Na edição da última sexta-feira o programa de rock se rendeu ao charme “bagaceiro” da musa soul inglesa Amy Winehouse, que anda aprontando das suas em Terra Brasilis. Abrimos a noite com uma versão gravada por ela para um clássico do ska “two tone”, “Monkey Man”, do The Specials, além de tomarmos emprestado do programa LADO C, produzido pelo ex-Hojerizah Marcelo Larrosa, um inusitado “mash-up” produzido pelo DJ LK que une a musa a “eu quero essa mulher assim mesmo”, de Monsueto. Mais apropriado para o momento, impossível. Por falar em Marcelo Larossa, entrevistamos o designer gráfico, músico, produtor e ex-rockstar, que atualmente mora em Aracaju. Dentre outras coisas, ele nos explicou que veio parar por aqui através de uma oferta de emprego que não vingou, mas que está satisfeito com a mudança e já conhecia a cidade desde antes da formação do Hojerizah, formação “Cult” do rock brasileiro oitentista. Contou-nos o que fez desde o final do grupo, em 1989, e nos deleitou com saborosas histórias dos tempos áureos, explicando, por fim, que o fim do grupo deveu-se a desavenças que tiveram como pivô o comportamento do guitarrista e compositor Flavio Murrah, vítima de esquizofrenia, além de problemas com a gravadora, que insistia em interferir na produção dos discos e queria que eles tocassem "pros que estão em casa", que fala em sua letra "não vou tomar café/nem escovar os dentes/vou de aguardente" em programas infantis. Mas ressaltou que todos continuam amigos e têm um acordo de voltar a tocar juntos por uma temporada a cada 10 anos. Na seleção musical, Larrosa nos trouxe pérolas dos amigos Toni Platão e Julia Debasse, além de faixas das duas principais bandas das quais fez parte, o Chaparral e o Hojerizah.
Completando o combo semanal, um bloco post-punk/new wave com as musas Patti Smith e Debbie Harry, do Blondie, mais Talking Heads e Stranglers, que era punk mas ia além, em termos de sonoridade. Tivemos ainda uma sessão “tapa no pé do ouvido” com crossover, abrindo com o DRI, que estará presente na edição de 2011 do tradicional festival Abril pro rock, e Classic rock com Blue Oister Cult, Blue Cheer e os também texanos (DRI é de lá) do Josefus, ambos pioneiros de que veio a ser chamado, posteriormente, de Heavy Metal.
Até a próxima sexta.
A.
Sobre o Hojerizah:
Hojerizah é considerada uma banda inovadora do rock brasileiro dos anos 80, apesar de sua falta de sucesso comercial. Tendo trabalhado por sete anos e escrito em torno de 100 canções, que foram apresentados nos bares alternativos, a banda gravou dois álbuns e foi dissolvida logo depois. Seus pontos fortes, em fãs seu ponto de vista, são as letras elaboradas e partes instrumentais, a cargo de Flavio Murrah , um dos melhores guitarristas do estilo.
A banda passou alguns anos, constituindo a sua identidade e repertório. Em 1985, eles conseguiram gravar um single, Pros Que Estão os Em Casa, que teve execução em rádios alternativas como a Maldita (Fluminense FM), uma das poucas que tocaram o rock brasileiro dos anos 80.
Em julho de 1987, eles gravaram seu primeiro LP, Hojerizah, que mistura rock visceral, post-punk e progressivo, com referências ao pintor surrealista Salvador Dali e diretor de cinema Luís Buñuel (a capa do álbum mostrava a famosa cena do olho cortado por uma lâmina de Le Chien Andalou). “Pros Que Estão os Em Casa”, que foi incluída no álbum, teve boa execução, e “Tempestade em Viena” e “Senhora Feliz”, também foram reproduzidos.
Em novembro de 1987, a banda, juntamente com Hanoi-Hanoi e Nenhum de Nós , tocou no Canecão (Rio), o mais importante espaço único para o lançamento de tendências, no festival promovido pela nascente selo Plug (RCA), que se especializou no rock brasileiro dos anos 80.
Seu segundo álbum, Pelé, veio em outubro de 1988, desta vez com referências ao poeta simbolista francês Jean-Arthur Rimbaud (um de seus poemas foi usado em “Canção Da Torre Mais Alta”). Ele só tinha duas músicas tocadas nas rádios especializadas, “Pele” e “A Lei”. A BMG-Ariola rompeu o contrato, devido à sua falta de sucesso comercial e a banda se dissolveu logo depois.
Em 1994, eles uniram novamente para lançar uma compilação com os Picassos Falsos, a banda que manteve várias semelhanças cronológicas com o Hojerizah.
Em 1999, eles tocaram no Ballroom.
por Alvaro Neder, All Music Guide
Quando o Hojerizah apareceu na mídia, com aqueles vocais incomuns de Toni e as letras inteligentes e subjetivas de Flávio, era óbvio que algo de novo estava acontecendo. Ao ouvir o nome Hojerizah e depois ouvir a música da banda, a pessoa entende o porquê do nome. As letras e as músicas simplesmente eram diferentes de tudo que se conhecia neste país. Elas conduziam a reflexões, emoções, explicações de questões tão presentes no cotidiano mas tão desprezadas pelas pessoas. Além disso, estas letras demonstram uma verdadeira aversão aos valores e às atitudes das pessoas no dia a dia. “Caminham em bandos guiados pelo acorde monocórdico de uma lei que está oculta mas todos obedecem”, diz a letra de pessoas.
Identificar-se com as letras do guitarrista Flávio Murrah é quase inevitável. Ele aborda questões como a traição, a solidão, a paixão pela solidão. É como se ele tocasse, através de suas letras, em pontos fracos das pessoas, abrindo-lhes uma porta que antes, não se sabe por que motivo, insistia em permanecer fechada.
Eis o encanto do Hojerizah, e o porquê da saudade que ele deixou em todos os seus fãs. Toni, Flávio, Marcelo e Álvaro pareciam ter surgido apenas para cumprir uma missão, e o fizeram muito bem. Estive lendo uma entrevista do hojerizah, em que os integrantes da banda contavam que se impressionaram ao ver que no seu último show, em 1999, uma garotinha que assistia ao espetáculo chorava o tempo inteiro, tamanha emoção com as músicas. Ao fim do show, a mãe da garotinha os procurou para pedir autógrafos.
É realmente impressionante o poder de emoção que tem o Hojerizah. Basta ouvir a banda para compreender. Eles conseguem fazer da música mais do que tudo uma arte. Jogam com instrumentais melancólicos e letras reflexivas, que levam as pessoas ao ápice de seus sentimentos.
“Você que cospe a confissão e chora o delírio da vida”, dizia Tempo que passa. “Tanto fez, tanto faz, um vento bate em minha janela e o silêncio sorri para mim” rebate Tempestade em Viena, mostrando todo o poder das letras do Hojerizah.
O único ponto triste desta história é o final da banda, que apesar do público fiel, sempre enfrentou muita dificuldade com questões como divulgação. Talvez a mídia não estivesse preparada para conhecer o Hojerizah. Nosso país, infelizmente, ainda precisa de uma cultura real e forte, e o Hojeriza, assim como Uns e Outros, Zero e Violeta de Outono vieram para fortalecer esta cultura e nos mostrar que boa música se faz aqui, sim…
Fonte: http://brock80.br
Hojerizah
Composição: Rômulo Portella / Flávio Murrah
Até bem cedo
Esperei pelo telefonema
Tapando com peneira
O sol que vai nascendo
Não vou tomar café
Nem escovar os dentes
Vou de aguardente
Como o sol que queima a praça
Bom dia, boa tarde
Good night, quero dar um tapa
De topete e cara
Vi Nova York internada
E meu amor nao deu em nada
Nem sobrancelhas eriçadas
E a essa altura do fato
Nem fumaça tem cano de descarga
¨¨¨
Amy Winehouse – Monkey manDJ LK MASH UP – Amy Winehouse x Monsueto – Eu quero essa mulher assim no good
Patty Smith – Rock´n´roll nigger
The Stranglers – (get a) Grip (on yourself)
Blondie – Hanging on the telephone
Talking Heads – Psycho killer
End Hits – Run Away
The Twinpines – soda spring
(Drop Loaded)
DRI – Yes, mam
Cryptic Slaughter – M. A. D.
SOD – Speak English or die
Toxic Holocaust – Thrashing death
Energetic Krusher – Back from the dead
Reverendo T. e os Discípulos descrentes – Os Bêbados
Blue Oyster Cult – Don´t fear the ripper
Blue Cheer – Make me laugh
Josefus – Jimmy, Jimmy
Entrevista com Marcelo Larrosa
(Bloco produzido por Marcelo Larrosa):
Hojerizah - Sol
Toni Platão - Dentes da Frente
Julia Debasse - Quando uma mulher chora
Chaparral - O sol vai nos queimar
Chaparral - Bárbara
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