Entrevista por Daniel Villa Verde
http://www.myspace.com/therenegadesofpunk
Fonte - Nuclearyogurte
Voltando um pouco para a adolescência de vocês, como foi o primeiro contato com o punk/underground que vocês tiveram, e como isso bateu forte em vocês.
Dani: Para mim foi algo que até demorou um pouco. Eu comecei a ouvir rock, acho que como quase todo mundo, ouvindo o que estava mais accessível de achar, de trocar com os amigos, seguindo as mesmas referências de sempre. Coisas diferentes eu comecei conhecer através de um tio mais velho. Mas foi só me envolvendo minimamente com bandas na escola e amigos que curtiam punk rock que comecei a perceber que todo um outro mundo existia e eu desconhecia completamente. Como isso bateu forte em mim? É até estranho. Para mim foi uma coisa que partiu muito mais do feminismo e das bandas femininas dos 90 do que de qualquer outra coisa. Esse lance de bater fundo e querer fazer parte daquilo também; de se identificar com toda a negação e raiva. Foi daí que uma fagulha acendeu para valer.
O que motivou vocês a montarem a banda? E principalmente o que levou vocês a tocarem um som diferente do que vinham fazendo anteriormente tanto no T.F.R. quando no xReverx?
Dani: Nós sempre ouvimos e curtimos punk rock. E enquanto estávamos na T.F.R ou na xReverx eu tinha projetinhos paralelos que sempre estacionavam. Eu já andava querendo fazer algo parecido com a Renegades e tinha umas musiquinhas rolando. Com o fim das duas bandas não pude evitar o impulso de chamar o Ivo para fazermos outro lance, e daí tudo começou mais uma vez. A mudança no som das bandas acho que tem a ver com a “proposta”, vamos chamar assim, de cada banda mesmo. Mas nunca algo intensamente estudado ou deliberado. Até porque as três bandas surgiram, por mais clichê que pareça, de uma forma bastante espontânea.
“Se o que você chama de contra cultura apenas antecipa o que será assimilado… se tudo se vende está cada dia mais difícil ser rebelde” quando escutei esta musica me veio a lembrança que um dia passei na frente de uma loja de grife cara, e vi a venda uma camiseta com que na estampa tinha um cartaz de um show punk americano(se não me engano Agression e Adolescents). O moderninho descolado que comprar aquilo por 90 reais nem saberá que diabos será aquilo. Também uma vez vi uma colega minha de trabalho usando uma camiseta escrito “nazi punks fuck off”(ironicamente de uma grife cara também) quando expliquei para ela o que significava ela ate ficou com medo…. É daqui para pior?Será que vamos ver daqui uns anos toda uma juventude alienada vestida com camisetas punks assim? Como vemos hoje milhares de patricinhas com saias hippies na beira da praia?
Ivo: Acho que já há algum tempo vemos de forma exaustiva diversas referências punks assimiladas pelo establishment, principalmente no que diz respeito à estética. Mas, sinceramente, acho isso bem natural, na medida em que a sociedade vai se reinventado e se resignificando a partir das provocações a moralidade vigente. Acho que o punk, enquanto contra-cultura, é responsável pela quebra de diversos paradigmas, mas obviamente não colhemos apenas o que queremos. E se o punk é (ou foi) justamente essa provocação à moralidade, deveríamos estar dispostos aos efeitos ambivalentes disso, seja um moleque que mesmo sem saber tocar faça uma banda pra dizer o que acha do mundo, ou seja, um moleque que compre um kit contra-cultural numa loja de departamentos. A assimilação em massa vai ser sempre sem graça, sem o ardor do momento, uma foto-cópia apagada do original, mas esse é o preço, não podemos nos colocar de fora desse processo. Estamos metidos nisso até o pescoço.
Porque vocês são renegados do punk?
Ivo: A contra-cultura aparece como uma resposta dos insatisfeitos com o modelo cultural atual. O lance de ser renegado pra mim é como uma insatisfação com a própria contra-cultura, de certa forma uma negação da negação. Mas já que não estamos propondo algo completamente novo, isso requer um certo cinismo, porque até agora continuamos aqui e não temos pretensão de abandonar isso tudo tão cedo. A negação da negação é a mesma afirmação inicial? Não necessariamente…
Eu me lembro com carinho do Karne Krua, Snooze, Camboja, Escarro Napalm zine… Nos anos 90 estas eram as referências de Aracaju. Como estão as coisas na cidade de vocês hoje?
Dani: Lentas e cambaleando. A Karne Krua e a Snooze ainda estão na ativa, o Adelvan Kenobi, que fazia o Escarro Napalm, está agora com um programa de rock numa FM daqui, junto com o Fabinho da Snooze, o que é muito bom e inédito aqui e em breve o programa terá sua versão televisiva. Estão aparecendo algumas bandas novas, pouca coisa, e nada muito ligada ao underground ou punk. Fora todo o domínio de força dos festivais e shows covers, que tomam grande parte do ano.
A demo de vocês esta muito bem comentada e realmente e uma das melhores coisas do punk nacional em tempos. Como anda a repercussão? O que vocês acharam do resultado?
Dani: Obrigada! Acho que a repercussão foi boa. Muitas cópias dela circularam por diversos estados, inclusive perdemos a contas de quantas existem por aí… Eu particularmente fiquei contente com o resultado porque tem muito o clima da gente no momento em que foi gravada; tem muito aquela energia e tal. Mas, como é até uma coisa normal, fiquei contente, mas não totalmente satisfeita como ela soou. Mas enfim, acabou que é aquilo mesmo e ponto. Estamos com outra formação agora e com diferentes “vibes” também. Cada gravação capta essa coisa toda, não é? Então, de acordo com o momento e as condições dadas, acho que ficou bem legal.
Aí no nordeste esta rolando um circuito de shows bem legal. Algumas bandas do sudeste tem tocado aí, o que antes não acontecia com freqüência. Noto que o pessoal aí da região de vocês é bem unido. Comente um pouco sobre isso.
Dani: Não sei se bem unido seria o termo, porque acho que o que acontece aqui é bem similar ao que acontece em outras regiões. Percebo isso quando converso com outras pessoas de outras cidades. Mas acho que ao que você se refere é a um certo “clima novo” com algumas bandas daqui sendo conhecidas e saindo pra tocar em outras cidades. E isso acaba dando um impulso à “cena” fazendo com que role um intercambio com as bandas de outras cidades e regiões – o que é bem legal. Acho que isso é fundamental. O pessoal daqui é muito sedento por isso. Até aqui mesmo dentro do estado sentimos isso. Tipo a relação das bandas da capital com as do interior. Quando você vai lá, nossa, é foda! O pessoal super empolgado querendo conhecer, conversar, comprar discos… Mesmo que as referencias deles sejam Raimundos, por exemplo, eles estão ali e buscando mais informações e contato, etc. Acho importante isso das bandas viajarem e tocarem em outros cantos. Acho que isso de procurar coisas “undergrounds”, por assim dizer, começou pra mim quando vi o Pin Ups em Aracaju em idos dos 90.=, sabe? Também, por outro lado, rolam inúmeras complicações pra se fazer um role no nordeste. Mas a gente está tentando amenizar isso e acho que mais do que nunca a galera nova tem que “construir” algo novo por aqui, participar mesmo, sabe?
“Somos velhos punks chatos e sem graça” - como é permanecer punk depois dos 25? Muitos abandonam tudo logo depois da faculdade… Vocês também não encontram amigos antigos que falam “você ainda está nesta”?
Dani: Com certeza! Nossa! Quantas vezes reencontro alguém depois de bastante tempo e o indivíduo solta a fatídica frase: “E aí, você ainda toca?” e eu sempre respondo: “Ainda? Não. Eu sempre estou tocando!”. É uma forma de exagerar e fazer ate uma piadinha desse jeito de ver as coisas, tipo: “você já passou da fase de fazer isso” e blábláblá. Não sei como permanecer punk depois dos 25. Eu simplesmente continuo odiando uma porção de coisas e tentando viver o total avesso delas. Se isso tiver a ver com ser punk, ótimo! Se não, não tem grandes problemas também não. Só acho que não precisamos de marcos pré-estabelecidos ou prazos de validade para nada na vida.
Quais são os futuros planos do Renegades? E a tour no sudeste/sul? Quando sai?
Dani: Estamos nesse momento terminando um split que sairá em breve com nossos queridos amigos da Mahatma Gangue (RN)(Nota do editor: já saiu) e estamos começando uma nova gravação para uma coletânea com mais quatro bandas que gostamos muito pro segundo semestre. Também está para sair o nosso primeiro ep em vinil pelo selo alemão Thrashbastard. Fora isso, queremos viajar este ano. Se possível realizar o role que não rolou ano passado: sudeste e também nordeste. Espero que tenhamos tempo e força para tudo isso. A nossa ida pro sudeste está certa já, será em Outubro entre os dias 08 e 16(de 2009) mais ou menos.
Se vocês fossem para uma ilha deserta e pudessem levar só 5 discos. O que levariam?
Dani: Perguntinha desgraçada, hein?! Que difícil!!! Missão quase impossível numerar isso. Ok, vamos lá… Mas sem ordem de preferência… 5 discos lembrados aleatoriamente:
1 – Ramones – It’s Alive!
2 – Hüsker Dü –New Day Rising ou Warehouse: Songs and stories;
3 – Sleater-Kinney – Dig me out ou The Hot Rock;
4 – The Rezillos – Can’t stand The Rezillos: The (almost) complete Rezillos;
5 – The Hellacopters – qualquer um!
Ivo: Ahh pergunta cretina… Toma aê os cinco primeiros relevantes que surgiram em minha cabeça.
Radio birdman – Essential Radio Birdman: 1974-1978
Minor threat – Complete discography
Circle jerks – Group sex
The Rezillos – Can’t stand The Rezillos: The (almost) complete Rezillos;
Cólera – Verde não devaste!
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