Amplificadores no talo. A devoção ao volume, fetiche no
sangue de tudo quanto é guitarrista, já arrebentou as cordas de muita
Stratocaster por aí. O barulho é imperativo. Firmeza na munheca, também. Quando
os hormônios sossegam, contudo, a maturidade precisa dar o ar da graça.
Espinhas e testosterona não garantem o futuro de ninguém.
Cáustico – Seria exagero afirmar que o Acústico Aperipê da
banda The Baggios desenterra a serenidade das composições consagradas pelas
patadas certeiras de Julio Andrade (vocal e guitarras) e Gabriel Perninha
(bateria). A gana com que eles atacam o repertório reina soberana nas sete
faixas do EP. O nervosismo cheio de vontade dos meninos cria, aqui, no entanto,
uma espécie de caos calmo. O ímpeto contido dos andamentos e a moderação nos
efeitos afiançam a segurança do duo, própria de músicos conscientes de si.
Despidas, as canções respiram com uma naturalidade
primitiva. Se nas gravações originais (o EP possui apenas duas músicas
inéditas) a distorção assume a responsabilidade de nos manter aquecidos, o
lamento ancestral dos negros americanos ecoa em todos os riffs desse Acústico.
Longe dos campos de trabalho onde a ladainha nasceu, Julico transpira a seu
modo, desafiando os limites acanhados do próprio berço.
Entre as inéditas, nas quais o piano esperto de Leo Airplane
evoca ambientes escuros, impregnados de fumaça, o registro afetivo de uma
composição assinada pelo maluco que inspirou os primeiros passos da banda. Um
gesto carinhoso de gratidão encerrado em si mesmo. Ponto. “Meu relógio”, por
sua vez, passa a régua no disco. Todas as cadeiras do boteco descansam sobre as
mesas e o rosto mal humorado atrás do balcão nos convida a ir embora. “Hard times, when i play the
blues...”.
The Baggios - Cáusticos e acústicos
por Rian Santos
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