A Baratos está completando 35 anos de atividade. Tudo começou em 24 de maio de 1978, numa pequena sala do segundo andar de uma galeria em São Paulo que mais tarde ficou conhecida como “Galeria do Rock”. No início era apenas uma loja, mas após 3 anos a Baratos passou a atuar também como gravadora, lançando grandes nomes do underground brasileiro. O primeiro foi o álbum “Singin Alone” do ex-Mutante Arnaldo Baptista. O último foi "Cuidado Garota", dAs Radioativas. Outro projeto importante foram os dois volumes da coletânea “S.P. Metal”, um dos primeiros lançamentos do Heavy metal nacional nos anos de 84 e 85. Só o Stress, do Pará, gravou antes.
Para conhecer o catálogo completo da gravadora e demais infos acesse o site oficial.
Abaixo, uma matéria publicada no site mofo sobre a produção do segundo disco solo de Arnaldo Baptista - o primeiro lançamento oficial do selo Baratos Afins. O texto é de Rubens Leme da Costa.
Em 1982, Arnaldo saía de um período negro. Após uma passagem
confusa pela Patrulha do Espaço, se viu internado no Hospital do Servidor
Público de São Paulo, após vários problemas emocionais e profissionais
ocasionado por substâncias pesadas, entre elas o LSD. Acabou caindo do terceiro
andar do local, em um incidente nebuloso. Alguns relatos dão conta de que o
ocorrido fora um acidente, após uma briga com enfermeiros, que tentavam
acalmá-lo em um momento de fúria.
O fato é que passou três meses em coma na UTI e aos poucos
foi se recuperando. Ainda estava muito debilitado, com alguns problemas físicos
decorrentes do longo tempo em coma, mas desejava voltar a tocar e se
apresentar. Nesse período recebia visitas de Luiz Calanca, que havia acabado de
montar o selo Baratos Afins e queria lançar um novo álbum do ex-Mutante.
Calanca já o havia ajudado meses antes, na produção do show Shining Alone. "Ele
pretendia fazer uma série de apresentações sozinho e lançar o disco. Fez o show
no Tuca e cuidei da divulgação, vendi bilhete antecipado, recolhi os bilhetes
na porta, e gravei o show, que eram as músicas do disco. Eu não tinha nenhuma
experiência na área, na parte de gravação o Arnaldo fez tudo sozinho."
Gravá-lo, porém, não era simples. Desde os tempos dos
Mutantes insistia em algumas idéias de maneira obsessiva, como o uso de
amplificadores valvulados, a paixão pela guitarra Gibson Les Paul e pelo baixo
Gibson SG. Assim, ele entra nos estúdios Abertura para gravar e tocar todos os
instrumentos do disco, seguindo o modelo de Paul McCartney em seus dois
primeiros discos-solos. Arnaldo teria apenas a companhia da parceira Suzana
Braga nos backing vocals em "The Cowboy" e "Corta Jaca".
Segundo Luiz Calanca, as gravações para o disco aconteceram
antes do "acidente", ou seja foram realizadas nos últimos meses de
1981: "Eu não tenho detalhes da gravação e o próprio Arnaldo não se
lembra, mas o Helder Marques (engenheiro de som), disse que ficaram só os dois
no estúdio e rolou tudo tranquilamente. Inclusive, muitas coisas foram feitas
em um único take."
O dono da Baratos Afins conta que foi procurado por Suzana
enquanto Arnaldo ainda estava em coma para lançar o disco. "Após o
acidente do Arnaldo, na virada de 1981 para 1982, ela veio me procurar com o
tape das gravações, que estava guardado, já no fim de janeiro de 1982. Arnaldo
nem participou do contrato entre a Baratos e a Suzana, pois estava em coma no
hospital."
Calanca prossegue: "A Suzana me mandou as letras,
escritas à mão, e mandei fazer a composição. O digitador deixou com um monte de
erros e numa segunda edição optamos por deixar sem o encarte. Na parte do
áudio, levei o material em fita de 1/4 de polegada e pedia o tempo todo para o
engenheiro de som da RCA-Victor para colocar mais grave; eu sempre queria mais
peso e o disco ficou todo abafado. O CD que foi feito anos depois (a partir dos
másteres originais) deixou o som mais próximo do real. Além disso, submeti as
musicas ao depto de censura, fiz o corte do acetato, prensei os discos. Me
lembro que levei algumas cópias para ele, que estava saindo da coma e chegou a
me assinar uma cópia, e escreveu no disco, 'eu tenho vivido muito sozinho
ultimamente'". Para ele, lançar um disco do de Arnaldo Baptista era um
motivo de orgulho: "O Singin' Alone foi o primeiro disco do selo."
Assim foi editado o
segundo LP de Arnaldo. Um disco cheio de letras em inglês (sete, no total) e com
temáticas mais utópicas. Era um músico diferente, cantando de uma maneira mais
grave, compondo canções mais experimentais do que no disco anterior e
misturando experiências pessoais com delírios e sonhos. Lentamente ele tentava
se reconstruir emocionalmente, voltando aos palcos com o show “Abrindo para
porta de uma nova vida”, no Tuca, teatro que tinha visto alguns shows solos e
com o Patrulha, nos anos 70.
Singin' Alone é a visão de um homem sofrido, que tenta
entender o mundo de uma maneira totalmente particular. Ele abre a obra com a
triste "I Feel In Love One Day", que fala de seus tempos de Mutantes,
quando tinha uma casa, uma banda, uma esposa, Rita, a quem chama de uma
"mulher fria, com olhos de serpente".
"O Sol" é uma canção mais declamada do que
cantada, com uma letra quase indecifrável. "Bomba H Sobre São Paulo"
descreve uma possível bomba caindo sobre a capital paulista. "Hoje de
Manhã Eu Acordei" traz Arnaldo questionando a vida moderna e suas dúvidas.
A emocionante "Jesus, Come Back To Earth", traz Arnaldo ao piano
falando de um Deus maior, absoluto e pede que ele traga o rock'n' roll e o
sorriso do mundo." Arnaldo era fascinado pela tecnologia, idéia abordada
em "Ciborg" e "Coming Through The Waves of Science". O
disco fecha com o blues "Train", onde Arnaldo declama que se sente
solitário, que quer voltar, mas não sabe mais onde é sua casa. Musicalmente,
Singin' Alone exige bem mais do que Lóki? por ser um álbum mais complexo feito
por um homem mais complexo. Por isso mesmo o álbum necessita de uma audição
mais paciente.
Em 1987, Arnaldo lançaria o LP “Disco Voador”, também pela
Baratos Afins. Segundo Calanca, "quando gravamos o Disco Voador, ele tinha
me mandado um K7 gravado em órgão de churrascaria com acompanhamento de
baterias e arpejos eletrônicos e estava cantando de forma triste, isso bem
depois do acidente. Marcamos algumas horas estúdio Vice Versa e o piano de
calda foi até afinado esperando por ele, que se recusou a regravar. Ele sabia
exatamente o que queria em níveis de freqüência e tipos de efeitos; o Arnaldo
conhece muito bem toda linguagem de estúdio, mas, infelizmente trabalhamos
juntos muito pouco tempo. O Disco Voador tem mais valor terapêutico que
artístico para ele."
Em 1996, Arnaldo assinou um contrato com a Virgin, que
lançou o disco em CD, contendo uma gravação inédita de "Balada do
Louco" especialmente para o disco, com produção de Guto Graça Mello. A
gravação trazia Márcio Lomiranda, nos teclados, o guitarrista Wander Taffo, o
baixista Fernando Nunes e o baterista Cezinha. É a primeira versão de Arnaldo
em português da canção, já que foi registrada com a voz de Sergio nos tempos
dos Mutantes.
O CD acabou sendo remasterizado por Pena Schmidt, mas
infelizmente, se encontra fora de catálogo.
Discografia:
Solo:
Loki? (1974)
Singin'
Alone (1981)
Disco
Voador (1987)
Let It Bed
(2004)
como Arnaldo & Patrulha do Espaço:
Elo Perdido (1977)
"Faremos uma noitada excelente..." (1978)
“Set” de “Singin´
Alone”:
Lado A
01. I Feel
In Love One Day
02. O Sol
03. Bomba H Sobre São Paulo
04. Hoje de Manhã Eu Acordei
05. Jesus, Come Back To Earth
06. The
Cowboy
Lado B
01. Sitting
On The Road Side
02. Ciborg
03. Corta
Jaca
04. Coming
Through The Waves of Silence
05. Young Blood
06. Train
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