Show de Jello Biafra no Rio de Janeiro é como liberar as portas do caos na cidade (embora acredite que isso seja igual em todo mundo). Em sua primeira passagem, há 20 anos, pelo Rio, onde se apresentou em uma jam com Ratos de Porão com as participações de Andreas Kisser do Sepultura e Al Jourgensen Ministy, no Circo Voador, e durante a Rio Eco-92, o cara aprontou pela cidade. Já no Circo Voador questionou seu nome no cartaz. Dias depois Jello deu uma canja com os franceses do Mano Negra, discursou na Eco-92, comprou LP’s brasileiros em sebos e lojas, e saiu do Rio fã de Gangrena Gasosa e Bezerra da Silva.
Na primeira passagem com sua atual banda, a “Jello and Guantanamo School of Medicine”, em 2010, o caos nas imediações do Teatro Odisséia estava lá, misturado à já famosa boemia da Lapa/RJ, pois na ocasião eram cenários dos filmes “Velozes & Furiosos” e “Crepúsculo”. Logo tínhamos ruas fechadas e milhares de pessoas tietando os mocinhos e bandidos do cinema americano, e haviam centenas de pessoas à espera de que o Teatro Odisséia abrisse suas portas para que saíssem do caos da alienação e entrassem no caos da música politicamente engajada. E assim podemos definir aquela noite de novembro de 2010 que definitivamente entrou para a história como um dos melhores shows já vistos no Rio de Janeiro.
Dessa vez, em 2012, o caos voltou ao Rio em uma noite de quarta feira. Para começo de história, em 28 de Março de 2012 fez frio pela primeira vez no ano, e também choveu o dia todo, como há muito não acontecia. Logo algumas pessoas na casa imaginavam: “Com essa chuva, frio e jogos de Flamengo na TV e do Vasco em São Januario/RJ muitos vão desistir, sem falar que a temporada de shows esta fértil no Rio e no Brasil”.
O fato é que não teve derrota do Flamengo na Libertadores das Américas, despedida do Edmundo do Vasco, chuva, frio e outros shows que fizessem que um público “animal” deixasse de comparecer a um evento de cultura politizada. Em meio ao público algumas pessoas influentes na cena rock e cultural carioca como Vital (Poindexter, Jason, Jimi James), Alexandre Bolinho (Kopus Sujos), BNegão (Planet Hemp e BNegão & Seletores de Freqüência) e Marcelo Yuka (Ex-Rappa e possível candidato à vice-prefeitura do RJ pelo PSOL na chapa com Marcelo Freixo). Contudo infelizmente o show não ficou tão cheio como da outra vez, mas quem foi curtiu, quem não foi perdeu!
A banda “porra louca” Halé também foi caótica e fez o show de abertura promovendo o bom humor e a descontração com seu Hard-Core Made in Jacarepaguá, mesclando músicas do seu novo álbum “Mestre-Sala e Porta-Black Flag”, com faixas antigas do seu primeiro disco “Lixo Extraodinário”. A platéia ainda estava um tanto vazia, mas o que se via eram várias pessoas cantando, entre elas a clássica "Escolinha do Prof. Girafales".
A chuva já havia dado uma trégua e logo a casa encheu. Jello Biafra sobe ao palco dessa vez acompanhado por Andrew Weiss (ex-Rollins Band e Black Flag) no Baixo, Ralph Spight (Victims Family, Freak Accident, Hellworms) e Kimo Ball (Freak Accident, Carneyball Johnson, Mol Triffid, Griddle) nas guitarras e na bateria baterista Paul Pelle (Chrome, Hellios Creed).
A tour fazia parte da divulgação do trabalho mais recente de “Jello and Guantanamo School of Medicine”, intitulado “Enhanced Methods of Questioning”. O que se viu no palco foi um showman conduzindo sua platéia com maestria, suas performances misturam canto com teatro, engajamento político, e mesmo aqueles que não sabem nada de inglês entendem suas mensagens por conta de sua atuação teatral “política-sarcástica”. Durante todo o show Jello só para quieto entre uma música e outra para discursar, de resto ele não sossegava e deu vários stage dives para delírio do galera, que também dava os seus pulos.
Dessa vez o set foi mais curto em relação ao show de 2010, mas nem por isso deixou de empolgar a todos com sons como “John Dillinger”, “New Feudalism”, “Barack Star O’Bummer”, “Three strikes”, “Victory sucks”, “Pets eat their master”, dentre outras. Do Dead Kennedys tivemos “California Über Alles”, “Holiday in Cambodia”, “Nazi Punks Fuck Off” e “Too Drunk to Fuck”.
Durante os seus vários discursos políticos, Jello Biafra lembrou com ironia do seu encontro ao acaso com o ex-governador da Califórnia Jerry Brown (Mencionado em “California Über Alles”,), durante o Rio Eco 92 e declarou: “Quase lhe pedi um autógrafo”.
Vale destacar que mais uma vez o show aconteceu em solo carioca graças ao “Faça Você Mesmo” da Grande Roubada Produções, que vem produzindo várias apresentações na Cidade Maravilhosa. Enfim, mais uma noite antológica no Teatro Odisséia com Jello Biafra, que mostrou que mesmo já passando dos 50 anos tem a garra e o pique que muita banda de garotos não tem e mostrou isso em grande estilo.
Texto e fotos por Michael Meneses - carioca, fotógrafo, jornalista, maluco de carterinha, torcedor fervoroso do Itabaiana/SE, criador do Selo Cultural Parayba Records e porta voz do Programa de Rock em Terras Cariocas!
Contatos: @paraybarecords ou paraybarecords@hotmail.com
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