segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

MALDITOS MECHANICS !

No primeiro álbum com músicas compostas em português, Mechanics se inspira no Tarô mais antigo de que se tem notícia para retratar o “ódio e a vontade de morrer” e continuar a fazer o ouvinte sofrer.

por Marcos Bragatto
Rock Em Geral

O grupo goiano Mechanics é do tipo que não se satisfaz com ele próprio; está sempre procurando sarna pra se coçar. Quando o vinil estava morto e enterrado, lançava sua música barulhento em compactos coloridos. Na era do CD, lançou o álbum “Music for Antropomorphics” com um livro de mais de 200 páginas como “encarte”, todo em quadrinhos. Agora, o grupo decide compor em português pela primeira vez e, inspirado no Tarô, fez o encarte do novo álbum, “12 Arcanos”, em 12 cartas separadas, uma para cada música. E que música. Sem abrir mão do peso inerente à sua história, o grupo transita com desenvoltura entre o garage, grunge, stoner rock e o que mais vocês achar barulhento, sem deixar de ser grudento.

A formação do Mechanics tem mudado nesses 16 anos, mas o comando sempre esteve nas mãos do inquieto vocalista Márcio Jr, que, nas horas vagas, faz parte do estado maior da gravadora Monstro e do Goiânia Noise Festival, e ainda tenta se eleger vereador. Nesse disco, além dele, estão na banda Katú e Ricardo Darin (guitarras), Little John (baixo) e Pedro Hiccup (bateria), o caçula da turma. É a primeira vez que a banda tem dois guitarristas, o que aumenta – e muito – a potência sonora ao vivo, para quem já nasceu com a vocação para o esporro. Não por caso “12 Arcanos” é um dos melhores lançamentos do rock nacional em 2010, além de trazer, ao menos, uma pérola: a música “Ódio”.

Nessa entrevista suada – Márcio Jr vive ocupado em mil e um projetos -, feita por e-mail, desvendamos tintim por tintim sobre a feitura do novo disco; vimos as vantagens de ser entendido ao cantar em português; deixamos emergir a inquietude de Márcio ao pensar no assumidamente pretensioso futuro do Mechanics; e flagramos – de novo - a verdadeira obsessão do líder do grupo em fazer o ouvinte sofrer, sempre movido pelo “ódio e a vontade de morrer”. Pois que sofram todos vocês:

Rock em Geral: Explica o conceito desse álbum, “12 Arcanos”?

Márcio Jr.: Sempre pensei os álbuns do Mechanics como obras fechadas, guiadas por conceitos que estou interessado em desenvolver. Depois do complexo disco-livro “Music for Anthropomorphics”, tivemos o “Neither Acoustic Nor Electric”, que é uma derivação daquele. São versões acústicas de algumas músicas do “Music…”, que foram usadas como trilha sonora do filme “Graffitti em Ruínas e Outros Muros” e que acabaram virando uma edição limitada de 100 cópias, artesanais, todas com capa em serigrafia, assinadas e numeradas. A partir deste trabalho, começamos a desenvolver o novo disco e pensei que seria desafiador tentar compor em português. Ao longo dos anos tenho discutido a decisão do Mechanics compor prioritariamente em inglês. Nunca foi uma questão mercadológica, mas sim uma opção estética. Em inglês as letras soam mais intuitivas, a voz acaba virando outro instrumento na criação de uma atmosfera musical. Sempre foi isso que persegui. O desafio de compor um álbum em português tem a ver com adotar uma perspectiva diametralmente oposta. Quando eu berro que “sou feito de ódio e vontade de morrer” essa mensagem é imediatamente decodificada por quem está ouvindo. A música deixa então de ser intuitiva e passa a ser racional. Ela migra do inconsciente para o consciente. Como em português a interpretação seria mais direta, passei a escrever letras que funcionassem como um compêndio dos temas que têm sido caros ao Mechanics ao longo de sua existência: morte, violência, paixão, sexo, drogas, arte, caos… Comecei a tratar estes temas de forma bastante simbólica, quase arquetípica e, coincidentemente, durante o processo de composição do álbum fui até Brasília assistir a uma palestra com o cineasta-quadrinista-dramaturgo-bruxo-gênio-lenda Alejandro Jodorowsky, onde, entre outras coisas, ele discutia o Tarô de Marselha, o mais antigo de que se tem notícia e descoberto pelo próprio Jodorowsky. Fiquei fascinado com a força daquilo. Não a força mística (sou ateu), mas, sobretudo, a força simbólica. E foi a partir desse conjunto de variáveis que começamos a desenvolver o álbum.

REG: O tal conceito é mais nas letras ou no som também?

Márcio Jr.: O conceito é geral e se aplica a tudo em “12 Arcanos”. Se no “Music…” a música era mais nebulosa, no “12 Arcanos” ela é mais direta, já que as letras, em português, também o são. Gosto de pensar no disco como um soco no estômago. Forma e conteúdo não podem ser dissociados no Mechanics.

REG: Que diferenças você vê em compor numa e na outra língua?

Márcio Jr.: As diferenças são gigantescas. A sonoridade e inflexão são completamente diferentes. O inglês é a língua natural do rock, aceitando seus clichês e chavões com muita naturalidade. Vejo muitas bandas naufragarem ao compor em português mantendo todas as características do inglês, apenas “traduzindo” as letras. Acaba virando aquela coisa brega, próxima ao sertanejo. Acho até que é por isso que as duplas sertanejas gostam tanto de fazer versões de bandas de hard rock. Compor em português é um grande risco, pois não sobra muita margem para a enganação. A letra tá ali, pornograficamente explícita para o ouvinte. Acertar a mão é um baita desafio e foi o que me instigou a fazer o “12 Arcanos”.

REG: O encarte desse disco é repartido em “cards”, cada um com uma letra e uma ilustração…

Márcio Jr.: Arcanos são as cartas principais do tarô. Daí que, se tratei e criei o álbum como um sistema de tarô, nada mais natural que ter as cartas para acompanhá-lo. Há, inclusive, uma proposta para a audição do disco: colocar o CD no shuffle e ver que sorte (ou falta dela) surgirá dali e aparecerão nas cartas.

REG: É impossível o Mechanics sem a conexão com ilustrações e quadrinhos?

Márcio Jr.: Tudo é possível. O fato é que uma das premissas da banda é a busca constante de diálogo com outras formas de expressão que não apenas a música. Dessa forma, estamos sempre enredados com quadrinhos, artes plásticas, cinema, performances, literatura, etc.

REG: As ilustrações dessa vez ficaram por conta do Lauro Roberto. Quem é ele e como vocês decidiram trabalhar juntos?

Márcio Jr.: O Lauro é um amigo fanzineiro dos anos 80/90, um artista genial que, infelizmente, ainda não conseguiu o reconhecimento que lhe é devido. Marginal demais, louco demais, difícil demais. Tudo isso pode ser dito da obra e do próprio Lauro Roberto, que (sobre) vive em Volta Redonda. Enquanto compúnhamos o “12 Arcanos”, eu pensava o tempo todo no Lauro para o trabalho, pois ele seria a única pessoa capaz de traduzir graficamente a densidade que eu buscava pro álbum. Uma das coisas que mais me deixam satisfeito com o “12 Arcanos” é que, de certo modo, estamos conseguindo chamar algum tipo de atenção para o seu trabalho. Repito: o Lauro é genial.

REG: Musicalmente, o Mechanics já foi identificado com garage rock, grunge, stoner rock. Como você vê o som da banda hoje?

Márcio Jr.: Nunca me preocupei com essas categorizações, isso não me diz respeito. Temos mesmo elementos de todos esses estilos que você assinalou, bem como de uma infinidade de outros: metal, hardcore, punk, indie rock… Não gosto de pensar em limites, mas sim na ruptura deles. Nossa única preocupação é fazer música que seja relevante e desafiadora para nós mesmos. Hoje, o Mechanics está melhor, mais sujo, denso e torto que nunca.

REG: A música “Desmorto” é a que mais lembra, digamos, um período mais “stoner” do Mechanics, e é uma das mais trabalhadas. Essa música é antiga? Fale como ela surgiu.

Márcio Jr.: “Desmorto” é mesmo um dos momentos mais pesados e psicodélicos de “12 Arcanos”, algo como nossa homenagem ao Black Sabbath. Mesmo a letra carrega essa atmosfera negativa, lidando de forma ambígua com temas, digamos, perigosos. Para dizer a verdade, não me lembro se foi uma das primeiras composições do álbum. Mas ao afirmar que é uma das músicas mais trabalhadas do álbum, você me fez pensar em algo interessante: na verdade, todas as músicas do disco foram muito trabalhadas, mas com propósitos diferentes. Às vezes o trabalho é para deixar a música mais rebuscada, outras para deixá-la aparentemente mais simples. Há, em vários momentos do álbum, uma abordagem minimalista. Mas para se chegar ali houve muito trabalho, muita depuração, muita matemática. O disco tem músicas com tempos e métricas inusitados, construídos de forma muito cerebral. “Cidade” e “Máquina” são exemplos disso.

REG: As referências de vocês mudaram durante esses últimos 16 anos? Quais rumos foram indicados nessas mudanças?

Márcio Jr.: Muita coisa mudou nesses 16 anos, mas principalmente mudamos nós mesmos. No começo éramos um bando de moleques recém-saídos da faculdade, doidos para nos divertir. Agora somos um bando de pais de família. Mais doidos que nunca! Mas pais de família. O que eu sempre tive como meta para o Mechanics foi construir uma carreira e uma obra diversa, marcada pelo inusitado, pelo risco e não pela fórmula pronta. A cada novo álbum me coloco uma série de questões. O que fazer agora que ainda não fizemos? Como apresentar algo que seja novo, mas que mantenha o espírito e a integridade da banda? Como me sentir inseguro e desconfortável? Olhando em retrospecto, acho que temos feito isso.

REG: As mudanças na formação da banda implicam em mudança no som, ou você, que é o cabeça na banda, conduz tudo a seu modo?

Márcio Jr.: Meu papel no Mechanics é estabelecer os conceitos, propor diálogos com outras linguagens, criar os quebra-cabeças mentais de onde surgirão as músicas, os álbuns, os shows. Mas mesmo isso é feito em constante discussão dentro da banda. Todo mundo participa de tudo. Se eu assumo essa posição de - sei lá - “líder conceitual”, é porque os caras confiam em mim para esse trabalho. E é claro que as mudanças de formação trazem mudanças no som – o que é sempre bem-vindo, desde que essas mudanças ainda estejam dentro daquilo que entendemos como uma espécie de arcabouço estético e sonoro da banda. É dentro deste arcabouço que nos movemos.

REG: Concorda que a música “Ódio” é uma das mais fortes e emblemáticas do disco? Fale sobe ela, em particular, e como ela se encaixa no conceito do disco:

Márcio Jr.: O ódio é um tema recorrente para o Mechanics e, portanto, ele obrigatoriamente seria tratado num álbum como o “12 Arcanos”. Penso no ódio como uma das forças motrizes da humanidade. É uma energia muito intensa, muito poderosa. É impressionante a capacidade de odiar que o ser humano tem – eu inclusive. Penso sempre que o ódio é um sentimento mais perfeito e absoluto que o amor. O amor é mais difuso, mais complexo. O ódio é cristalino. Você pode ter dúvidas quanto ao amor que sente, mas geralmente o ódio é uma certeza. “Sangue” e “Ódio” foram as primeiras músicas compostas e acabaram deflagrando o conceito do álbum. Elas foram escritas num período muito barra pesada pra mim. Um dia, no estúdio, enquanto os caras me mostravam uns riffs me veio a frase “eu só consigo sentir ódio e vontade de morrer”, que era exatamente como eu me sentia na época. Hoje, até que a vontade de morrer diminuiu bastante. “Ódio” talvez seja minha preferida no disco.

REG: “Sangue” é outra que, embora simplória, carrega muita dramaticidade. Ela e “Ódio” foram inspiradas em algum filme desses de serial killer?

Márcio Jr.: Simbolicamente, o sangue é um elemento riquíssimo em todas as culturas. Vida, morte, dor, prazer, horror, conquista, religião,… tudo isso está ilhado pelo líquido vermelho que corre nas nossas veias. Não acho que “Sangue” seja uma música simplória. Pelo contrário, penso nela como algo direto, explosivo, quase irracional. A letra é uma espécie de hai-kai. “Sangue” é do mesmo período difícil que eu comentei anteriormente e surge de uma imagem muito forte na minha cabeça, que sintetizo no (singelo) verso “a minha pica suja de sangue”. Não vou entrar em detalhes, lógico. “Ódio”, por sua vez, nasce de um sentimento pessoal que, em seguida, fui tentando transmitir a um personagem – um recurso que eu sempre usei na maioria das letras do Mechanics.

REG: A última faixa, “I’m Joe’s Fear Of Disease”, é um bônus ou está no conceito do CD?

Márcio Jr.: “I’m Joe’s Fear Of Disease” está fora do conceito de “12 Arcanos”. Ela foi a primeira música feita com o Katú, que assumiu as guitarras do Mechanics quando estávamos finalizando as demoradas gravações do “Music for Antropomorphics”. É uma música que gostamos muito e é uma homenagem ao genial e doentio artista norte-americano Joe Coleman. A faixa é muito exemplar na questão de se escrever em inglês ou português. Durante a criação do “12 Arcanos” a banda pressionou bastante para eu escrever uma letra para ela em português. Só que a música já existia em inglês e acho que estava bem resolvida ali. Tentar “traduzir” ou “adaptar” seria um erro crasso, pois não funcionaria já que não foi criada com esse intuito. Trocaríamos uma música boa por uma, no máximo, razoável. “I’m Joe’s Fear Of Disease” é o registro de uma época e é assim que ela deve existir.

REG: Com o disco anterior, “Music for Antropomorphics”, você dizia que queria fazer o ouvinte sofrer. E agora, o sofrimento continua?

Márcio Jr.: Sempre.

REG: Como você avalia o ano que passou para o Mechanics? Tocaram muito? Quais foram os shows mais legais?

Márcio Jr.: Tocamos bastante em 2010. Tocantins, Natal, Brasília… Fizemos festivais legais como o DoSol e o Porão do Rock. Mas os melhores shows foram em casa, na Revirada Cultural e no Goiânia Noise.

REG: Vocês já lançaram música em cassete, compacto (quando o mercado não vendia mais), com um livro de “encarte”… O que ainda falta fazer?

Márcio Jr.: Ainda não sei, mas algumas idéias já começam a se desenhar. A que se apresenta com mais vigor é a de lançar um próximo álbum em vinil – o que, em si, não tem nada demais. O que eu pretendo, de fato, é explorar os limites do vinil enquanto suporte. Hoje vivemos o declínio da idéia de álbum. As pessoas baixam músicas aleatoriamente na internet, fazem suas próprias seleções. As bandas já se adaptam a isso, lançando músicas avulsas ou em pequena quantidade, como nos tempos em que só existiam os singles. Nesse ambiente, mais que criar um novo álbum, quero criar um álbum em vinil, um long play, extrapolando aquela idéia de lado A e lado B e o modo como esses dois momentos de audição se relacionam. Como diria o Marshall McLuhan (filósofo canadense introdutor do termo “aldeia global” como metáfora para a sociedade contemporânea) , o “meio é a mensagem”. Acho fundamental dizer que o Mechanics é uma banda pretensiosa. O que me move e me deixa de “pau duro” são essas pirações conceituais, a vontade de ir por caminhos que ainda não conheço. Quando fazemos um disco-livro, uma série limitada e artesanal, ou encartamos um jogo de tarô em cada cópia de um álbum, isso não é uma macaquice para deixar o produto mais vendável. Jamais pensei nestes termos. Detesto maneirismos de qualquer espécie. Nossos álbuns não são discos com um “encarte invocado”. Eles são proposições estéticas, conceituais e é nesse sentido que nos considero artisticamente pretensiosos. Mas não somos presunçosos. Nunca sei se a experiência em curso vai dar certo e, na verdade, não me preocupo muito com isso. Cabe ao público decidir isso, ativamente, construindo a outra metade da obra. Nada que saia da gente é fácil e muito menos entregue pronto. Por isso, continuo querendo que o ouvinte sofra. Manter a banda dentro desse labirinto é o único modo dela continuar existindo depois de 16 anos de estrada.

REG: Quais os planos? Um novo álbum já em 2011?

Márcio Jr.: Queremos continuar mostrando o “12 Arcanos” Brasil afora. Acredito muito na relevância desse disco. Com certeza começaremos a compor um próximo trabalho, mas ainda não sei se ele ficará pronto em 2011.

REG: Como anda sua atividade na Monstro e no Goiânia Noise Festival? Tenho a impressão que os festivais, de uma forma geral, deram uma estagnada. Você concorda? O que fazer para sair desse estado de acomodação?

Márcio Jr.: Continuamos tudo a pleno vapor. Entendo essa sua percepção de que os festivais deram uma estagnada. Não sei se é exatamente isso que acontece, mas realmente acho que existe um modelo que está se aparentando único e penso que isso é um tiro no pé. Temos é que buscar diversidade, inovações, quebra de paradigmas… Enfim, um modo de manter as coisas acesas, queimando. No (Goiânia) Noise (Festival) temos buscado isso a ferro e fogo. Em 2009 foi o festival tomando as casas noturnas da cidade. Em 2010 foram inovações como o UnConvention, o Compacto Petrobras e por aí vai. Não podemos ficar congelados numa fórmula. A Monstro - eu garanto - vai fazer de tudo para não cair nessa armadilha. No nosso ambiente, existem outras coisas que me preocupam mais que a saúde dos festivais. Uma é fortalecer o circuito de casas noturnas de pequeno e médio porte do país. Os festivais são vitrines, mas é nos clubes que as bandas devem estar todos os dias. Outra coisa é o aparelhamento e a ultradependência do poder público. Temos que usar o poder público para criar asas, mas temos que aproveitar isso para criar também as condições de conquistarmos público e uma verdadeira independência financeira. Nosso objetivo não pode ser virar um braço do Estado, mas sim criar um mercado alternativo real. Para isso precisamos de políticas públicas de médio e longo prazo e acho que em várias esferas essa consciência começa a se aflorar. Por fim, tenho muito medo da cena alternativa se tornar um pastiche do mainstream, com seus caciques traficando influências, o jabá tomando novas formas, os favorecimentos se sobrepondo a uma visão artística e por aí vai. A soberba pode ser o pior inimigo de uma cena que depois de muito trabalho começa a se estruturar. Não podemos baixar a guarda quanto a isso.

REG: Você vem sendo candidato a vereador em Goiânia, certo? O que falta para você vencer e o que pretende fazer se eleito?

Márcio Jr.: Ser candidato a vereador foi uma das minhas diversas ações políticas ao longo das últimas duas décadas. Acredito que a Cultura é um campo de geração de riquezas materiais e simbólicas que deve estar no centro das discussões do país. Criar melhores condições para que os trabalhadores da Cultura possam desenvolver suas carreiras sem ter que obedecer a qualquer tipo de cartilha da indústria cultural é uma preocupação que deveria estar na cabeça de qualquer um que lida com música ou qualquer outra manifestação artística. O que falta para eu ser vereador? Imagino que com algum suporte financeiro isso seja possível. Sem grana alguma eu tive 1004 votos em Goiânia, onde a média para se eleger com um mínimo de 3800 votos ficou em torno de um R$ 1 milhão. Ou seja, o potencial para ser eleito está colocado. Mas o parlamento não é a única forma de se fazer política. O lance é estar atento, lutar pelos seus direitos, anarquizar os picaretas, aproveitar as brechas positivamente e por aí vai. Para se ter uma ideia, enquanto respondo a esta entrevista o atual Secretário de Cultura do Estado de Goiás me convidou para gerir o Centro Cultural Martim Cererê – palco de tantos Noise, Bananada, Vaca Amarela, etc. Sinal de que 2011 vai ser um ano cheio de trabalho. Do bom.


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