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1. Trotamundos Coletivo: Queria que vocês falassem da trajetória de vocês?
Victor Balde: Meu envolvimento com a cena musical local começou em 2003, quando comecei a organizar pequenos shows com bandas independentes que formavam a cena naquela época. Conheci o Arthur nesse mesmo ano e foi ele, que em 2005, começou a registrar esses eventos. A gente sempre trocava idéia, ele me mandava o material produzido, mantivemos por um tempo essa relação, eu dando continuidade aos eventos e ele sempre registrando. Em 2007, após a visita de um amigo meu de São Paulo, resolvi investir na minha primeira máquina fotográfica e neste mesmo ano fiz o meu primeiro trabalho, registrando o show das bandas Inrisorio, Karne Krua e Ratos de Porão. Em 2008 acabei encontrando com Arthur no terceiro período da faculdade de Jornalismo. A convivência acadêmica evoluiu também para a fotografia, onde começamos a freqüentar e registrar os mesmos shows. Pesquisando sobre o universo da Fotografia de Música, descobrimos o livro ‘Fodido e Xerocado’ dos fotógrafos paulistas Daigo Oliva e Mateus Mondini. Esse trabalho virou nossa grande referência, pois mostrou a força de dois olhares sobre uma mesma cena musical.
Arthur Soares: Motivou a fazermos nossa primeira cobertura juntos, que foi o Projeto Dueto Cultural, com os shows da Maria Scombona e do Arnaldo Antunes, no Emes. A qualidade dos artistas e a boa estrutura de palco e luz ajudaram bastante para o bom resultado das fotos. Publicamos na internet e a aceitação foi muito bacana, gerando comentários positivos, a partir dai o trabalho ficou mais sério mesmo e criamos a Snapic!
2. Trotamundos Coletivo: O foco da Snapic sempre foi a música, mas acompanhando o trabalho de vocês, já vi coberturas de eventos como o CURTA-SE, desfiles de moda, etc. Isso não é sair do conceito?
Victor Balde: A idéia inicial sem dúvida era a de trabalhar com a música, pelo envolvimento mesmo, por já trabalhar na área, produzindo shows, por conhecer os músicos, as bandas que fazem a cena, facilitou demais e mostrou que o caminho era esse mesmo. Nosso foco foi e sempre será a música, porém, não vejo problema nenhum em aceitar outros trabalhos. Vejo inclusive como um reconhecimento ser convidado para atuar em outras áreas da fotografia, que não a de música. A própria cobertura do CURTA-SE, como você citou, do FICI (Festival Internacional de Cinema Infantil), fizemos dois anos consecutivos. Convites de editorial de moda (Serafina), coquetéis de lançamento (Samarra e Ponto Eletro), etc. São trabalhos que curtimos fazer e dão retorno financeiro. O que tenho certeza que nunca faremos é foto de formatura, porque eu acho que é o mais chato de se fazer. (risos)
3. Trotamundos Coletivo: A internet é, sem dúvida, uma ferramenta poderosa de divulgação do trabalho de qualquer fotógrafo. Mas vocês não acham que falta um pensamento, uma ação mais crítica sobre o que é produzido e exposto na rede? Como vocês percebem esse fato em relação ao trabalho desenvolvido?
Victor Balde: A internet limita demais isso! Os comentários são sempre positivos e simples. Ninguém acha defeito, dá sugestões. Vejo o trabalho de vocês do Trotamundos Coletivo muito importante nesse sentido de levantar a discussão, analisar o que é produzido, sugerir recortes, caminhos. E do livro a gente espera que atraia outro tipo de comentário e crítica, até porque ele vai chegar às mãos da crítica especializada, sejam revistas, jornais, sites. Porque são veículos que estão consumindo arte o tempo todo, sabem diferenciar o que é bom ou ruim. E agente quer saber, ter esse retorno, receber uma crítica construtiva.
4. Trotamundos Coletivo: E vocês fazem uma análise crítica do que produzem? Como funciona?
Victor Balde: Uma coisa que agente sabe que tem que evoluir é no processo de curadoria do que produzimos. Às vezes por causa de prazo a gente acaba não tendo a possibilidade de se encontrar e analisar o que foi produzido e o que vai ser separado e enviado ao cliente. Perdemos muito com isso, deixa de aprender, deixa de enviar o que realmente fizemos de melhor. Quando começamos a trabalhar com Marcelinho Hora, a coisa mudou muito. Nós paramos pra discutir mais, estabelecer parâmetros de escolha, edição e finalização do material. Mas há muito ainda que melhorar. Precisamos buscar esse tempo, de ver, discutir, refletir sobre o que é produzido, aprender com o olhar do outro.
5. Trotamundos Coletivo: Vocês já pensaram em criar um portfólio e colocar à análise de alguém que trabalhe com fotografia de música? Ter um contato mais direto?
Victor Balde: Seria uma boa…
Arthur Soares: Sim, sim…
Victor Balde: Eu tenho uma grande dificuldade, seja com curadoria, seja em analisar o trabalho. Arthur, pela prática do dia a dia, por ser fotojornalista, conseguiu se desenvolver bem mais nesse aspecto. Eu sempre acabo separando muito material, tenho uma dificuldade em estabelecer critérios. Espero trabalhar mais, desenvolver essa habilidade.
6. Trotamundos Coletivo: Será que não está faltando planejamento?
Arthur Soares: Conseguimos fazer isso quando o show é mais produzido. Um lançamento de CD, ou quando viajamos juntos com alguma banda que vai tocar fora. Sempre há mais tempo de discutir e estabelecer critérios, tanto entre conosco, como com a banda. E realmente o resultado é bem melhor. Mas acho que isso também pode ser provocado por terceiros. Esses encontros, o planejamento, por pessoas que não são da fotografia, que pertencem a outras áreas e que também estão envolvidos na produção de algum show ou espetáculo. Quando existe uma equipe centrada para conversar sobre esse planejamento, consegue-se desenvolver um trabalho melhor. Sejam estes produtores, diretores, iluminadores…
7. Trotamundos Coletivo: Mas essa conversa não pode ser provocada por vocês? Não deveria?
Victor Balde: Sim, sim. Precisamos cobrar que isso aconteça com mais regularidade…
8. Trotamundos Coletivo: Como vocês sentem hoje o mercado da Fotografia de música no nosso estado? Vocês se sentem valorizados?
Victor Balde: Todo começo é sempre difícil, com o desenvolvimento do trabalho, a gente vem conseguindo passo a passo mudar a realidade. Um trabalho que era feito praticamente de graça há três anos, que não cobria nem os custos de transporte (risos), hoje, já é bem mais valorizado. Conseguimos fechar boas parcerias com as bandas. Mas ainda há muito que mudar…
Arthur Soares: No começo íamos fotografar porque achava a banda interessante, produzia um material, colocava na net, que tinha uma boa repercussão e ai, de repente, uma banda chamava a gente para um outro show. Com o passar do tempo, tudo vem se tornando mais sério. Mas porque agente também começou a mostrar mais seriedade. A gente prefere fechar shows que sejam mais produzidos, que tenham uma boa condição de luz, palco. Mostramos a importância disso às bandas para o próprio resultado fotográfico. Se uma banda entra em contato, sempre mostramos a importância da busca de referências visuais para a realização do trabalho. Eles precisam ter referências, buscar essa identidade visual, informações que vão ajudar a criarmos o recorte visual ideal. Quanto à parte financeira, hoje nós temos bandas que vão tocar e já solicitam orçamento antes, já pensam no nosso trabalho como investimento e isso é uma conquista!
Victor Balde: Temos tido muito cuidado com essa parte de orçamento. Inclusive criamos um ‘pré-orçamento’, em PDF, com um questionário base, que a banda preenche algumas informações, que vão servir de base pra gente, a partir dai, agente manda um orçamento via email. Mas é difícil. O meio é muito mal acostumado a fazer as coisas de qualquer jeito, mas agente tem feito a nossa parte. A Snapic tem dado a sua parcela de contribuição para que as coisas mudem. Mas a mudança vem aos poucos mesmo, agente sabe disso…
9. Trotamundos Coletivo: Como foi que surgiu a idéia de transformar essa documentação fotográfica da cena musical sergipana em livro?
Victor Balde: Foi conseqüência. Começamos a fotografar como ‘Snapic’ em 2008, enquanto fazíamos o curso de Jornalismo. Nesse período, nosso acervo, a partir das constantes coberturas, só crescia. Produzíamos muito e o reconhecimento desse trabalho também. E na faculdade, a gente estava num momento de começar a pensar no TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), o que íamos fazer.
Arthur Soares: Eram as duas coisas que estavam acontecendo naquele momento. Fotografia e conclusão do curso de Jornalismo…
Victor Balde: Foi uma coisa natural. Aí veio a idéia de pegar esse acervo, esse trabalho e conseguir formatá-lo dentro de um projeto de TCC. O recorte, focando na música sergipana, veio da possibilidade de fazer com que esse trabalho pudesse também gerar e dar um retorno cultural, incentivo, visibilidade mesmo, tanto pra cena musical, quanto pro estado. E a partir daí produzimos esse primeiro trabalho. No tamanho 20 cm x 25 cm, 40 páginas, foi aprovado na nossa graduação e a partir disso agente pensou na possibilidade.
Arthur Soares: De levar mundo à fora, de sair da academia e de certa forma pagar essa dívida que tínhamos com a sociedade…dar um retorno mesmo!
Victor Balde: Feedback mesmo. O que agente pode trazer para o nosso estado? Mostrar o que está sendo produzido aqui. Já rola uma discriminação com o Nordeste, imagina com Sergipe, menor estado da federação. Então quisemos mostrar que existe música bem feita sendo produzida aqui e vamos fazer isso a partir do nosso olhar, do que registramos…
Arthur Soares: E dá mais seriedade também, né? Sair daquele formato da internet, onde você só comenta, curte. Deixar o projeto mais tátil mesmo. No princípio agente não tinha pensando em fazer um livro, por conta do custo, da falta de recurso financeiro mesmo, agente tinha a idéia de fazer apenas uma exposição;
Victor Balde: Havia uma distância muito grande entre realizar uma exposição e publicar um livro. Eram sonhos muito distantes! (risos)
Arthur Soares: Mas a intenção era fazer uma exposição…
10. Trotamundos Coletivo: Quem deu o ‘start’? Quem mostrou que a publicação do livro seria possível?
Victor Balde: A Diretora de Cultura e Arte da Sociedade Semear, Cita Domingos.
Arthur Soares: Agendamos a exposição lá na Semear e o material que foi do TCC seria o catálogo. Faríamos poucas cópias, tudo dentro do orçamento que a gente tinha. Quando nós nos reunimos com a Cita, pra ajustar as datas, confirmar o período e todo o planejamento da exposição, fomos informados que a Petrobras tinha um recurso separado para a nossa exposição!
Victor Balde: Foi a nossa Megasena! (risos)
Arthur Soares: Com esse recurso começamos a sonhar mais alto. Vimos que algo maior poderia ser feito. Tínhamos cerca de 70% do valor do projeto em caixa, restava viabilizar o restante…
Victor Balde: Foi uma virada de mesa. Pensamos então em viabilizar o restante do projeto via ‘Financiamento Colaborativo’, onde conseguimos vender antecipadamente 80 livros. Com esse dinheiro finalmente viabilizamos a impressão do livro e só nos restava agora conseguir novos parceiros, empresas menores, que entrariam como apoiadores culturais para financiar a exposição. A captação de novos recursos deixou a exposição muito mais rica conceitualmente e também mais produzida. Conseguimos viabilizar várias idéias e contar com uma equipe muito profissional ao nosso lado. Para a curadoria do livro e da exposição tivemos Marcelinho Hora junto conosco; a ambientação ficou com o Daniel Almeida; a direção de arte do livro foi do João Henrique; produção executiva de Alex Rocha e a produção artística da Nah Donato. Teremos ainda como mestre de cerimônia Diane Veloso. Show da The Baggios, com participação da Karne Krua, Maria Scombona, Patrícia Polayne, Plástico Lunar, Elvis Boamorte o os Boas Vidas e Oganjah. A captação de áudio será do Luiz Oliva, a de imagens pela Snapic, Pronto Filmes e Raphael Borges (Mingau). O técnico de som será o Dudu Prudente, o roadie será o Raul Matos e assistentes Fernanda Vieira, Vivian Madureira, Ingrid Baracho, além das intervenções dos artistas plásticos Duardo, Fábio Sampaio e Cachorrão.
11. Trotamundos Coletivo: Quais os próximos passos da Snapic? Quais os projetos futuros?
Victor Balde: Após o lançamento do livro, nós estamos planejando levar a exposição para outros lugares. Levar nosso projeto para o maior número de capitais possíveis. Após essas excursões com a exposição, lançaremos um DVD que vai contar toda a história, fechando um ciclo. Esse DVD, a princípio, terá três etapas, sendo a primeira com o slide show de todas as fotos do livro, a segunda o show gravado na íntegra no dia do lançamento do livro/exposição e a finalizando com um documentário sobre todo o processo de criação. Começo, meio e fim do que foi o projeto ‘Música pra Ver’.
12. Trotamundos Coletivo: Uma mensagem final…
Arthur Soares: Só queria finalizar, falando sobre a lição que estamos tirando nesse momento, que a fotografia não se faz apenas com fotos, mas com diálogo, conversa. Estamos à disposição de todo mundo que queira interagir e somar com agente em nossos projetos e idéias…
Victor Balde: É isso, a vida está passando, agente tem que produzir, sempre em prol da arte e da cultura e acreditar sempre! A partir do momento em que agente acredita em nosso trabalho, um dia vão começar a acreditar no trabalho da gente…
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