No set list, apenas as músicas do álbum em questão, lançado em 1979, mas que se mantém ainda atuais. Todas as inquietudes do final da década de 70 ainda estão presentes se analisarmos o mundo tendo como paramento “The Wall”. As angústias de um mundo que parece não mudar (ou talvez só pareça piorar) eram projetadas no muro gigante que envolvia o palco, pois em todo o espetáculo vemos imagens de fotografias, desenhos, grafites e filmes de forte impacto, provocando um fascínio generalizado no público e fazendo daquilo um ponto a parte.
Se na noite anterior o Rio de Janeiro tinha recebido o ativista americano e fundador de umas das maiores bandas do Hard Core de todos os tempos, Jello Biafra, (ex-Dead Kannedys), naquela noite tínhamos o também ativista Roger Waters, talvez o sujeito mais punk do rock progressivo e quiçá muito mais punk que muito moleque por aí que corta o cabelo igual a jogador de futebol e se diz punk.
Enfim, esses conflitos de gostos ideológicos vão alem, o fato é que Roger Waters apresentou um espetáculo altamente politizado e crítico às injustiças do planeta e com várias homenagens a personalidades e pessoas comuns, mas que hoje se tornaram imortais de alguma causa, como por exemplo o brasileiro Jean Charles de Menezes, morto ao ser confundido com um terrorista pela polícia inglesa e que vem tendo sua foto exibida no palco nesta turnê e a quem Roger Waters dedicou o concerto.
"Gostaria de dedicar este concerto à Jean Charles, sua família e sua luta por verdade e justiça; e também a todas as famílias das vítimas do terrorismo de estado em todo mundo. 'The Wall' não é sobre mim, mas sobre Jean e todos nós".
O espetáculo tem inicio com “In the Flesh?” que desde seu princípio deixava ecoar no estádio o som de um avião de guerra em combate. Ao final da música, o avião se choca com parte do muro, que é destruída, e a partir dali todo o muro é reerguido até esconder todo o palco ao fim da primeira parte do concerto, ao som de “Goodbye Cruel World”.
Em “Another Brick In The Wall Part 2″ o coral de crianças foi feito pelos alunos da Escola de Música da Rocinha, que foram apresentados por Roger Waters em bom português. Éramos colocados de frente com inúmeras fotografias e desenhos de protestos que me faziam pensar que estava diante dos livros da série “Baderna”. A música cumpria o seu papel, como já esperado. Em “Goodbye Blue Sky” eram exibidas imagens de centenas de aviões bombardeiros que arremessavam símbolos de religiões, países, sistemas políticos e multinacionais. Se o propósito era passar uma mensagem contra essas ideologias, o recado foi bem dado.
Tijolo a tijolo, “O Muro” continuava a ser erguido e aos poucos o palco foi sumindo. Roger Waters, além de baixista e vocal, também atacava de ator no palco. Uma performance completa!
Com o fechamento do muro, o espetáculo tem uma pausa de 25 minutos e neste momento são projetadas dezenas de fotos e um texto de apresentação em inglês de revolucionários e vítimas que ao longo da história sofreram com o terrorismo, didaturas e injustiças. Novamente Jean Charles de Menezes é homenageado, e nesse caso o Brasil não parou por ai, pois o líder seringueiro Chico Mendes também foi lembrado e estava lá entre Gandhi, Emiliano Zapata, Salvador Allende e tantos outros.
A clássica “Hey You” abre a segunda parte do espetáculo, e durante toda música a banda se coloca atrás do “Muro”. Ninguém a vê, só a ouve, e vislumbrando todo o espetáculo visual de luz e projeções que agora acontece em todo o muro. A partir daí pequenos espaços entre os tijolos se abrem temporariamente em algumas músicas, como em “Is There Anybody Out There?” onde apenas Waters e mais um músico podem ser vistos. Já na seguinte, “Nobody Home”, ele canta em uma pequena sala montada entre os tijolos. O momento apoteótico da noite, no entanto, é “Comfortably Numb”, com Roger Waters cantando sozinho na beira do palco e diante da imensidão do muro enquanto o guitarrista Dave Kilminster manda ver na guitarra no alto do muro.
Outro momento memorável foi em "Run Like Hell". Roger Waters mantinha todo o estádio em palmas sincronizadas, quando um híbrido inflável de porco com javali sai de trás do palco e é puxado como uma pipa lentamente até o meio do público. O porco todo pichado com palavras e frases de ordem segue pelo céu do estádio até o final de “The Trial”, e em sincronia com “O Muro” que veio abaixo como um balão em tempos de festas juninas. Detalhe: o porco foi solto praticamente em cima DA MINHA CABEÇA! Naquele momento todos que estavam próximos queriam arrancar um pedaço dele, como se seu esquartejamento fosse pôr fim à todas as injustiças que aquele suíno carregava grafitadas em sua pele plástica como: "Chega de Corrupção", "Porcos Fardados", “Fora Impunidade”, “Racismo”...
Lógico que peguei um bom pedaço daquele rabicó e juntamente com uma das mascaras das crianças do clip de “Another Brick in the Wall”, que foram produzidas por um grupo de fãs/amigos da cidade de Itaguaçu/ES que fez uma "vaquinha" - diria até que esses são os verdadeiros "Atom Heart Mother" - e mandou rodar 3.000 unidades na única gráfica da cidade, distribuindo-as antes do inicio do espetáculo. Pedaço do Rabicó e mascara entraram para minha coleção de souvenirs do rock, da qual constam uma toalha do Bruce Dickinson e palhetas do Motorhead, Slayer e Scorpions, dentre outros ítens.
Finalizando o espetáculo, “Outside the Wall”, que ganhou uma nova versão acústica e ao final Roger manda a letra: "Obrigado, Rio. Vocês foram uma platéia magnífica".
Durante toda a noite de 29 de março de 2012, no estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, a palavra a que poderia representar tudo que vi foi ‘espetáculo’! Evitei usar o termo ‘show’ pois show talvez seja pouco.
Fotos: Michael Meneses, Mel, M Rossi e Rafael Koch Rossi
Texto: Michael Meneses
Set list:
PARTE 1
“In the Flesh?”
“The Thin Ice”
“Another Brick in the Wall (Part 1)”
“The Happiest Days of Our Lives”
“Another Brick in the Wall (Part 2)”
“Another Brick in the Wall (Part 2) Reprise”
“Mother”
“The Show Must Go On”
“Goodbye Blue Sky”
“Empty Spaces”
“What Shall We Do Now?”
“Young Lust”
“One of My Turns”
“Don’t Leave Me Now”
“Another Brick in the Wall (Part 3)”
“The Last Few Bricks”
“Goodbye Cruel World”
PARTE 2
“Hey You”
“Is There Anybody Out There?”
“Nobody Home”
“Vera”
“Bring the Boys Back Home”
“Comfortably Numb”
“In the Flesh”
“Run Like Hell”
“Waiting for the Worms”
“Stop”
“The Trial”
“Outside the Wall”
Putz! Apesar de não ter ido, sei que foi um espetáculo!!!!
ResponderExcluirSOMOS NÓIS AKI DE ITAGUAÇU Q FIZEMOS UMA VAQUINHA PARA DISTRIBUIR AS MASCARAS P A GALERA WANDER JANINHA ROSETE ZUZU BRUNO E SULA BBBJJJSSS
ResponderExcluirSOMOS DE ITAGUAÇU NO ESP. SANTO E FIZEMOS 3.000 MÁSCARAS CARICATURANDO O BONEQUINHO DO SHOW E DISTRIBUÍMOS ! FIQUEI MUITO CONTENTE EM VER QUE ELAS VIAJARAM PARA TÃO LONGE E PASSARAM A ENERGIA!!! FICARIA ETERNAMENTE GRATO SE CONSEGUISSE UM PEDACINHO DESSE PORCO PRÁ MIM. PODE SER DO TAMANHO DE CARTA DE BARALHO, UM CANTINHO QUALQUER PARA EMOLDURAR COM MEUS INGRESSOS E O INTERESSANTE É QUE DESCOBRI ESSE PORCO SÓ POR CAUSA DAS MÁSCARAS QUE FIZEMOS.
ResponderExcluirLegal pessoal! Ficaram bem legais as máscaras, parabéns pela iniciativa criativa.
ResponderExcluirMICHAEL MENESES RESPONDE:
ResponderExcluirPrimeiramente obrigado pela leitura de todos vocês, voltem sempre nesse espaço e conheçam o Programa de Rock na Rádio Aperipê FM!
Acabei de receber um e-mail da Rosete, comentando sobre as máscaras, é provavel que assistimos o show bem de pertos, recebi minha mascara já dentro do estádio, de um grupo que estava sentando no chão!
Sobre um pedacinho do porco vou pensar em algo bacana para vocês colocarem nesse bar!
Acho que vai ser melhor que o Porco!
Essa matéria também foi escrita para o Portal Revoluta: http://www.revoluta.com/?p=2634
Abraços a toda cena Rock de Itaguaçu e capixaba e valeu mais uma vez pelo espaço aqui do Programa de Rock!
Michael Meneses - Parayba Records!