quarta-feira, 28 de abril de 2010
Fazendo História
Farra dos diabos - Topetudos e zumbis invadem Curitiba, depõem Momo e fazem da cidade a capital mundial do psychobilly durante o Psycho Carnival. Cobertura do festival curitibano publicada na Billboard número 6, de março de 2010.
por Marcos Bragatto
Rock em Geral
A horda de fantasiados de que cruzou a pacata Curitiba no esvaziado domingo, 14 de fevereiro, fez o povo se lembrar que, sim, era Carnaval. Com cabeças rachadas, vísceras expostas e muito sangue escorrendo, enfermeiros do mal, caveiras, a foice da morte e outros personagens de terror atravessaram o centro da cidade aos gritos ramônicos de “Hey! Ho! Let’s go!”. Era a zombie walk, uma das atrações do Psycho Carnival, que há 11 anos sacode o reinado de Momo com o mais from hell subgênero do rock: o psychobilly, encontro do topete de Elvis Presley com o moicano de Sid Vicious nas profundezas do inferno.
Os 500 mortos vivos rumaram para as Ruínas de São Francisco, onde quatro novíssimas bandas fizeram shows gratuitos para um público circulante que ultrapassou as duas mil pessoas. Há dois anos o festival vem sendo fortalecido pela Zombie Walk, que mistura psychos e público em geral. A idéia de juntar as duas coisas partiu de Vlad, idealizador do Psycho Carnival. “Todo mundo quer filmar a Zombie Walk, sai na televisão, cresce a mídia”, acredita ele. “Ainda que os públicos não sejam exatamente os mesmos”. Será?
Essa edição, que rolou entre sexta e segunda de Carnaval, foi a primeira num local maior – Moinho Eventos. “O Psycho Carnival lotou em todos os lugares em que aconteceu, aos poucos vamos lotar aqui também”, acredita Vlad, que, por falta de patrocínio, teve que fugir do padrão de ingresso a dez pilas. Foram ao todo 26 bandas, incluindo seis atrações internacionais, desde o rockabilly de bailinho do Annie & the Malagueta Boys, passando pelo bluegrass do Hillbilly Rawhide e pelo garage rock do Lendário Chucrobillyman, até o rock’n’roll nervoso dos britânicos do Frenzy. O grupo, com 25 anos de estrada, fez um dos melhores shows do festival. Em performance explosiva, Steve Whitehouse (ex-The Sharks) sacodia o contrabaixo de uma lado a outro e ainda carregava o guitarrista Steve Eaton nas costas. Este, por sua vez, monta no baixo acústico do parceiro para um duelo.
A diversidade do público parece extraída de uma enciclopédia de estilos de rock. Há punks, mods, billys, rednecks, skins, teddy boys, todos com visual transadíssimo, cada qual reunindo as variações de seus subestilos preferidos, representados no palco do festival. Psycho girls e típicas pin ups dos anos 50 dão o toque de graça entre os barbados. E tome estampa de oncinha, cabelo pintado, vestido godê em cintura fina, corpete, espartilho e muita, muita tatuagem. Nos palcos, também sobra charme. Katona Katrina, vocalista da banda chilena Voodoo Zombie, com saia curtíssima, deitava sobre o baixão de madeira e sacodia as pernas para o alto como típica pin up, fazendo babar os beberrões na beira do palco.
À frente dos Malagueta Boys, a ruiva Annie comanda dançarinos que jogam suas parceiras para o alto em “aéreos” acrobáticos. Mas a bola da vez da cidade são As Diabatz, banda cem por cento feminina que mistura rockabilly e psycho. O trio já fez turnês internacionais e segue caminho semelhante ao dos Catalépticos, grupo em torno do qual o Psycho Festival foi criado, em 2000. “Começamos a fazer sem pretensão nenhuma, um amigo francês resolveu vir com a banda dele para cá, era perto do carnaval e decidimos chamar de Psycho Carnival, com cinco bandas”, conta Vlad, na época vocalista/guitarrista do Catalépticos.
O Psycho Carnival seguiu em frente e as diferenças musicais (e políticas, segundo consta) levaram ao fim do grupo, que deixou como filho bastardo o Sick Sick Sinners, principal expoente psycho brasileiro no exterior e que fez também uma grande apresentação, graças à guitarra metal punk de Vlad. No refrão de “Curitiba Rotterdam Psycho”, que celebra a chegada do grupo à Holanda, o público encara a cidade natal como a capital brasileira do psychobilly. Após 11 anos de festival, Vlad não tem certeza disso. “Não chega a ter uma cena, a maioria das pessoas que aparecem vem de outras cidades, principalmente São Paulo e Londrina”, avalia. Figura carimbada em várias edições, Arroz From Hell, guitarrista do pioneiro Kães Vadius, de São Paulo, pondera: “O pessoal daqui sempre acha a que a cena não é forte, mas quem vem de fora se impressiona com a quantidade de bandas”.
Micareta do rock à vista - Mais da metade das atrações era de Curitiba. Uma das principais foi o impagável Ovos Presley, que reuniu o maior público e quase complicou a vida do Kães Vadius, que entraram a seguir. Entre as bandas forasteiras outro destaque foi o Phantom Rockers, que tem na formação o guitarrista Karl Egghead (ex-Exploited), o que valeu a versão psycho para o clássico “Sex And Violence”. Enfiadas no underground de seus respectivos países, muitas delas fazem questão de tocar no Psycho Carnival. “A gente tem que gostar das bandas para chamar, mas se elas querem tocar no Brasil e pagam a passagem, já é 80% do caminho andado”, admite Vlad, que contabiliza cerca de 30 atrações internacionais nesses 11 anos. Muitas delas o público só conhece na hora, caso da francesa Skarekrows, que não deve ser esquecida tão cedo, graças à dupla de guitarristas: um caracterizado como zumbi com a cabeça perfurada por uma bala, e outro que, desinibido, usava chapéu, óculos escuros, colar, botas prateadas e uma tanga de oncinha.
Entre as caçulas nacionais os destaques foram o Drakula, de Campinas, com máscaras de luta-livre mexicana e fazendo um psycho porrada à base de Sonics; o rockabilly de ceroulas e camisas estampadas do CWBillys, que liberou a dança no salão; o trio country/rockabilly Flatheads, trajando belos uniformes e tendo como cabeça o baixista Luiz Fireball, que já tocou no lendário Cervejas; e o Eles Mesmos, que mistura música chicana de bêbado com surf music e temas de faroeste. Todo carnaval tem seu fim, mas a organização pretende ampliar o leque no reinado de Momo. “Queremos fazer outros festivais segmentados durante o carnaval: só de rock, de metal, de indie”, planeja o chefão Vlad. Para quem não quiser esperar um ano inteiro, o negócio é reservar a passagem para o Psycho Fest, que acontece no segundo semestre. Alguém aí falou em micareta?
Marcos Bragatto viajou à convite da produção do festival
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