraço e até a próxima Gig, que desta vez, se tudo correr bem, será em Goiânia - GO. Será que alguém ae gosta de Vulcano?
Henrique Rodrigues
------------------------
DEATH SLAM
O Death Slam subiu ao palco e antes de começar a destruição o vocalista Felipe Cara de Cachorro deixou claro para os presentes a importância que seria para eles o show daquela noite. Segundo Felipe seria a oportunidade de mostrar para quem quisesse ver que existe um movimento Underground forte e articulado em Brasília e região.
O show começou e o que o público pode ver foi uma banda nacional com muitos anos de estrada e muita bala na agulha. Foi uma música atrás da outra, sem deixar tempo nem pra respirar.
Antes de tocar a última música Felipe falou sobre política e religião, expressando a sua repulsa por políticos que motivados pelo oportunismo se ligam a instituições religiosas a procura de votos. Fecharam a noite com o hino FODA-SE A MÚSICA GOSPEL.
Recado dado a banda deixou o palco e abriu espaço para as outras atrações. Um ponto baixo do show foi que logo após eles terem saído do palco subiu um “alguém” e agradeceu a presença do deputado “fulano de tal”. Acho que depois deste episodio poderíamos repensar o que foi dito pelo vocalista sobre oportunismo político no meio religioso e aplicar no meio Underground também.
FODA-SE A MÚSICA GOSPEL E FODA-SE QUALQUER TIPO DE MANIFESTAÇÃO POLÍTICA CONTRARIA AOS INTERESSES DA COLETIVIDADE!!
SUFFOCATION
O Suffocation iniciou sua apresentação no Ferrock depois de um longo atraso, causado pela necessidade de regular o equipamento de palco, o que gerou uma espera que aumentou ainda mais a ansiedade dos fãs. Deu pra notar claramente a preocupação dos músicos da banda para conseguir uma boa regulagem do equipamento antes de começar o show, o baterista Mike Smith sempre muito tranqüilo, teve tempo e cuidado suficiente pra organizar o equipamento que iria usar, auxiliado pelo baixista Derek Boyer que visivelmente parecia estressado com os técnicos de som que teoricamente estavam ali para contribuir com a apresentação da banda.
Depois de montar a bateria, testar os microfones inúmeras vezes e se certificarem de que toda a aparelhagem estava em condições de ser usada, Frank Mullen tomou o microfone e liderou a mais brutal e devastadora manifestação musical que eu já presenciei.
Deixando transparecer o contentamento de tocar em terras Brasileiras o Suffocation fez uma apresentação extremamente técnica e emocionante, onde demonstraram claramente o real motivo de estarem entre as melhores bandas que praticam o brutal death metal no mundo. Não faltou absolutamente nada na complexa e criativa massa sonora que é o som do Suffocation, vocal agressivo, bateria precisa com blast beats de tirar o fôlego, baixo e guitarras em completa sincronia. Destaco aqui o trabalho do genial guitarrista Terrance Hobbs que com muita simplicidade no palco executou com um virtuosismo impressionante as músicas da banda, deixando claro também o seu talento como compositor e personalidade criativa. Para os músicos mais atentos e admiradores do trabalho deste grande guitarrista, foi uma oportunidade para ver uma das mais brilhantes performances deste grande musico e desta banda que sem sombra de duvida escreveu seu nome da história da música extrema e nos 25 anos de Ferrock.
NAPALM DEATH
O que se poderia esperar de uma banda que tem mais de 25 anos de estrada, 14 discos gravados, uma infinidade de coletâneas, eps, single, dvds, e toda a gama de registros fonográficos possíveis, alem de já terem tocado em todos os cantos do mundo e dividido o palco com todos os nomes da música pesada?
Resposta simples, nada inferior a um pesadelo sonoro materializado na forma humanóide de Barney Greenway ( Vocal ), Shane Embury ( Baixo ), Mich Harris (Guitarra ), Danny Herrera ( Bateria ).
O Napalm subiu ao palco e fez jus as palavras do Felipe CDC quando os apresentou como sendo “a maior banda de grindcore do mundo”, para quem conseguiu ver o show parado ( Que não foi o meu caso! ) deve ter sido uma experiência boa ver uma banda com tanta energia em cima do palco, agora para quem não agüentou ficar um segundo imóvel e caiu pra dentro da mais brutal e sangrenta roda de pogo já registrada na região centro-oeste não teve tempo para ver nada, apenas se entregar ao efeito que certas ondas sonoras provocam no organismo quando utilizadas com o intuito de liberar toda a agressividade contida dentro de cada um de nos.
O ápice do show foi quando o público começou a gritar SCUM, SCUM, SCUM, pedindo a pedrada homônima do disco de estréia da banda, lançado nos anos 80. Atendendo ao pedido a banda começa a música e depois disso o que se viu foi o que se poderia chamar de uma confraternização com direito a moshs de quebrar costelas e muito bate cabeça.
É complicado tentar descrever alguma coisa sobre um show como o do Napalm Death e um evento como o Ferrock, o que fica na memória é apenas a certeza de que ainda existem pessoas neste mundo que realmente entregam suas vidas a tentar mudar a realidade, seja através de um show como fez o Death Slam, Suffocation, Napalm Death e todas as outras bandas que se apresentaram no meio da Ceilândia, ou com a coragem dos produtores em proporcionar ao público presente atrações de qualidade cobrando apenas 2kg de alimento não perecível.
Fica aqui a dica: “Change your life”
Messias Pereira
-----------------------------------------
Ferrock completa 25 anos e promove encontro do som pesado com a cultura popular. Johhny Winter e a banda Napalm Death são atrações
Para Ari de Barros, 53 anos, produtor do Ferrock, a música serve para oxigenar sua principal causa: a social. “É quando você pisa no esgoto, quando sente a poeira batendo no rosto, que você pensa em fazer alguma coisa para mudar a situação. Música a gente ouve em casa. Para o público pode até ser diferente, mas pra mim, o mais importante do Ferrock é o resultado social que a gente consegue com os eventos”, afirma Ari, que, entre outros feitos, conseguiu, com o festival, a construção de uma escola, a reestruturação de áreas originalmente usadas para depósito de lixo, asfalto e iluminação em pontos de Ceilândia, onde o Ferrock acontece desde 1986.
“Viramos uma espécie de ponte entre a comunidade e o governo”, constata Cleber Silva, 30 anos, também produtor do festival e membro do Centro Cultural Ferrock — que além de shows promove atividades em prol de Ceilândia. Em 2010, o festival será realizado em duas edições. Em outubro é a oficial. A deste fim de semana, na Praça da Administração de Ceilândia, celebra o cinquentenário de Brasília e tem como tema (todas as edições são temáticas) o encontro do rock com a cultura popular. Hardcore, cacuriá, metal, blues e embolada dividirão o mesmo palco.
Na escalação de hoje e amanhã estão bandas locais, nacionais e, pela primeira vez, internacionais. Hoje, o guitarrista Johnny Winter encerra a programação mostrando porque é uma lenda vida do blues elétrico. “Gostaria de manter a surpresa, mas o show terá muito blues misturado com rock. Músicas de quase todos os meus discos estarão no repertório”, adiantou o músico albino, 66 anos, em entrevista por e-mail.
Amanhã, as duas atrações mais aguardadas são a banda americana Suffocation e inglesa Napalm Death, nomes internacionalmente conhecidos como referências do death metal/ grindcore. “O Napalm é a mais importante banda desse segmento. Primeiro porque é uma das primeiras a fazer esse tipo de som, segundo, porque vem mantendo o estilo até hoje. Temos muita influência dela. Para nós é um sonho dividir o palco com a banda, os mestres da parada”, comenta Fábio Guedes, 33 anos, vocalista do quarteto Seconds of Noise.
Há alguns anos, o Napalm Death chegou a ser anunciado como atração do Ferrock. No entanto, quem negociou o show dos ingleses com o festival candango não era o responsável pela vinda deles ao Brasil. Resultado: a banda nem sequer pisou no DF. “A gente não tinha a grana para fazer o show deles este ano, mas o Ari me convenceu. Até para lavar a nossa honra. Porque sofremos muita pressão quando eles não vieram da outra vez”, conta Cleber Silva. “Fizemos uma verdadeira ginástica para viabilizar tudo”, completa Ari.
Sonhos para os próximos 25 anos de Ferrock? Ari tem vários: “Queremos continuar fazendo evento em prol da comunidade de Ceilândia. Quanto à música, gostaríamos muito de trazer o Black Sabbath com o Ozzy para tocar no festival”, revela o produtor
Correio Braziliense
15/05/2010
"Pessoal, são só dois quilos de alimento. Vamô entrar aí, galera", conclamou, ao microfone, o mestre de cerimônias, chamando os que preferiram ficar do lado de fora dos portões montados em frente à Administração Regional de Ceilândia. Era noite de sábado e o Ferrock entraria pela madrugada. O apelo pouco adiantou. A quantidade de gente do lado de dentro da arena não ultrapassou a casa das centenas. Teve quem enxergou alguma vantagem nisso. "Esperava que tivesse mais público. Mas não tem problema não. Mais vazio, menos problemas", calculava o professor Fábio Braynee, 35 anos, que compareceu ao show para ver, principalmente, duas performances: a de Johnny Winter e o da banda paulista de trash metal Anthares. "Bem, é claro que não será como no auge. Mas espero que Johnny Winter tenha muita qualidade musical", conformava-se Braynee sobre a performance do rockeiro texano.
Nascido John Dawson Winter III no Texas, Johnny Winter lançou o primeiro álbum ainda na adolescência, ao lado do irmão Edgar Winter, que, assim como ele, nasceu albino. A turnê de lançamento do álbum I'm a bluesman trouxe pela primeira vez para o Brasil um dos nomes mais conhecidos do gênero nos Estados Unidos, incluído no hall da fama do blues, em 1986. Cumprindo trajeto de carro de Goiânia para Brasília, Johnny, 66 anos, precisou ser amparado pela equipe até ocupar seu lugar no palco. O veterano passou a performance inteira sentado numa cadeira. A voz queimada do blueseiro ressente de vigor, mas as mãos de guitarrista deslizavam precisas pelas cordas do instrumento nos acordes de Miss Ann, I'm tore down, All over now, She likes to boogie real e Good morning, litle school girl.
Ele e os músicos Scott Spray (baixo), Paul Nelson (guitarra) e Vito Liuzzi (bateria) não planejaram o set list do show com duração de uma hora. O repertório de canções era decidido em segundos, por meio de cochichos trocados entre os artistas. Numa edição comemorativa dos 25 anos do Ferrock, em que predominou um público abaixo dos 20 anos, Winter levantou "as arquibancadas" ao mostrar virtuosismo nos longos solos de Red house e Black Jack, mas ignorava os pedidos da plateia para executar Still alive and well e Medicine man. O servidor público Hido Brasil, 52 anos, não se importou nem um pouquinho. "Qualquer coisa que ele toque, é legal", afirmou. Após a apresentação, Winter e sua trupe entraram direto na van que os levaria para o hotel e depois rumo a Belo Horizonte, onde fará continuação da turnê.
Ecos do Ferrock - Pela primeira vez, a edição comemorativa de um quarto de século do festival de rock mais antigo do Distrito Federal teve encerramento de grupos internacionais: como o bluesman Johnny Winter e os ingleses do Napalm Death. Mas nada disso importa para o organizador Ari Barros. Apesar dos altos decibéis alcançados pelo barulho das guitarras em todos esses anos de festival, o que o organizador gosta de enumerar mesmo são os sucessos de uma revolução silenciosa operada na satélite mais populosa do DF, como construção de uma escola, remoção de um aterro sanitário e o projeto cultural Meio dia em ponto, entre outras ações conseguidas pela ONG.
É difícil, aliás, conversar com Ari Barros sem que o diálogo não enverede para o lado social. O presidente da Associação Cultural Ferrock não perde tempo calculando a importância dentro do calendário rockeiro nacional do festival - criado por ele há 25 anos. "Eu, Ari, não sei responder essa pergunta. Nunca pensei sobre isso", resume. Ao traçar o retrospecto do evento surgido por geração espontânea, Barros recorda o começo quando "trazia os bolachões debaixo do braço para serem executados em aparelhos de som do tipo 3 em 1 na casa de amigos do P Norte".
A brincadeira foi levada para as ruas de lazer da vizinhança e, posteriormente, ganhou o acréscimo de apresentações ao vivo. Foi finalmente batizada de Fé revolução rock (Ferrock). E oficializada para acontecer em 12 de outubro, em homenagem às crianças. "Ainda era a época do regime militar. Então, quando encaminhávamos ofícios para os governantes trocávamos a palavra revolução por recreação", relembra Barros.
"Ouso dizer que o Ferrock inspirou festivais até mesmo como o Porão do Rock. Mas, como é de Ceilândia, nunca foi reconhecido assim", opinou Tomaz André da Rocha, 40 anos, editor da revista especializada em rock Zine Oficial. O secretário Antônio Brito tem 60 anos, 40 dedicados a apreciar rock and roll. Ele já perdeu as contas de quantas edições do Ferrock já compareceu. "Gosto de tudo. O clima é bom. É um evento familiar. Acho somente que poderia existir mais integração entre as cidades", afirma o fã sobre o escasso comparecimento de público deste ano (apenas 500 pessoas, segundo cálculo da Polícia Militar).
Liquidificador de culturas - Nesta edição, o Ferrock promoveu o encontro do rock and roll com a cultura popular com representantes de manifestações populares como catira, dança folclórica e emboladores de coco. Capitão da Folia de Reis e da catira dos Irmãos Vieira, José Núcias já está escolado nesse tipo de mistura. "Acho que é a terceira vez que me apresento em eventos dessa qualidade. Teve no Céu Azul que teve até funk. A cultura é uma coisa muito bonita. Ela tem o poder de juntar estilos diferentes e todo mundo gosta porque é cultura", resume Núcias. Ari Barros defendeu a iniciativa com unhas e dentes. "Nós temos de ter esse tipo de ousadia. Do mesmo jeito que nós não deixamos o rock morrer, eles não deixam a verdadeira cultura popular brasileira desaparecer. Os governantes deveriam levar esses representantes para dentro dos teatros", conclama Barros.
Correio Braziliense
17/05/2010
-------------------------------------------------------------------------------------
( Virgula, 16/05/2010 ) A madrugada deste domingo (16) foi inesquecível para quem estava na promissora casa noturna Espaço Victory, para ver o festival Kool Metal Fest deste ano. Saindo do metrô Penha, já era possível avistar os fãs se preparando para uma aula de barulheira. Com uma surpreendente casa cheia, mesmo com o dia de Virada Cultural, o público, em êxtase, aguardava com ansiosidade a entrada da primeira atração internacional da noite, o Suffocation.
Formado em 1989, o grupo de Nova York deu uma aula de death metal clássico nos palcos. Frank Mullen é um frontman e tanto. Enquanto soltava pedradas como Blood Oath, Thrones Of Blood e Breeding the Spawn, o cara esbanjava simpatia e se comunicava toda hora com o público. Vale também a atuação do resto do grupo, incluindo aí o ótimo guitarrista Terrance Hobbs e o impressionante baterista Mike Smith, que esbanjava técnica e calma mesmo com a brutalidade do som. No fim do show, saíram ovacionados pelo público.
Alguns instantes depois, o segundo cataclisma aconteceu. O Napalm Death já entrou com todo o gás no palco. Mark “Barney” Greenway parecia estar possuído no show, não parando um instante se quer. Com bordoadas como Scum, Life?, When All is Said And Done e Suffer the Children, o Napalm Death prova que é uma dos grupos mais brutais do grindcore. Barney conversava com o público e passava os seus ideias políticos a insandecida platéia. Sem deixar a peteca cair, o quarteto, que também traz Shane Embury (baixo), Mitch Harris (guitarra) e Danny Herrera (bateria), fez a noite dos participantes do Kool Metal Fest mais feliz.
Segundo informações, as bandas de abertura também deram um show a parte na noite. Violator, D.E.R. e Western Day, já velhos conhecidos da cena nacional, foram ovacionados como verdadeiros “grandes” da cena.
Uma reclamação: o som estava bem embolado para quem estava no fundo. Era quase impossível ouvir o som do Suffocation e do Napalm Death para quem estava lá. Uma pena, já que o espetáculo poderia ter sido 100%.
Setlist do Napalm Death:
1. Strong-Arm
2. Unchallenged Hate
3. Suffer the Children
4. Silence is Deafening
5. Life and Limb
6. Diktat
7. When All is Said And Done
8. It’s a M.A.N.S. World!
9. From Enslavement to Obliteration
10. On the Brink of Extinction
11. Scum.
12. Life?
13. The Kill
14. Deceiver
15. You Suffer
16. Mass Appeal Madness
17. Nazi Punks Fuck Off (Dead Kennedys cover)
18. Persona Non Grata
19. Smear Campaign
20. Time Waits for No Slave
21. Siege of Power
-------------------------------------------------------------
Christopher Porter, do Washington Post Express, entrevistou recentemente o vocalista Mark “Barney” Greenway, da banda pioneira do grindcore britânico NAPALM DEATH.
Whiplash, 04/06/09
Washington Post Express: Você gostaria que mais bandas de metal extremo cantassem sobre políticas do mundo real ao invés de, digamos, dragões ou Satã?
Greenway: "Eu não quero aqui ficar discutindo o que outras bandas fazem porque isso é da conta delas. Há sempre o perigo dentro da música pesada em geral de pessoas às vezes desprezarem outras bandas porque elas fazem isso ou aquilo mas, francamente, não tenho nenhuma opinião sobre elas a esse respeito. Vamos deixá-las fazerem o que quiserem – e serem mais autônomas. No meu caso, eu tenho que fazer aquilo que eu preciso fazer. Acho que as letras são, de muitas formas, uma extensão minha. A única coisa que posso dizer é que, obviamente, quando alguém escreve sobre temas fantásticos – dragões e coisas desse tipo – isso não representa uma extensão da pessoa e sim um trabalho sobre temas que já se tornaram muitas vezes banais. Mais uma vez digo que a escolha é deles e não quero julgá-los. Mas eu apenas sinto a necessidade de fazer coisas de uma certa maneira e de estar bastante envolvido com o que faço. Não quero soar pretensioso, mas gosto de estar conectado com a minha arte".
Washington Post Express: Você se surpreende com o fato do NAPALM ter durado tanto e permanecido tão influente e enusiasmado?
Greenway: "Acho que é importante dizer, de minha perspectiva, que eu não associo idade a coisas. Não gosto de discutir preconceitos, mas a discriminação etária é o grande problema que nem sempre é discutido. Nós sempre discutimos – o que é certo – sexismo, racismo e coisas desse tipo, mas a discriminação etária é algo que tende a ser varrido pra baixo do tapete. Acho que esse tipo de preconceito é injusto de muitas maneiras. Todos nós o cometemos; todos nós temos a tendência de pensar que, por sermos mais velhos, isso ou aquilo pode ser diferente. Sim, de certa forma, se você tem opiniões mais refinadas então você tem muito mais experiência, mas eu não acho que devemos necessariamente ligar a criatividade – ou a falta dela – à idade. Eu não acho que deva haver algum tipo de discriminação neste caso, realmente não. As pessoas podem discordar mas, para ser honesto, as coisas que estou fazendo agora com a banda, como tocar ao vivo, eu poderia facilmente ter feito quando eu tinha 21 anos de idade. A minha abordagem não é diferente; minhas influências não são nem um pouco diferentes de quando eu tinha 19 anos e entrei no NAPALM. Eu sempre tive dificuldade em entender por que as pessoas associam idade a criatividade ou realização pessoal no contexto de uma banda... Se os [críticos] vissem a banda antes de ouvi-la... e não soubessem muita coisa sobre a banda, acho que estariam mais inclinados a ter uma opinião negativa. Se eles vissem a banda, diriam ‘Caramba, eles têm uns 40 ou 50 anos, o que é que eles têm a oferecer?’"
Washington Post Express: Mas você já consegue imaginar o NAPALM parando?
Greenway: "Eu não colocaria um prazo, em parte pelo que acabamos de discutir. Essa é uma questão que aparece com freqüência. As circunstâncias é que vão decidir. Todos na banda gostariam de pensar que, se pararmos, será porque decidimos fazer isso, que não há forças externas ou pessoas que nos forçaram a fazer isso. Ou que não há nenhuma pressão direta da indústria musical. Para mim, isso vai acontecer se minha criatividade acabar e se os shows passarem a ser uma tarefa entediante – apenas em termos de, bem, você não ficaria realmente entediado – é uma coisa natural, acontece. Quando chegar nesse ponto, eu simplesmente caio fora; eu não faço nada pela metade. Não seria algo agradável fazer as coisas por fazer, simplesmente. E, é claro, há as circunstâncias pessoais. A família do Mitch Harris [guitarrista] está crescendo; sua esposa acabou de ter mais um bebê. Cada pessoa cuida da própria vida mas, quando a família começa a aumentar assim, quem sabe por quanto tempo Mitch vai querer continuar? No meu caso, não tenho nenhuma circunstância que me impediria de continuar. A minha relação é de longa distância, o que pode ser bem difícil mas, até agora, é o que tem funcionado".
Washington Post Express: Mas se o NAPALM realmente parar, existiria a possibilidade de você se candidatar a algum cargo público?
Greenway: "Não pensei sobre isso ainda... A política em geral fede cara, fede mesmo. As estruturas de poder me atormentam. Não quero me alongar muito nisso porque ficaríamos discutindo uma eternidade, mas acho que as estruturas de poder que existem no momento dão às pessoas no poder mais direitos do que você ou eu temos, e como é que isso pode estar certo? Os sistemas evoluem e mudam e talvez seja verdade o fato de que o sistema mundial realmente precisa mudar para que as pessoas na base da pirâmide agora passem a ter mais direitos, porque isso não está acontecendo, mas precisa acontecer no futuro se quisermos manter um mundo pacífico e tolerante. Então, nesse sentido, o NAPALM é — provavelmente vou criar polêmica agora — ou não é realmente uma banda política no final das contas? Eu não sei. Eu a vejo como uma extensão das coisas nas quais eu acredito e a banda defende o humanitarismo, a paz e a tolerância. Isso é política? Talvez seja, talvez não, eu não sei. Mas eu ainda estarei envolvido [em questões sociais] se a banda parar? Bem, sim, porque eu era assim antes de me juntar à banda. Eu não joguei uma moeda num certo dia e decidi que era assim que eu iria agir; para ser honesto, eu era assim desde os 6 ou 7 anos. Meu pai esteve envolvido com sindicatos e eu entendo o que acredito ser injustiça. Portanto, eu sempre estarei envolvido com algo, porque não consigo me ver trabalhando para alguém num terno, ganhando dinheiro pra eles e ficando de saco cheio [risos]".
-------------------------------------------------------------------------------------
O vocalista Mark "Barney" Greenway, dos pioneiros ingleses do grindcore, NAPALM DEATH, recentemente conversou com Toby Cook, do site The Quietus, e dentre outras coisas, ele falou sobre sua relação com o que chama de "soft rock":
Greenway: "Sim, eu gosto de soft rock. Eu não faço segredo sobre isso e não é uma coisa que eu faça escondido; se alguém me pergunta, eu respondo. Não é um assunto corriqueiro nas minhas conversas porque na maior parte do tempo a minha esfera de influência, e o que eu gosto, é tão barulhento quanto possível. Mas no fundo eu sou um fã de música. Eu gosto de todo tipo de coisas. Na minha juventude eu talvez fosse um pouco mais cabeça fechada, mas com o passar do tempo eu passei a apreciar coisas diferentes - eu gosto até de ambient music e de vários tipos de músicas até mais suaves do que soft rock. Se você pergunta pra qualquer um por aí que se diz fã de música, eu não acho que essa pessoa não vai dizer que gosta só de uma coisa o tempo todo. A exceção é quando você é mais novo - daí tudo é mais do tipo: 'não, isso é uma merda', ou 'sim, isso é maravilhoso!'"
"O soft rock engloba um espectro amplo de artistas. Eu acho que dá pra dizer que RADIOHEAD e MUSE são soft rock. Eu gosto muito do MUSE, e muito do material deles é soft rock, quer dizer, do que mais você vai chamar aquilo? Eu sei que dá pra dividir as coisas em sub-gêneros, mas boa parte do material é verdadeiramente intenso, melodicamente falando, e há um espectro muito grande, enorme, do que é soft rock, e no final tudo depende da definição e da percepção. É por isso que eu sempre odiei rotular as coisas - eu odeio ficar separando as coisas em subestilos porque eu acho isso uma coisa sem propósito. Depois de algum tempo isso se torna algo totalmente sem sentido. Por exemplo, eu sempre entro em debates com outras pessoas sobre o que é o grindcore, o que é isso, o que é aquilo, e quer saber? É algo totalmente irrelevante. Quando eu vou gravar um álbum, eu quero que ele soe como NAPALM - que seja descompromissado, espontâneo e único, de uma forma que tudo o mais seja insignificante em comparação, realmente".
The Quietus
03/02/09
-------------------------------------------------------------------------------------
Wormwood Chronicles: Fale-me sobre "Smear Campaign". Sei que a religião é parte importante do tema desse álbum.
Barney: “Sim, em termos gerais, o álbum fala sobre adotar as idéias do ateísmo e reconhecer o fato de que a religião não serve pra nada em nossas vidas. Você pode ter fé... se as pessoas têm fé como algo pessoal, tudo bem, não tenho objeções quanto a isso, mas não concordo quando isso passa a controlar a vida das pessoas. O que quero dizer é que isso pode chegar a controlar coisas como moralidade, que é uma idéia falsa. Moralidade é algo que foi inventado por vários grupos religiosos e seitas na Idade Média. A moralidade pode controlar as pessoas porque as leva a acreditar que não podem se comportar de certas maneiras. Isso é um conceito totalmente falso porque assume que aquela pessoa sentada no pedestal tem um ponto de vista negativo sobre aquela outra pessoa que está fazendo algo que a ofende... então naturalmente a outra pessoa tem que estar errada. Bem, mas quando você pensa sobre isso percebe que é uma besteira, entende o que eu digo? Então a idéia é rejeitar essa coisa de moralidade também. Se você me comparar... que sou alguém totalmente contra a religião... com alguém que é religioso, você pode dizer que minha vida é diferente da dele porque ele adotou alguma fé? Não, não é. Na verdade, a minha vida é mais completa, porque eu posso fazer mais coisas e eu não me imponho restrições. Eu faço coisas que algumas pessoas de fé considerariam ‘tabu’ e não tenho nenhum tabu. Bem, é claro que não vou sair por aí esfaqueando pessoas, porque isso é algo que eu não faria nunca, entende... de um ponto de vista moral, para mim, é errado fazer isso. Então basicamente quisemos falar sobre esses assuntos e também levar a discussão para uma escala maior, desafiando as pessoas a deixar de lado a religião e entender que isso não importa. Por exemplo, veja os problemas no Oriente Médio. O que eu diria para aquelas pessoas já que, obviamente, não posso estar no meio delas é que parem essa briga estúpida motivada pela religião. Se Israel parar de anexar a Palestina, isso evitaria que grupos palestinos matassem israelenses e as pessoas poderiam viver lado a lado. Porra, é só tentar, entende o que quero dizer? (risos)”.
Wormwood Chronicles: Sabe, Barney... Isto é mais uma observação minha do que uma pergunta, mas eu notei que a religião também pode ser relacionada a outros assuntos que você já mencionou em suas letras ao longo dos anos, como guerras, ganância e corrupção. É realmente triste ver que todos esses problemas ainda aumentam diariamente.
Barney: “É claro que sim. Bem, há um problema aqui nos EUA com essas igrejas, congregações e coisas do tipo. Essas pessoas não pagam impostos e conseguem acumular grandes fortunas pessoais através das ações de suas igrejas. Estamos falando de outras pessoas que vão às suas congregações e que vivem praticamente na miséria, entende o que quero dizer? Elas não conseguem pagar planos de saúde, o que é outro problema, mas, apesar disso, temos esses pastores e religiosos do caralho que possuem imensas fortunas pessoais e que não contribuem para o bem estar das pessoas e do país. As organizações religiosas que possuem fontes de renda devem pagar impostos, isso é importante. (risos)”.
Wormwood Chronicles: Que tipo de atitude você adotou quando gravou o álbum? Toda essa negatividade que pode vir da religião aumentou a raiva em você?
Barney: “Bem, você está sempre... não quero usar um clichê, mas você sempre está com raiva de alguma coisa porque, obviamente, isso é o que motiva suas ações. A raiva é uma coisa, mas direcioná-la para algo que não é genérico... isso é difícil. Quando eu escrevo pro NAPALM, eu gosto de fazer observações, escrever títulos e letras que espero que não sejam genéricos. Por exemplo, ‘The Code Is Red...Long Live The Code’. Um título como esse seria usado alguma vez por alguma outra banda? Provavelmente não...”
Wormwood Chronicles: MEGADETH! ...
Barney: “Isso mesmo! Bem, por exemplo, você pode colocar num álbum o titulo ‘World In Pain’. Isso é genérico? Isso é totalmente genérico! Então o que eu tento fazer é criar títulos de álbuns e músicas que não sejam genéricos e que sejam criativos, mas que ainda assim sejam fáceis para as pessoas entenderem. Isso porque é importante que as pessoas consigam interpretar as coisas que faço. Não estou dizendo que elas devem pensar da mesma maneira que eu, mas espero pelo menos dar a elas uma idéia para que possam tirar suas próprias conclusões, entende?”
Wormwood Chronicles: Já falamos sobre todas essas coisas negativas causadas pela religião... vamos então olhar sob uma outra perspectiva. Você mencionou fé... Sei que as pessoas também usam a religião como forma de conseguir esperança e força. Minha pergunta é... Você acha que algo de bom pode vir da religião?
Barney: “Bem, como eu disse no início, não tenho objeções quanto à fé pessoal mas, o que eu diria a essas pessoas é o seguinte: Como seria a sua vida sem fé? Como seria se alguém como eu adotasse alguma fé agora e, subitamente, visse a luz? Isso é algo que eu não faria neste ponto porque conheço o suficiente sobre a ciência e sobre a ordem natural das coisas para saber que Deus é uma grande mentira. Por isso eu não adotarei fé alguma mas, supondo que eu fizesse isso... Alguém pode me dizer que minha vida será de alguma forma diferente do que é agora? Não pode, e ponto final. Tudo o que poderia ser é... Ok, pode ser que eu me sinta um pouco melhor, mas eu posso conseguir isso sem fé. O que quero dizer é o seguinte: Na verdade, as pessoas de fé, mesmo aquelas que têm apenas a sua fé pessoal... o que elas tentam fazer às vezes é sugerir que as pessoas sem fé são infelizes consigo mesmas. Quanta bobagem! Chega um período na sua vida no qual você começa a entender as coisas... e eu consegui, apesar de ter demorado um pouco. Acho que todo mundo chega nesse ponto depois que cresce e fica velho. Mas depois que você chega nesse período de entendimento e percebe que pode ser feliz... e quando eu digo isso, não quero dizer de uma maneira hedonista ou fazer isso à custa dos outros. O que quero é viver uma vida que me faça feliz, fazer coisas que me deixem feliz, e só... e ponto final. Quando você chega nesse ponto, você não precisa de fé... não precisa mesmo”.
Wormwood Chronicles
29/08/08
------------------------
Sobre religião: “Todos podem chegar à conclusão de que o mundo é fundamentalmente governado por princípios religiosos estabelecidos pela religião muito tempo atrás, mesmo que não percebamos isso. Na prática, isso gira em torno dos ‘justos’, que são os que dão as cartas. Penso que, do jeito que as coisas vão, as pessoas vão acabar percebendo que isso não funciona. Ela não encoraja a paz e sim a discórdia e a intolerância. É claro que ela não serve pra nada. Precisamos encontrar uma outra maneira de evoluir, isso é o que importa. Isso vale pra qualquer religião – antiga ou nova. Não servem pra nada”.
“Nós, como seres humanos, somos incríveis, mas estamos sendo forçados a não acreditarmos em nós mesmos, e sim em outras entidades para justificar a nossa existência. Somos perfeitamente capazes de fazer nossas próprias escolhas”.
“Essa é uma questão antiga. As guerras no Oriente Médio são eventos cruciais, é claro, mas há pessoas que não podem se expressar em muitos lugares devido à religião. As pessoas precisam sempre estar justificando a sua existência. Por exemplo, casais do mesmo sexo deveriam poder fazer o que bem entendem, que é o direito deles como seres humanos, mas isso é algo sobre o qual não têm controle absoluto. Porque os seres humanos não podem agir como simples seres humanos?”
Sobre o fato do ódio e a frustração serem a força motriz da música do NAPALM:
“Na verdade, eu não odeio ninguém. Se você é motivado por isso, você está apenas fazendo o jogo dos outros. Talvez eu tenha alguma frustração – às vezes temos momentos difíceis, todo mundo fica zangado – mas você precisa saber como canalizar essa raiva”.
“Sempre dizem algo relacionado a isso – que as pessoas vão a shows para extravasar suas frustrações. Mas dizem que elas fazem isso para descontar suas frustrações nas outras pessoas, mas essa não é a questão. A questão é divertir-se entre os outros e não criar mais agressão... Os jovens vêm aos shows... O que quero dizer é: faça o que quiser, não quero ser um policial na cola de ninguém, faça o que quiser. Mas por que sair por aí e atacar as pessoas sem motivo? Nos ‘moshpits’ podem ocorrer acidentes, mas isso não é a mesma coisa que atacar pessoas sem motivo”.
“Eu não tenho ódio, na verdade. Há muitas coisas no mundo que não entendo, para as quais não vejo razão alguma. Mas eu realmente odeio alguém? Eu acho que não, porque ódio é algo muito negativo. Isso poder ser ‘ok’ para algumas pessoas, mas eu não penso mais assim. Quando vejo certos indivíduos em posições de poder, eu penso ‘Que diabo eles estão fazendo lá, como permitem que eles façam isso’, mas ódio é algo bem diferente”.
Sobre as reações das pessoas, através dos anos, que não ouvem esse tipo de música:
“Algumas pessoas, é claro, não entendem nem um pouco, alguns odeiam e, é claro, alguns que não concordam conosco tentaram nos influenciar algumas vezes. Tivemos alguns problemas em Oslo [Noruega] muitos anos atrás, quando tudo aquilo relacionado ao ‘Inner Circle’ [Black Metal] ainda estava acontecendo. Eles tentaram nos atacar, mas não tenho medo deles. Posso parecer um pouco ingênuo, mas não tenho medo de ninguém. Eles podem fazer o que quiserem comigo, eles podem provavelmente acabar comigo, é claro, mas isso não me deixa intimidado ou com medo... Tudo isso é insignificante para mim. As pessoas tentam nos assustar. Uma das coisas mais importantes para ganhar poder é colocar medo em alguém, mas eu não tenho medo. Eu não diria as coisas que digo se tivesse medo das reações de algumas pessoas... Se alguém me atacar eu vou me defender, não me entenda mal, mas eu nunca vou sair por aí para atacar alguém. Não tenho interesse nisso. Já existe muita violência, não quero aumentá-la ainda mais”.
Sobre espiritualidade e religião serem a mesma coisa:
“Espiritualidade é algo no qual não tenho interesse algum, porque espiritualidade é outra maneira de fazer você parar de confiar em si mesmo e colocar essa confiança em outra entidade qualquer. Mais uma vez, eu não vejo nenhum problema no fato das pessoas seguirem religiões ou fazer o que bem entenderem mas, em termos da raça humana e da civilização em geral – por que elas têm que controlar o mundo? Vamos dizer a verdade – a maior parte das pessoas não dá a mínima. Elas dizem que sim, mas não dão. Uma pequena porcentagem de pessoas vive de acordo com as ‘Escrituras’, quaisquer que sejam, mas muito poucos. De qualquer maneira, a religião está tirando o poder das pessoas. Quando você não confia em si mesmo, você tende a ter menos afinidade com as pessoas que te rodeiam. A religião busca a superioridade, busca estabelecer a superioridade, em termos morais, de um grupo sobre outro. Isso causa problemas de imediato”.
12/03/07
Imhotep
Nenhum comentário:
Postar um comentário