sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Zombilly no rádio

O programa de rock é um projeto voluntário e sem fins lucrativos, então não existe para competir, e sim para somar. Portanto, uma dica: confiram sempre que possivel, através do endereço eletrônico http://www.zombilly.blogspot.com , o programa de rádio que é produzido e apresentado por meu camarada e colega de "fanzinagem" de longa data Andye Iore, direto de Maringá, Paraná. Conheci Andye, que é fã do The Cramps desde 1986, quando ouviu "Surfin´ Dead" no filme "A Volta dos Mortos Vivos", ainda no início dos anos 90 através de seu fanzine, o "The Wild Side", onde ele já apresentava suas paixões que perduram até hoje e são refletidas na programação do seu programa: psychobilly, rockabilly e muito rock alternativo, em geral. Posteriormente fui cliente de sua loja, a "Porão Discos", onde comprava via correio petardos como o Cathedral e o Fudge Tunnel. Recentemente Andye produziu um especial sobre uma de minhas bandas favoritas, o Jesus & Mary Chain. Recomendo.

* * *
(wikipedia) The Jesus and Mary Chain é uma banda de rock alternativo da Escócia, cujas músicas eram compostas pela dupla de irmãos Jim Reid e William Reid, formada em 1984 e que voltou aos palcos em 2007, após uma pausa de oito anos.

Ficaram conhecidos por unir melodias inspiradas no rock dos anos 60 (The Velvet Underground, Beach Boys, The Who) ao som sujo e distorcido criado com pedais e amplificadores. Os shows ao vivo eram notórios pela indiferença da banda em relação à plateia. Jim Reid chegava a tocar de costas para o público e alguns shows chegavam a durar apenas 10 minutos. No fim dos anos 80, a Universidade Politécnica de Londres foi palco de uma revolta do público contra a banda. Os pagantes destruíram o auditório da Universidade, em uma onda de violência que expôs os irmãos Reid aos holofotes da mídia especializada.

The Jesus and Mary Chain girava originalmente em torno da parceria de composição de seus dois membros principais. Para conceber por completo suas visões da banda, os irmãos Reid recrutaram o baixista Douglas Hart e o baterista Murray Dalglish. Esse foi rapidamente substituído por Bobby Gillespie (que iria liderar o Primal Scream posteriormente), e a banda gravou o single de estréia, "Upside Down", lançado em outubro de 1984 pela Creation Records. Apesar de o single ter recebido elogios gerais da crítica da imprensa da música britânica, e do fato de a banda ser fanaticamente defendida pela NME, foram os shows ao vivo deles que lhes deram mais destaque.

A banda serviu de inspiração para o shoegaze, apesar de eles próprios não se considerarem parte desse gênero.

Em 1999, após uma série de brigas, os irmãos Jim e William Reid anunciariam o fim da banda.

Mas em abril de 2007 a dupla se reuniu novamente no festival Coachella, Califórnia. Após um breve show de pré-estreia na quinta-feira (26), em Pomona, também na Califórnia, os irmãos Reid tocaram por cerca de uma hora no deserto de Índio. Foi uma das atrações da noite de abertura do festival que também trouxe de volta aos palcos as bandas Happy Mondays e Rage Against the Machine. Em uma performance aclamada pelo público e pela crítica, Jim e William surpreenderam tocando as principais canções da carreira e até uma faixa inédita. A execução da música "Just Like Honey" contou com a participação especial da atriz Scarlett Johanson nos vocais de apoio. A canção foi tema do filme "Encontros e Desencontros", dirigido por Sophia Coppola e protagonizado por Scarlett.

Atualmente os irmãos Reid estão em estúdio para a gravação de seu novo CD, 10 anos depois do último, o "Munki".



Faixa a Faixa
'Psychocandy / Darklands', do Jesus & Mary Chain


por Ramon Antoniazzi
Julho/2001

Criança que é criança gosta de chocolate. Umas preferem chocolate branco, outras, meio amargo; mas a maioria gosta mesmo é de chocolate preto. A grande surpresa é a óbvia surpresa de o pai voltar do trabalho e trazer um bombom ou uma barrinha de chocolate. A infância tem gosto doce e, com o passar dos anos, o gostar de doce é apenas a lembrança dos anos iniciais, só com a diferença de que agora você mesmo compra o seu chocolate.

No ano de 1985, uma nova variedade de doce foi lançada sob o nome de Psychocandy. Não no formato barrinha, mas no formato bolachinha (de vinil). Logo virou febre entre os mais atormentados adolescentes ingleses. A banda era o Jesus & Mary Chain, sensação recente no Reino Unido por já ter lançado quatro outras delícias no formato single: Upside Down, Never Understand, You Trip Me Up e Just Like Honey.

Psychocandy era um doce de difícil digestão. Trazia uma base baixo-bateria estável e no volume 2 e uma camada de guitarras e microfonias completamente nervosas no volume 10. Era o que muitos chamaram de absurdo! A banda dos irmãos Reid (Jim, vocal, e William, guitarra) com Douglas Hart no baixo e Bobby Gillespie (que depois criou o Primal Scream) na bateria foi recebida de braços abertos pela crítica inglesa. Só faltava o público mundial. A Inglaterra, fiel, ouvia Jesus, mas o mundo ainda não os conhecia.

Em 1987, foi lançado Darklands, o segundo disco da banda, deixando de lado as microfonias e guitarras cortantes e explorando o seu lado mais pop. Como resultado, finalmente a banda consegue um reconhecimento mundial. O disco trazia perfeitas canções como Cherry Came Too, Happy When It Rains e April Skies, consolidando de vez a corrente de Jesus e Maria.

Mais sete discos foram lançados depois: Barbed Wire Kisses (1988), coleção de lados-b; Automatic (1989), disco que trazia batidas mais sintetizadas; Honey’s Dead (1992), bom disco que continha a clássica e censurada Reverence; Sound of Speed (1993); Stoned and Dethroned (1994), álbum mais calminho e acústico; Hate Rock’n’Roll (1995); e Munki (1998), mais recente e derradeiro trabalho da banda. Ainda em 2000 foi lançada a sua John Peel Session, finalizando uma corrente de mais de 15 anos.

Em tempos de inverno e céus de julho, de ninho escondido e solzinho familiar, é bom lembrar-se de algumas coisas. Do primeiro gosto, forte, e que agora parece doce, de coisas que fomos e escutamos e do que, de alguma maneira, foi importante. A comparação de Psychocandy com chocolate é óbvia e não precisa de explicação, basta ouvir uma vez e pronto, não haveria outra maneira. Os pais alertaram e alertam quanto a ouvir Jesus. – Ouça com moderação –, diz o médico. Porque todo mundo sabe, muito chocolate, principalmente na puberdade, dá espinha.

PSYCHOCANDY

01
Just Like Honey
Canção de entrega a uma garota, leve e com pouca distorção, uma das melhores do disco.

02
The Living End
Muito barulho por tudo. Ode a si mesmo. Como diz na letra: 'I'm in love with myself'.

03
Taste The Floor
É como estar no chão, nas últimas. Guitarras com distorção bem saturada e música lenta.

04
The Hardest Walk
É difícil não sentir-se envergonhado, diz a letra.
Mas, apesar de tudo, deve-se continuar caminhando.

Essa não é barulhenta.

05
Cut Dead
Outra mais calminha, tem até violão.
A letra fala sobre as desaventuranças amorosas.

Lembra um pouco Velvet Underground.

06
In A Hole
Letra mais ácida e guitarra – ruído. 'There’s something dead inside my hole', diz Jim.

07
Taste Of Cindy
Canção pop fabulosa, falando sobre uma suposta Cindy, um grande amor.

Todas as músicas, de uma maneira ou de outra, falam sobre este assunto (sem clichês).

08
Some Candy Talking
Também calminha, fácil de engolir. Mais uma canção de amor e adoração.

'I love the way she’s walking, I love the way she’s talking'.

09
Never Understand
Podreira de primeira. A música mais empolgante do disco.

Enquanto a bateria marca e a voz e o baixo dão a melodia, a guitarra fica zunindo. Perfeito.

10
Inside Me
No começo, parece que o riff vai permanecer limpo, mas logo entram os chiados.

'I take my time away and I see something, and that’s my story'.

11
Sowing Seeds
Guitarra dedilhada e (aparentemente) limpa. Um dos melhores vocais de Jim.

12
My Little Underground
I’m gonna run and find a place where I can hide, sun shines so high bright in the sky.
Riff matador com distorção idem.

13
You Trip Me Up
Enquanto Jim canta uma melodia doce, a guitarra desconstrói qualquer coisa atrás.

'But you break me in two and you throw me away, and you spit in my head, you trip me up'.

14
Something's Wrong
É difícil escolher a melhor, mas esta está entre as 15 melhores músicas do Psychocandy.
É maravilhosa.
Guitarra e caixa bem sujinhas e o vocal, como sempre, doce.

15
It's So Hard
Efeito na voz (esta William canta), agora só sobrou o baixo limpo, o que é genial.

'A poem in the head of a poet that's dead'.
E o disco acaba com a frase: 'And it’s be in black, be in, be in black'.


DARKLANDS

01
Darklands
A grande mudança já dá para notar na primeira música: guitarra limpa e extremamente melodiosa.

Darklands de cara mostra o clima do disco: dark. William canta.

02
Deep One Perfect Morning
Música triste bem conduzida por um vocal baixo de Jim.

'Better to paint my hate on the walls before the pictures goes'.
Linda em cada pequena variação.

03
Happy When It Rains
A melhor música e talvez a mais tocada deste disco. Simplesmente perfeita.

Happy When It Rains está entre as grandes músicas pop dos anos 80.

Letra de amor incondicional: 'But your lips spoke gold and honey that’s I’m happy when it rains'.

04
Down On Me
Guitarra impecável. Melodia idem. Também sobre amor, só que de outro jeito:

'Sometimes I can fake a smile but still the world looks down on me'. Identificação?

05
Nine Million Rainy Days
William canta. Violão e guitarras em perfeita sintonia.

A letra é sobre aquela história de ficar o tempo todo pensando em alguém.

06
April Skies
Outro clássico. É incrível como uma banda pode fazer canções de amor de uma maneira tão sublime!

Esta também é uma, olha só: 'And if you walk away I can’t take it but that’s the way that you are, get back to where you came from I can’t help it under the april skies'.

07
Fall
Guitarra suja, poderia estar entre as mais calminhas do Psychocandy.

Letra sarcástica: 'Everybody’s falling on me and I’m as dead as a christmas tree'.

08
Cherry Came Too
Mais uma música para afirmar o porquê de o Jesus ser uma das melhores bandas do século.

Perfeita harmonia entre instrumentos e voz.

Lembra as baladinhas anos 60 (leia-se Beach Boys) por sua simplicidade de letra e melodia harmoniosa.

09
On The Wall
O começo lembra Walk on the Wild Side, do Lou Reed, pela guitarra e pelo baixo, mas logo muda.

A letra não é muito otimista: I like a clock on the wall..., e aí vai. Vocal de William.

10
About You
A última música é com um violãozinho e voz doce.
Então entra uma guitarra dedilhada, como na maioria do disco.
'I know there’s something warm, there’s something warm good about you'.


Matéria publicada originalmente no Musiczine.

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