John Entwistle foi o primeiro baixista a fazer um solo em uma canção
rock. Ele nunca teve essa intenção, mas foi convencido pelo guitarrista
Pete Townshend e pelo produtor Shel Talmy de que seria uma boa ideia
brincar com isso naquele que se tornou o maior sucesso da carreira do
Who, “My Generation”.
Em uma entrevista à rádio BBC, de Londres, duas décadas depois do
lançamento do single – na Inglaterra, no fim de 1965 –, Talmy disse que o
Who era uma banda instintiva, orgânica e furiosa, e que só percebeu o
tamanho do som do baixo de Entwistle no estúdio. “Eles tinham gravado ‘I Can’t Explain’ antes, além de ‘Zoot Suit’
como High Numbers, mas foi em ‘My Generation’ que o som alto e pesado de
John preencheu a sala. Ele era um verdadeiro guitarra-base, com sua
técnica apurada, precisão e velocidade. Era óbvio que seria natural
aparecer um solo de baixo com o volume lá em cima. Townshend teve a
mesma impressão na hora em que percebi isso”, disse o produtor.
Entwistle, apelidado de “Thunderfingers” (dedos de trovão), foi
eleito neste mês pelos leitores da revista norte-americana Rolling Stone
como o melhor baixista de todos os tempos no rock.
Talvez fosse desnecessária tal pesquisa, já que há muito tempo é
consenso de que o baixista do Who ocupa tal posto. Se as listas de
melhores vocalistas e bateristas de rock sempre são polêmicas, devido ao
número elevado de candidatos, as de guitarristas e de baixistas sempre
foram consideradas “barbadas”. Jimi Hendrix quase sempre liderou as de
guitarristas, assim como Entwistle a de baixistas.
O instrumentista do Who sempre desdenhou de tal “título”. Com seu
jeito quieto e discreto, sempre foi modesto ao analisar sua carreira. Fã
de jazz e de rockabilly, costumava dizer que não conseguia encontrar
algo de novo em seu trabalho. Nem sequer conseguia identificar um
estilo, quanto mais afirmar ter criado um.
Quem desmitifica a questão é Glenn Tipton, guitarrista fundador do
Judas Priest, amigo de Entwistle desde os anos 70 e que o teve como
companheiro de banda em dois de seus trabalhos solo, “Baptizm of Fire”,
de 1997, e “Edge of the World”, de 2003, creditado a Tipton, Entwistle
and Powell (Cozy Powell, baterista fantástico morto em acidente de carro
em 1998). “Se é consenso que o heavy metal pode ter nascido a partir dos riffs
de guitarra pesados de ‘You Really Got Me’, dos Kinks, o baixo pesado
surgiu com Entwistle na mesma época. O som vibrante, gordo e intenso de
seu baixo representava uma mudança de postura e de modo de encarar o
instrumento. Em uma banda sem guitarra-base, o peso e a melodia que
Entwistle imprimia ao som do Who era muito mais do que ritmo, era uma
verdadeira base”, afirmou Tipton à revista Guitar World nos anos 2000.
A versatilidade e a genialidade de Entwistle às vezes incomodava
Roger Daltrey, o cantor do Who, no palco. Não foram poucas as vezes que o
vocalista brincava, mas dando o recado, quando o baixista fazia algum
riff em músicas que requeriam tal procedimento: “Para que tantas notas
ao mesmo tempo, John?”, perguntava Daltrey, geralmente no começo ou no
final de músicas como “Boris The Spider”, “My Wife” ou “The Quiet One”.
John Entwistle morreu em 27 de junho de 2002, em Las Vegas, às vésperas do
início de mais uma turnê do Who pelos Estados Unidos. Tinha 57 anos e
sofreu um ataque cardíaco após uma noite bebendo brandy (uma espécie de
conhaque) e usando cocaína no hotel.
Os demais nomes da lista dos dez melhores baixistas da Rolling Stone
mostram algumas surpresas, como Flea (Red HOt Chili Peppers) em segundo
lugar, Les Claypool, do Primus, em quinto lugar, e o jazzista Jaco
Pastorius, em sétimo lugar.
por Marcelo Moreira
Combate rock
O Ranking:
1 – John Entwistle (The Who)
2 – Flea (Red Hot Chili Peppers)
3 – Paul McCartney (Beatles)
4 – Geddy Lee (Rush)
5 – Les Claypool (Primus)
6 – John Paul Jones (Led Zeppelin)
7 – Jaco Pastorius
8 – Jack Bruce (Cream)
9 – Cliff Burton (Metallica)
10 – Victor Wooten
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