“A Gangrena é muito folclórica, então atribuem à banda coisas que não
aconteceram”, explica Ângelo Arede, vocalista do Gangrena Gasosa, banda
que, ao misturar elementos do metal e da umbanda, marcou época no Rio
de Janeiro dos anos 90, não apenas pela musicalidade agressiva e
inusitada, como pelas vestimentas (ou falta delas) e pela interatividade
desajeitada com o público. Ou, como eles preferem descrever, pela
“escrotice da Gangrena”. Tanta coisa atraiu o cineasta Fernando Rick
para montar documentário sobre a história da banda, e ele batizou o
projeto com um nome à altura: Desagradável.
Tanto a história do grupo criador do chamado sarava metal como a
história do documentário nasceram, na verdade, do Ratos do Porão. “Eu
fiz o documentário do Ratos de Porão e o Gangrena foi uma banda que
nasceu para abrir o show deles. O [ex-vocalista] Chorão me
escreveu um e-mail gigantesco e assinava no final ‘Chorão do Gangrena
Gasosa’”, conta Fernando Rick, que dirigiu o filme Guidable - A Verdadeira História do Ratos de Porão,
em 2009. A ideia inicial era gravar um show e um minidocumentário –
“acabou que o show tem 1h30 e o documentário tem 2h”, ressalta Ângelo.
Não podia ser diferente. A quantidade de causos acumulados em mais de
vinte anos de carreira já seria naturalmente grande para qualquer
grupo, ainda mais para um com a inconsequência punk de integrantes que
costumavam se vestir de entidades da umbanda no palco e jogar na plateia
despachos furtados de encruzilhadas durante as madrugadas. Algumas das
passagens narradas são bastante surreais. “De cara, eu não imaginava
que teria tanta coisa. Pô, tem história de espancamento, atropelamento,
tem gente que morre durante as filmagens”, revela Rick.
Mas nem todas as histórias conseguiram chegar à versão final do
filme. Algumas por falta de documentação, outras por questões éticas.
“Tudo o que está lá é real, a gente não maquiou nada, mas tem coisa que
acabou não entrando para defender a integridade moral das pessoas”,
afirma o diretor. Acontece que durante os anos, o Gangrena Gasosa teve
muitas formações diferentes, e diversos ex-integrantes hoje levam vida
“normal”. “Tem muita história que é o ‘proibidão da Gangrena’, de sexo,
drogas, etc”, diz Arede, que afirma que atualmente “a Gangrena está
light”. Isto não quer dizer, contudo, nem que histórias do tipo não
constam no filme, nem que a banda hoje faz shows “convencionais”, como
poderá ser visto neste sábado, 11, em São Paulo.
A estreia de Desagradável acontecerá dentro do festival
In-Edit e será acompanhada de um show do Gangrena. “Vamos ter
participações especiais de ex-integrantes e preparamos umas performances
um pouco diferentes que acho que vão impactar o público. Vai chocar um
pouquinho, mas é surpresa”, diz Arede, que afirma que a banda ainda
neste ano começa a pensar em novo disco, além de sonhar com um acústico.
“É só a gente acabar de divulgar o DVD [do filme e do show] que vamos pegar firme com essas músicas novas para gravar um disco.”
por Lucas Reginato
Rolling Stone
Estreia do documentário Desagradável em São Paulo
Sábado, dia 11 de maio, às 17h
Cine Olido - Avenida São João, 473 – República
Show do Gangrena Gasosa às 19h30
Entrada franca
No Rio de Janeiro
Quinta, dia 20 de junho, às 20h
Abrindo para o Cannibal Corpse
No Circo Voador
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