“Raul – O Início, O Fim e o Meio”, documentário de Walter Carvalho sobre a vida de Raul Seixas, estréia na próxima sexta-feira, finalmente, em Aracaju. As sessões serão exibidas no Cinemark do Shopping Jardins nos seguintes horários: 12h40 - 15h35 - 18h40 - 21h30 - 00h20 (neste último horário SOMENTE no Sábado, 19/05).
Abaixo, um texto de André Barcinski sobre o filme, publicado originalmente em seu blog:
Poucas vezes me emocionei tanto com um filme sobre música. Talvez
porque ele resgate uma figura que, para mim, carrega uma fama injusta. Raul é um daqueles artistas obscurecidos pela idolatria de seus
próprios fãs. O célebre “Toca Raul!”, que acompanha toda rodinha de
violão desde os anos 70, fez um mal danado à apreciação de sua música.
Tente esquecer os cabeludos tocando Raul em barzinhos e os sósias
dando abraços coletivos e cantando sobre a sociedade alternativa. Isso é
engraçado, mas não faz justiça ao sujeito. Se você conseguir enxergar por trás do folclore, vai perceber que até
as canções mais batidas de Raul – “Metamorfose Ambulante”, “Maluco
Beleza” e “Tente outra Vez”- são obras-primas.
Sempre adorei Raul Seixas. Acho o cara um gênio. “Ouro de Tolo” está
em qualquer lista das músicas mais bonitas gravadas no Brasil. Ninguém
escreveu uma letra como aquela. “S.O.S”, em que Raul se diz “macaco, em domingos glaciais” (e apesar
do encarte do disco dizer “glaciais”, aposto que ele canta “domingos
classe As”), é um dos momentos mais lindos e melancólicos do rock, em
qualquer língua.
Raul fez a fusão da música brasileira e do rock’n’roll como ninguém.
Foi a ponte entre Luiz Gonzaga e Elvis, com pedágios em Bob Dylan e
Jackson do Pandeiro. Mas nunca soou folclórico ou falso. Raul fez música autenticamente brasileira, incorporando a guitarra
elétrica de uma forma original e sofisticada. E sempre com a preocupação
de ser popular.
Não consigo pensar em um artista brasileiro que tenha feitos discos
tão variados. Pegue um LP qualquer de Raul – “Gita” (1974), por exemplo:
tem rock (“Super-Heróis”), balada caipira (“Medo da Chuva”), repente
(“As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor”), folk pastoral (“Água
Viva”), um jazz-bossa-lounge (“Moleque Maravilhoso”) e um bolero
(“Sessão das dez”). E isso é só o lado A!
Adoro a fase mística de Raul. A sequência de “Krig-ha Bandolo!”
(1973), “Gita” (1974), “Novo Aeon” (1975) e “Há 10 Mil Anos Atrás”
(1976) é insuperável. Mas ele fez grandes músicas em quase todos seus
discos.
O filme de Walter Carvalho merece ser visto. É um grande registro histórico, com muita música boa e ótimas imagens de arquivo. A entrevista com Paulo Coelho é antológica. O mago fala de sua
colaboração com Raul, da ligação de ambos com Aleister Crowley e o
ocultismo (“um período negro na minha vida”) e confessa ter apresentado
Raul às drogas. Já o papo com Marcelo Nova sobre seus últimos dias da vida também é
revelador. Marcelo conta que chegou a pagar a feira do amigo e ídolo. Aliás, Marcelo fez um texto muito bonito sobre Raul para o UOL,
que você pode ler aqui.
Outra qualidade do filme é sua independência. Não é um documentário
“chapa branca”, desses que escondem os defeitos e conflitos do
personagem. Mostra as relações traumáticas de Raul com suas mulheres e
filhas e seus problemas com álcool e drogas. Sylvio Passos, amigo e
presidente do fã-clube de Raul, conta que o maluco beleza andava com um
galão de cinco litros de éter debaixo do braço, cheirando
constantemente.
Espero que o documentário ajude uma nova geração a descobrir a música
de Raul Seixas, sem aquela velha opinião formada sobre tudo.
Ele merece.
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